terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

ITÁLIA


Itália – recado às esquerdas.

Recado aos atroikados.

Recado aos bonzos neoliberais.

Recado a cada um de nós.

Vale mais actuar a tempo, com a serenidade possível, sobre as causas, do que chorar mais tarde desamparadamente em virtude  das consequências. 

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

MODERE-SE A MODERAÇÃO !


Fico desvanecido com a sucessão de altas vozes dentro da área socialista a torcerem o nariz a alguma vozearia crítica que tem assolado em público alguns  circunspectos expoentes do actual Governo.

Será uma sensibilidade ultra-sensível a enviar uma mensagem subliminar oriunda das mais celestiais virtudes? Se assim for, eu um insensível curvo-me respeitosamente, em face deste tão subtil  perfume democrático.

Mas esta velha costela de cepticismo de um lusitano inveterado deu-me logo sinal. E se, pelo contrário, estamos afinal perante uma mensagem cifrada também subliminar que, através das entrelinhas discretas do não-dito, quer afinal comunicar aos poderes fáticos e aos reservatórios de capatazes da direita, por agora mais ou menos suavemente críticos, a sua generosa disponibilidade para um matrimónio secreto que possa, em caso de necessidade, surgir à luz do dia?

Que os adoradores ocultos da falecida  terceira via tenham saudades de uma subalternização ostensiva em face dos poderes de facto e da direita, eu até posso compreender, mesmo sem aceitar. Que achem que podem fazer com que o povo socialista se limite a ronronar uns protestos, se essa malfadada aliança com a direita for tentada, parece-me delirante. Não, não  será mesmo um passeio. Ou então ficará aberto o triste caminho do redimensionamento “pasokiano” do PS, talvez então finalmente expurgado de socialistas e convertido numa espécie de sacristão laico de uma santa direita, só então piedosamente fruidora da liberdade de poder ser “pimba”.

Há casos em que a moderação, mesmo melíflua, em vez de ser o sinal virtuoso de quem voa alto, é o sintoma mole de quem se põe debaixo da mesa. Acham que o povo irá buscar alguém debaixo da mesa para o guiar na resistência aos vendavais ?

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

PENSAMENTO VADIO


A notícia, embora santamente, explodiu: o Papa vai resignar. O novo Papa vai ser eleito, embora apenas pelos cardeais com menos de 80 anos.

Estimulado pela notícia, o meu pensamento, imprevisível e incontrolável, deu um salto inesperado e foi cair dentro do PS, o meu partido.

Se mesmo a Igreja Católica para escolher o representante de Deus na terra aceita a incerteza arejada de uma escolha por eleição, embora num círculo restrito, por que razão um partido laico e desejavelmente terreno, como o PS, não se conforma com a necessidade de escolher em eleições primárias abertas a todo o povo socialista, quer  os seus candidatos presidenciais, quer os seus candidatos a Presidentes das Câmaras, bem como  os seus candidatos a deputados europeus e nacionais?

E no entanto há quase dez anos eu e muitos outros socialistas temos vindo a pugnar tenazmente por isso. E no entanto num número de casos cada vez maior  vários partidos irmãos têm vindo a enveredar por esse caminho  através do mundo.

Novo salto inesperado do meu pensamento: talvez a eleição de um novo Papa tenha como efeito colateral virtuoso convencer os poderes internos do PS a seguirem o sábio caminho das eleições primárias para escolha dos candidatos por si apoiados.

domingo, 10 de fevereiro de 2013

AS ÁGUIAS, OS CORVOS E NÓS.


Os  grandes ideólogos do capitalismo são poucos. São os que percebem como funciona o que pensam sobre a sociedade, enquanto  força de manutenção do sistema que a estrutura. São as águias. Voam com frieza a grande altura e atuam no longo prazo num registo global. Enfrentá-los com displicência ou sofreguidão, pode ser fatal. Permitir que altura a que voam lhes conceda um estatuto de objetividade e de imparcialidade, garante-lhes a vitória.

Entretanto, mais junto à terra, em voos mais imediatos e nervosos, funcionam as aves mais pequenas. Preocupam-se com o dia a dia, atuam no plano dos detalhes. São os pássaros do quotidiano. A sua variedade é enorme. Temos os corvos e os papagaios, os rouxinóis e os patos bravos, uma vasta e cinzenta pardalada. Ao contrário das águias, que sabem o que fazem, estas aves ligeiras julgam voar em nome da verdade. Não se sentem a defender nada. Pensam-se como encarnação espontânea da objetividade. A sua eficácia como agentes ideológicos da conservação do capitalismo está, em grande parte, ancorada na ilusão de que espelham  fiel e imparcialmente  a realidade social  para eles eterna e automática.

Nos tempos que correm as águias tendem para o pensamento trágico: elas percebem, tão bem ou melhor do que os adversários do capitalismo, que a inércia triunfante do seu sistema o está a aproximar perigosamente de um abismo histórico. Pelo contrário, a passarada ligeira bate furiosamente as asas rumo a lado nenhum, exacerbando uma aflição intuitiva, cujo sentido lhes escapa. Um lento perfume de desespero cresce dentro deles, confiscando-lhes os rumos, empurrando-os para uma ferocidade iníqua contra as vítimas do sistema como se fossem elas a causa da desgraça.  Os ventos que ao longo da história levantaram os povos dão sinais de inquietação.

Indignada e atónita a esquerda parece sentada numa plateia de incompreensão sem saber que fazer para transformar a tragédia num drama, cujo fim possa ainda ser feliz. Atrevo-me à ousadia de um primeiro conselho: tirem já esses óculos que vos deram à entrada e que vos fazem ver tudo com a cor neutra que convém ao sistema. Vejam a realidade com os vossos próprios olhos. Esqueçam as águias, libertem-se dos corvos. Sejam a força que num assomo de energia impulsione a metamorfose que a partir da larva bolorenta e triste do presente invente a borboleta que há de vir nas asas incontidas do futuro.

sábado, 9 de fevereiro de 2013

A METÁFORA AUTÁRQUICA NO PORTO




As próximas eleições para a Câmara Municipal do Porto, pela combinação da personalidade dos principais protagonistas com o tipo de apoio político de que dispõem, vão ter um significado mais fundo do que a superfície institucional dos resultados.

Se soubermos libertar-nos da espuma de cada uma das candidaturas, talvez cheguemos a conclusões curiosas.

Menezes protagoniza a conquista do Porto por Gaia, a humilhação profunda  das elites portuenses, desafiadas por um franco-atirador populista da outra margem. O facto de neste caso ser usada a veste do PSD é um detalhe. O ajuste de contas com Rui Rio, um sofisticado tempero pessoal que sublinha o desafio e potencia a humilhação . O instinto felino de Menezes leva-o a não ser excessivamente explícito na sua cruzada para o desaparecimento da cidade do Porto, por diluição num  vasto subúrbio de si próprio, com cheiro a Gaia. Onde os miguelistas falharam , Menezes quer triunfar. A invicta deixará de o ser. É esse o seu desígnio estratégico

Moreira é a resposta das elites empresariais  envolta na patine cultural de uns tantos letrados de que a direita, que se sonha como civilizada, tanto gosta de exibir. Uma resposta sintomática, dada por patrões que se julgam modernos e se dispõem a dispensar o seu habitual pessoal político, que talvez os tenha desiludido em excesso,  para optarem por se sentar , desta vez directamente, nas cadeiras do poder. Sendo talvez um certo receio pela insubtileza dos seus políticos , é também  alguma arrogância directa do poder económico,  convencido que já pode dispensar a mediação dos seus núncios políticos.

Pizarro, persistente e discreto, vai procurar ser o tribuno do povo portuenses, da classe média  republicana massacrada pela crise. Munido de um currículo político suficiente para não ser considerado insignificante, um currículo que ao longe parece cinzento mas que ganha cor e consistência à medida que o olhamos melhor, procura mostrara-se à altura de um projecto que ele se esforça por mostrar que é o verdadeiro centro da sua ambição. É o nome liderante de uma área política que tem andado esmorecida nos últimos tempos e a única possibilidade efectiva de impedir que uma qualquer das direitas acima mencionadas continue a encerrar o Porto na pequenez da sua sombra, capturando-o para uso egoístico dos seus interesses.

As outras candidaturas de esquerda, subjectivamente, são expressões naturais e legítimas das áreas políticas que representam; mas, objectivamente, são dois blocos de cimento atados ao pescoço de Pizarro que o obrigam a um suplemento de esforço para se conseguir manter á superfície e lutar pela vitória. Subjectivamente, concorrem para uma expressão completa da cidadania portuense; objectivamente, são importantes bóias de salvação oferecidas ás direitas portuenses.

Com Menezes, a aristocracia populista de Gaia tenta o cerco do Porto, vinda de fora. Com Moreira, a aristocracia aristocrática tenta o cerco do Porto, vinda de dentro.Com Pizarro , a invicta resiste.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

ABRAM AS JANELAS !


Há a subtil esgrima de silêncios, de palavras frias como punhais de veludo, os sorrisos em esgar já um pouco cansados. Os dirigentes transformados em barões de uma nobreza evanescente.

Os incautos pensam: é a política, é a desenvoltura dos grandes, é o perfume único dos predestinados. Não é. É sim o percurso circular de quem ignora horizontes, de quem se fecha no rotineiro como num aconchego, de quem troveja por quase nada e se assusta com os relâmpagos mais fortes, por não saber responder-lhes.

São frases trituradas pela banalidade mais plana. Ideias pobres que mendigam a esperança. Propostas pequenas que se põem em bicos de pés.

É a política, pensam os simples. Não é. É o suor frio de quem vê o quotidiano escapar-lhe por entre os dedos sem saber como influenciá-lo. Ansioso por aprender a fazê-lo, temendo não vir a consegui-lo.

A política não é este quarto fechado com paredes previsíveis, não é este sucedâneo dos “bórgias” em corredores sem saída, esta teia de oráculos que prevêem o passado.

Abram as janelas. Deixem entrar a simplicidade trágica da vida. Façam com que o socialismo possa ser realmente a juventude do mundo.