quarta-feira, 31 de março de 2010

Brasil e Portugal - política.

1. Há uns dias atrás, extraí do site do jornal brasileiro Folha de S.Paulo o seguinte excerto:

“A nove meses de deixar o governo e em campanha aberta para eleger Dilma Rousseff sua sucessora, o presidente Lula atingiu a sua melhor avaliação desde que assumiu o cargo, em janeiro de 2003: 76% da população consideram seu governo ótimo ou bom. É o recorde para um presidente desde que o Datafolha iniciou o levantamento, em 1990."

Se nos lembrarmos que Lula está no fim do seu segundo mandato de quatro anos, que o seu Partido nunca teve, por si só, maioria nem no Congresso nem no Senado, que sofreu uma feroz campanha de descredibilização de carácter na parte final do seu primeiro mandato, que teve sempre contra ele uma parte largamente dominante da comunicação social brasileira, podemos fazer uma ideia do que significam estes resultados.

Aquando da primeira eleição foi lançada uma campanha internacional de alarme pelo alegado risco Lula, largamente enraizada nos círculos dos poderes fácticos brasileiros e na respectiva direita. Afinal, os governos de Lula deram uma nova projecção mundial ao Brasil e estiveram muito longe de ter feito desmoronar a economia brasileira.

E, tendo sido Lula eleito pela força imparável dos mais pobres, não os desiludiu nem frustrou. Não lhes deu o paraíso, mas aliviou muitos da miséria; não os livrou de todas as dificuldades, mas restituiu-lhes uma dignidade nova e abriu-lhes um caminho, mostrando-lhes que há no futuro uma esperança, um outro horizonte possível.

Note-se que esse percurso teve na base coligações heterogéneas e instáveis e não um sólido bloco político. Sofreu o natural combate de uma direita saudosa da ditadura militar, que engoliu com dificuldade a presença de um operário metalúrgico na Presidência da República. Viu saírem das suas fileiras fracções que combateram ( e combatem) Lula e o PT sem estados de alma. Primeiro, foi a cisão do PSOL ( uma espécie de Bloco de Esquerda dos brasileiros), ainda no decurso do primeiro mandato; mais recentemente, foi a saída da senadora Marina Silva ( ex- Ministra do governo de Lula) para se candidatar pelos Verdes à Presidência da República, contra Dilma Roussef a candidata do PT.
Mas não se julgue que ficam por aqui as hostilidades que Lula tem que enfrentar vindas de dentro da própria esquerda brasileira. Por inacreditável que pareça, o PPS ( Partido Popular Socialista), que antes de ter adoptado esta designação foi o Partido Comunista Brasileiro ( do lendário Luís Carlos Prestes), é um dos três partidos que constituem o núcleo duro da oposição a Lula e ao PT, apoiando a candidatura do actual governador de S.Paulo, José Serra. Os outros dois partidos desta santa aliança de direita contra Lula são o PSDB ( a que pertence o Presidente Fernando Henrique Cardoso que antecedeu Lula e o próprio Serra) e os Dem ( os democráticos, que até há pouco se chamava Partido da Frente Liberal, constituídos por antigos apoiantes da ditadura militar).

É claro, que o PT de Lula tem outros aliados dentro da esquerda brasileira, como é o caso do Partido Socialista Brasileiro ( ao qual pertenceu Miguel Arraes e a que agora pertence Ciro Gomes ), do Partido Democrático Trabalhista ( fundado por Leonel Brizolla), do Partido Comunista do Brasil ( que é o herdeiro da cisão pró-chinesa do Partido Comunista Brasileiro, acima referido, consumada há décadas atrás). No entanto, o que é estranho é que haja forças, alegadamente de esquerda, que se virem contra Lula e o PT, em aliança clara e ostensiva com a direita brasileira.

Apesar de tudo isto, a popularidade de Lula é a que acima se constata.

Não sou um apoiante acrítico de Lula e do PT. Não são perfeitos , não são infalíveis. Quem o é ? Aliás, não sou apoiante acrítico de ninguém. Mas não posso deixar de admirar a extraordinária capacidade política, duravelmente demonstrada por Lula, bem como a força do PT, na sua diversidade; e tudo isso com as limitações e dificuldades de quem está a abrir um caminho político novo. Um e outro, tal como não são infalíveis, não são invencíveis, mas não vai ser fácil vencê-los.

Mas, o grande mérito que têm, para mim, é o de que no essencial ( e não certamente escolhendo sempre os caminhos que eu julgaria preferíveis) foram fiéis aos seus, à sua base social, aos que dependem da realização do programa de Lula e do PT para subirem na escala da inclusão social, da felicidade, da dignidade, da cidadania. Podem ter pactuado (e pactuaram) com áreas distantes deles no espectro político, podem ter sido, algumas vezes, mais transigentes do que parecia necessário, mas, no essencial, não traíram a confiança do seus


2.Penso, procurando comparar com a situação brasileira, a actual conjuntura portuguesa. Adoptando o ponto de vista de militante do PS, que sou, procuro olhar para lá da espuma cinzenta destes dias arrastados, escapar dentro do possível à volatilidade acelerada das circunstâncias. Ignoro o fogo rasteiro das oposições, reduzido a uma deriva sectária que parece não ter fim. E, olhando para a conjuntura, colho a impressão de que o mais urgente para o PS é, hoje, a preparação do médio prazo.

Não estou com isto a menosprezar os deveres conjunturais de quem governa, nem as suas enormes dificuldades, agravadas por este cerco enraivecido de uma inesperada matilha de sombras, que a si própria se dispensa de ter uma política que não seja a de combater o governo e o PS. Mas sinto a política, ancorada no imediato, como se ela não fosse mais do que o enchimento de um cântaro furado. Podemos ser mais ou menos eficazes a enchê-lo. Não é pouco, ser eficaz a enchê-lo. Não há que absolver a ineficiência do processo de enchimento. Mas o essencial do nosso problema é que o cântaro está roto. Enquanto não o substituirmos, de pouco valerá o nosso trabalho de Sísifo de o encher dia após dia.

O PS, sem deixar de continuar a porfiar para que o cântaro se não esvazie por completo, tem que começar por admitir que o cântaro está roto. De facto, se não reconhecemos um problema como poderemos resolvê-lo ? Reconheccendo-o, o PS encontrar-se-á de imediato com o essencial da sua identidade: ou seja, este não é o seu cântaro, mas aceita a responsabilidade de o ir enchendo, enquanto não o consegue substituir.

Este é, para mim, o cerne da problemática que o PS enfrenta, a qual é, aliás, de algum modo, a sua própria razão de ser, como realidade social historicamente situada. E é por isso que me parece que o futuro do nosso país se joga no êxito ou no fracasso do PS como protagonista de uma resposta global a essa problemática. O que , naturalmente, exige, desde logo, uma renovação radical da sua maneira de se inserir na sociedade portuguesa, bem como um alargamento significativo da amplitude das suas tarefas e uma transformação completa do seu modo de funcionar.

Saber quais as etapas que nos esperam nesse caminho, é algo que devemos procurar, desde já, cientes que será no decorrer dessa jornada que se irão precisando os contornos dos percursos que nos são exigidos e dos horizontes que iremos construindo. Mas temos, à partida, que nos afirmar como elementos incontornáveis de qualquer futuro pós-capitalista, de modo a que as nossas políticas não possam ser aprisionadas pela lógica de sobrevivência de um sistema económico -- o capitalismo que é injusto, ademocrático, liberticida e conduz a humanidade para um suicídio colectivo. Não esqueçamos: o cântaro está furado.


E, seguramente, para os socialistas portugueses, para o PS, para este governo, será muito mais patriótico e futurante correrem o risco de ser vencidos num combate travado em prol dos seus valores, das suas ideias e em consonância plena com povo de esquerda (verdadeiramente, a nossa gente), do que colher pequenas e efémeras migalhas de um alegado êxito europeu, concedidas pela cínica mistura do Partido Popular Europeu com os grandes agentes da especulação financeira internacional que tem decidido os destinos da União Europeia. Uma mistura cínica e sem norte que rege baçamente uma Europa aprisionada neste arrastar injusto dos anos que a vão reduzindo a uma imensa melancolia histórica, dia a dia saudosa de um futuro que parece escapar-lhe.

E é por isso que o contributo que os socialistas europeus podem, hoje, dar à Europa, para que ela retome a sua viagem, é o de serem eles próprios, o de trazerem para a cena política europeia a sua própria identidade política, as suas ideias historicamente sedimentadas, os seus valores. E, principalmente, o de construirem com celeridade uma visão de futuro que se afaste de qualquer tipo de cópia resignada deste presente triste e abafado que parece cercar-nos.
O que não podemos é continuar a ser uma espécie de pajem obsequioso e discreto de um neoliberalismo agonizante que asfixia os europeus e lhes confisca o amanhã. Chegou um tempo de encruzilhada: ou a Europa deixa de ser a quinta privada do Partido Popular Europeu ou vai aproximar-se rapidamente de um tempo de abismos.

Brasil: os alçapões da verdade

Na revista brasileira de grande circulação CartaCapital, a que por diversas vezes me tenho referido neste blog, foi recentemente publicado um texto da autoria de um dos mais proeminentes membros do seu corpo redactorial , Mino Carta, que merece atenção e reflexão. Ei-lo:



"A transparente satisfação com que a mídia nativa celebrou os últimos movimentos do governador José Serra, tomados como prova de uma candidatura de fato já encaminhada, mostra, redondamente, o lado escolhido pelos barões midiáticos. Como sempre, o lado contrário a Lula. No caso, em oposição à candidata do presidente. Não é novidade. A mídia nativa não engole um ex-operário que se torna inquilino do Palácio do Planalto, cenário quem sabe talhado em definitivo para bacharéis engravatados, quando não generais de quatro estrelas. Ódio de classe? Misturado com a inextinguível suspeita de que Lula acabe por cair em tentação e reedite ideias e ideais do PT de 1980.Rota traçada desde 1989, quando foi inventado o “caçador de marajás” para impedir a ascensão do Sapo Barbudo. Nem se fale da euforia provocada pela descoberta de um Fernando Henrique rei dos economistas, além de príncipe dos sociólogos, prontamente apresentado como criador da estabilidade. E esta foi também a bandeira da campanha do segundo mandato, embora arreada 12 dias depois da posse. Surpresa em 2002: Lula derrotou com ótima margem o ex-ministro José Serra, a despeito de sua badaladíssima gestão na pasta da Saúde, quando o mundo mais uma vez curvou-se diante do Brasil. Não bastou insistir na ideia de que Serra era “preparado”, a significar que o outro era irremediavelmente despreparado. A mídia não percebeu então que seu poder de fogo diminuíra bastante e perseverou na linha contrária ao governo, crivado por críticas ferozes, ataques sem conta, acusações retumbantes, até o chamado “mensalão”, que não foi provado nos termos apontados pelo jornalismo pátrio. Mais significativa e consistente do que a anterior, a vitória de Lula em 2006. Nem por isso, a mídia aproveitou a lição. Repito o que foi dito em outras oportunidades neste espaço: a eleição de Lula é um divisor de águas na história brasileira. Pela primeira vez, a maioria dos brasileiros apreciou votar naquele com quem se identificava, um igual, em lugar de um senhor enfatiotado, recomendado por seus pares. E, pelo caminho, a maioria convenceu-se que valeu a pena.Quem não se convenceu foi a mídia. A imprensa, de que muito poucos a leem. A eletrônica, que só vale quando transmite novela, big brothers e faustões. Nesta aposta em si própria, não saiu da velha rota. Diariamente, basta passar os olhos pelas páginas dos jornais que alguns teimam em chamar de “grande imprensa”, para tropeçar em editoriais, artigos, colunas e reportagens destinados a demonizar Lula e condenar seu governo. Quarta-feira 24, ao falar em Brasília no quadro do programa Territórios da Cidadania, o presidente da República disse: “Fico imaginando daqui a 30 anos, quando alguém quiser fazer uma pesquisa sobre a história do Brasil e sobre o governo Lula e tiver de ficar lendo determinados tabloides. Ou seja, este estudante vai estudar uma grande mentira”. Haverá quem queira discutir a qualidade do texto, a forma. O conteúdo, no entanto, é claríssimo e não admite dúvidas. Se o pesquisador-estudante se contentar com a leitura dos “tabloides”, ou seja, dos órgãos da nossa imprensa, aprenderá uma história desfigurada por erros e omissões. E mentiras. Quanto à CartaCapital, nos esforçamos para praticar o jornalismo honesto, na contramão da hipocrisia de quem afirma isenção, equidistância, independência, imparcialidade, enquanto se entrega a formas diversas, porém afinadas, de propaganda partidária. Em busca da verdade factual, criticamos Lula e seu governo ora de maneira positiva, ora negativa. Há duas semanas, entendemos como passo em falso as declarações do presidente a respeito dos presos políticos cubanos. Na semana passada, renovamos nossa reprovação a quaisquer interferências governistas para limitar a liberdade de expressão. CartaCapital orgulha-se de remar na contracorrente, mesmo quando entende que o governo em seus dois mandatos poderia ter feito muito mais no plano social, ou reputa deslize gravíssimo, a provar prepotência e ignorância, o comportamento em relação ao Caso Battisti. No mais, a entrada de Serra na liça vale para iluminar a ribalta. Não se trata de valorizar a demanda de muitos tucanos, favoráveis a uma definição rápida, mesmo porque compreendemos a estratégia do pré-candidato, baseada na tentativa de escapar ao embate plebiscitário à procura do confronto direto com a candidatura Dilma. Deste ângulo, tem de ser encarado o nítido
empenho tucano em manter Fernando Henrique longe da campanha. Mas não será
fácil sair do círculo traçado por Lula em torno do pleito".

O Mercado

Com algum atraso e com a sua autorização, aqui vai mais um "Estranho quotidiano", traduzido por J.L.Pio Abreu em mais uma das suas crónicas ("O mercado"), publicadas no DESTAK.

O Mercado

"O leitor já alguma vez jogou na bolsa? Duvido que agora o faça, mas é possível que tenha cedido à tentação num momento em que todos ganhavam com isso (um "bull market"). Seguramente, andou um pouco ganancioso enquanto tudo corria bem, mas acabou por perder porque outros mais gananciosos o fintaram.

Dizem que o Mercado é o lugar onde os interesses dos cidadãos se equilibram harmoniosamente, mas não é. Apenas uma minúscula parte dos cidadãos opera directamente no Mercado. De todos, são os mais gananciosos e truculentos. São mestres do ofício de dar mais dinheiro a quem já o tem, a começar por eles próprios.

Os agentes do Mercado podem convencer-se que trabalham para fundos de pensões, dando ganhos aos reformados e aforradores que neles confiaram. No fundo, porém, estão a pensar na sua extravagante comissão. Arriscam tudo e arriscam, sobretudo, o dinheiro dos outros, sabendo que o mais que arriscam, da sua parte, é o despedimento com uma choruda indemnização. Nunca ficam pobres como aqueles que fazem empobrecer.

A população trabalhadora e pacífica sempre se sujeitou aos invasores e cúmplices locais que, sendo minoritários, eram suficientemente agressivos para imporem a sua lei gananciosa. Com a democracia, pensámos que nos livrávamos deles. Mas não. A minoria agressiva disfarça-se hoje de agentes do Mercado. Com grande sofisticação, destroem pessoas, empresas e nações. Poderão os políticos democratas lutar contra eles? Talvez não. O mais que podem, tal como dantes, é fazer acordos e enviar sinais para os acalmar".
[J. L. Pio Abreu]

Falta de vergonha ou sofreguidão de lucros ?



Grandes títulos, hoje, no site do i:


"Ex-ministros atacam aposta de Sócrates nas energias renováveis"

"Apoiantes do manifesto querem discutir nuclear e vão pedir audiências ao governo e Presidente da República"


Não sei se são mabecos se são abutres, mas é preciso uma grande falta de vergonha para que, sabendo-se o que se sabe hoje sobre a natureza dos riscos do nuclear, quem viva num país suficientemente civilizado para não partilhar a responsabilidade por esse crime contra as gerações presentes e futuras, aposte na imitação do tique de barbárie partilhado por outros.


Falta de vergonha ou sofreguidão de lucros ?

domingo, 28 de março de 2010

Contracapa da Vértice- 27

Vértice - nº 327/328 - Abril- Maio de 1971
Bem vos vejo, mas nem vos oiço nem entendo.
RABELAIS

sábado, 27 de março de 2010

Conracapa da Vértice - 26

Vértice- nº257- Fevereiro de 1965

"Transformai o Mundo e o Homem transformar-se-á!"

SHAKESPEARE
Measure for Measure.

sexta-feira, 26 de março de 2010

Contracapa da Vértice - 25


Vértice - nº317 - Junho de 1970


"Enganar-se no exercício da medicina pode pôr em perigo uma vida humana.

Enganar-se na acção política pode pôr em perigo uma geração.

Enganar-se na acção educativa e cultural pode põr em perigo milhares e milhares de gerações".


LAO-TSEU

O milagre irlandês


Li no site do Le Monde:


"O PIB irlandês teve uma queda histórica de 7,1% em 2009."

Lembrei-me da papagaiada neoliberal a dar-nos, ano após ano, o exemplo irlandês, para que nos portássemos bem, para que apertássemos os cintos.

Ouço, agora, divertido o silêncio ensurdecedor dos nossos mais sábios economeses da Neoliberália.

Mas o sorriso apaga-se, quando me lembro que é esse rebanho de idiotas que nos continua a indicar um caminho alegadamente tributário de uma imaginária ciência económica, que diga-se de passagem não tem nada a ver com tudo isto

sábado, 20 de março de 2010

Os pexistotémicos pexistotemizam


Inventaram uma comissão de inquérito para continuar a obra de transformação da política numa sucessão de golpes baixos e de enlameamentos.

Até este momento não indicaram Sócrates como alguém a quem querem ouvir.Mas cada dia ameaçam dez vezes que vão fazê-lo.

Sócrates tem o direito de ser ouvido por escrito nessa comissão. Isto é, cabe-lhe a ele decidir se depõe por escrito ou se é ouvido presencialmente.

Os pexistotémicos acham que podem decidir por Sócrates quais dos seus direitos eles o autorizam a exercer, mas dizendo –lhe , desde já, que não o deixam depor por escrito, embora não possam deixar de lhe reconheer o direito de o fazer.

Os pexistotémicos acham-se os donos do mundo ?

Se calhar não. Limitam-se a ser pexistotémicos.

terça-feira, 16 de março de 2010

Aviso aos animais domésticos.


O saído da cartola encarregou um naipe de especialistas encartados de lhe apresentarem um projecto de destruição da Constituição da República Portuguesa, com o qual gostaria de se pavonear pelo laranjal, caçando votos.

Aviso aos animais domésticos: sem os votos do PS, nem numa vírgula se pode mexer na Constituição.

Portanto, deixem-se de números. Se honestamente querem melhorar a CRP, pensem maduramente em propostas de pequenos ajustamentos que respeitem o essencial da herança de Abril. Propostas decentes, onde todos os partidos se possam rever.

Se apenas querem mostrar músculo aos incautos, rosnando ameaças a Abril, como se fossem ferozes e omnipotentes, saibam o resultado: nem numa vírgula se mexerá.

segunda-feira, 15 de março de 2010

Os pexistotémicos


Uma jornalista de investigação descobriu que o bisavô de um primo de José Sócrates passou um cheque sem cobertura.

Um dos porta vozes da oposição de esquerda acha que se justitifica um rigoroso inquérito.Um dos porta vozes da oposição da direita exige que Sócrates diga já se sabia ou não de tão grave atropelo à economia de mercado.

O candidato a Nobel da Economia Matutina Marreite desatou aos gritos em pleno programa televisivo. Vermelho de raiva gritou apopléctico: "Ladrões! Grandes ladrões! Arruinaram o país! Este país não existe! É o governo que , é este governo que... "

Dois enfermeiros apareceram de repente em cena, disseram que o professor lhes tinha escapado e levaram-no a estrebuchar.
A direcção de programas da estação emitiu um comunicado, garantindo que, enquanto o Prof. Matutina Marreite não fosse chamado à Escandinávia para receber o prémio, ficava guardado e protegido numa estância de repouso, num compartimento à prova de números.

Sem se perceber de onde viera, um sujeito de meia idade com ar alucinado e garantindo ser arquitecto e director de um jornal, entrou no programa aos gritos dizendo: "Eu tenho provas! Eu tenho provas! Eu é que sou o Presidente da Junta!"

O banqueiro Costa, acordando estremunhado no seu retiro espiritual de Pinheiro da Cruz, mandou transmitir através do seu advogado a seguinte mensagem:" O banqueiro anarquista sou eu !!"

Agitado por tanta confusão, o bisavô do primo de Sócrates virou-se na sepultura e clamou: "Que grande porra! Tanta merda por causa de um cheque de cem paus."

sábado, 13 de março de 2010

O clamor das virgens


Mais uma manifestação do Estranho quotidiano que J.L. Pio Abreu publicou no Destak de 12/3/2010. Deixo-vos com ela devidamente autorizado pelo seu autor. Ouçamos:

O clamor das virgens

"Em 1995, Bill Clinton, acossado por uma matilha de jornalistas, afirmou: “Eu nunca tive relações sexuais com essa mulher, a senhora Lewinski”. Bill Clinton já andava a ser perseguido por vários outros pecadilhos, mas desde que a “amiga” Linda Trip entregou gravações das conversas telefónicas com Mónica Lewinsky ao procurador Keneth Starr, o clamor das virgens não o largou mais.

Mentiu, disseram elas, e tinha antes mentido sob juramento. Perjúrio, clamaram elas. Elas, as virgens transparentes que nunca pregaram uma mentira, que nunca omitiram um facto da sua vida, que não tiveram relações impróprias com ninguém, não falando já, evidentemente, de ter tido relações sexuais. O clamor das virgens não largou mais o presidente, de tal modo que, meses a fio, a nação americana esqueceu tudo o resto para se concentrar na questão semântica: o que significa ter relações sexuais? Clinton acabou por admitir que teria tido relações impróprias com Lewinsky, mas não relações sexuais. Não havia assim mentira nem perjúrio. O clamor das virgens sossegou.

O clamor das virgens anda agora por Portugal, embora seja diferente a sua virgindade. As virgens portuguesas são aquelas que, como se tem visto, nunca dizem senão a verdade. São aquelas que nunca tentaram influenciar a opinião pública, nunca compraram ninguém e, sobretudo, não se venderam. São as que ganham honestamente pelo valor do seu trabalho útil e nada receberam do Estado. Andaram descalças por este país minado e nem sequer sujaram os pés. Milagres da virgindade!"


[J. L. Pio Abreu]

terça-feira, 9 de março de 2010

Sobre o processo de Bolonha


O Processo de Bolonha que assolou o sistema de ensino superior europeu, com expressões particulares em cada um dos países, teve um eco muito grande em Portugal.

Aproxima-se a hora de um primeiro balanço, quando ainda dominantemente se oscila entre uma diabolização sem matizes e uma adulação beata. O cenário entre nós complica-se, porque ao lado desse processo tem vindo a decorrer um outro que com ele interage, sem nele se diluir. Trata-se do incremento da investigação científica em todas as áreas ou na sua maior parte. Quando chegar a hora do balanço crítico, não deve também faltar uma adequada valorização do que antes existia, nem um grande cuidado na diferenciação dos balanços, para que o latim, se não misture com a informática, e ambos com o direito e as engenharias, numa salada de confusão.

Como contributo simples, destinado a fornecer alguma informação, vou transcrever um pequeno texto informativo , assinado por J.A.AUNIÓN, publicado hoje no diário espanhol El País.


"El esquema con el que el proceso de Bolonia se ha implantado en las universidades españolas (carreras -grados- de cuatro años y másteres de uno) sólo lo comparten otros tres de los 46 países inmersos en la reforma europea de las universidades: Bulgaria, Ucrania y Escocia (que tiene un sistema distinto al del resto de Reino Unido). 19 países han elegido grados de tres cursos y másteres de dos; otros seis (entre otros, Rusia, Lituania o Turquía) tienen sobre todo grados de cuatro años y másteres de dos; y en el resto no hay ninguna posibilidad que predomine sobre las demás, según el informe de la oficina europea de estadística educativa (Eurydice) sobre el nivel de implantación de Bolonia en el año en que los países se habían comprometido a tenerla lista.

El profesor de la Universidad de Londres José Ginés Mora defiende enérgicamente el modelo adoptado por España, sobre todo, el que los grados (que sustituyen a las licenciaturas y diplomaturas) tengan cuatro años (lo que comparten otros 12 países europeos). Asegura que la empleabilidad es mayor, porque el mercado los acepta mejor, y porque en tres años es muy difícil incluir prácticas en empresas o estancias en el extranjero. Además, recuerda que es el esquema vigente en EE UU.
El experto francés en la reforma de Bolonia Guy Haug está de acuerdo en las bondades de los grados de cuatro años, pero está convencido de que hacer la inmensa mayoría de los másteres de sólo un año como se ha hecho en España (también se pueden establecer de uno y medio y de dos cursos) es un "error gravísimo". Lo es, asegura, porque no pueden competir en calidad con los posgrados del resto de países. "Los másteres de un año deben ser la excepción, no la regla", dice. Sin embargo, cree que, más que el esquema, lo importante es que haya "buenos grados y másteres".
Y la calidad de las reformas tiene mucha relación, entre otras cosas, con la inversión. El informe de Eurydice señala que, en medio de la crisis económica, 11 países han aumentado el presupuesto universitario más de un 5% este curso (Austria, Francia o Portugal, entre otros), mientras siete lo han disminuido más de un 5% (por ejemplo, Croacia, Islandia o Irlanda). España está en el grupo mayoritario de los 18 países que lo han aumentado, pero por debajo del 5%."

domingo, 7 de março de 2010

Uma sondagem, o PS e as oposições.


Uma recente sondagem da Intercampus , segundo informação do blog Margens de Erro, apresentou os seguintes resultados depois da repartição dos indecisos:

PS - 40,36.
PSD -34,35.
BE - 10,05.
CDS- 7,82.
CDU - 6,28.
Se compararmos estes números com os resultados eleitorais de Outubro passado, verificarmos que :

O PS subiu desde Outubro de 36, 55 para 40,36 [+ 3, 81].

O PSD subiu de 29,11 para 34,35 [+ 5,24].

O BE subiu de 9,82 para 10,05 [+ 1,23].

O CDS desceu de 10,43 para 7,82 [- 2, 61].

O PCP desceu de 7,82 para 6,28 [- 1,54].


Fico sem saber explicar por que razão as variações não se compensam . Aos outros partidos são atribuídos 0,8% dos votos, o que corresponde a menos do que o MRPP teve sozinho, em Outubro passado. Estará na desconsideração dos partidos não parlamentares a razão da referida discrepância?

Feita esta chamada de atenção, no pressuposto da comparabilidade das duas séries de dados, podemos verificar que o PS muito mais de que resistiu, em termos de preferências eleitorais, à grande campanha universal pela sua destruição.

O PSD, a contas com uma crise sucessória, cometeu uma verdadeira proeza, ao ter conseguido reforçar o apoio eleitoral estimado.

O BE solidificou a sua dimensão, tendo até visto aumentar ligeiramente o seu peso eleitoral.

O CDS foi abandonado por cerca de um quarto dos seus eleitores.

O PCP viu deslizar um pouco mais para baixo o seu frágil quinto lugar.

Em termos agregados, PSD +CDS passaram de 40, 54 para 42, 17. No entanto, estão agora à frente do PS por 1,81%, quando nas eleições de Outubro ficaram com 3,99 % de vantagem.

Paralelamente, o BE +PCP passaram de 17, 68 para 16,33, o que sendo uma inflexão ligeira não deixa de representar uma perda de quase 10% desse eleitorado.

Se fossem realizadas novas eleições com resultados correspondentes aos desta sondagem, politicamente, tudo ficaria na mesma com um travo amargo para o CDS e para o PCP e com uma vitória moral do PS que teria resistido à guerra santa que lhe tem movido, quer os “cruzados” quer os “infiéis”.

O PS que tem sido obrigado, pela actual relação de forças, a uma atitude defensiva constataria que havia conseguido resistir sem estragos. A oposição de direita teria pela frente a angústia de não saber o que fazer com um resultado nem carne nem peixe como o que lhe saíra. As outras oposições por certo se preocupariam pelo sinal de subalternidade política estratégica que esses resultados sublinhariam.

Pelo que percebi, a “rafeiragem” anti-PS ficou um pouco mais raivosa com esta sondagem, excedendo-se ainda mais numa campanha negra que começa a descredibilizar mais aceleradamente os seus promotores do que os seus alvos. Parecem esquecer, em particular todos os partidos da oposição, que a sua atitude de atacarem o governo do PS, mas não o derrubarem é uma cobardia política que, não produzindo os efeitos que almejam, os vai desqualificando e destruindo. E atinge, principalmete,não o PS, mas, antes dele, a qualidade da democracia e a credibilidade do país. De facto, cada vez mais é insuportável a hipocrisia objectiva das oposições que atacam o governo como se o quisessem derrubar, mas fogem como o diabo da cruz de o fazer. No máximo, num estilo fanfarrão, os candidatos à liderança do PSD ameaçam com um “qualquer dia”.

Aliás, se nos recordarmos como os barões do PSD discutem a possibilidade de derrubar o actual governo, é curioso ver-se que falam como se tivessem maioria absoluta, cabendo-lhes decidir sózinhos se derrubam ou não o governo.


Não podia haver indício mais claro, do modo como o PSD encara os outros partidos da oposição relativamente a ele próprio: são estrategicamente subalternos. Que o Dr. Paulo Portas queira ser um cordeiro sacrificial do PSD, é uma eventualidade que não me tira o sono. Verificar que as análises que apontam para a subalternidade politica estratégica do BE e do PCP, em face da direita, são assim tão exuberantemente confirmadas, apenas sublinha o que tenho defendido.

sexta-feira, 5 de março de 2010

Pulgas aflitas


Saltitam de desespero em desespero, carpindo um país cuja morte iminente auguram, sufocados. Usam gravatas de um azul doce e o fato é de um cinzento discreto, que quase pede desculpa por ser cor. O olhar é liso como um gato morto, como um lago parado e sem destino. E o ar é grave. Muito grave. O país sai-lhes da boca como uma tragédia sem remédio. Se tivesse salvação, eles pediriam um salvador. Rigorosos, desembucham os números da nossa desgraça. A bem dizer, se o destino não tivesse sido para nós de uma bondade excessiva, há muito que teríamos deixado de existir.

Pulgas aflitas da história uivam como se uma agonia sem fundo as possuísse de tristeza.

Em melodia, vão dizendo: o país só se salva se os pobres deixarem de ser gastadores, se apertarem um pouco mais o cinto, se deixarem espremer ainda um pouco mais os salários. Têm que deixar os ricos enriquecer um pouco mais, para que com a sua infinita bondade salvem o país. É preciso levar o pescoço à guilhotina e deixá-lo cortar e deixá-lo, cortar e deixá-lo cortar.

Pulgas aflitas, pulgas amestradas, pulgas pagas. Bem pagas, para deixarem comichões de desgraça em cada raio de futuro, em cada assomo de esperança, em cada ímpeto de resistência. Pulgas realistas solidamente apetrechadas pela ciência de todos os números. Pulgas anafadas, sem rugas, sem fome. Pulgas de hotéis de cinco estrelas, sempre vigilantes.

Os desgraçodontes ruminam todos os nossos dias como se fossem os últimos. Choram. Levam-nos para o purgatório liso do talvez.

Portugal vai acordar amanhã. Olhará decerto com a bonomia possível para o corpo cansado das pulgas aflitas e pô-lo-á no museu, num museu de história natural.


Mas , entretanto, fazem comichão.

terça-feira, 2 de março de 2010

Contracapa da Vértice - 24


Vértice nº 357- Outubro de 1973

"Grita bem alto para que não te enterrem vivo."

Provérbio Grego

A Grécia e o comissário tonto


A direita grega estava no poder desde 2004 e em Outubro passado perdeu as eleições e o governo. Algumas semanas depois, o PASOK (socialista) formou governo. Ao apurar a situação financeira em que o país se encontrava, verificou que tinha atingido a situação difícil em que se encontra.

Assistiu-se então a uma curiosa manobra de hipocrisia europeia. De facto, a inefável Comissão Europeia, hegemonizada pelo Partido Popular Europeu, onde estão ancorados os nossos PSD e CDS, que dormira tranquila enquanto a direita grega ia arruinando paulatinamente o respectivo país, tornou-se rigorosa logo que a responsabilidade política passou para os socialistas gregos.

Aflitos e confinados aos estreitos horizontes, onde se têm deixado encerrar os partidos europeus da Internacional Socialista, os socialistas gregos obedeceram ao receituário neoliberal, retomado sem pudor pela burocracia de Bruxelas, logo que julgou passado o pior da crise. Os trabalhadores gregos perderam a paciência e desceram ás ruas. O governo do PASOK tem vindo a medir cada passo, procurando calibrar sacrifícios e abrir janelas. Os abutres da finança internacional resolveram aproveitar as dificuldades gregas para ganharem mais uns dinheiros. O circo montado pela combinação dos especuladores com as agências de rating, iniciou o espectáculo, ameaçando de contágio outros países, entre os quais o nosso.

Mas foi ontem na Televisão que deparei com o impensável: gregos, gregos e mais gregos, protestando nas ruas; greves de protesto em marcha ou em agenda, contra o excesso de austeridade ou contra o unilateralismo dos sacrifícios, ou contra o confisco de um futuro, que não seja de dificuldade e desespero. Contra o governo, por ter tomado medidas que os atingiam. E no mesmo dia , visitando a Grécia um comissário europeu dá ao governo grego a "solidariedade" assassina, um curto prazo cominatório para apertar, ainda mais, o garrote em torno do povo.

Ora, um responsável político europeu que diz isso, nas circunstâncias em que o fez, ou é um sádico perverso ou um puro e simples imbecil. Não me interessa qual das duas hipóteses é a verdadeira, interessa-me alertar para o risco de termos na União Europeia anões políticos desta canhestrice, em lugares de responsabilidade.

Os ouvintes


Há muitos anos que uma dúvida assolava a minha imaginação: como teriam os "pides" comentado, nos velhos tempos da "liberdade" salazarista, que a nossa velha direita gozou com o deleite dos "justos", as escutas que nos faziam?


Nos últimos tempos, usando uma analogia óbvia, comecei a poder imaginá-lo, a partir de uma simples leitura de jornais, bem como através das estações televisivas e das rádios.

Um casalinho improvável.

Li em letras garrafais num jornal de hoje: "PSD e BE: proposta conjunta para comissão de inquérito".

Pensei: Eis como o liberal-conservadorismo e um esquerdismo contido vagamente "blasé" encontram a vertigem de um objectivo comum: combater o PS.
Imaginei: será o princípio de uma linda história?

Problema: quem lava a loiça?

segunda-feira, 1 de março de 2010

O recado de Marcelo.


No seu último programa dominical na RTP 1, Marcelo Rebelo de Sousa com o ar ligeiro de quem diz coisas mansas e inofensivas, deu alguns recados urgentes.

Parecendo tecer simples comentários, quase suaves, sobre os candidatos à liderança do seu partido, deixou uma mensagem forte:

" Não entreguem o Partido aos putos"!