quarta-feira, 30 de novembro de 2011

MAS QUANDO CAMINHAVA PARA O CEPO

Recordar as vozes de grandes poetas é um estímulo insubstituível para a nossa razão e um guia seguro para as nossas emoções. Ouçamos pois, uma vez mais, Bertolt Brecht, na versão portuguesa de Paulo Quintela.



MAS QUANDO CAMINHAVA PARA O CEPO

Mas quando caminhava para o cepo onde o iam matar
Caminhava para um cepo que fora feito pelos seus iguais
E também o machado que agora o esperava
Fora feito pelos seus iguais. Apenas eles tinham partido
Ou tinham sido expulsos, mas estavam sim ali
E presentes na obra das suas mãos. Nem mesmo a luz
Nos corredores por onde passava para a morte
Haveria sem eles. Nem a casa
Donde era levado, nem qualquer outra casa.
Porque é que
Tem ele de estar sozinho, ele que falou por tantos?
Por isto:
Os opressores juntam-se
Mas os oprimidos andam desunidos.

terça-feira, 29 de novembro de 2011

UM NOVO CLUBE POLÍTICO NO PS

Subscritores do “Manifesto para uma Renovação Socialista”[http://manifestops.blogs.sapo.pt/ ],reunidos em Coimbra, no passado dia 26 de Novembro, fundaram um novo clube político no âmbito do Partido Socialista.

“CLUBE MANIFESTO – para uma renovação socialista”, eis o nome que foi escolhido. Ao novo clube aderiram já quarenta e oito militantes do Partido Socialista, pertencentes a algumas das suas Federações. O documento acima referido é a identidade política do clube. Podem aderir aqueles que, concordando com o Manifesto, o subscrevam. Vai abrir-se, assim, um novo espaço de debate sobre a actualidade política, sobre as questões económicas e sociais mais candentes, sobre a vida do PS, sobre a esquerda em geral, sobre Portugal, a Europa e o Mundo, sobre o injusto garrote neoliberal e a dolorosa agonia do capitalismo, sobre o pós-capitalismo e o horizonte socialista.

Foi constituída uma Comissão Instaladora, destinada a preparar uma nova reunião, em que serão aprovadas as regras essenciais para o funcionamento do Clube e uma estrutura simples de coordenação; bem como a promover outras iniciativas aprovadas.

Desde já, ficou decidida a realização de um Colóquio, a realizar em Fevereiro próximo, que irá centrar-se em dois temas principais:

- primeiro, a renovação político-organizativa do Partido Socialista, com destaque para a questão das eleições primárias abertas, para escolha dos candidatos a apresentar pelo PS nas diversas eleições; para o imperativo de serem criados obstáculos estruturais que tornem objectivamente inviável, dentro ou a partir do PS, qualquer promiscuidade entre política e negócios; e para a necessidade de um grande passo em frente na senda de uma maior qualidade democrática na vida do partido, especialmente nos processos eleitorais internos;
-segundo, o projecto autárquico do PS concebido no quadro de uma reforma do Estado, numa perspectiva potenciadora da qualidade de vida das pessoas, através da territorialização de uma economia plural, ecologicamente amigável.

No decurso da reunião do passado dia 26, foi debatida a actual conjuntura portuguesa, a situação do PS, o bloqueio do projecto europeu, a estagnação do Partido Socialista Europeu e o extravio da Internacional Socialista.

Pela Comissão Instaladora .

Rui Namorado

domingo, 27 de novembro de 2011

NA EUROPA: melancolia socialista.

Hoje, vou dar-vos a conhecer um pequeno texto noticioso, publicado no diário espanhol El País, escrito em Bruxelas, pelo jornalista , Ricardo Martínez de Rituerto, intitulado “Papandreu culpa a los conservadores de "hacer fracasar a Europa" ”, cujo subtítulo é “Los socialistas europeos buscan respuestas a la crisis que los arrolla”.
Pelo texto, se pode confirmar a gravidade do esvaziamento político que atingiu o Partido Socialista Europeu. Em contrapartida, não se consegue vislumbrar o mínimo sinal de esperança nos horizontes por ele sugeridos. Tenhamos esperança, apesar de tudo, de que se trate apenas de uma falha de informação e fiquemos a aguardr melhores notícias.


Mas se isso não acontecer , talvez não nos reste outra saída do que a de nos rebelarmos contra a inércia cinzenta das burocracias que sufocam o socialismo europeu, condenando-o a uma quase irrelevância. Uma irrelevância que as dificuldades presentes tornam insuportável.


Vejamos o texto:

"Los socialistas europeos celebran este viernes y sábado en Bruselas el congreso de su partido en la atmósfera de depresión y desorientación propia de quienes se han convertido en los administradores de políticas que sus electores consideran serviles a las ideas liberales y a los mercados. “Necesitamos otro espacio político”, dice el danés Poul Nyrup Rasmussen en el discurso de despedida como presidente del Partido de los Socialistas Europeos (PSE), un mandato que comenzó con otras expectativas en 2004. En su parlamento, Rasmusen ha dado calor político al ex primer ministro griego Yorgos Papandreu, quien, a su vez, ha arremetido contra “la Europa conservadora que ha hecho muy poco y muy tarde” por evitar la crisis que tiene a la UE contra las cuerdas.
Papandreu ha sido el penúltimo socialista al que la crisis le ha costado el cargo, justo por delante de los socialistas españoles barridos en las urnas el pasado domingo. A ambos les precedió el portugués José Socrates. Ante este panorama, Rasmussen ha animado a sus correligionarios con el hecho de la llegada de socialistas a los Gobiernos de Irlanda, Finlandia y Dinamarca, en todos lo casos en coalición y sólo en Copenhague al frente del Ejecutivo. Socialistas quedan también en las coaliciones gubernamentales de Eslovaquia (con próximas elecciones que pintan mal para ellos), Austria y Bélgica (en funciones).
Para animar al auditorio ha dicho Ramussen que quizá haya de nuevo socialistas al frente de Bélgica (si es que Elio di Rupo, que hace unos días tiró la toalla de formador de Gobierno, acepta el encargo regio de seguir intentándolo), Alemania (donde hay elecciones el próximo otoño), Francia (con François Hollande deseoso de desplazar a Nicolas Sarkozy en mayo de 2012) e Italia, en fecha imprevisible.
En buena ley, más deseos que realidades. “El enfado contra la austeridad está ahí fuera”, ha dicho Rasmussen a un auditorio que lo sabe de sobra porque lo está pagando caro. Con ánimo batallador ha pedido que estos dos días de debate y reflexión sean los de renovación y reactivación del socialismo europeo.
Papandreu ha reconocido las cosas como son: Europa “hoy está dominada por los conservadores”, antes de arrojar sobre ellos toda la responsabilidad de lo que ocurre: “Son los que han hecho fracasar Europa y han fallado al pueblo”. En el caso griego, subraya, fueron los conservadores de Nueva Democracia quienes minaron el territorio. Él, ha dicho, sólo heredó los problemas y adoptó medidas impopulares “para poner la casa en orden”, siguiendo los dictados de la Comisión Europea, el Banco Central Europeo y el Fondo Monetario Internacional.
Las referencias le han servido para explicar su órdago fallido del referéndum sobre el plan de rescate griego: se trataba de “redistribuir el poder, dar el poder a la gente, voz a su voluntad e ir más allá de los intereses conservadores”. En el aire ha quedado por qué no llegó hasta el final en su deseo de dejar al pueblo que “decidiera su futuro” mientras ha vuelto a hacerse eco de palabras que de repetidas suenan a hueco a electores de izquierda frustrados: estrategia responsable de crecimiento, Europa competitiva, necesidad de invertir en la juventud y el empleo...
Rasmussen cede la presidencia del PSE al exprimer ministro búlgaro Serguei Stanishev, que en 2009 perdió en su país las elecciones generales y europeas."

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

O LIXO DA VIRTUDE

Hoje, dia de greve geral, é um dia politicamente importante. Vai saber-se com que expressividade se vai manifestar a ansiedade pelos horizontes confiscados, por um dia a dia que parece afunilar-se num garrote de dificuldades, por uma revolta contra uma desigualdade social que cresce em benefício de cada vez menos privilegiados à custa de um número cada vez maior de cidadãos. Vamos saber se continua impante essa hipocrisia rasteira que qualifica a magra retribuição do trabalho humano como um despesismo fatal e os gordos lucros auferidos pelos detentores do capital como o doce mel de todas as virtudes.

Acho que é um dia adequado para vos oferecer a transcrição de um texto retirado, com a devida vénia, do jornal argentino Página 12. O seu autor, Eduardo Febbro, escreveu-o em Paris. O seu título é sugestivo e revelador: “En Europa el poder es de Goldman Sachs”. E num pequeno excerto, que serve de subtítulo, acrescenta:
“Pertenecen a la red que Sachs tejió en el Viejo Continente y, en grados diversos, participaron en las más truculentas operaciones ilícitas orquestadas por la institución norteamericana. Además, no son los únicos”
.

Vivemos numa conjuntura em que se têm vindo a incendiar alaridos, aparentemente ferozes, contra pequenos e médios corruptos, o que será bom se desembocar em punições justas e se não for a cortina de fumo necessária para se não descobrir a verdadeira grande corrupção, incrustada na lógica do próprio capitalismo ou executada com um virtuosismo suficientemente subtil para a pôr a coberto das malhas parciais de uma justiça arrastada. É certo que este vendaval de virtude, que reflecte um ascetismo teórico que chega a comover, é por vezes desviado para ajustar contas contra alguma figura pública com que as fontes não simpatizam, contra algum político que não lhes agrada. E isso é mau.

Mas tudo isso são esquálidos amendoins, quando tomamos contacto com o que o texto que vou transcrever nos diz. E com isso não podemos deixar de nos indignar e de nos alarmar. O que pode haver de confisco invisível de bens públicos pela simples inércia das sinergias perversas desta rede de interesses, empurra para uma relativa insignificância os roubos mais onerosos de dinheiros públicos que até hoje se conhecem. E, no entanto, a comunicação social europeia, quer os virtuosos arautos do neo-liberalismo instalado, quer os miolos moles que fazem ecoar o senso comum mediático, aplaudem a chegada, a importantes alavancas do poder político e económico, do que podemos objectivamente recear que sejam alguns meliantes, mas festejando-os com se fossem puros arcanjos de um céu da economia onde se respira exclusivamente honestidade, rigor e verdade.

Não sei se isto é uma tragédia ou uma vergonha, mas vamos lá a ler o texto para que nos lembremos sempre da estatura moral dos poderes hoje instituídos nesta Europa em delírio:

"La historia podría colmar todas las expectativas de los adeptos a las teorías del complot. ¿Dónde está el poder mundial? La respuesta cabe en un nombre y un lugar: en la sede del banco de negocios Goldman Sachs. El banco norteamericano logró una hazaña poco frecuente en la historia política mundial: colocar a sus hombres a la cabeza de dos gobiernos europeos y del banco que rige los destinos de las políticas económicas de la Unión Europea. Mario Draghi, el actual presidente del Banco Central Europeo; Mario Monti, el presidente del Consejo Italiano que reemplazó a Silvio Berlusconi; Lucas Papademos, el nuevo primer ministro griego, pertenecen todos a la galaxia de Goldman Sachs. Estos tres responsables, dos de los cuales, Monti y Papademos, forman la avanzada de la anexión de la política por la tecnocracia económica, pertenecen a la red que Sachs tejió en el Viejo Continente y, en grados diversos, participaron en las más truculentas operaciones ilícitas orquestadas por la institución norteamericana. Además, no son los únicos. Se puede también mencionar a Petros Christodoulos, hoy al frente del organismo que administra la deuda pública griega y en el pasado presidente del National Bank of Greece, al que Sachs le vendió el producto financiero conocido con el nombre de Swap y con el cual las autoridades griegas y Goldman Sachs orquestaron el maquillaje de las cuentas griegas.
El dragón que protege los intereses de Wall Street cuenta con hombres clave en los puestos más decisivos y no sólo en Europa. Henry Paulson, ex presidente de Goldman Sachs, fue nombrado luego secretario del Tesoro norteamericano, mientras que William C. Dudley, otro alto cargo de Goldman Sachs, es el actual presidente de la Reserva Federal de Nueva York. Pero el caso de los responsables europeos es más paradigmático. La palma de honor se la lleva Mario Draghi. El hoy presidente del Banco Central Europeo, BCE, fue vicepresidente de Goldman Sachs para Europa entre los años 2002 y 2005. En ese puesto, Draghi tuvo un desempeño más que ambiguo. El título de su cargo era “empresas y deudas soberanas”. Precisamente, en ese cargo Draghi tuvo como misión vender el incendiario producto Swap. Ese instrumento financiero es un elemento determinante en el ocultamiento de las deudas soberanas, es decir, en el maquillaje de las cuentas griegas. Esa trampa fue la astucia que permitió a Grecia calificarse para formar parte de los países que iban a utilizar el euro, la moneda única europea. Técnicamente, y con Goldman Sachs como operador, se trató en ese entonces de transformar la deuda exterior de Grecia de dólares a euros. Con ello, la deuda griega desapareció de los balances negativos y GS se llevó una jugosa comisión. Luego, en 2006, Goldman Sachs vendió parte de ese paquete de Swaps al principal banco comercial del país, National Bank of Greece, dirigido por otro hombre de GS, Petros Christodoulos, ex trader de Goldman Sachs y en la actualidad director del organismo de gestión de la deuda de Grecia que él mismo y los ya mencionados contribuyeron a disimular primero y a incrementar después. Mario Draghi tiene un historial pesado. El ex presidente de la República Italiana Francesco Cossiga acusó a Draghi de haber favorecido a Goldman Sachs en la atribución de contratos importantes cuando Draghi era director del Tesoro e Italia estaba en pleno proceso privatizador. Lo cierto es que el ahora director del Banco Central Europeo aparece masivamente sindicado como el gran vendedor de Swaps en toda Europa.
En ese entrevero de falsificaciones surge el jefe del Ejecutivo griego, Lucas Papademos. El primer ministro fue gobernador del Banco Central griego entre 1994 y 2002. Ese es precisamente el período en el que Sachs fue cómplice del ocultamiento de la realidad económica griega y en tanto que responsable de la entidad bancaria nacional, Papademos no podía ignorar la trampa que se estaba montando. Las fechas en las que ocupó el cargo hacen de él un operador del montaje. En la lista de notables le sigue Mario Monti. El actual presidente del Consejo Italiano fue consejero internacional de Goldman Sachs desde 2005. En resumen, muchos de los hombres que fabricaron el desastre fueron llamados ahora a tomar las riendas de puestos clave y con la misión de reparar, a costa de los beneficios sociales de los pueblos, las consecuencias de las estafas que ellos mismos llevaron a cabo. No caben dudas de que existe lo que los analistas llaman “un gobierno Sachs europeo”. El portugués Antonio Borges dirigió hasta hace poco –acaba de renunciar– el Departamento Europa del Fondo Monetario Internacional. Hasta 2008, Antonio Borges fue vicepresidente de Goldman Sachs. El desaparecido Karel Van Miert –Bélgica– fue comisario europeo de la Competencia y también un cuadro de Goldman Sachs. El alemán Ottmar Issing fue sucesivamente presidente de la Bundesbank, consejero internacional del banco de negocios norteamericano y miembro del Consejo de Administración del Banco Central Europeo. Peter O’Neill es otro hombre de la enredadera: presidente de Goldman Sachs Asset Management, O’Neill, apodado El Gurú de Goldman Sachs, es el inventor del concepto de Brics, el grupo de países emergentes compuesto por Brasil, Rusia, India, China y Sudáfrica. A O’Neill lo acompaña otro peso pesado, Peter Sutherland, ex presidente de Goldman Sachs Internacional, miembro de la sección Europa de la Comisión Trilateral –lo mismo que Lucas Papademos–, ex integrante de la Comisión de la Competencia en la Unión Europea, fiscal general de Irlanda e influyente mediador en el plan que desembocó en el rescate de Irlanda. Alessio Rastani tiene toda la razón. Este personaje que se presentó ante la BBC como un trader dijo hace unas semanas: “Los políticos no gobiernan el mundo. Goldman Sachs gobierna el mundo”. Su historia es ejemplar, de doble juego, como las personalidades y las carreras de los brazos mundiales de Goldman Sachs. Alessio Rastani dijo que era un trader londinense, pero luego se descubrió que trader no era y que podría formar parte de Yes Men, un grupo de activistas que, a través de la caricatura y la infiltración de los medios, denuncian el liberalismo. Quedará para las páginas de la historia mundial de la impunidad la figura de estos personajes. Empleados por una firma norteamericana, orquestaron una de las mayores estafas que se hayan conocido, cuyas consecuencias se pagan hoy. Fueron premiados con el timón de la crisis con las que ellos complotaron."

domingo, 13 de novembro de 2011

UM PASSADO COM FUTURO

Algumas centenas de antigos militantes do MES comemoraram, ontem, na Costa da Caparica, os trinta anos da sua extinção. Estiveram presentes protagonistas das principais cisões e vários rostos da vida completa do MES. Estiveram presentes cidadãos que usaram a sua vida sem protagonismo na esfera pública, militantes de diversas causas generosas, militantes políticos sem exposição mediática, detentores de prestígios exteriores à política, deputados e ex-deputados, ex-Ministros, ex-Secretários de Estado, ex-Secretários Gerais do Partido Socialista, um ex-Presidente da República. Sem mesas de honra, sem primeiras filas, sem vénias, mas com um grande calor humano, com uma fraternidade subtil mas patente, bem dispostos. Gente com uma auto-imagem suficientemente afirmativa para pensar que o que fez, em conjunto, sob aquela bandeira, por pouco que tivesse sido, foi importante; mas com a auto-ironia bastante para saber que essa importância não justifica a empáfia da grandiloquência.

Se um voo rápido da imaginação nos levasse a ver toda aquela gente, apostando numa iniciativa política comum, é realista pensar-se que a paisagem política portuguesa seria outra. E mesmo que, num assomo de modéstia, a imaginação se limitasse ao espaço de um único partido (pensando naquele a que pertenço, penso no PS), é realista pensar-se que, se aqueles que ali estavam e são militantes do PS, traduzissem o sentido que atribuíram aos sonhos ali comemorados numa imaginação política actual, em que todos se reconhecessem, rapidamente nos afastaríamos de qualquer cinzentismo abafado. Mas todos sabemos que essa imaginação não é realizável, embora a devamos deixar pairar como sombra orientadora ou como amável e virtuosa ameaça, ainda que frágil e suave.

O tempo deixou, no que cada um de nós viu no rosto dos outros, a sua implacável marca e uma discreta melancolia. A memória foi-nos reconduzindo aos rostos dos nossos passados, num intercâmbio de recordações dispersas e calorosas, por vezes simplesmente intuídas, às vezes passageiras, sempre luminosas. As diferenças antigas tornaram-se pequenas e amigáveis. O essencial ficou de pé, como uma saudade da razão.

Vivemos um tempo em que algumas narrativas das grandes esquerdas já foram encerradas nos atalhos da história, enquanto outras parecem ter perdido o futuro, quando se deixaram extraviar demasiadas vezes nos seus presentes. Mas o tempo cruel do capitalismo agonizante não conseguiu fechar, na arca dos impossíveis e do esquecimento, as desamparadas narrativas das pequenas esquerdas. Elas que nasceram frágeis e minoritárias (quando eram enormes as narrativas dum realmente existente, que afinal não existia), questionando-se ao mesmo tempo que questionavam, subsistem com simplicidade, abertas a novos sonhos e a novas maneiras de sonhar um futuro.

Cientes da diversidade de opiniões ali presente, mas que a ninguém embaraçou, aquelas centenas de cidadãos, sob a superfície emocionada de uma simples efeméride, penso eu, que homenagearam a semente de utopia que há trinta e quarenta anos os animou. Uma utopia feita de palavras simples, virtuosamente indissociáveis, sedentas de uma sinergia insubstituível: liberdade e democracia; igualdade e justiça; fraternidade e solidariedade. Ou seja, sair do capitalismo pela mão do povo, através da sua vida e da sua força, através de mutações sociais politicamente sustentadas, com a ajuda (apenas ajuda, ainda que importante) de um Estado que seja democraticamente seu. Numa palavra, levar a democracia ao extremo de si própria.

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

A GLOBALIZAÇÃO DO PROTESTO

Os movimentos de protesto têm saltado fronteiras. Os políticos prudentes começam a perceber que é temerário ignorá-los. Muitos jovens têm ganho as ruas, mas não as têm ganho sozinhos. A sua revolta, contra a exclusão de uma sociedade que despreza objectivamente as suas capacidades, transforma-os em irmãos de todos os excluídos. E com todos eles estão também solidários todos os que rejeitam uma sociedade radicada na injustiça e na desigualdade social. Não é dominante entre as multidões indignadas uma explícita recusa do capitalismo, mas o que muito legitimamente exigem não lhes pode ser dado por ele. Paralelamente, não parecem dispostos a renunciar à democracia, seja a que pretexto for.


As esquerdas têm-se mostrado atentas, cientes talvez da energia renovadora destes movimentos de protesto, mas não devem encará-los como algo que lhes seja exterior. Os indignados também são esquerda, pelo menos objectivamente. Não se trata , portanto, de os seduzir para dar mais força a allgo que já exista, mas de abrir em conjunto com eles caminhos novos e comuns.

Por tudo isto, pareceu-me importante dar voz, uma vez mais, a Joseph E. Stiglitz, Professor da Universidade de Columbia (USA) e Prémio Nobel da Economía, transcrevendo um artigo seu, publicado há uns dias atrás no diário madrileno, “El País”. Tinha como título :“La globalización de la protesta”; e como subtítulo:“El euro en peligro - La búsqueda de recursos contra el contagio”. Eis o texto:


“ El movimiento de protesta que nació en enero en Túnez, para luego extenderse a Egipto y de allí a España, ya es global: la marea de protestas llegó a Wall Street y a diversas ciudades de Estados Unidos. La globalización y la tecnología moderna ahora permiten a los movimientos sociales trascender las fronteras tan velozmente como las ideas. Y la protesta social halló en todas partes terreno fértil: hay una sensación de que el "sistema" fracasó, sumada a la convicción de que, incluso en una democracia, el proceso electoral no resuelve las cosas, o por lo menos, no las resuelve si no hay de por medio una fuerte presión en las calles. En mayo visité el escenario de las protestas tunecinas; en julio, hablé con los indignados españoles; de allí partí para reunirme con los jóvenes revolucionarios egipcios en la plaza de Tahrir de El Cairo; y hace unas pocas semanas, conversé en Nueva York con los manifestantes del movimiento Ocupar Wall Street (OWS). Hay una misma idea que se repite en todos los casos, y que el movimiento OWS expresa en una frase muy sencilla: "Somos el 99%".
Este eslogan remite al título de un artículo que publiqué hace poco. El artículo se titula Del 1%, por el 1% y para el 1%, y en él describo el enorme aumento de la desigualdad en Estados Unidos: el 1% de la población controla más del 40% de la riqueza y recibe más del 20% de los ingresos. Y los miembros de este selecto estrato no siempre reciben estas generosas gratificaciones porque hayan contribuido más a la sociedad (esta justificación de la desigualdad quedó totalmente vaciada de sentido a la vista de las bonificaciones y de los rescates); sino que, a menudo, las reciben porque, hablando mal y pronto, son exitosos (y en ocasiones corruptos) buscadores de rentas.
No voy a negar que dentro de ese 1% hay algunas personas que dieron mucho de sí. De hecho, los beneficios sociales de muchas innovaciones reales (por contraposición a los novedosos "productos" financieros que terminaron provocando un desastre en la economía mundial) suelen superar con creces lo que reciben por ellas sus creadores.
Pero, en todo el mundo, la influencia política y las prácticas anticompetitivas (que a menudo se sostienen gracias a la política) fueron un factor central del aumento de la desigualdad económica. Una tendencia reforzada por sistemas tributarios en los que un multimillonario como Warren Buffett paga menos impuestos que su secretaria (como porcentaje de sus respectivos ingresos), o donde los especuladores que contribuyeron a colapsar la economía global tributan a tasas menores que quienes ganan sus ingresos trabajando.
Se han publicado en estos últimos años diversas investigaciones que muestran lo importantes que son las ideas de justicia y lo arraigadas que están en las personas. Los manifestantes de España y de otros países tienen derecho a estar indignados: tenemos un sistema donde a los banqueros se los rescató, y a sus víctimas se las abandonó para que se las arreglen como puedan. Para peor, los banqueros están otra vez en sus escritorios, ganando bonificaciones que superan lo que la mayoría de los trabajadores esperan ganar en toda una vida, mientras que muchos jóvenes que estudiaron con esfuerzo y respetaron todas las reglas ahora están sin perspectivas de encontrar un empleo gratificante.
El aumento de la desigualdad es producto de una espiral viciosa: los ricos rentistas usan su riqueza para impulsar leyes que protegen y aumentan su riqueza (y su influencia). En la famosa sentencia del caso Citizens United, la Corte Suprema de Estados Unidos dio a las corporaciones rienda suelta para influir con su dinero en el rumbo de la política. Pero mientras los ricos pueden usar sus fortunas para hacer oír sus opiniones, en la protesta callejera la policía no me dejó usar un megáfono para dirigirme a los manifestantes del OWS.
A nadie se le escapó este contraste: por un lado, una democracia hiperregulada, por el otro, la banca desregulada. Pero los manifestantes son ingeniosos: para que todos pudieran oírme, la multitud repetía lo que yo decía; y para no interrumpir con aplausos este "diálogo", expresaban su acuerdo haciendo gestos elocuentes con las manos.
Tienen razón los manifestantes cuando dicen que algo está mal en nuestro "sistema". En todas partes del mundo tenemos recursos subutilizados (personas que desean trabajar, máquinas ociosas, edificios vacíos) y enormes necesidades insatisfechas: combatir la pobreza, fomentar el desarrollo, readaptar la economía para enfrentar el calentamiento global (y esta lista es incompleta). En Estados Unidos, en los últimos años se ejecutaron más de siete millones de hipotecas, y ahora tenemos hogares vacíos y personas sin hogar.
Una crítica que se les hace a los manifestantes es que no tienen un programa. Pero eso supone olvidar cuál es el sentido de los movimientos de protesta. Son ellos una expresión de frustración con el proceso electoral. Son una alarma.
Las protestas globalifóbicas de 1999 en Seattle, en lo que estaba previsto como la inauguración de una nueva ronda de conversaciones comerciales, llamaron la atención sobre las fallas de la globalización y de las instituciones y los acuerdos internacionales que la gobiernan. Cuando los medios de prensa examinaron las reclamaciones de los manifestantes, vieron que contenían mucho más que una pizca de verdad. Las negociaciones comerciales subsiguientes fueron diferentes (al menos en principio, se dio por sentado que serían una ronda de desarrollo y que buscarían compensar algunas de las deficiencias señaladas por los manifestantes) y el Fondo Monetario Internacional (FMI) encaró después de eso algunas reformas significativas.
Es similar a lo que ocurrió en la década de 1960, cuando en Estados Unidos los manifestantes por los derechos civiles llamaron la atención sobre un racismo omnipresente e institucionalizado en la sociedad estadounidense. Aunque todavía no nos hemos librado de esa herencia, la elección del presidente Barack Obama muestra hasta qué punto esas protestas fueron capaces de cambiar Estados Unidos.
En un nivel básico, los manifestantes actuales piden muy poco: oportunidades para emplear sus habilidades, el derecho a un trabajo decente a cambio de un salario decente, una economía y una sociedad más justas. Sus esperanzas son evolucionarias, no revolucionarias. Pero en un nivel más amplio, están pidiendo mucho: una democracia donde lo que importe sean las personas en vez del dinero, y un mercado que cumpla con lo que se espera de él.
Ambos objetivos están vinculados: ya hemos visto cómo la desregulación de los mercados lleva a crisis económicas y políticas. Los mercados solo funcionan como es debido cuando lo hacen dentro de un marco adecuado de regulaciones públicas; y ese marco solamente puede construirse en una democracia que refleje los intereses de todos, no los intereses del 1%. El mejor Gobierno que el dinero puede comprar ya no es suficiente.”

terça-feira, 8 de novembro de 2011

POR UM GOVERNO EUROPEU!

Os empadões mediáticos que nos servem todos os dias, nos vários meios de comunicação social, tendem a reduzir a Alemanha a uma sujeita pesadona e antipática, algo feiosa, que nos diz coisas desagradáveis e nos censura, quase como se fosse uma antiga mestra das velhas escolas da outra senhora. A malta irrita-se, com alguma razão, recordando como toda a Europa foi generosa, quando não tergiversou um segundo, ao tratar-se de consentir na incorporação da RDA na RFA e desse modo na União Europeia. E isto, apesar do claro risco geopolítico para a balança de forças intra-europeia de passar a existir na União Europeia um Estado demasiado mais poderoso do que qualquer dos outros. Aceitou-se esse efeito colateral do desmoronamento soviético com solidariedade e júbilo. Aliás, é também por causa dessa reunificação que a Sr.ª Merkl, não pena ainda hoje no paraíso cinzento do antigo Leste Europeu.


Mas a Alemanha não é apenas uma colecção de matronas antipáticas, de banqueiros sôfregos e de tecnocratas rectilíneos, inventados para nos causarem pesadelos. A Alemanha é também inteligência e generosidade, espírito crítico e ousadia prospectiva. A comprová-lo, está o texto de opinião, publicado recentemente no jornal espanhol, “El País”, que a seguir se transcreve. O seu autor, Joschka Fischer, foi Ministro das Relações Exteriores da Alemanha e vice-chanceler no governo SPD/Verdes, liderado por Gerhard Schröder, de 1998 a 2005; tendo ainda sido líder do partido “Os Verdes”, durante quase 20 anos.

No seu texto, Joschka Fischer, que foi o político mais popular da Alemanha, durante a maior parte do tempo em que esteve no Governo, defende que se deve “Europeizar a Europa”. E, dando a sua opinião sobre o caminho a seguir para aí se chegar, escreveu:

“La eurozona se encuentra en el vórtice de la crisis financiera global, porque solo allí, en el ámbito de la segunda moneda más importante después del dólar, la crisis golpeó una "estructura" débil en lugar de un Estado con poder real. Una estructura que está dilapidando la confianza de los ciudadanos y los mercados en su capacidad de resolver conflictos, al tiempo que empuja el sistema financiero internacional al borde del desastre.
En otras palabras, la crisis financiera actual refleja una crisis política de la eurozona que pone en cuestión la existencia misma del proyecto europeo. Si fracasa la unión monetaria europea, no quedará mucho del mercado común ni de las instituciones y tratados europeos. Tendríamos que tirar por la borda seis décadas de exitosa integración europea, con consecuencias desconocidas.
Este fracaso coincidiría con el surgimiento de un nuevo orden mundial y el fin de dos siglos de predominio occidental. El poder y la riqueza se están desplazando al este de Asia y otros países emergentes, mientras que Estados Unidos estará ocupado con sus propios problemas y cambiando su foco de atención desde el Atlántico hacia el Pacífico. Si los europeos no abordan sus intereses ahora, nadie lo hará por ellos.
El problema de Europa no es lo que sucedió, sino lo que no se hizo: la creación de un gobierno europeo común.
A principios de la década de 1990, cuando la mayoría de los Estados miembros de la Unión Europea decidieron formar una unión monetaria con una moneda y un banco central comunes, la idea de un gobierno central carecía de apoyo. Como resultado, se pospuso esa fase de construcción de la unión monetaria, dejando un imponente edificio que carecía de cimientos sólidos para asegurar estabilidad en tiempos de crisis. La soberanía monetaria se convirtió en una causa común, pero el poder necesario para ejercerla se mantuvo en las capitales nacionales.
En esos años se creía que bastaba con formalizar reglas: la imposición de límites obligatorios sobre el déficit, la deuda y la inflación. Pero este fundamento normativo resultó ser una ilusión: los principios siempre deben contar con poder que los respalde, de lo contrario no pueden resistir la prueba de la realidad.
La eurozona, una confederación de Estados soberanos con moneda, principios y mecanismos comunes, hoy no está pasando la prueba. Incapaz de responder con decisión a una crisis, está perdiendo la confianza, que es el activo más importante de toda moneda. A menos que el poder político de Europa se europeíce a través de la evolución de la actual confederación hacia una federación, la eurozona -y la UE en su conjunto- se desintegrará. Los costes políticos, económicos y financieros de la renacionalización serían enormes; en todo el mundo se teme, con razón, el colapso de la Unión Europea.
Por el contrario, si se da respuesta ahora al déficit político de la unión monetaria, antes que nada mediante la creación de una unión fiscal (con presupuesto y obligaciones comunes), será posible una federación política real. Y, seamos claros: nada menos que unos Estados Unidos de Europa tendrían la fuerza necesaria para evitar el desastre en ciernes.
Nos guste o no, la eurozona tendrá que actuar como vanguardia de la Unión Europea, porque la UE en su conjunto, con sus 27 Estados miembros, no querrá ni será capaz de acelerar la unificación política. Por desgracia, sencillamente no se podría lograr el apoyo unánime a los cambios a los que habrá que someter los tratados de la UE. Entonces, ¿qué se debe hacer?
Los europeos dieron pasos importantes hacia la integración fuera del ámbito de los tratados de la UE (pero muy en el espíritu europeo), cuando accedieron a abrir sus fronteras con el llamado Acuerdo de Schengen (hoy parte de los tratados de la UE). Basándose en esa experiencia exitosa, la eurozona debe evitar el pecado original de la UE de crear una estructura supranacional que carezca de legitimación democrática.
La eurozona necesita un gobierno que, tal y como están las cosas, solo puede consistir en los respectivos jefes de Estado y de Gobierno, algo que ya ha comenzado. Y, porque no puede haber unión fiscal sin una política presupuestaria común, no se puede decidir nada sin los Parlamentos nacionales. Esto significa que es indispensable una Cámara Europea, integrada por líderes de los Parlamentos nacionales.
En un principio, tal cámara puede ser un órgano consultivo en un contexto en que los Parlamentos nacionales mantengan sus competencias; más adelante, teniendo como base un tratado intergubernamental, debe convertirse en una verdadera institución parlamentaria de control y toma de decisiones, integrada por miembros delegados de los Parlamentos nacionales. Por supuesto, ya que un tratado de este tipo significaría una amplia transferencia de soberanía a las instituciones intergubernamentales europeas, sería necesaria su legitimación popular directa mediante referendos en todos los Estados miembros, entre ellos (y especialmente), Alemania.
Nada de esto aborda asuntos importantes, como las políticas comunes para garantizar la estabilidad económica y promover el crecimiento. Pero, si algo hemos aprendido de la crisis actual, es que estos temas ni siquiera se pueden encuadrar a menos y hasta que la eurozona posea un marco institucional confiable, con una base sólida que consista en un verdadero gobierno, un control parlamentario eficaz y genuina legitimación democrática.”

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

A EUROPA NUMA ENCRUZILHADA

Ulrich Beck , professor da Universidade de Munique, é um eminente sociólogo alemão com grande prestígio internacional. Favorável à União Europeia, com decisiva contribuição para a compreensão da "sociedade do risco" tem procurado analisar as consequências políticas e sociais da globalização. Preocupado com a assimetria entre a intensidade com que se protegeram os bancos e a modéstia das medidas de combate ao desemprego e à pobreza, considerou que “a União Europeia se pode converter num monstro político”.


Foi entrevistado recentemente por José María Ridao , para o jornal madrileno "El Pais". Numa breve introdução diz-se sobre a sua posição quanto à actual conjuntura: " partidario de profundizar en la Unión Europea, que considera como una concreción del cosmopolitismo, contempla con preocupación los efectos de la actual situación económica y política sobre las instituciones comunes". Eis as perguntas e as respectivas respostas :


Pregunta. Debates políticos que parecían cruciales, como la inmigración o el multiculturalismo, han desaparecido de escena.

Respuesta. La crisis ha modificado por completo el paisaje de los problemas. Hace poco tiempo en Alemania se debatía, en una comisión oficial de la que formo parte, sobre la energía nuclear y el futuro de las renovables. Nadie vuelve a hablar del asunto, y esto es algo que tiene que ver con la percepción de los riesgos.

P. Los riesgos, sin embargo, no parecen nuevos, sino los de siempre: paro, recesión, pobreza.
R. Existe una conexión entre esos riesgos y los nuevos; una conexión que han percibido las generaciones más jóvenes en España y otros países europeos. Incluso, en Estados Unidos. Por un lado, los Gobiernos están empleando ingentes recursos para salvar a los bancos y las instituciones financieras; por otro, el paro o la pobreza, por no hablar de la educación o de la inversión en ciencia, no han recibido un tratamiento equivalente en la agenda política. Esta alteración de las prioridades está provocando una pérdida de legitimidad de las instituciones.
La crisis ha modificado por completo el paisaje de los problemas”

P. ¿A eso responderían movimientos como los indignados?
R. No son movimientos protagonizados por los más pobres ni por los excluidos, sino por una clase media frustrada. Constituyen un fenómeno atípico: no parten de un grupo específico ni tampoco responden a una reivindicación concreta; son transnacionales pero, a la vez, no están organizados. Podrían representar un paso importante en la redefinición de la política en un nivel superior al del Estado nación.

P. Es decir, superar lo que usted llama el "nacionalismo metodológico".
R. La democracia parlamentaria es una democracia nacional, por lo menos hasta ahora. En Alemania, por ejemplo, los jueces del Tribunal Constitucional están actuando como euroescépticos al pronunciarse contra algunas decisiones económicas con las que se ha comprometido el Gobierno con el resto de los miembros de la Unión. Creen estar defendiendo la democracia contra Europa, cuando el proyecto europeo está más allá de los planteamientos nacionales.


P. Pero el proyecto europeo no parece tener hoy otro objetivo que salir de la crisis.
Movimientos como los indignados los protagoniza la clase media frustrada”
R. Dejemos de lado la cuestión de si la gestión de la crisis será o no exitosa. O mejor, pensemos de manera optimista y digamos que sí, que será exitosa. A lo que nos estamos enfrentando, en cualquier caso, es a un cambio absoluto en la manera de entender Europa. La Unión era un espacio donde las decisiones se adoptaban de forma multilateral; ahora, sin embargo, tienden a ser unilaterales, y todas confluyendo en Berlín. La visión alemana de cómo resolver la crisis se está aplicando en un nivel europeo, lo que cuestiona el consenso que alcanzamos hace años. Como alemanes, no queríamos una Europa alemana sino una Alemania europea.


P. ¿En qué se traduce este cambio?
R. Por un lado, genera quejas de España, Portugal, Italia o Grecia, que perciben que su soberanía, o incluso su dignidad, están siendo dañadas. Por otro, molesta a los alemanes, que se dicen que, al final, tienen que pagar por todos.


P. Se afirma, sin embargo, que solo hay una política para salir de la crisis, sea o no la que defiende el Gobierno alemán.
R. Es cierto que la crisis obliga a la austeridad, en España y en el resto de los países. Pero están surgiendo nuevos conflictos en la eurozona que sobrepasan el que existía entre donantes y receptores de recursos. Estos últimos están perdiendo su voz a la hora de tomar decisiones dentro de la UE. Al mismo tiempo, se ha empezado a transmitir la impresión de que no se forma verdaderamente parte de la Unión si no se está en el euro y, como en el caso de los receptores de recursos, se está apartando del proceso de toma de decisiones a los países en esta situación. Si se mantiene semejante rumbo, y aun en el supuesto de que, como decía, la gestión de la crisis fuera exitosa, la UE se puede convertir en un monstruo político.
El paralelismo con Estados Unidos no vale. No hay una nación europea”


P. ¿Está en riesgo el proyecto de la Europa unida?
R. Desde hace unos meses, en Alemania existe un consenso, no sólido, pero al fin y al cabo un consenso, acerca de que la salida de la crisis no exige menos Europa, sino más. Creo que este consenso responde a lo que llamo el "imperativo cosmopolita", esto es, la conciencia de que no existe otra alternativa que cooperar o fracasar. Cuando se percibe que el proyecto europeo está en peligro, la inmediata reacción de los partidos políticos es reclamar más Europa. Lo sorprendente, sin embargo, es que nadie sabe exactamente qué significa eso.


P. Y, ¿qué significa?
R. Se tiene una idea confusa acerca de Europa. En ocasiones se habla de los Estados Unidos de Europa como una utopía que debería colocarse en el horizonte, y que tomaría como modelo los Estados Unidos de América. El paralelismo no vale: no es lo mismo una sociedad de inmigrantes, organizada como un único Estado y orientada hacia la idea de nación, que la situación de la que parte Europa. No hay una nación europea ni debería haberla, porque eso sería tanto como entregarse a un nacionalismo de mayor dimensión que en absoluto encaja con las diferencias que existen por historia y por cultura. A menudo, los alemanes pensamos Europa como un Estado federal. Joschka Fisher, un político al que aprecio y del que soy amigo personal, tiene esta visión. Pero existen otras.


P. Tratándose de construir Europa, da la impresión de que no hay diferencias entre derecha e izquierda.

R. En Alemania, no. Adenauer, Kohl eran firmes europeístas. Pero ahora los problemas para cada una de ambas opciones son otros. Los programas de austeridad que todos se ven obligados a aplicar se han convertido en un suicidio político para los Gobiernos, sin importar si son de derecha o de izquierda. Los socialdemócratas en Alemania están a la búsqueda de un programa, mientras que Merkel va cambiando de opinión según las necesidades para mantener el poder.


P. Y, sin embargo, sólo se habla de crisis de la izquierda. Se suele citar el caso de España.
R. Seguramente el Gobierno español ha cometido errores específicos, pero no es solo la izquierda la que está en crisis. Son también los partidos políticos. Ni la derecha ni la izquierda parecen haber adquirido conciencia de hasta qué punto la seguridad es lo que más importa a la gente de la calle.


P. Tal vez porque no pueden ofrecerla.
R. Se ha manifestado una curiosa paradoja durante estos últimos años, y es que, cuando las instituciones financieras entraron en crisis, su poder no disminuyó sino que se ha acrecentado. Todo el mundo está obligado a hablar el lenguaje económico y a entender lo que ocurre, incluidos los expertos que no supieron prever los acontecimientos. Es imposible escapar a la economía, y de ahí el incremento del poder de las instituciones financieras.


P. Que, además, es un poder transnacional.
R. La democracia está atrapada en una contradicción: permite votar y elegir Gobiernos en un sistema nacional que cada vez pierde más poder en el nivel transnacional. La política es nacional y está nacionalmente organizada, pero los problemas no son nacionales. A mi juicio, ese es el mayor problema político en estos momentos, cómo reinventar el sistema político en el nivel transnacional.

P. Reinventarlo, ¿en qué sentido?
R. Los padres fundadores de Europa fueron extremadamente inteligentes. Dijeron que Europa es, en realidad, una larga crisis, y convinieron en que construirla consistía en identificar siempre el siguiente paso político. En un momento, ese paso fue el euro, por más que ahora no tengamos ni recursos ni ideas para seguir adelante. Pero existe un profundo desfase entre la realidad de Europa que ya estamos viviendo y las instituciones, una realidad más compleja de la que se capta en los debates públicos.

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

POLÍTICA ITALIANA

Uma sondagem, feita recentemente em Itália, mostra continuidade na descida da popularidade de Berlusconi. O seu partido (PDL) está agora com 25% e a coligação de direita que lidera fica-se pelos 35,5%. O chamado terceito pólo, uma congregação heterogénea de ex-democratas cristãos ( UDC), ex-neo-fascistas ( FLI), ex-apoiantes do centro-esquerda (API) e defensores das autonomias (MPA), mantém-se nos 13%, continuando a UDC a ser o partido dominante, com os seus 7%. O centro-esquerda no seu conjunto chega a 45,5%, o que talvez lhe desse a possibilidade de formar governo, se os resultados de umas possíveis eleições correspondessem ao número desta sondagem. O Partido Democrático, partido liderante, ficou-se, no entanto, por uns modestos 28%, sendo significativo o resultado obtido pela Esquerda e Liberdade ( 7,5%) e pela Itália dos Valores ( 7%). Os Verdes(0,8%) o Partido Socialista Italiano(0,7%) e as listas Bonimo-Panella (1,5%) tiveram um expressão reduzida. Fora dos três blocos, surge a esquerda mais radical com 1,5% e o Movimento 5 Estrelas, que busca apoios principalmente na esquerda, com 3,5%.




Dado o desastre político em que se transformou o "berlusconismo", não pode deixar de se mencionar como significativo o facto de o partido alternativo, o Partido Democrático, resultado da estranha fusão entre o sector maioritário do ex-PCI e de os democratas cristãos de esquerda não reunir intenções de voto que cheguem sequer aos 30%.Registe-se a resistência da Itália dos valores , cada vez mais claramente um fenómeno não conjuntural e uma recuperação da esquerda que não aderiu ao PD, por intermédio da Esquerda e Liberdade, eventualmente na esteira do carisma de N. Vendola. As tentativas de ressuscitar, como força política a ter em conta, o velho Partido Socialista Italiano,parecem não ter eco no eleitorado. Ou seja, a direita italiana afunda-se, mas a esquerda não se revela como uma alternativa entusiasmante. O centro heterogéneo parece sem força para se assumir como solução autónoma , mas com a importância suficiente para ser , mais ou menos discretamente cortejado.

terça-feira, 1 de novembro de 2011

A BUSHIZAÇÃO DE OBAMA

Vítima de uma excessiva complacência perante a pesporrência israelita em face da Palestina, a qual aliás a longo prazo é verdadeiramente suicida, a actual administração americana deixou-se isolar na questão da entrada da Palestina nas Nações Unidas.


E perante a decisão da UNESCO de admitir a Palestina como um dos seus membros, os USA ficaram possessos. Ficaram em fúria, quando até deveriam ter sido eles a encorajar essa admissão; quanto mais não fosse para mimorar sequelas antigas.


Desnorteados, resolveram retaliar, tendo anunciado que deixavam de contribuir financeiramente para a UNESCO. Ou seja: uma vergonha. Ainda se estivesse ao leme o desvairado Bush, haveria também lugar a espanto, mas olhar-se-ia para o insólito desmando como mais um sintoma de uma liderança alucinada e reaccionária. Mas como quem está à frente dos USA é Obama, só há uma palavra para se dizer : vergonha!

HOMENAGEM a Carlos Drummond de Andrade



Talvez estimulado pela homenagem que ontem eu próprio aqui prestei, ao grande poeta de língua portuguesa, o brasileiro Carlos Drummond de Andrade, escrevi hoje, também para o homenagear, o poema que vou reproduzir.



Homenagem a Carlos Drummond de Andrade


A vida correu-lhe nas palavras
como um rio de casas

e de pessoas percorrendo ruas
com suas dores perdidas já sem esperança

com seus sonhos imensos desvendados
e as lágrimas esquecidas dos Outonos

A vida atravessou o seu sorriso
como alegria e tristeza

minutos como pétalas de sombra
e as pérolas dos gritos e da cólera

uma simples flor a rua estreita
os passos sem sossego da aventura

A vida atravessou a sua carne
como espada de vento

e o poeta seguiu a rota dos naufrágios
enorme e solidário

deixou poemas no calor das praças
erguidas nos braços de mil homens

nas praias quentes de Copacabana
foi ele o silêncio vertical


[Rui Namorado]