sexta-feira, 24 de agosto de 2018

BANALIDADES DE BASE




Em política, quem se esquece do passado dificilmente consegue imaginar o futuro. Mas quem  conserva o passado apenas como uma ferida feita de heroísmos e cobardias , distribuindo céus e infernos, talvez permaneça mergulhado nas suas justas cóleras, mas dificilmente se lembrará do horizonte. Por isso, pouco poderá contribuir para que esse horizonte seja realmente procurado como esperança.

O segredo dos grandes “exércitos” de todas as naturezas não foi o de serem constituídos por heróis, mas o de, no calor das refregas, terem transformado em heróis os homens comuns.

Mostrares, mesmo com verdade, como o teu companheiro é fraco e titubeante não aumentará a energia  com que ele te possa ajudar.

Três banalidades de que dificilmente discordaremos, mas que muitas vezes estranhamente esquecemos.

domingo, 19 de agosto de 2018

Libertar os professores socialistas?





Libertar os professores socialistas?

Há um velho dilema objetivo que se coloca aos professores socialistas. Especialmente aos militantes e aos simpatizantes do PS, mas que envolve também os seus eleitores habituais. Devem os professores socialistas esquecer o seu vínculo partidário, quando se trata da atividade sindical, enquanto  os militantes e simpatizantes de outros partidos o não fazem?  Deve, nestas circunstâncias, o Partido continuar totalmente alheio a esse dilema, não dando aos socialistas qualquer orientação explícita e taxativa ,  nem sequer dando também  qualquer indicação preferencial com o simples carácter de sugestão?

O que foi noticiado este fim de semana quanto às posições dos sindicatos dos professores no que concerne à aprovação do próximo orçamento de Estado  reacende a questão. De facto, os sindicatos em causa, e em especial os três com maior visibilidade, declararam ir pressionar o PCP e o BE para chumbarem o orçamento, se dele não resultar a satisfação completa das reivindicações que os opõem ao Governo. Ou seja, pedem a esses partidos para derrubarem o atual Governo do PS, dando assim à direita uma oportunidade para o substituir na sequência das novas eleições que daí adviriam.

Julgam que um Governo de direita trataria melhor os professores do que o atual ? Foi isso que fez o Governo anterior? E acham os professores simpatizantes das diversas áreas políticas da esquerda que um governo de direita seria melhor para o país do que o atual governo? Se o pensam por que continuam a ser de esquerda? Se o não pensam, porque deixam que as lideranças sindicais atuem em sua representação contra aquilo que pensam?

Os três sindicatos mais visíveis têm como líderes mais ostensivos dirigentes cuja identidade política é pública: um é militante do PCP, outro é militante do PSD e outro (mais recente, mais fogoso e com menos apoios) é de um antigo candidato do MAS. Todos convergiram na iniciativa política acima referida, dirigida ao chumbo do próximo orçamento. É aliás comovente apreciar o entusiasmo  com que um destacado militante do PSD se associa angelicamente à exigência feita ao PCP e ao BE, para chumbarem o próximo orçamento, se ele não for tão longe como acham  que deverá na reversão das malfeitorias feitas pelo seu próprio partido quando foi governo. A pergunta regressa: o que pensam os professores socialistas de tudo isto? O que contam os professores socialistas em tudo isso?

E aqui eu não discuto o fundo da questão, mas apenas se a constância do desacordo entre o Governo e os sindicatos, é uma razão suficiente para derrubar este governo, abrindo de novo as portas à direita? Que os professores de direita possam pensar isso acho compreensível. Que os professores de qualquer das áreas da esquerda o pensem acho estranho, a não ser que discordem da atual solução e preferissem que tivesse continuado a governar  Passos Coelho. Mas que os militantes, os simpatizantes e os eleitores do PS pensem dessa maneira acho muito improvável. E, no entanto, esta área política envolve, previsivelmente, entre 35 a 40 % do eleitorado. Quem os ouve? Quem os pode representar?

Em função, de tudo isto dou comigo a regressar há umas  décadas atrás, quando os professores do PCP quebraram a unidade sindical dos professores e criaram os seus próprios sindicatos. Eu não era então militante do PS, mas da UEDS, tendo havido reuniões com militantes do PS para se equacionar a possibilidade de fazermos algo de paralelo nos professores ao que havia feito  o PCP. A iniciativa morreu. Passaram décadas; mas  o problema mantém-se: os socialistas estão dispersos pelos vários sindicatos e em todos subalternos. É uma opção possível deixar tudo como está. Mas não acho que seja uma boa opção.

Por outro lado, a expressão organizada dos professores dentro do PS é fraca, embora já o tenho sido mais. Durante mais de uma década, a partir de 1989, participei na Federação a que pertenço numa seção sectorial de Educação. Mais algumas idênticas existiam então noutras federações. Poucas , mas com alguma audibilidade. Tudo entretanto foi esmorecendo, perdendo visibilidade e relevância política autónoma. 

Algum tempo depois, na minha Federação foi desencadeado um subtil processo de confinamento e neutralização da seção de educação de que era membro . No termo de um sub-reptício  processo  a seção foi extinta, aparentemente por força do jogo de pequenas lógicas de pequenos poderes.  Olhando hoje para o rosário dos protagonistas e animadores principais de tão discretas manobras, surpreendo-me a desconfiar do lóbi dos negociantes de colégios.

Seja como for, com o desprendimento e o distanciamento  que a senectude traz, parece-me tempo de os professores socialistas forjarem uma dinâmica própria que os habilite a ter um papel de interlocução no seio do Partido e no seio dos Sindicatos. Não se trata de preconizar a criação de um bloco de guerreiros que se ponha ao serviço de poderes ou da sua contestação. Trata-se de criar um lugar organizado de troca de ideias, útil ao país, à educação, aos sindicatos e ao partido. Para começar, juntamo-nos organizadamente. Depois decidimos o que fazer. E se a direção do PS tomar este processo em mãos, isso então será excelente.

segunda-feira, 6 de agosto de 2018

O REGRESSO DOS SOCIALISTAS ESPANHÓIS




O REGRESSO DOS SOCIALISTAS ESPANHÓIS

1.Foi recentemente difundida em Espanha uma sondagem ( barómetro CIS), cujo trabalho de campo decorreu em julho. Ela merece alguma reflexão pelas tendências que confirma e pela diferença que assinala em face do que outras indiciavam há uns meses atrás, uma das quais em maio passado.
Como se recordam, no início de junho, um governo do PSOE , liderado por Pedro Sánchez, tomou posse em Espanha,  depois de ter derrubado com uma moção de censura o governo de direita protagonizado pelo PP e liderado por Mariano Rajoy. Pela lei espanhola, um derrube de um governo por essa via suscita a instituição de um governo liderado pelo partido que apresentou a moção de censura. Foi isso que aconteceu.
Foi um gesto ousado que se seguiu a uma sentença judicial que atingiu em cheio o PP no campo da corrupção. A maioria necessária para a aprovação da moção era de 176 deputados, tendo votado 180 a favor e 169 contra, com uma abstenção. De um lado, ficou o PP e os Cidadãos, do outro, o PSOE, o Podemos e todos os partidos nacionalistas autonómicos, com exceção de um deputado da Coligação Canária que se absteve.
Com um gesto político ousado o líder do PSOE, apenas com 84 deputados em 350, chegou ao Governo. A sua base de apoio parlamentar é objetivamente frágil, mas não deve ser menosprezada a força política que resultou da sua ousadia e das dificuldades políticas que projetou nos campos dos seus adversários e dos seus concorrentes.

2. Em maio, antes da queda do governo de Rajoy, uma sondagem divulgada pela Metroscopia, dava o primeiro lugar aos Cidadãos com 29,1% das intenções de voto, com os outros três partidos na casa dos 19%: 19,8 % para o Podemos, 19,5% para o PP e 19 % para o PSOE. Os dois partidos de direita somavam 48,6% dos votos, os dois partidos de esquerda somavam 38,8 % dos votos.
No início de junho, entrou em funções o novo Governo do PSOE. Já em agosto, foi difundida uma nova sondagem pelo barómetro do CIS (Centro de Investigações Sociológicas) que oferece um panorama totalmente diferente. O PSOE é quem reúne um maior número de intenções de voto, com 29.9 %, o que representa uma subida superior a 10%, em comparação com a sondagem atrás referida; o Podemos reúne 15,6% dos votos, o que traduz uma quebra de 4,4 %; os Cidadãos e o PP ficaram empatados com 20,4% das intenções de voto, o que representa um ligeiro acréscimo de 0,9% para o PP e uma perda de 8,7 % ara os Cidadãos. Os dois partidos de esquerda somam agora 45,5% e os dois de direita 40,8%. Assim, foi nítida a inversão da relação de forças antes verificada. Por outro lado, os partidos nacionalistas catalães somam 5,2 % e os nacionalistas bascos somam 1,8%. E o facto de estarem concentrados em partes circunscritas do espaço eleitoral garante-lhes uma representação parlamentar, cuja relevância não é menosprezável.
É uma comparação muito significativa, mesmo cotejando duas sondagens pelas quais foram responsáveis entidades diferentes, tanto mais que são grandes tendências que aqui estão em causa. 

3. No campo da direita, a mudança do contexto parece ter quebrado o elan dos Cidadãos. Eles reivindicavam-se como alternativos e totalmente diferentes do PP, recusando qualquer corresponsabilidade na sua gestão. Davam centralidade a uma forte crítica ao fisiologismo corrupto do PP e arvoravam a bandeira de uma inovação, alegadamente radical, destinada a fazer murchar os partidos tradicionais.
Mas a moção de censura obrigou-os a mostrar quão secundárias eram quer a sua incorrupção quer o seu ímpeto inovador. Na verdade, ao terem que assumir a sua preferência pelo PP, em detrimento do PSOE, na votação da moção de censura ,tornaram óbvio o que tanto queriam esconder: o seu “nem de direita nem de esquerda” , afinal, não era mais do que uma ocultação da sua pertença inequívoca  ao campo da direita. E assim se revelaram menos puros do que aquilo que queriam fazer crer e menos novos do que aquilo que ostentavam.
O PP teve o desaire mais dramático para um partido de direita, habituado ao exercício do poder: perdê-lo. Rajoy saiu de cena e a disputa subsequente da liderança deu uma vitória ambígua a Pablo Casado , que representa uma linha mais identitária e aparentemente mais direitista, no plano ideológico. Foi desse modo derrotada Soraya Sáenz de Santamaría, um importante esteio do governo de Rajoy, a qual parecia protagonizar uma via mais pragmática e mais virada para o centro. Uma via que parecia estruturalmente mais adequada a competir com os Cidadãos, no espaço político da direita que aspira a mostrar um verniz mais democrático e modernizador. A disputa entre os dois principais partidos da direita tornou-se mais complexa e mais incerta.
Na esquerda, o Podemos passou a estar longe da desejada “ultrapassagem” do PSOE que antes parecia estar em vias de conseguir, mas conquistou uma influência político-institucional que antes lhe faltava. Em termos absolutos, pode até parecer que recuou, no entanto, se olharmos para o tabuleiro político no seu todo, fica claro a perda dos pontos percentuais referidos não impediu o aumento da sua capacidade de influência político-institucional.
Seja como for, a atual relação de forças no xadrez político espanhol sugere uma relativa volatilidade nos dois campos. Dentro da esquerda, a relação de forças está longe de se poder considerar cristalizada, parecendo claro que o protagonismo político de qualquer dos dois campos tem uma componente interativa incontornável. Ou seja, a força política quer do PSOE quer do Podemos depende muito do modo como cada um deles souber interagir com o outro. Tanto o sectarismo como a arrogância parecem inclinações suicidárias, embora o apoucamento consentido de qualquer deles esteja bem  longe da  salubridade.

4.Sem menosprezar o efeito positivo de algumas medidas anunciadas e de algumas grandes linhas de orientação propostas, seria pouco convincente atribuir-lhes a causalidade principal no espetacular aumento das intenções de voto no PSOE. Mais admissível será valorizar-se a própria ousadia do PSOE, ao assumir a sua alternatividade em face do governo de direita, sem ambiguidades nem tergiversações, com base numa conjugação ostensiva com todas as outras esquerdas, bem como com todos aqueles que, por qualquer razão, se opunham a Rajoy.
Pedro Sánchez em 2014 foi eleito Secretário do PSOE em eleições primárias internas. Em outubro de 2016, demitiu-se, uma vez que na direção do partido se formara uma maioria que se lhe contrapunha. Essa maioria na executiva federal do PSOE advogava uma atitude transigente em face do PP que permitisse a este partido formar governo, o que dependeria do consentimento do PSOE e viria a acontecer. Formou-se então uma comissão de gestão provisória que dirigiu o PSOE até à realização de novas eleições primárias internas que viriam a ter lugar em maio de 2017.
Pedro Sánchez concorreu de novo ao cargo de que tinha sido forçado a demitir-se. Teve contra ele como principal adversária a Presidente do governo andaluz Susana Díaz. Esta dispunha do apoio da maioria dos deputados e dos senadores do PSOE, bem como dos Presidentes das mais importantes comunidades autónomas dirigidas pelos socialistas, tendo ainda a seu lado a preferência da larga maioria da Comissão Executiva provisória do partido. Todos os antigos secretários-gerais do PSOE e alguns outros destacados históricos do PSOE apoiaram publicamente a dirigente andaluza, que aliás encabeçava a mais poderosa Federação do partido. Concorreu também Patxi López que já havia sido Presidente do Congresso dos Deputados e Presidente do Governo Basco, protagonizando uma espécie de via intermédia. Os resultados foram claros Pedro Sánchez recebeu cerca de 50% dos votos, Susana Díaz, 40% e Patxi López 10%.
Se olharmos com objetividade para tudo isso, podemos ver que os militantes do PSOE desautorizaram claramente a deriva de complacência para com a direita, defendida e praticada pelos opositores internos de Pedro Sánchez. No entanto, os outros poderes internos do PSOE não deixaram de constranger Pedro Sánchez, potenciados pela projeção institucional de muitos deles nos diversos níveis do Estado. Complementarmente, a questão catalã veio perturbar ainda mais a afirmação de uma nova via que Pedro Sánchez pretenderia protagonizar. O efeito positivo que tivera nas intenções de voto o regresso de Sánchez à liderança do PSOE, foi-se esbatendo. Voltou à superfície da memória do eleitorado de esquerda a sombra projetada pela complacência perante o governo Rajoy. Uma complacência da responsabilidade dos setores moderados dos socialistas espanhóis que cercaram Sánchez e que a tinham imposto ao partido ao arrepio da vontade dos militantes.
A sondagem de maio, acima referida, projeta eloquentemente esse bloqueio a que o PSOE fora levado pela inconsistência estratégica dos seus setores mais moderados e mais envolvidos no exercício de poderes políticos. A sondagem mais recente mostra como um gesto ousado pode romper um cerco aparentemente irremovível.
Tudo isto exige uma leitura crítica do que aconteceu, sendo desejável que nunca esqueçamos e que os partidos de esquerda nunca esqueçam que têm uma base social própria que os envolve e incorpora, cuja natureza mais funda está no facto de globalmente ser ela a principal prejudicada com as desigualdades sociais estruturais inerentes ao tipo de sociedade atual. Um tipo de sociedade em que o capitalismo é predominante.
Na verdade, separar um partido de esquerda da sua base social é o mesmo que cortar um ramo de uma árvore: não passará muito tempo até perder o viço e secar. De facto, a realidade vai-nos mostrando, uma e outra vez, de várias maneiras, em diversos planos, que um partido de esquerda, que um partido socialista, que se deixe instrumentalizar pela direita perdendo o horizonte que lhe é próprio, fica á beira de um precipício de irrelevância política que pode até fazê-lo desparecer.

quarta-feira, 1 de agosto de 2018

SONDAGENS AO LONGO DE UM ANO



SONDAGENS AO LONGO DE UM ANO

Vale a pena olhar para o conjunto das sondagens, quanto às intenções de voto para as legislativas, publicadas em Portugal desde o início de julho de 2017 até ao fim de julho de 2018. Consideraremos as que foram feitas pela Eurosondagem e pela Aximage, as duas empresas que as fizeram sistematicamente durante esse período. Estão em causa 23 sondagens, das quais 13 da Aximage e 10 da Eurosondagem, feitas ao logo de 13 meses.

Se tivermos em conta o conjunto das sondagens, o PS oscilou entre um máximo de 45,1% e um mínimo de 38,1%; o PSD entre 28,7 % e 23,6 %; o BE entre 10,6% e 7,7 %; a CDU entre 8,9 % e 6,9%; e o CDS entre 7,5% e 4,2%. Separadas, as sondagens das duas entidades apresentam algumas diferenças.

Na Aximage, o PS oscila entre 45,1% e 38,1 %, na Eurosondagem varia entre 40% e 42%. Já quanto ao PSD a variação é entre 28,7 % e 23,6%, na Aximage; e de 28,7% e 27,3%, na Eurosondagem. Quanto ao BE, na Aximage, oscila entre um máximo de 10,6 % e um mínimo de 7,7%; e na Eurosondagem, entre 9,5% e 7,7%. Por seu lado, a CDU varia entre 8,9% e 6,9 % na Aximage; e entre 7,8% e 6,9% na Eurosondagem. Por último, o CDS, na Aximage, oscila entre 7,2% e 4,2 %; e na Eurosondagem, entre 7,5 % e 6%. A soma dos partidos de direita (PSD+CDS), na Eurosondagem varia entre 35,5% e 33,3%;na Aximage entre 35,1% e 28,9%.

Comparando os resultados obtidos pelas duas entidades, verifica-se que a variação entre os máximos e os mínimos é maior na Aximage do que na Eurosondagem.
Pressupondo que não ocorram situações extremas, que revolvam em profundidade as preferências eleitorais do último ano, e olhando para o conjunto dos resultados, pode concluir-se que é provável que o PS seja o partido mais votado, podendo mesmo ter mais votos sozinho do que a soma dos partidos de direita. Mas será difícil e improvável que chegue à maioria absoluta.

Já o PSD, consistentemente abaixo dos 30%, vê agravada a sua situação pelo facto de a sua soma com o CDS não ter chegado em nenhuma sondagem aos 36%. Está assim longe de um bom resultado, tal como do governo. O efeito Rui Rio, como consequência de uma novidade hipoteticamente esperançosa, parece assim não ter passado de uma miragem. No caso do CDS, a aspiração de Cristas de ser levada a sério como candidata viável à liderança do Governo da República cobriu-se de ridículo.
Genericamente, o potencial eleitoral do BE e da CDU manteve-se estável, com oscilações não significativas. Em conjunto, atingem intenções de voto que tendem a não baixar dos 15% e a não exceder os 18%. Tal como o PS, não parecem ter sido prejudicados pela celebração do acordo que sustenta o governo atual. Ao contrário, os três tendem a somar em regra mais de 55% das preferência dos eleitores, quase sempre mais de 20% acima do bloco de direita.

Sublinhando o sentido dos comentários feitos, as sondagens mais recentes revelam uma tendência ascendente do PS, ainda que ligeira; uma perda ligeira do PSD; uma estabilidade relativa do BE e da CDU; e um impulso de subida do CDS, conquanto pouco significativo.

Num estudo de opinião recentemente tornado público, ficou clara a preferência dos eleitores do PS, do BE e da CDU, pela continuidade do atual acordo político. Confirmou-se assim a ideia de que é eleitoralmente muito arriscado romper o acordo presente para qualquer dos seus protagonistas. Risco especialmente grande para quem for o causador da rotura, sendo certo, no entanto, que mesmo os partidos que o não tivessem causado poderiam ser fortemente penalizados, pelas consequências 
devastadoras do confisco objetivo ao povo de esquerda de um horizonte de esperança.
As negociações orçamentais, as lutas sindicais e o grau de acrimónia que as envolva, bem como as decisões que o Governo for tomando não podem deixar de ter em conta tudo isso. 

Se a solução portuguesa começa a ser vista como esperança noutros países europeus, seria caricato e trágico que fossemos nós a deixá-la escapar entre os dedos.