Os vivos, os que trabalham, sabem que a vida é uma imensa partida de xadrez jogada em vários tabuleiros. Por isso, ocupam neles os seus lugares e lutam. Sentam-se de mãos nuas com a sabedoria imensa do seu próprio sofrimento, sem tratados e sem bússolas, mas não desistindo do futuro.
Mas os outros, aqueles que conservam, ciosamente como coisa sua, o trabalho morto e os frutos da mãe-terra, só querem jogar no seu próprio tabuleiro uma partida eternamente igual em que já sabem ser os vencedores. E dizem: “É aqui que tudo se decide. Aqui é o único lugar de todo o jogo”. Os seus sábios numerólogos, esforçados fabricantes de um destino fechado, há muito decidido, acenam rigorosamente com a cabeça, a dizer que sim , a dizer que sim, que é aqui no tabuleiro viciado que habitam a virtude e a verdade.
Caros irmãos vivos, é certo que não podemos deixar deserto o tabuleiro em que a nossa derrota está inscrita. Também aí teremos que lutar. Mas poderemos deixar vazios todos os outros ? Podemos consentir que os de cima joguem apenas no seu próprio campo ?
É tempo de um verdadeiro pacto entre os de cima e os de baixo: jogaremos lealmente no tabuleiro deles, mesmo viciado, mas eles terão de se sentar do outro lado em todos os tabuleiros desta vida. Jogaremos aberto, sem fronteiras, com nossas mãos polidas pela luta, com as palavras de todos os poetas e com a cólera fria dos justos.
Nem todas as batalhas ganharemos, mas na grande partida que jogarmos nos vários tabuleiros desta vida, mais cedo ou mais tarde venceremos.
quarta-feira, 27 de julho de 2011
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