segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

BRASIL - um candidato presidencial.

Na página virtual da revista brasileira CartaCapital foi ontem publicada uma entrevista com o o senador pelo Estado do Amapá,  Randolfe Rodrigues, feita pela jornalista  Cynara de Menezes . O entrevistado é o candidato do PSOL (Partido Socialismo e Liberdade ), às eleições presidenciais  que vão decorrer no Brasil no próximo ano. A Presidente Dilma será candidata e terá como concorrente provável como grande polarizador da direita brasileira, Aécio Neves pelo PSDB, bem como Eduardo Campos apoiado pelo PSB  (que até há pouco era apoiante de Dilma). Estes, a fazer fé nas sondagens, são os candidatos com maior expressão eleitoral. Como resulta do que se tem publicado neste blog, tenho uma opinião favorável quanto às presidências de Lula e de Dilma, e quanto ao papel desempenhado pelo PT na política do Brasil. Isso não impede que considere importante conhecerem-se opiniões críticas dessas políticas que se assumem como expressões de esquerda. Por isso, vou transcrever a entrevista acima referida. Ei-la:

Êxtase e terror. Esses foram os sentimentos do senador Randolfe Rodrigues ao ser escolhido no domingo 1º o pré-candidato do PSOL à Presidência da República. Rodrigues derrotou Luciana Genro em uma votação simbólica no partido. Aos 43 anos, o parlamentar do Amapá é o mais jovem presidenciável na disputa de 2014. “Não vamos só marcar posição”, promete.

CartaCapital: Na última eleição, o candidato do PSOL, Plínio de Arruda Sampaio, teve menos de 1% dos votos. A candidatura do partido é para valer ou só para marcar posição?

Randolfe Rodrigues: Um partido que governa uma capital, Macapá, que foi para o segundo turno na maior metrópole da Amazônia, Belém, e teve um desempenho excepcional na segunda maior cidade do País, com Marcelo Freixo no Rio de Janeiro, não pode dar-se ao luxo de apresentar uma candidatura que não se proponha a ser uma opção de esquerda. Não quero dizer que nos sagraremos vitoriosos, isso é circunstância da eleição. Mas não vamos marcar posição. Vamos para apresentar um programa alternativo, pois temos um diagnóstico de que as candidaturas apresentadas têm mais semelhanças do que diferenças.

CC: Se o senhor não fosse senador e não tivesse mandato garantido, renunciaria para ser candidato?

RR: Obviamente, a minha condição é mais confortável. Meu nome não era o melhor no PSOL. Eu tinha dito ao companheiro Chico Alencar que ele reunia melhores condições, mas existe a necessidade de mantermos a bancada no Rio de Janeiro, e a definição é que ele se candidate a deputado federal novamente. Eu poderia ter me candidatado a governador do Amapá, onde as pesquisas me colocam em confortável posição de liderança. Mas vamos lá. Como diria Paul Verlaine, recebi a notícia com “êxtase e terror”.

CC: O tempo de tevê do PSOL é curto, cerca de 2 minutos diários. Com esses escassos minutos e poucos recursos, como pretendem crescer?

RR: Gosto muito de uma análise que o Plínio de Arruda Sampaio tem feito sobre as gerações das campanhas eleitorais. As campanhas dos anos 1960 eram marcadas pelo palanque. A partir de 1989, se inaugura a influência da tevê; o século XXI vai ser marcado pelas redes sociais. Na campanha de 2010, o desempenho de Marina Silva provou que não é mais fundamental só a tevê.

CC: Como o PSOL pretende colocar-se como alternativa a esse bipartidarismo que existe hoje no Brasil e ao mesmo tempo à Rede/PSB de Marina e Eduardo Campos?

RR: As candidaturas não propõem a ruptura com o modelo. Estamos há 23 anos com continuidade do governo, em termos econômicos é a continuidade do chamado modelo liberal periférico, assentado em uma tríade baseada em metas de inflação, câmbio flutuante e superávit primário. Não se fala de outra coisa, se estabelece como dogma que o problema da inflação, por exemplo, só se combate com alta dos juros. E é assim há 20 anos, só se combate a inflação com o Banco Central praticando as mais altas taxas de juro do planeta. Isso imobilizou a nossa taxa de crescimento, que foi inferior a 3%. O resultado? As famílias brasileiras são as mais endividadas da América Latina.

CC: Como enfrentar a inflação?

RR: Qualquer economista verá que a maioria dos preços é de alimentos ou públicos. É absurdo que o preço dos alimentos no Brasil seja especulado, em um país que é um dos maiores exportadores de grãos do mundo. E por que o preço dos alimentos é especulado? Os governos se derretem pelo que eles chamam de “agronegócio”, colocam até nome bonito, “agrobusiness”. Na verdade, enchem a boca para o latifúndio e esquecem de fazer a reforma agrária. O último presidente da história que teve coragem de ir em praça pública assinar decreto de reforma agrária foi João Goulart. De lá para cá nunca mais. Com isso, têm aumentado a violência no campo, o assassinato de índios. Tudo isso em nome da paz com o agrobusiness. Ao fazer a reforma agrária e levar os alimentos à mesa sem o ataque especulativo do agrobusiness, conseguiremos reduzir o preço. Quanto aos preços públicos (da energia, telefonia), eles estavam em nome do Estado até os anos 1990, quando os tucanos privatizaram tudo. Não propomos reestatizar. É preciso colocar as agências reguladoras para cumprir seu papel de servir ao Estado. Hoje, as agências reguladoras cumprem o papel deprimente de servir ao mercado. A Anatel, por exemplo, está de cócoras para as empresas de telefonia. E aí regiões como a minha não têm serviço que preste e os preços são arbitrários.

CC: Em que o PT deixou a desejar?

RR: Na reforma política, que poderia ter feito. Nas concessões feitas em nome da governabilidade, pois concedeu mais do que mudou as estruturas. Deixou a desejar nas mudanças das estruturas carcomidas do Estado brasileiro. E errou principalmente em relação ao bom exemplo que poderia dar às futuras gerações da política.

CC: O PT argumenta ser impossível governar sem se aliar à direita. Como o PSOL poderia governar sozinho?

RR: Mesmo se a tal governabilidade é necessária, tem de apontar para a ruptura com ela. Não pode governar se acumpliciando, tem de apontar para a demarcação. Não podemos perder a perspectiva de saber quem é o outro lado. Uma coisa é conviver com o outro lado, outra é aceitá-lo como se fosse o nosso. Quando a presidenta da República participa de um evento com representantes do agronegócio e compromete-se com a agenda deles, compromete-se com esse lado. Volto a João Goulart: o governo dele foi mais avançado no cumprimento de suas reformas de base do que o atual. Anunciou algo que o governo atual não tem coragem de fazer, o encampamento de refinarias. Hoje não temos coragem sequer de explorar o pré-sal por via exclusiva da Petrobras. Está aí a diferença.

sábado, 28 de dezembro de 2013

MEMÓRIAS DO COOPERATIVISMO


A fotografia, acima reproduzida, diz respeito ao "Debate  Nacional sobre o Código Cooperativo", primeira grande realização pública do Centro de Estudos Cooperativos da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra, neste caso em colaboração com o Centro de Estudos Cooperativos de Viseu, e que decorreu no Auditório da Reitoria da Universidade  de Coimbra,em 1984, tendo sido então apoiada pelo INSCOOP e pelo Governo. 

Na mesa que presidia a esta sessão do debate, pode ver-se ao centro, usando da palavra, o Secretário de Estado do Fomento Cooperativo, Armando Lopes, membro do Partido Socialista que substituiu Mesquita Machado que o havia precedido nesse lugar , mas pedira a demissão, para voltar a liderar a Câmara Municipal de Braga. Estávamos então sob um governo PS/PSD ( Bloco central), liderado por Mário Soares. Além do orador, podem ver-se na mesa da esquerda para a direita: Rui Namorado, coordenador do CEC/FEUC; Alfredo Marques, presidente do Conselho Directivo da FEUC; Manuel Cássio, presidente do INSCOOP; Armando Leitão,presidente do Centro de Estudos Cooperativos de Viseu.

O CEC/FEUC, fundado em 1981, viria mais tarde a transformar-se no CECES/FEUC ( Centro de Estudos Cooperativos e da Economia Social da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra) que hoje existe.

O Código Cooperativo, na sua primeira versão, data de Outubro 1980, quando Francisco Sá-Carneiro era primeiro-ministro de um governo da AD. Sofrera algumas alterações  nos anos imediatos. O movimento cooperativo continuava crítico quanto a alguns dos seus aspectos.

Neste debate, realizado em 1984, foi dada ao movimento cooperativo a oportunidade de apresentar propostas de alteração, com vista a uma revisão que se queria mais profunda do que os ajustamentos anteriores, mas que a subsequente queda do governo acabou por frustrar. Essa profunda alteração só viria a ocorrer em 1997, depois do cavaquismo, sob um governo do PS liderado por António Guterres. Sendo eu deputado do PS nessa legislatura (1995/99), participei nesse processo que decorreu na Assembleia da República e conduziu a uma aprovação unânime  da nova versão do Código Cooperativo.Está actualmente em curso um novo processo de reforma do Código Cooperativo, que se espera que venha a suscitar, como a anterior, a unanimidade na Assembleia da República. Só assim poderá ser conseguida a estabilidade jurídica que tem vigorado neste campo desde 1997.



sábado, 21 de dezembro de 2013

O ENIGMA DE LULA



Emir Sader (1943) é um sociólogo e cientista político brasileiro; graduado em Filosofia pela Universidade de São Paulo, mestre em Filosofia Política e doutor em Ciência Política por essa mesma Universidade;  marxista,colabora com publicações brasileiras e estrangeiras sendo membro do conselho editorial da reputada revista inglesa,  New Left Review. Foi presidente da Associação Latino-Americana de Sociologia (ALAS, 1997-1999) e é um dos dinamizadores do Fórum Social Mundial. Eis o texto referido:


El éxito de Lula como líder político de proyección mundial generó una especie de consenso a escala internacional. Hubo países —como Argentina o Perú— en los que todos los sectores políticos reivindicaban al líder brasileño. Cada uno haciendo su lectura de lo que había supuesto el mandato de Lula, reivindicándolo en contra de otras fuerzas políticas de gobierno o de oposición.
La prioridad de las políticas sociales en el Gobierno de Lula ha permitido que Brasil —el país más desigual del continente y del mundo—, por primera vez, haya conseguido grandes avances en la lucha contra la desigualdad, la pobreza y la miseria. Sin mayores análisis, de parte de algunos, de las condiciones que han permitido esos avances.
En Brasil, Lula sufrió una fuerte oposición de la derecha y de la extrema izquierda. La derecha no pudo asimilar el éxito —interno y externo— de Lula, aun más después del fracaso del Gobierno de Fernando Henrique Cardoso. Primero intentaron silenciar las transformaciones que Brasil ha vivido. A continuación, trataron de atribuir los éxitos a una situación internacional favorable. Pero cuando ésta cambió radicalmente hacia un escenario negativo, se apresuraron a anunciar que el modelo de progreso propuesto por Lula ya se había agotado. La economía ya no lograba crecer como antes, nos encontrábamos al final de un ciclo.
Por su parte, la extrema izquierda creyó que Lula les había “traicionado”, que sus políticas daban continuidad al Gobierno de Cardoso y que pronto sería repudiado por el pueblo. Nada de eso ocurrió, el Ejecutivo de Lula pudo superar la ofensiva de sus opositores, a los que derrotó en 2005 cuando fue reelegido. En 2010 fue su sucesora, Dilma Rousseff, la que se hizo con la presidencia del país al contar con la confianza del pueblo brasileño. Lula salió del gobierno con un 83% de apoyo y un 3% de rechazo, a pesar de tener el monopolio de la prensa privada en su contra.
Cuando surgieron las manifestaciones de junio de este año, el coro —de la derecha y de la extrema izquierda— volvió a subir de tono. El encanto de Lula había terminado. El Gobierno del PT, después de más de 10 años al frente del país, se venía abajo ante las manifestaciones populares. Todo había sido una ilusión pasajera —de 10 años—, pero finalmente todo fracasaba: Brasil, Lula, Dilma y el PT.
No logran entender el motivo por el cual Dilma es más favorita que antes y Lula aun más popular después de que en junio se sucedieran las manifestaciones.
Pero lo cierto es que quien no logra descifrar el enigma de Lula, termina devorado por él. Pasó así con la derecha y con la extrema izquierda brasileña, y ahora también con sus críticos internacionales.

Dilma es ampliamente favorita para ser reelegida —incluso en primera vuelta— y Lula tiene aun más popularidad que ella. Las previsiones negativas respecto a Brasil no han descifrado el enigma Lula y son devoradas por él.
Y es que Lula supo, mejor que nadie, jugar la partida en la lucha por la superación del modelo neoliberal dando prioridad a las políticas sociales, el lado más frágil del neoliberalismo. En segundo lugar, la primera medida de su política internacional fue su rechazo frontal al proyecto que plantea el ALCA, del que Brasil y EEUU habían quedado en dar los arreglos finales. Fue ese bloqueo de Brasil lo que frenó el proyecto y abrió espacios para la integración regional, centrales en los gobiernos progresistas de América Latina.
Para complementar, Lula supo reaccionar con determinación a la crisis recesiva internacional que tuvo su inicio en 2008, haciendo que el Estado brasileño actuara de forma claramente anticíclica, valiéndose de los bancos públicos de Brasil.
Con esto y el éxito de la política internacional brasileña, Lula se ha proyectado como el más importante líder popular contemporáneo —como lo ha reconocido Perry Anderson, que lo situó junto a Nelson Mandela en esa posición—. Uno en el combate al racismo, el otro en el combate al hambre.
¿Por qué el éxito de Lula incomoda? Incomoda a la derecha, porque su referencia esencial, Fernando Henrique Cardoso, fracasó donde Lula tiene éxito. Todas las fuerzas progresistas de los países quieren identificarse con Lula, que a su vez se proclama de izquierda y apoya a los candidatos de izquierda.
Incomoda a la extrema izquierda, porque Lula logró hacer viable un gobierno con un inmenso apoyo popular, de amplias alianzas, que ha logrado lo que ningún otro gobierno había logrado en términos de políticas sociales y de reconocimiento por parte del pueblo.
Hoy Lula desarrolla intensas actividades a partir del Instituto Lula, tanto hacia América Latina como hacia África, además de todo el trabajo que hace por su propio país. En una reunión reciente, realizada en Santiago de Chile, se han elaborado y discutido propuestas de integración latinoamericana en coordinación con el BID, con la CEPAL y con la CAF.
Al mismo tiempo, en el Instituto Lula se elabora un documento que se denomina Informe Lula, que incorpora los discursos que el ex presidente brasileño desarrolla en sus constantes reuniones con intelectuales, con dirigentes políticos y sociales de varios países y continentes, con organismos internacionales, así como cuando recibe los incontables títulos de Doctor honoris causa en universidades. El documento pretende convertir los análisis en propuestas de integración regional en varios planes. Un documento que debe ser lanzado en 2014, con grandes eventos y debates constantes en varios países.

En un mundo donde han desaparecido los grandes estadistas, donde cada uno parece dedicarse a defender los intereses inmediatos de su país, el liderazgo de Lula se proyecta con más fuerza todavía. Porque él representa la visión y las propuestas del Sur del mundo y de América Latina en particular, la prioridad del combate al hambre, la relevancia que África debe tener en el mundo, la posibilidad real de subrayar las dificultades producidas por el neoliberalismo y construir alternativas reales y posibles de un mundo más justo, menos desigual, más humano. De ahí su liderazgo, aun cuando ya no es Presidente, sabe encarnar las necesidades urgentes del mundo de hoy.

sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

A SAUDADE EM FOTOGRAFIAS



Anos setenta: o meu pai ( António Namorado) e eu.


Em 1965, em Loureiro de Silgueiros, nas "bodas de prata" dos meus pais, 
os meus tios Egídio Namorado e Rui Clímaco.

No terraço da República dos Pyn-güyns, na festa da minha formatura 
em julho de 1968,Alberto Martins, Rui Martins, Joaquim Namorado, 
Artur Jorge, Florinda e, ao fundo em pé, António Namorado.

                    Na mesma festa, um outro ângulo: Joaquim Namorado fala.; de costas, o Artur Jorge e a Florinda ouvem; o mesmo acontece com o Rui Martins e com o Alberto Martins. Depois, o Armando de Figueiredo diz qualquer coisa ao Celso Cruzeiro que reflecte com circunspecção; logo atrás um menino olha para o que tem na mão, meu irmão Tó Zé, na altura o "menino reboredo", como ele não gostava nada que lhe chamassem ( hoje, ilustre médico anestesista).



Uma  terceira  fotografia da mesma festa. Sentados, os mesmos, com o Figueiredo encoberto. O Tó Zé, agora de costas, fala comigo, que apareço ao fundo. Em pé de óculos escuros Jorge Loureiro ( o Jorge Limpiao); e depois o meu pai, parecendo estar a ouvir o irmão. Espreitando por detrás dos seus óculos , entre o Jorge e o meu pai, uma menina muito pequenina: a Isabel Clímaco.
.

quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

NEGOCIAÇÃO TRISTE

1
        1. Pensar que a canzoada se acalma, se lhe derem um pequeno pedaço de carne, é pura ilusão. Pelo contrário, vai sempre querer mais e mais. E, quando tivermos que recusar ceder mais, por ser fatal dar-lhe mais seja o que for, vai atacar-nos com a mesma violência com que nos atacaria se nunca se lhe tivesse cedido em nada. Ou ainda com mais, convencida de que quem cede um pouco hoje, talvez possa ir cedendo depois sempre mais e mais.

        2.Encarar a vida politica como uma série de compartimentos estanques, de modo a que se pode negociar dentro de um deles , ser insultado duramente noutro e ver a entidade com se negoceia no primeiro ser infame no ataque a instituições democraticamente legítimas, dentro de um terceiro, é de uma miopia ideológico-política confrangedora.

       3. Ser inerte perante as correntes sociopolíticas de profundidade e hiperativo na reação às frivolidades mediáticas que alimentam a agenda jornalística, é correr o risco de vir a ser uma folha seca levada por uma corrente de acontecimentos que se  ignoram e não se sabe como influenciar.

domingo, 8 de dezembro de 2013

SAUDAÇÃO A NELSON MANDELA





Saudação a Nelson Mandela

Primeiro ser leão
na desregrada cólera
e um enorme irmão dos oprimidos

ser a águia
que inventa a liberdade
no seu imenso voo

ser o braço
do povo que resiste
inteiro e limpo

ser a ideia
vinda do futuro
sempre em riste

na prisão
olhar o que há-de vir
como se fosse já a sua vida

e quando o povo
sinta os seus grilhões
numa dor infinita
ser a brisa de esperança
que não passa

Depois subir a pulso
o rio da história
como se fosse o coração do povo

e ser então o rosto que faltava
da África da esperança
para que o mundo possa descobrir-se
sem limites

Por fim a paz
inofensiva pomba
sem humilhados

só então a paz
quando o vento da cólera
mais justa
rugiu como leão
e nas asas da águia descobriu
um pouco mais de luz

só então a paz
quando a porta fechada
foi aberta
e há caminhos mais justos por abrir

O tempo continua
imenso e sujo
parecendo recusar-se a prosseguir

mas à orquestra dos povos
aportou um novo violino

a cólera mais justa vai ouvir-se
e os braços do destino vão abrir-se

colhendo a liberdade

[ Rui Namorado ]

sábado, 30 de novembro de 2013

ESTA ECONOMIA MATA !


Na sequência do texto que coloquei ontem neste blog, volto  à Primeira Exortação Apostólica do atual  Papa.

Numa perspectiva histórica, está ainda fresca a cumplicidade  da Igreja Católica para com o salazarismo. Não deve ser esquecida. Tal como deve ser recordada a Santa Inquisição. Mas também não devem ser esquecidos os muitos católicos que, ao arrepio da hierarquia da sua Igreja, estiveram do lado certo da História, partilhando a resistência com muitos e muitos portugueses que nunca se conformaram com o fascismo português.

 Mas, se não há que branquear as complacências de quem quer que seja, em face das derivas opressivas que aflijam os povos, seria estulto não acolher com júbilo as novas solidariedades na denúncia de uma degradação neoliberal do capitalismo que, tornando-se mais e mais insuportável para as suas vítimas maiores, exclui o tipo de sociedade em que nos estamos a transformar  da legitimidade ética. De uma legitimidade ética  gerada pela cultura como expressão consensual de um humanismo, para onde convergiram várias ideologias e várias obediências religiosas. Que o Papa se sinta impelido a ser uma testemunha do mundo todo e em especial dos que mais sofrem, afastando-se com clareza do cartel dos poderes de facto que sorvem as nossas vidas, só pode ser um acontecimento maior.

E isto obriga também os agentes políticos colectivos, cuja existência tem na base a resistência ao capitalismo e a ambição histórica de apressar a caminhada para um mundo diferente, para um pós-capitalismo, a reexaminarem o cerne das suas posições, a reapreciarem a medida em que o futuro impregna de facto como esperança as suas posições políticas como seria lógico. Mas se este desafio envolve em primeira linha partidos e sindicatos, não deixa de fora cada militante individualmente considerado, cada cidadão que se sinta parte do povo de esquerda.

De facto, nada de mais irónico ( e de mais trágico) do que as esquerdas (ou algumas delas), descobrirem que a modorra ideológica e política em que se deixaram cair tenha levado a que acordem um belo dia à direita do Papa.

Mas, vamos ao substancial: analisemos com atenção mais um extrato do documento papal acima referido e já ontem aqui parcelarmente transcrito:


“Assim como o mandamento «não matar» põe um limite claro para assegurar o valor da vida humana, assim também hoje devemos dizer «não a uma economia da exclusão e da desigualdade social». Esta economia mata. Não é possível que a morte por enregelamento dum idoso sem abrigo não seja notícia, enquanto o é a descida de dois pontos na Bolsa. Isto é exclusão. Não se pode tolerar mais o facto de se lançar comida no lixo, quando há pessoas que passam fome. Isto é desigualdade social. Hoje, tudo entra no jogo da competitividade e da lei do mais forte, onde o poderoso engole o mais fraco. Em consequência desta situação, grandes massas da população vêem-se excluídas e marginalizadas: sem trabalho, sem perspectivas, num beco sem saída. O ser humano é considerado, em si mesmo, como um bem de consumo que se pode usar e depois lançar fora. Assim teve início a cultura do «descartável», que aliás chega a ser promovida. Já não se trata simplesmente do fenómeno de exploração e opressão, mas duma realidade nova: com a exclusão, fere-se, na própria raiz, a pertença à sociedade onde se vive, pois quem vive nas favelas, na periferia ou sem poder já não está nela, mas fora. Os excluídos não são «explorados», mas resíduos, «sobras».


Neste contexto, alguns defendem ainda as teorias da «recaída favorável» que pressupõem que todo o crescimento económico, favorecido pelo livre mercado, consegue por si mesmo produzir maior equidade e inclusão social no mundo. Esta opinião, que nunca foi confirmada pelos factos, exprime uma confiança vaga e ingénua na bondade daqueles que detêm o poder económico e nos mecanismos sacralizados do sistema económico reinante. Entretanto, os excluídos continuam a esperar. Para se poder apoiar um estilo de vida que exclui os outros ou mesmo entusiasmar-se com este ideal egoísta, desenvolveu-se uma globalização da indiferença. Quase sem nos dar conta, tornamo-nos incapazes de nos compadecer ao ouvir os clamores alheios, já não choramos à vista do drama dos outros, nem nos interessamos por cuidar deles, como se tudo fosse uma responsabilidade de outrem, que não nos incumbe. A cultura do bem-estar anestesia-nos, a ponto de perdermos a serenidade se o mercado oferece algo que ainda não compramos, enquanto todas estas vidas ceifadas por falta de possibilidades nos parecem um mero espectáculo que não nos incomoda de forma alguma.”

sexta-feira, 29 de novembro de 2013

OS DEUSES TÊM SEDE ?


“Hoje, em muitas partes, reclama-se maior segurança. Mas, enquanto não se eliminar a exclusão e a desigualdade dentro da sociedade e entre os vários povos será impossível desarreigar a violência. Acusam-se da violência os pobres e as populações mais pobres, mas, sem igualdade de oportunidades, as várias formas de agressão e de guerra encontrarão um terreno fértil que, mais cedo ou mais tarde, há-de provocar a explosão. Quando a sociedade – local, nacional ou mundial – abandona na periferia uma parte de si mesma, não há programas políticos, nem forças da ordem ou serviços secretos que possam garantir indefinidamente a tranquilidade. Isto não acontece apenas porque a desigualdade social provoca a reacção violenta de quantos são excluídos do sistema, mas porque o sistema social e económico é injusto na sua raiz. Assim como o bem tende a difundir-se, assim também o mal consentido, que é a injustiça, tende a expandir a sua força nociva e a minar, silenciosamente, as bases de qualquer sistema político e social, por mais sólido que pareça. Se cada acção tem consequências, um mal embrenhado nas estruturas duma sociedade sempre contém um potencial de dissolução e de morte. É o mal cristalizado nas estruturas sociais injustas, a partir do qual não podemos esperar um futuro melhor. Estamos longe do chamado «fim da história», já que as condições dum desenvolvimento sustentável e pacífico ainda não estão adequadamente implantadas e realizadas”.


Este texto não foi escrito por um perigoso esquerdista, ou por um nefelibata sem contacto com a realidade. É apenas um pequeno extracto da Primeira Exortação Apostólica de Papa Francisco.

terça-feira, 26 de novembro de 2013

Quinta-feira, em COIMBRA


O PASSADO COM PÉS DE BARRO


O Prof. Oráculo de Sousa ilustrou bem, na sua mais recente conversa de domingo, o espírito da estranha cerimónia ontem urdida em torno de Eanes, com o pretexto de comemorar o 25 de Novembro.

Havia que contrapor o exemplaríssimo Eanes, um ex-Presidente como deve ser, ao pouco recomendável Soares, excessivamente apostado em dizer coisas de esquerda. Não me passa pela cabeça demonizar o primeiro; e o segundo não precisa de ser santificado. Mas não quero ser vítima de ilusionismos.

Votei em Otelo contra Eanes, mas não pude deixar de optar por este contra Soares Carneiro.Mas muitos dos que beatamente fingiram ontem venerá-lo foram ostensivos apoiantes deste último.

É certo que o circunspecto Eanes já saiu do seu  pedestal de alegada  isenção para dar publicamente uma forcinha ao Presidente que estamos a sofrer, quando este queria ser eleito. Mas realmente o que os promotores do evento de ontem pretenderam foi usar Eanes como arma de arremesso contra Soares.Julgando estarem a diminuir o segundo estavam afinal a apoucar o primeiro, deixando bem claro que ele apenas pode servir como um instrumento, já que não tem dimensão para ser uma referência histórica.

Prudentemente, o PS deixou escorrer algumas das suas figuras para dar algum colorido à cerimónia, fazendo de conta que ela era apenas o que os seus promotores queriam fazer crer. Fiquei com alguma incomodidade.Um observador mais distraído podia pensar  que , no fundo no fundo, estava a reconhecer alguma razão ao Prof Oráculo. Ora, este exuberante comentador de domingo não só não teve razão, como distorceu grosseiramente a atitude que realmente Eanes teve como Presidente, pelo menos no que diz respeito ao PS. 

A Eanes não têm que se  regatear méritos, mas não se pode ignorar uma mancha indelével nas suas relações com o PS: a fundação do PRD que viria a liderar. Realmente, ele fora eleito duas vezes com o apoio do PS, sendo duvidoso que o tivesse sido se o PS apoiasse uma outra candidatura contra ele. E mesmo quando Soares lhe retirou o apoio pessoal na segunda candidatura, o PS como partido empenhou-se na sua eleição. E, no entanto, Eanes não hesitou em criar um partido, usando o seu lugar de Presidente (ainda que sem frontalidade), para procurar destruir o PS. Não o conseguiu, mas foi um elemento determinante para a abertura de portas a dez anos de cavaquismo.

Já se vê que o seráfico Eanes esteve longe de ter uma atitude angélica no que diz respeito ao PS. Admito que em política não se devam alimentar rancores por causa de episódios que vão ficando remotos, mas uma organização com profundidade histórica tem que ter sempre a memória bem acordada.

domingo, 24 de novembro de 2013

Agora em COIMBRA - "O mistério do cooperativismo"


Agora é em Coimbra que, na próxima quinta-feira, dia 28 de novembro, ás 18 h e 30 m ,vai decorrer uma sessão de apresentação de um livro meu.


Clicar sobre o convite para o poder ler melhor.)

sábado, 23 de novembro de 2013

O NÓ DO PROBLEMA


Na atual conjuntura portuguesa e europeia, o radicalismo imediatista dos protestos, mesmo no quadro de um contexto táctico imaginativo e até potencialmente fecundo, mesmo que eticamente justificados e politicamente legítimos, são insuficientes, ainda que episodicamente  confortadores. Não vão além de uma vulnerável atitude defensiva.

Por mim, estou convencido que sem uma real ousadia estratégica que assuma a necessidade de encetar um processo reformista de superação do capitalismo, as esquerdas continuarão cercadas. Cercadas dentro de um sistema que se sente confortável e tranquilo enquanto não for contestado na sua globalidade. De facto, enquanto a circulação das ideias e das indignações não o puserem em causa como modo de ser da sociedade, todas as contestações serão encaradas pelos seus protagonistas centrais com descontracção e bonomia.

E se as esquerdas, e em especial a que é eleitoralmente hegemónica, não forem capazes de passar por essa metamorfose, dificilmente abrirão qualquer porta para o futuro. De facto, como poderão aspirar a ser a expressão organizada dos explorados e dos oprimidos, se aceitarem a exploração capitalista como um dado de facto irremovível e a opressão institucional como uma fatalidade? Podem protestar contra a exploração e contra a opressão (e é bom que o façam), mas, se não mostrarem uma vontade prática viável que leve a sair delas, acabarão por espalhar apenas desilusão e desespero.

Não é, por isso, possível adiar mais, sem grandes riscos,  a aposta num reformismo autêntico que caminhe, gradual, democrática e ininterruptamente, para uma nova sociedade. Já não chega um possível discurso milenar de esperança, ideologicamente generoso e eticamente legítimo, se continuar desprovido de apostas práticas concretas imediatas. Não é possível esquecer por mais tempo a actualidade de um horizonte socialista, como contexto estratégico de longo prazo, qualificante e justificativo, das nossas propostas, das nossas políticas, da nossa ambição transformadora.

Os explorados e oprimidos podem bater-se por uma sociedade justa , podem aceitar sacrifícios hoje para uma sociedade de iguais amanhã; não estão mais dispostos a sofrer para que um pequeno grupo de ricos acumule dinheiro e poder à custa da miséria de um número crescente de cidadãos. Muitos estão dispostos a bater-se e sacrificar-se por uma sociedade justa, pela igualdade e pela justiça. Será estulto pensar-se que alguém irá lutar por mais zero vírgula um por cento do PIB, concedendo que a sociedade fique estruturalmente como é hoje.

Este é o problema central. Fugir dele sem o resolver, aconchegando-nos no suave tricotar de pequenas propostas, mesmo acompanhadas por uma forte vociferação de diatribes, talvez desanuvie temporariamente o horizonte se formos geniais, mas, de um ponto de vista estratégico, continuaremos engessados, logo praticamente inofensivos. Talvez os gritos dêem uma ilusão de acção, mas não nos farão sair do mesmo sítio.


E, mais cedo ou mais tarde, voltará tudo ao mesmo, mas com mais pobres, mais injustiçados, mais cansados. E (nunca o esqueçamos!) com muito menos paciência.

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

CONJUNTURA

Recordo uma vez mais o Cardeal de Retz:
"Quando os que mandam perdem a vergonha, os que obedecem perdem o respeito." 

É PRECISO AVISAR TODA A GENTE !

Morse de Sangue foi um livro que não me foi possível manusear, mas que li, reli e em parte decorei, em cópias dactilografadas que circulavam à socapa entre a malta de esquerda, naqueles duros anos sessenta, aqui em Coimbra. O seu autor João Apolinário havia publicado o livro ainda na década de 50. 

Foi um dos muitos livros perseguidos que ganharam raízes na revolta dos estudantes e no coração do povo humilhado. Muitos de nós, como era o meu caso, nem sabiam quem era o autor, mas sentimos as sua palavras como se fossem nossas. Como se fossem as palavras que gostaríamos de ter escrito se tivéssemos tido a força  e a subtileza poética suficientes.  

O 25 de Abril foi o grande mar onde esses e outros poemas desaguaram. 

Hoje pequenos e toscos capatazes do neoliberalismo representam no poder a direita portuguesa. Apertam o pescoço do povo com cinismo. 

É, por isso,  tempo de pedirmos a João Apolinário para nos dar uma vez mais a força das suas palavras. E assim  recorramos a um dos seus  poemas que então mais fortemente povoavam a nossa revolta.


É preciso avisar toda a gente
dar notícias informar prevenir
que por cada flor estrangulada
há milhões de sementes a florir.


É preciso avisar toda a gente
segredar a palavra e a senha
engrossando a verdade corrente
duma força que nada detenha.


É preciso avisar toda a gente
que há fogo no meio da floresta
e que os mortos apontam em frente
o caminho da esperança que resta.


É preciso avisar toda a gente
transmitindo este morse de dores.
É preciso imperioso e urgente
mais flores mais flores mais flores


[ João Apolinário ]

terça-feira, 19 de novembro de 2013

EM LISBOA - nesta quinta-feira

Terça-FEIRA, 19 DE NOVEMBRO DE 2013


Venho lembrar  a apresentação de um livro que vai  
 decorrer em Lisboa, no próximo dia 21 de novembro, 5ª feira , às 18h e 30 , na Livraria Almedina - Atrium Saldanha 


(Clicar sobre o convite para o poder ler melhor.)


segunda-feira, 18 de novembro de 2013

LISBOA - renovação de um convite

Venho lembrar que  a apresentação de um livro de que sou o autor  
 decorrerá  em Lisboa, no próximo dia 21 de novembro, 5ª feira , às 18h e 30 , na Livraria Almedina - Atrium Saldanha 

(Clicar sobre o convite para o poder ler melhor.)

terça-feira, 12 de novembro de 2013

CONVITE - apresentação de um livro


Seria para mim motivo de júbilo  poder contar com a presença de amigos e de interessados numa das sessões de apresentação de um livro que escrevi e que aqui ficam anunciadas.
A primeira decorrerá  em Lisboa, no próximo dia 21 de novembro, 5ª feira , às 18h e 30 ; a segunda, em Coimbra, uma semana depois, no próximo dia 28 de novembro, 5ª feira , às 18h e 30 .

(Clicar sobre cada convite para o poder ler.)


domingo, 27 de outubro de 2013

O DISCRETO RUÍDO DE PALAVRAS GRANDES

Quando alguém diz mal de si próprio, talvez seja um estóico.
Quando alguém se elogia a si próprio, talvez seja um tolo.

Quando alguém diz mal de um outro, talvez seja um invejoso, quando ele é fraco e um justiceiro quando ele é forte.
Quando alguém diz bem de um outro, talvez seja um bajulador, quando ele é forte e um justo quando ele é fraco.

Quando alguém vê nesta sociedade os prelúdios de um desastre, talvez seja um profeta.
Quando alguém vê nesta sociedade os prelúdios de um amanhecer, talvez seja um sonhador.

Ouço com simpatia os estóicos e procuro ignorar os tolos.

Desprezo os invejosos e os bajuladores. Simpatizo mais com os justos do que com os justiceiros.

Ai dos profetas que não temperam os futuros que receiam com a cor de algum sonho. Ai dos sonhadores que não inscrevem na luz que prometem, o risco de um desastre.


Ao escrever  estas linhas talvez eu tenha querido ascender ao alto  patamar dos estóicos, ao planalto digno dos profetas que saibam sonhar, mas reconheço que corro o risco de  ter descido pela escada estreita dos tolos.

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

O REGRESSO DE UM JOGADOR DE XADREZ

Foi um pugilista, lutando na política com a paixão dos combatentes. Retirou-se, perante o veredicto inapelável dos eleitores.

Leu, estudou, pensou, escreveu. Longe, no coração da Europa, numa luminosa cidade de artes e saberes. Deu tempo ao tempo, deixando os meses passarem sem pressa nem sofreguidão.

As matilhas de sombra que o assediavam sem piedade foram encarregadas de outros alvos. Os mabecos que persistem rosnam agora mais isolados, com ecos já temerosos, sem norte.

Quando já quase o não esperavam, voltou. Quando o imaginavam refém de memórias amargas, subtilmente discreto, quase silencioso, entrou na voragem do espaço público sem inibições, com palavras que não fazem cerimónia.

Não perdeu a paixão dos combatentes, mas regressou como jogador de xadrez. Sentou-se em frente do tabuleiro do nosso destino e começou a jogar.

Os portugueses olham-no com uma atenção crescente. Os que o odiaram revisitam cuidadosamente as velhas emoções, pressentindo que as coisas são agora mais complicadas, a exigirem cóleras mais bem medidas, estratégias de inimizade  mais elaboradas. Os que o transportavam aos ombros do seu entusiasmo hesitam em desembainhar uma nova alegria, interrogando-se ainda sobre o próximo horizonte. Os que o encararam num registo laico, apoiando-o ou criticando-o conforme os casos, sem pequenas raivas nem grandes incondicionalidades, dão-lhe as boas vindas, confiantes na força das ideias e cépticos quanto à consistência das fidelidades.Os que se dispõe hoje a olhá-lo de uma maneira diferente pesam-lhe cuidadosamente as palavras, escrutinam-lhe com atenção redobrada ideias e atitudes.

Perante o tabuleiro ingrato das suas ansiedades os outros jogadores observam-no. Admitiam a hipótese de o ter que enfrentar como pugilista da política. Cada um deles  receia agora  estar frente a frente com um jogador de xadrez que lhes pode dar xeque-mate.

terça-feira, 15 de outubro de 2013

O OUTONO DOS PILARES EUROPEUS

Quanto mais a esquerda for inexpressiva na Alemanha e na França, mais estes dois pilares da União Europeia serão tomados pela anemia política de um melancólico outono. Nestes últimos dias, chegaram notícias de ambos os países que parecem indiciar um aumento do risco dessa deriva.

1. Voltou teimosamente à superfície a pequenez da grande vitória eleitoral da Srª. Merkel, com o regresso às notícias da penosa marcha rumo à formação do seu novo governo. Vitória estranha, embora tonitroantemente anunciada sem contestação, que sentou no parlamento alemão uma maioria de esquerda, repartida por três partidos (SPD, a Esquerda e os Verdes), remetendo a enorme vencedora para uma posição minoritária. Estranha esquerda essa que se aconchega na pseudo-vitória da direita, na esperança de que os seus eleitores, ao esquecerem-se da sua vitória, permitam que escape a uma severa reprovação. Reprovação impulsionada pela insólita renúncia a formar governo, praticada pelos três partidos de esquerda e causada pela sua incapacidade em chegarem a um entendimento.
Caminha-se assim para uma coligação liderada pela Sr.ª Merkel que envolverá o SPD, certamente ainda lembrado que a mais recente coligação idêntica (2005-2009) o fez descer da qualidade de um grande partido, separado dos democratas-cristãos por um escasso deputado, para a de um modesto partido de média dimensão, que ficou abaixo dos 25 %. Em quatro anos de oposição (2009-2013), conseguiu a proeza pálida de, ao subir apenas cerca de 2%, exceder ligeiramente o  modesto patamar anterior. Contudo, essa anemia política do SPD nada de positivo trouxe para o peso eleitoral dos outros dois partidos de esquerda, que continuaram penosamente a rondar os dez por cento.
Será de esperar que os eleitores alemães de esquerda continuem a dar votos a partidos que preferem ser capachos, diretos ou indiretos, de um partido de direita, que tem assombrado a Europa, do que ousarem a enorme aventura de se entenderem?

2. A França e, de algum modo, a Europa assustaram-se com um recente resultado de uma eleição local, conjugado com uma sondagem que colocava a Frente Nacional no primeiro lugar das intenções de voto dos franceses. Mesmo que não se possa  dizer que há aqui uma verdadeira exceção francesa e sendo a FN um fenómeno político com décadas, só por ligeireza, no entanto, se poderiam desvalorizar estes sinais.
E eu não estou a pensar em sofisticadas interpretações do fenómeno, mais vocacionadas para compensarem a inação do que para serem guias da ação. Não estou a pensar numa meticulosa procura de culpados, como se fosse mais importante encontrá-los do que combater politicamente o prenúncio de novas serpentes.
Estou a pensar na necessidade de confrontar a direita democrática francesa com os recorrentes sinais de transigência que vários dos seus vultos têm enviado à FN e com as consequências dessas atitudes.
Estou a pensar no imperativo de se confrontarem as várias esquerdas com a necessidade de avaliarem aprofundadamente as razões  da perda de apoio social e eleitoral que as atingiu, parte da qual,  por desespero e primarismo político, talvez se  tenha transferido para a extrema-direita.
Particularmente, o PSF não pode permanecer alheado da necessidade premente de uma reconversão estratégica, que supere definitivamente o pântano da terceira via, reconciliando-se com a sua matriz socialista, que no essencial o identifica e que não pode deixar de inscrever um pós-capitalismo no seu horizonte. O PSF, todos os partidos socialistas europeus, não podem pedir o voto ao povo de esquerda, para deixarem depois os banqueiros governar.
E não podendo imprudentemente ignorar a realidade que os condiciona e rodeia, não podem limitar-se a deixarem-se arrastar pela corrente dos automatismos económico-financeiros do capitalismo, sem praticarem a resistência possível e sem se baterem pelo seu próprio caminho, rumo ao seu próprio horizonte.
De facto, se os socialistas aceitarem exercer o poder político institucional, como meros certificadores de decisões que lhes escapam, como simples homologadores de decisões dos poderes de facto, podem penosamente governar durante uma ou outra legislatura, num ou noutro país, mas arriscam-se a sofrer um forte desgaste popular, pelas consequências sociais desse caminho. E podem assim  perder, irremediavelmente o peso político necessário para que estejam em condições de desempenhar o seu papel nuclear, como garantes e potenciadores de um  desenvolvimento democrático que transcenda o capitalismo.

Ora, faz parte das vicissitudes da luta política que um partido socialista se arrisque em prol dos seus objetivos históricos e identitários, expressão do interesse legítimo de todos os que são prejudicados pelo capitalismo, materialização de um humanismo completo, podendo pagar um preço político por essas decisões. Mas é um puro absurdo estéril que um partido socialista perca a sua base social e eleitoral de apoio, por se deixar arrastar na deriva dos automatismos económicos, eles próprios reflexos dos interesses e do domínio dos poderes económicos de facto.

domingo, 13 de outubro de 2013

OS INCÓMODOS RESULTADOS DAS ELEIÇÕES DESAPARECIDAS

1.As recentes eleições autárquicas começam, pouco a pouco, a ocupar o seu lugar no passado. E muitos são aqueles que gostariam de as dar como desaparecidas. Mas como elas cometem a teimosia de terem existido, parece-me oportuno refletir sobre os seus resultados, já que os respetivos efeitos são duradouros mesmo que os afastem cuidadosamente da superfície mediática. E por mais que custe aos vencidos eles introduziram na relação de forças política um incontornável e relevante elemento novo.
A semana que decorreu logo depois delas foi a segunda parte de uma grande operação de desvalorização dos seus resultados e de mistificação do seu significado. Uma operação começada na própria noite subsequente às eleições. Operação que só não teve êxito, porque os resultados foram demasiado distantes daquilo que  a direita admitia como provável.
Devemos ter, aliás,  bem presente que estas eleições autárquicas, para além do seu objetivo essencial  e óbvio de escolherem as governações municipais e por freguesia, por quatro anos, foram um barómetro de aferição muito fiável quanto ao grau de apoio a cada partido e um novo elemento na relação de forças atualmente vigente no xadrez político português.
Os resultados verificados devem, em primeiro lugar, ser avaliados em si próprios, em termos absolutos, mas a nossa compreensão acerca do seu significado político ganhará com uma comparação com resultados anteriores. Essa comparação deverá envolver naturalmente os resultados das autárquicas anteriores, mas não deverá esquecer os mais recentes resultados de outras eleições, nomeadamente, os das legislativas de 2011.

2. O governo sofreu uma severa derrota que, no entanto, se repercutiu diferentemente no PSD e no CDS. O CDS, titular até então de uma única Presidência de Câmara sem coligação, conseguiu passar para 5. O PSD, pelo contrário, perdeu 33 presidências, ficando-se pelas 106. O facto de dezasseis delas serem resultado de uma coligação, em regra e pelo menos, com o CDS agrava o significado do seu recuo. No mesmo sentido, o facto de algumas dezenas de coligações entre os partidos do Governo terem sido vencidas embacia muito o brilho do resultado do CDS e torna ainda mais pesada a derrota para o PSD.
Em número de votos, pese embora a dificuldade de neste caso se chegar a números comparáveis, os partidos do governo, em conjunto, parecem ter ficado empatados com o PS, se contarmos todos os votos de todas as coligações em que tenha entrado pelo menos um deles. Mas, em 2009, juntos haviam atingido uma vantagem em número de votos de mais de quatro pontos percentuais sobre o PS.
O PSD resistiu razoavelmente no que diz respeito às capitais de distrito e das regiões autónomas, ao conservar 8 em 20, 3 das quais em coligação, mas mesmo assim abaixo das 11 que antes detinha. No entanto, além de continuar sem Lisboa, perdeu os outros três concelhos dos quatro mais populosos : Sintra, Gaia e Porto. E se olharmos para o conjunto dos vinte concelhos mais populosos, verificamos que o PSD ganhou apenas cinco, três dos quais em coligação com o CDS.
O PSD foi o único partido que recuou em número de presidências, tendo perdido, como já disse, 33 ( salvo o caso do BE que perdeu a que tinha). Este desaire traduziu-se na perda da Presidência da Associação Nacional de Municípios que ocupava desde 2001. Mas o golpe político mais fundo foi o que sofreu na Madeira, perdendo sete dos onze municípios; e experimentando a primeira derrota eleitoral depois do 25 de abril.

3. Olhando para o comportamento do BE na campanha, fica-se na dúvida sobre se adotou uma estratégia plena de cambiantes e de subtilezas, ou se, pura e simplesmente, não teve estratégia.
Altaneiramente resistente a qualquer aliança com o PS, na sequência do que, por certo, imagina ser uma virtude, foi ironicamente recompensado com a sua única participação numa vitória política pelo pecado de uma aliança com o PS, cometido no Funchal. No resto foi um desastre: perdeu a sua única Presidência, que esforçadamente vinha conservando há vários mandatos e viu um dos seus líderes máximos ficar à porta da pequena ambição de ser um aplicado vereador no município de Lisboa.
Num ou noutro município de relevo, como Coimbra e Braga, aceitou diluir-se em grupos de cidadãos. O futuro dirá se o BE teve a inteligência de uma iniciativa de alargamento que dará frutos mais adiante, ou se foi apenas um instrumento politico de vontades mais fortes, ainda que localmente circunscritas. Para já, foi claro que por mais que, no rescaldo das eleições, tentasse incorporar como ativos seus, ainda que partilhados, os resultados desses grupos de cidadãos, o BE não escapou à imagem de uma deriva que confirma o aprisionamento numa irrelevância autárquica, cuja continuidade e agravamento sugerem uma natureza estrutural.

4. A fazer fé nos próprios, o PCP (CDU) teve um resultado eleitoral quase avassalador. A comunicação social dominante e uma boa parte dos comentadores encartados sublinharam também a excelência do seu resultado. Foram sempre mais rasgados os elogios aos resultados do PCP do que aos do PS.
E, no entanto, em relação às eleições anteriores o PCP subiu apenas seis presidências, passando de 28 para 34. Em percentagem geral de votos ficou pouco acima dos 11% o que significou uma subida inferior a 2% relativamente a 2009. Se tivermos em conta os resultados das legislativas de 2011, a subida é ligeiramente mais expressiva, dado que parte dos 7,9% então alcançados.
É certo que a qualidade dos municípios conquistados pela CDU melhorou. Passou a presidir a três (mais duas) capitais de distrito, bem como a três (mais um) dos vinte municípios mais populosos. Mas nada que justifique a mensagem subliminar tentada de que o castigo aos partidos do governo se consumou através da votação na CDU. Continua uma força política municipalmente confinada ao sul do país. De facto, tem 25 das suas presidências distribuídas pelos distritos de Setúbal, Évora e Beja, enquanto as outras nove estão dispersas por mais cinco distritos.
De qualquer modo, o PCP ficou longe do número de vitórias que foi regra nos anos 80 e 90, cujo pior resultado foi em 1997 com 41  e cujo melhor resultado foi em 1982 com 55, ano em que o PS teve apenas 83 presidências.

5. O PS venceu estas eleições, pese embora toda a cortina mediática que pretendeu esbater ou até ocultar essa vitória. Conquistou 150 (1 em coligação) Presidências de Câmara, o que correspondeu uma subida de 18 Presidências relativamente a 2009, quando havia conseguido o seu melhor resultado de sempre, até então.
Foi o partido mais votado, tendo tido aproximadamente o mesmo número de votos do que a soma dos que obtiveram os partidos do governo e os seus pequenos aliados. Em termos percentuais desceu 2% em face de 2009, mas em vez de, como aconteceu então, ter ficado com menos 4% dos votos do que os partidos da direita, ficou agora a par deles. Mas se compararmos as percentagens eleitorais de agora com as das eleições legislativas de 2011, verificamos que o PS progrediu mais de 8%, tendo recuperado por completo o atraso de 22% que então o separava do conjunto dos partidos da direita que estão no governo.
Se olharmos para as presidências de câmara conquistadas pelo PS, valorizando a sua importância, verificamos que ganhou os três municípios mais populosos, que ganhou em nove dos vinte municípios com mais população e em sete das vinte capitais de distrito e das regiões autónomas (uma das quais em coligação).
Quanto ao caracter nacional da implantação do PS em termos de presidências de municípios, contando com os distritos e as regiões autónomas, o PS detém o maior número  delas em 8, sendo um dos dois partidos com maior número em mais 4. O PSD venceu em outros cinco e o PCP em 3. Por último, o PS é o único partido que obteve presidências em todos os distritos e regiões autónomas, mostrando assim a sua implantação nacional.
6. As listas de cidadãos não assumidas formalmente por nenhum partido passaram de sete presidências de câmara para treze. O número de candidaturas deste tipo aumentou também por comparação com 2009.
Considerando apenas as candidaturas que venceram, é impossível encontrar qualquer denominador comum político entre elas que seja significativo. Vejamos alguns exemplos: a candidatura de Oeiras foi “isaltinodependente”; a do Porto foi fruto de rivalidades no interior do PSD, tendo contado com o apoio oficial do CDS; em Portalegre e na Anadia as candidaturas independentes resultaram de questões internas do PSD; em Matosinhos e em Vila Nova da Cerveira, resultaram de questões internas do PS.
A instituição de eleições primárias justas e democráticas para a escolha dos candidatos, pelo menos no caso do PS, teria certamente reduzido os problemas e tinha reforçado muito as candidaturas apresentadas. Provavelmente, tendo-se seguido esse caminho a vitória teria sido ainda mais expressiva.
7. O crescimento da abstenção e a enorme quantidade de votos brancos e nulos, sendo fenómenos distintos, merecem todos eles mais do que uma chuva de palpites, em que cada crânio procura tirar do bolso uma ideia luminosa, que ele acha injustamente esquecida, para fazer passar como remédio dessa nova maleita política.
Precisamos de saber qual o grau de abstenção técnica, qual o impacto das recentes vagas de emigração, qual o nível de rejeição do próprio regime nela refletido, em que medida estamos perante uma pré-mudança de voto (já se decidiu abandonar a antiga opção, mas ainda se não escolheu a nova), em que medida estamos perante o simples desespero dos eleitores, demasiado aflitos para terem esperança de que o voto influa no seu futuro, demasiado amargurados com a vida para agirem. Enfim, seria muito útil fazer-se um estudo sério destes fenómenos, para que quem quisesse contrariá-los pudesse saber o terreno que pisa.
8. Falemos, por fim, muito brevemente nos resultados das eleições para as assembleias de freguesia. Faltando concluir o processo em 17 das 3092, segundo dados hoje difundidos, o PS foi o partido com mais vitórias: 1280 (das quais cinco em coligação), correspondendo a 41,26 % do total. O PSD foi segundo, com 1230 (320 das quais em coligação), correspondendo a 40% do total. Seguiram-se, os independentes com 11%; a CDU com 5,5; e o CDS com 1,46 %. Estes resultados garantem ao PS a presidência da ANAFRE. De um modo geral, o tipo de relação de forças existente no plano municipal mantém-se nas freguesias.
9. Os resultados destas eleições autárquicas confirmaram a continuidade do tipo de relação de forças inscrito nas sondagens difundidas no último ano e referentes a eleições legislativas.
O PS era a força política que enfrentava uma incerteza maior. Noutros países europeus, outros partidos pertencentes ao Partido Socialista Europeu, viram-se recentemente confrontados com importantes fracassos. No caso grego, assistiu-se ao dramático apagamento do PASOK; no caso espanhol, tem-se observado como o PSOE desce nas sondagens quase em paralelo ao partido de direita que está no governo; no caso alemão, após o exercício de dois mandatos, viu-se a Sr.ª Merkel ficar mais de 15% acima do SPD, que se ficou pelos 25%. Ao situar-se eleitoralmente acima dos 35 por cento, o PS mostrou ser um dos três membros do Partido Socialista Europeu a atingir atualmente este patamar.
Pelo contrário, o peso autárquico do PSD foi significativamente restringido com a perda de mais de trinta presidências de câmara, ao mesmo tempo que ficava sem hegemonia autárquica no seu histórico bastião, a Região Autónoma da Madeira. O CDS fez uma festa imensa por ter ganho quatro presidências ao PSD, passando a ter 5, mas se virmos bem não conseguiu sair do conjunto daqueles partidos que são irrelevantes, no plano autárquico.
O PCP, pesem embora os seus bons resultados, não conseguiu sair  do modesto patamar em que se encontrava. O acréscimos presidências conquistadas não o fez regressar aos níveis que atingiu continuadamente nas duas últimas décadas do século vinte.
O BE ao perder a sua única presidência, ao falhar outros objetivos nada ambiciosos, ao ter aceitado diluir-se em candidaturas alegadamente independentes, apenas conseguiu registar no seu ativo a partilha de uma vitória, através de uma coligação liderada pelo PS em que participou com outros partidos (Funchal). Viu assim afastar-se uma vez mais a materialização do sonho de adquirir uma expressão autárquica relevante, único antídoto político estrutural ao seu alcance, para reduzir a sua volatilidade eleitoral.

Numa derradeira observação, vale a pena sublinhar que todos aqueles que acham que estes resultados representam uma derrota fragorosa da direita e um passo relevante rumo a um maior isolamento do governo ( e acham bem ), estão a reconhecer implicitamente que a clivagem estruturadora do atual quadro político português é a dicotomia governo/oposições e não a que opusesse os partidos que subscreveram o memorando da troika aos outros. Na verdade, dar centralidade a esta segunda clivagem, pelo contrário, é o mesmo que defender os primeiros tiveram 261 presidências contra 34 dos segundos, o que só por delírio se poderia considerar uma vitória dos segundos. E assim se cairia no absurdo de achar que estas eleições eram a vitória de um bloco que incluiria o governo. Todas as opiniões são legítimas, mas a ninguém é logicamente consentido que se desminta a si próprio.