quarta-feira, 25 de abril de 2018

Homenagem ao 25 de abril



A flor incendiada
                   ─ homenagem ao 25 de abril

Essa flor que trazes na lapela
semeada  no tempo    incendiada

é hoje ainda luz e já saudade
escrevendo coração na  liberdade

Desces as ruas como sendo rio
que vai além das sombras desprezadas

Alguns cravos cinzentos que povoam
os outonos das tardes  já esquecidas

colhem-se agora como sendo frio
por  mãos abandonadas e perdidas

Alguém te espera para lá do tempo
sabendo que algum dia hás de chegar

e assim se junta o sangue neste cravo
que é maio sem desistir de ser abril



sábado, 21 de abril de 2018

Salvação suicidária.



Salvação suicidária.

As alas direitas de vários partidos membros do Partido Socialista Europeu  apossaram-se das suas alavancas de poder interno e levaram-nos à insignificância. Fizeram com que agissem como se fossem de direita e destruíram-nos assim como  força política relevante. Se pensarmos bem, isso não é estranho, já que governando-se como a direita não se pode esperar conservar o apoio do povo de esquerda.

 Recordemos, como exemplos, alguns dos países em que o desmoronamento desses partidos foi mais gritante: Grécia, França, Holanda, Hungria e Polónia. E outros casos se podiam citar de grandes regressões que não atingiram o nível dos casos anteriores: Alemanha, Austria, Espanha e Itália.

Portugal é uma feliz exceção neste panorama desastroso. É por isso muitíssimo estranho que se façam ouvir algumas vozes de responsáveis socialistas, defendendo posições e caminhos muito parecidos com aqueles que foram percorridos pelos protagonistas dos desastres acima citados.

Espero que não se tente iludir os militantes socialistas com malabarismo redondos. Quem quiser levar-nos para o buraco, onde já se meteram outros partidos, deve assumi-lo com clareza, sem floreados nem ocultismos, explicando bem qual a razão porque preconiza o suicídio estratégico do PS. Quem achar que é a cartilha neoliberal a nossa matriz ideológica e política deve dizê-lo com clareza e demonstrá-lo em campo aberto.

Como se poderia  pergunta à esfinge que tudo sabia: Se estamos vivos e nos sentimos relativamente bem, por que razão dizem querer-nos salvar, matando-nos.

sexta-feira, 20 de abril de 2018

A direita não é um tigre de papel.




A direita não é um tigre de papel.

Quando a esquerda não está fraca, a direita desdobra-se, para poder atacar  em simultâneo, de frente e de flanco.

Uns vociferam intensamente, diabolizando tudo aquilo que tenha o mais leve perfume de esquerda. Outros, melifluamente, ronronam propostas de aproximação, aliciam com enormíssimos desígnios comuns, untuosamente moderados, procurando insinuar a distinção entre  uma esquerda que seria alegadamente péssima e uma esquerda que confessam dissimuladamente admirar. Uns segregam anátemas implacáveis, outros oferecem generosos conselhos e sussurram luminosos elogios. Cada uma das partes  desempenha o seu papel num perverso teatro de sombras.

Há pois na direita duas pulsões complementares que ela se esforça por esgrimir articuladamente para que a sociedade continue desigual e vigiada. A pulsão “adamastor” que troveja sobre nós como se fôssemos caravelas proibidas  e a pulsão “sereia”  que procura encantar-nos para, deixando-nos sem defesas, nos poder destruir.

Mas o povo de esquerda (e quem quiser representá-lo) não deve esquecer que tanto os “adamastores” como as “sereias” são invólucros contingentes de um sonho recorrente que possui uns e outras. O sonho de reduzir as esquerdas a um simbólico cordeiro sacrificial que a direita sangrará com alegria e volúpia.

Amigos e camaradas, nunca esqueçamos : a direita não é um tigre de papel !

Terceira via , uma vertigem moderada




Terceira via , uma vertigem moderada

Atacar os fumos sem combater o fogo que os provoca, é um esforço inglório.
Combater as desigualdades sociais, deixando intactas as suas causas, é um esforço inglório.
Lutar contra as sequelas do capitalismo, retirando-o do próprio discurso, é um esforço inglório.
Defender o socialismo democrático, aceitando a hegemonia do pensamento neoliberal, é um esforço inglório.
Absolver a terceira via da miséria dos seus resultados é um esforço inglório.
Considerar que a verdadeira inteligência estratégica da esquerda é ser de direita, é simples ilusionismo.
Ver diversos partidos membros do partido socialista europeu murcharem dramaticamente e propor que os sigamos, é masoquismo ideológico.
É por isso que, tendo a terceira via nascido como ilusionismo, acabou por se reduzir a um masoquismo ideológico, mostrando assim não ter sido afinal mais do que um esforço inglório.

quinta-feira, 19 de abril de 2018

Homenagem a Paul Singer



Homenagem a Paul Singer

“Paul Israel Singer, muito obrigada!” é o título do texto de Eliane Rosandiski que é  professora-extensionista da PUC-Campinas [São Paulo- Brasil], economista, doutora em economia social pela Unicamp. O texto é publicado na pàgina virtual da importante revista brasileira CartaCapital.
É um texto de homenagem a Paul Singer que recentemente nos deixou. Já neste ano foi publicada na coleção Horizontes Solidários um livro seu, “Ensaios sobre Economia Solidária” (Almedina , Coimbra). Paul Singer veio por diversas vezes á FEUC , como conferencista. A sua voz vai continuar a ecoar por toda a economia solidária como uma criativa imaginação socialista ddo futuro.
Como é dito na abertura do texto: Coerente com sua crítica ao neoliberalismo, o professor dizia que a marcha para o socialismo dependia de ampliar a democracia nas relações de produção”
O texto de Eliane Rosandiski merece ser lido. Ei-lo:

“Ao longo do dia de ontem, vários textos nas mais diversas formas de mídia prestaram lindas homenagens ao professor Paul Singer. Li muitos deles e percebi que havia um sentimento comum que os ligava: a gratidão. Me questionei a razão deste sentimento, pois  também o tenho. Penso que a resposta pode ser encontrada no engajamento presente na sua história de vida.
Como amplamente divulgado, Paul Singer nasceu na Áustria em 1932. Chegou ao Brasil em 1940, fugindo do nazismo. Aos 20 anos, trabalhando como eletrotécnico, filiado ao Sindicato dos Metalúrgicos, ajudou a organizar a greve dos 300 mil. Sua atividade político-partidária se iniciou em 1980 com a fundação  do Partido dos Trabalhadores.
Foi secretário de Desenvolvimento Econômico da Prefeitura de São Paulo na gestão da Luiza Erundina. Integrou ao lado de outros intelectuais a equipe do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap).
Finalmente, em 2003 assumiu a Secretaria Nacional de Economia Solidária (Senaes) no Ministério do Trabalho e lá permaneceu até 2015. Era economista com pós-graduação em sociologia e lecionou na USP. Escreveu dezenas de artigos e livros. Descrever sua trajetória, dessa forma impessoal, não dá a dimensão da importância do Paul Singer no campo da transformação social.
Não tive a sorte de participar de nenhuma das atividades profissionais ao lado do professor, meu encontro com ele ocorreu de outra forma. Sou economista e ministrava um curso de Economia do Trabalho. Insatisfeita com os diagnósticos sombrios acerca da exclusão social, decidi ampliar meu repertório na busca por soluções.
Nesta busca me deparei com um texto, cujo título já era uma resposta às minhas inquietações: “É possível levar o desenvolvimento para as comunidades pobres”. Este pequeno texto, escrito em 2004, trazia uma série de elementos de política pública para promover o desenvolvimento local, mas, diferentemente dos demais, trazia proposta de preservar a identidade dessas comunidades.
Fiquei muito intrigada e comecei a buscar mais publicações desse autor um tanto desconhecido para mim até aquele momento. Como todos os que adentram no universo de Paul Singer, me deparei com o livro “Introdução à Economia Solidária”, escrito em 2002, no qual os princípios de propriedade coletiva dos meios de produção, a autogestão e solidariedade eram defendidos como uma nova forma de organização da produção.
Este livro, coerente com sua visão de mundo crítica ao neoliberalismo, mostrava que a marcha para o socialismo consistia em ampliar a democracia nas relações de produção. Para Singer, aprofundar a democracia seria a única opção capaz de promover a justa distribuição da riqueza gerada no processo produtivo.
Tal como para muitos que leem este livro pela primeira vez, tais princípios me pareceram um pouco utópicos. Felizmente, as evidências práticas mostram o equívoco dessa primeira impressão e que, de fato, uma outra economia é possível. As informações coletadas pelo SIES/Senaes mostram que no Brasil existem aproximadamente 20 mil empreendimentos organizados segundo os princípios da Economia Solidária, que atuam em diversas áreas, em especial agricultura familiar, abrigando mais de 1 milhão de trabalhadores.
A mobilização política dos atores sociais também vem sendo exitosa; ao longo desse período de atuação da Senaes foram realizadas três Conferências Nacionais de Economia Solidária (Conaes) que desembocaram na elaboração de um Projeto de Lei para Política Nacional de Economia Solidária, aprovado pela Câmara dos Deputados em 2017.
Internacionalmente, o tema da Economia Solidária também vem ganhando destaque. Em 2010 Paul Singer participou do Fórum Social Mundial e as Conferências da OIT começaram a tratar a Economia Social como solução para a exclusão.
Importante destacar que toda sua trajetória de ação sempre buscou juntar a teoria com a prática e esta prática, na visão do próprio Singer, deveria sempre que possível desembocar numa ação política, transformadora. Com isto, Singer nos mostra que o caminho mais efetivo de praticar o socialismo não é por meio do autoritarismo, mas sim por meio da democracia praticada no interior do sistema capitalista.
Sim, o professor Singer era um otimista. Tenho certeza de que seu legado está vivo em todas as sementes que ele jogou e que germinaram, regadas pela admiração e respeito aos seus ideais e à sua atuação. Hoje, um grupo de intelectuais, pesquisadores, técnicos, pequenos produtores urbanos e rurais, levam adiante seus ensinamentos simplesmente porque perceberam que a Economia Solidária é uma realidade que comprova que uma outra forma de economia é possível.
“Figura doce”, esta é a característica pessoal que o professor nos deixa, sempre atento, sempre capaz de ouvir as pessoas ao seu redor, independentemente da classe social ou nível intelectual. Tive algumas chances de dialogar com ele e sempre, com os olhinhos azuis atentos, escutava e era capaz de dizer que tinha aprendido muito com minha dúvida. Coisas que só os grandes mestres são capazes de fazer. Muito obrigada, professor!”

terça-feira, 17 de abril de 2018

Em Memória da Crise Académica de 1969



Gente de Abril
                   (homenagem ao 17 de abril de 1969)

O orvalho do tempo arrefeceu
a memória desperta  desse  dia

e na rosa dos ventos desprendeu-se
uma ferida no tempo  já saudade

Os braços destes anos  estão mais frios
quando se trata de agarrar a esperança

mas é por nós que sobe a teimosia
de não escolher a estrada da tristeza

A sombra do futuro não permite
esquecer  o que semeia a liberdade

e é  sempre neste dia que aprendemos
que há sempre um recomeço em cada fim
                                                       
                            Rui  Namorado
                            (17 de abril de 2018)

segunda-feira, 16 de abril de 2018

HOJE , 16 DE ABRIL, EM COIMBRA,


HOJE (16/04/18), EM COIMBRA,
NA PRAÇA 8 DE MAIO , ÀS 17 HORAS




Um protesto legítimo e necessário contra a prisão de LULA, doutor honoris causa pela Universidade de Coimbra. 

Uma prisão injusta e ilegítima perpetrada com objetivos políticos. Uma continuação do golpe de Estado, dissimulado por rituais jurídico-constitucionais sem conteúdo que derrubou DILMA da Presidência do Brasil. Uma tentativa de impedir LULA de ser eleito de novo como Presidente. Sendo certo , que mesmo depois de aprisionado continua a ser o pré-candidato com mais intenções de voto nas sondagens mais recentes: mais do dobro das que tem o segundo classificado. Ou seja, espezinham-se os direitos civis e políticos do mais popular  líder brasileiro de sempre e confisca-se a milhões de brasileiros o direito político de o elegerem. Tudo isso para dar espaço a um punhado de renegados de porem em  prática no governo federal brasileiro  uma política contrária à que os brasileiros maioritariamente sufragaram nas urnas, fiel à cartilha neoliberal  e desbragadamente antipopular.

Possuídos por um revanchismo cego, a direita brasileira e os poderes de facto instalados  querem destruir LULA e tolher as esquerdas brasileiras. Hoje, é bem claro que é  incerto se o conseguirão. Mas é certo que se o conseguirem isso implicará necessariamente a destruição da democracia no Brasil, uma reversão sociopolítica dramática e um forte risco de implosão nacional.

Devemos esta solidariedade ao povo brasileiro, devemos à justiça e à liberdade este protesto.

quarta-feira, 11 de abril de 2018

JOGOS DE GUERRA





JOGOS   DE   GUERRA

Trump joga à batalha naval como um adolescente. O problema está no facto dos seus jogos de guerra serem de fogos reais. Alegando uma virtuosa indignação pela morte de sírios, vai provocar novos mortos. Como se jogasse aos “cowboys”, aproxima-se perigosamente do risco de um confronto nuclear. Invoca o uso de armas químicas pelo governo sírio. Não apresenta provas, parecendo ficar satisfeito com a invocação de imagens televisivas de veracidade incerta. Lembrados das armas de destruição maciça que foram falsamente alegadas como pretexto para a guerra no Iraque, duvidamos.

Tudo isso é comunicado tuitosamente. Os dirigentes políticos seus aliados desconsideram-no, incomodados pelo seu estilo truculento e  primário, pelo seu reacionarismo agressivo e radical, mas seguem-no como cordeiros mansos nos seus jogos de guerra. Trump é um político perigoso, mas os seus críticos, que acabam por mansamente o seguir, são ainda mais perigosos, mas principalmente são de uma untuosidade desprezível.

A solidariedade para com as vítimas da guerra na Síria, para com todas as vítimas, é eticamente imperativa, mas  invocá-la para justificar ou esconder, estratégias guerreiras, pulsões imperiais ou jogos geopolíticos, é simplesmente miserável. 

As vítimas desta e doutras guerras podem render vistosas condecorações aos cabos de guerra, confortar os poderes dos poderosos, blindar ainda mais a segurança das praças financeiras  e dar pujança ao negócio da venda de armas, enfim podem oxigenar o capitalismo mundial; mas inscrevem-se no sofrimento dos povos como manchas intoleráveis. Por isso, a nossa solidariedade só é autêntica se for uma luta pela Paz, mas não podem ser  nosso companheiros nessa luta os que apenas invocam a paz para vencer as guerras.



sábado, 7 de abril de 2018

BRASIL - JORNALÕES OU LIXÕES ?




BRASIL  - JORNALÕES OU LIXÕES ?

Os grandes grupos mediáticos brasileiros, que tanto  contribuíram para a instalação de uma ditadura militar em 1964, são uma peça nuclear da grande conspiração contra a democracia e pela manutenção do Brasil como uma sociedade profundamente  injusta e desigual  que está em curso. O primeiro passo foi a destituição golpista de Dilma sob a capa de um rito jurídico-constitucional baseado numa materialidade factual inventada ou distorcida . O segundo passo foi  impedir Lula de concorrer a uma eleição que muito provavelmente venceria; usando o sistema judicial, não como balança que mede a culpa e a ilicitude com objetividade,mas como arma que agride quem a lógica global de um sistema aflito indicar.
 
Sabemos , por experiência vivida durante o salazarismo, o que é uma máquina judicial que,  no essencial, foi docilmente subordinada ao poder político fascista. O caso do Brasil atual é diferente. A máquina judicial brasileira, ao longo de anos, foi sendo impregnada por um processo de degradação intrínseca que se disfarçou do seu contrário. Assim, foi sendo contaminada por uma estratégia destinada no essencial  à destruição dos partidos e líderes de esquerda que pudessem ser ou continuar a ser poder. Uma destruição que nunca poderia parecer propositada, devendo não apenas destruir institucionalmente, mas apagar simbolicamente e desprestigiar, as principais lideranças e organizações da esquerda, ou pelo menos as que fossem poder ou pudessem vir a sê-lo. Para isso, tinham também que atingir alguma gente e algumas entidades da direita, de modo a ser aparente que era uma virtuosa limpeza que estava a ser feita e não uma vergonhosa perseguição.
 
Não pretendo aqui analisar globalmente  a questão em causa, mas tocar apenas num ponto sintomático. Está em vias de ocorrer, em poucas horas,  a prisão de Lula. Foi-lhe dado um prazo para se apresentar voluntariamente, mas ele não se apresentou. Desde logo, trovejaram impropérios nos jornalões : desobediência, falta de respeito pelas instituições, desconsideração pela lei. Foi dada, entretanto, a notícia de que os advogados de Lula estavam a combinar com a Polícia Federal o momento e o local em que Lula se poria à sua disposição. Os mesmos megafones mediáticos, que haviam gritado contra uma imaginária "desobediência", passaram agora a noticiar  uma imaginária “rendição” de Lula. Sem vergonha, sem estados de alma, sem nível.
 
Tenho assistido à degradação dos grandes meios de comunicação social  brasileiro pelo que este episódio não me espanta, sendo apenas mais um sinal menor  e caricato dessa degradação. Mas acho estranho que em Portugal sejam difundidos acriticamente simples ecos dessa sujeira. Fica-me uma dúvida: aqueles que protagonizam esses ecos em Portugal são braços conscientes do lixo mediático brasileiro ou são apenas idiotas?
 
O Brasil entra num período de incerteza. Viu-se ontem que Lula poder ser preso, pode ser impedido de ser candidato, mas é de longe o líder mais acarinhado pelos  setores populares brasileiros. Podem prendê-lo , mas só o conseguiram  aumentando a sua popularidade.
 
 O poder subsequente ao golpe, bem mergulhado na untuosa imagem da traição e da pequenez, está em deliquescencia. O anti-lulismo perde cada vez mais o seu verniz democrático, deixando a nu  a sua estrutura verdadeira: a extrema-direita "bolsonárica" e os seus mandantes armados com saudades da ditadura militar.
 
Os” incendiários”da direita brasileira  têm-se esforçado por atear o “fogo”. Mas não podem depois queixar-se de o terem conseguido.