terça-feira, 27 de janeiro de 2015

VISITAR A MEMÓRIA - Auschwitz

Permito-me repetir  um texto com a  memória de uma visita a Auschwitz que foi publicado neste blog em  22 de maio de 2011.

Visita a Auschwitz

Aqui dormiu a morte repetida
um dia muitos dias tantos dias

Resta agora esta vergonha lenta
esta suja vergonha repetente

E o próprio silêncio sepultado
de si mesmo se guarda adormecido

Caminha-se com passos redobrados
a cólera contida na garganta

Os olhos do martírio vão seguindo
a sombra desregrada da amargura

Os pássaros da noite vão voando
num sórdido trajecto envilecido

Em cada num de nós foi construída
uma casa de dor e desespero

Já são nossos irmãos os que morreram
nas fogueiras de um ódio consentido

Foram nossos irmãos os que perderam
o tempo que nos deram generosos

Acesa apenas a centelha humana
nas cinzas humilhadas da derrota

Guardamos os seus nomes letra a letra
nas mais fundas palavras da revolta

Em Auschwitz morre lentamente
a morte mais cansada e repetida

São nossos os cabelos resguardados
nessa torpe memória enlameada

São nossos os óculos quebrados
olhando-nos ainda massacrados

Continua subindo o horizonte
um silêncio de cinza e de vergonha

Terminou a visita a tarde cai
um soluço regressa na garganta

Visitámos o medo em estado puro
o ódio desregrado sujo duro

Saímos como irmãos desembainhados
no próprio coração da liberdade


[Rui Namorado]




domingo, 18 de janeiro de 2015

Duarte não é Charlie.


O Sr.  Duarte Pio, alegadamente de Bragança, afirmou hoje em Braga que o semanário ‘Charlie Hebdo’ é “um pasquim nojento” .
O Sr. Duarte não é, portanto, Charlie, como aliás já suspeitávamos. E está no seu  pleno direito, limitando-se  assim modestamente a ser pio.
 Mas convenhamos que esta  é uma ocasião um pouca esdrúxula para o estardaçalhar  em público. Assim pode arriscar-se a que o passem até a considera-lo como  Charliefóbico conquanto de Bragança.
O que fará com que  o semanário francês possa vir a  gritar,  a plenos pulmões:
 “Aos infiéis, senhor, aos infiéis, que não a mim…”.

segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

Economia Social - alargamento de prazo



Alargamento do prazo de inscrição na
Pós-Graduação em “Economia Social – Cooperativismo, Mutualismo e Solidariedade”

1. Para compensar o encerramento imprevisto da Faculdade de Economia, durante a parte final do ano anterior e o início deste , foi alargado o prazo de inscrição na Pós- Graduação em Economia Social, do dia 5 até ao dia 12 de Janeiro de 2015.

2. Recordamos que a Universidade de Coimbra, por intermédio da sua Faculdade de Economia, promove , durante o 2º semestre deste ano letivo, a 6ª edição de um curso que confere um Diploma de Pós-Graduação em “Economia Social – Cooperativismo, Mutualismo e Solidariedade”. Continua a ser responsável por ela, em conjunto com a própria Faculdade, o Centro de Estudos Cooperativos e da Economia Social da FEUC (CECES/FEUC).

3. O objetivo desta Pós-Graduação é o estudo das várias iniciativas da economia social, com destaque para as que têm uma identidade historicamente mais marcada e uma importância social mais nítida, como é o caso das cooperativas, das mutualidades, das associações e das instituições particulares de solidariedade social no seu todo. Mas a economia social não vai ser encarada como um objeto isolado. Pelo contrário, serão analisadas também algumas das problemáticas que nela se projetam com mais relevância.
A esta Pós-Graduação têm acesso, fundamentalmente, titulares de uma licenciatura, mas podem ser admitidos também candidatos que, não preenchendo esse requisito, tenham uma experiência profissional relevante, em qualquer organização da economia social; para isso, 20% do total das vagas existentes serão prioritariamente destinadas a esse tipo de candidatos.

4. Para além de conferências sobre diversos aspetos da economia social, proferidas por especialistas, e de narrativas de experiências vividas por protagonistas de organizações da economia social, o programa compreende três unidades curriculares,  desdobradas nos módulos temáticos abaixo mencionados, pelos quais são responsáveis os professores da FEUC e membros do CECES  indicados:

Unidade Curricular 1: Enquadramento jurídico-político da economia social

       Introdução à economia social – cooperativismo, mutualismo e solidariedade, Prof. Doutor Rui Namorado [8 h].
       Direito cooperativo e da economia social, Profª. Doutora Maria Elisabete Ramos [12 h]
       Breve história da Economia Social, Prof. Doutor Álvaro Garrido [4 h].

Unidade Curricular 2: Perspetivas quanto à gestão das organizações da economia social

       Breve abordagem às teorias organizacionais, Prof.ª Doutora Patrícia Moura e Sá [4 h]
       Empresas e sociedade: da ética à responsabilidade social, Prof. Doutor Filipe Almeida [8h]
       Gestão da qualidade nas organizações da economia social, Prof.ª Doutora Patrícia Moura e Sá [8h]
       Aproximação ao sistema de normalização contabilística para as entidades sem fins lucrativos, Prof.ª Doutora Ana Maria Rodrigues (CECES/FEUC )  [4h]

Unidade Curricular 3: Economia, Sociedade e Desenvolvimento Local

       Empreendedorismo social, políticas e mudança social, Profª. Doutora Sílvia Ferreira [8h].
       O desenvolvimento local como estratégia, Dr. Bernardo Campos [8 h]
       O Estado, as parcerias, as redes e a economia social, Prof. Doutor João Pedroso [4 h].
       A economia social e a criação de emprego: uma perspetiva económica, Profª. Doutora Margarida Antunes [4 h]


5. As candidaturas serão feitas online, até 12 de Janeiro de 2015, no site: https://www.uc.pt/go/candidaturas . Mais informações poderão ser obtidas através do site www.uc.pt/candidatos .
 Poderá encontrar mais informações na página Web da Pós-Graduação, em www.uc.pt/feuc/diplomas/PGEconomiaSocial/.

Podem ser feitos contactos através de : 1) email : candidaturas@uc.pt ; 2) telefone: 239859900 de seguida marque 3 de seguida marque 1.

sábado, 3 de janeiro de 2015

Homenagem a um amigo.




Boa viagem, António Gama.

Começa o ano com a tua ausência.

Uma pérola de melancolia

desce levemente o rosto da saudade.


Saíste da vida como se fosses viajar,

levando discretamente a mala dos sonhos

no arrepio da imaginação.


Podes agora espreguiçar-te nos mapas,

para que a Terra seja todos os caminhos

e se colha nos outonos o mistério da esperança

e tudo nasça de novo sem limites.


Saíste da vida pé ante pé,

como se quisesses poupar os teus amigos.

Vais a caminho das cidades futuras

por saberes que todas elas te pertencem.


Podes agora deixar

que as estrelas entrem nos teus bolsos

e te levem  ao futuro das galáxias,

para as ouvires  misturadas no vento,

numa altivez sem limites.


E quando o vento passar no meio de nós,

como se fosse o coração da vida,

vem guiado pela tua geografia,

pela alegria limpa da tua inteligência,

pela fraterna dúvida em torno dos caminhos.


Descerás o teu sorriso com alguma tristeza

e ocuparás a memória com naturalidade.


       [Rui Namorado -2 de janeiro de 2015]

Justiça !

Depois das declarações de Sócrates, difundidas na TVI, o Conselho Superior da Magistratura e o Conselho Superior do Ministério Público têm obrigatoriamente que se pronunciar publicamente.

Ou reúnem e difundem informações convincentes que aleguem e mostrem que o que José Sócrates diz é falso, ou abrem de imediato um processo de responsabilização disciplinar e penal dirigido a todos os magistrados envolvidos no caso.

Se isto não acontecer é legítimo que receemos estar perante a ameaça  não assumida de um golpe de Estado deslizante de matriz  judicial.

E aí o Presidente da República tem que entrar em cena com todos os seus poderes, não lhe sendo desta vez consentido que se limite a mastigar umas quantas banalidades.


Aguardemos.

sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

O capital financeiro e as matilhas assimétricas.



[ Nos jornais de hoje: Juros da dívida inauguram novo ano abaixo de 2,6% , mas o rating de crédito continua em "lixo financeiro".]

A inquisição económica das agências de notação continua a condenar-nos ao inferno do lixo. Mas os mercados da dívida soberana, noutros casos tidos como sacrossantos, têm-nos deixado frequentar o paraíso dos juros baixos.

Que pecado é o nosso que nos faz ser condenados ao inferno por uns, para nos deixar repousar no paraíso pelos outros? Sendo que uns e outros estão, alegadamente, ungidos pela mesma santidade que os conduz a uma objectividade serena e férrea.

É estranho; quase parece que a sua santidade tem os pés de barro e a sua objectividade é apenas um embuste de uma subjectividade bem pesada.

Quase podia garantir, perante tão contraditórios julgamentos, que o serviço de uns e outros é muito menos aquilo que quer fazer parecer do que aquilo que lhes dita a função de peças estratégicas da produção ideológica do capital financeiro.

De facto, se uns e outros, ou alguns deles, não são tontos, a parafernália de instrumentos informáticos e de técnicos de ponta que se espraiam pelas suas salas, não são na verdade instrumentos para identificar conjunturas económicas e para informarem investidores, levando-os a directivas desencontradas que os desqualificam. Estamos apenas perante pesquisadores de argumentos que possam ser colocados ao serviço das estratégias politicas de teor algo vampiresco dos grandes centros de poder financeiro mundial e dos poderes institucionais que os exprimem e suportam.

A directiva é afundar a Grécia? Disparem-se as munições guardadas que façam parecer que a Grécia é um caos em potência. A palavra de ordem é salvar a Irlanda? Dispare-se o fogo de artifício que a transporte até ao céu da tranquilidade. Quanto a Portugal, está para se ver ? Ponha-se um lado a distribuir cachaços e outro a ministrar afagos.


Que os beneficiários deste embuste de luxo e os donos desta matilha de excelência paguem regiamente aos atores e autores deste “grande teatro económico” pode compreender-se. Que os poderes públicos, que deviam representar os povos agredidos, também paguem á canzoada que os morde, parece-me um tanto ou quanto estúpido. Talvez não seja corrupção ilegal, talvez nem sequer seja pecado, mas é estúpido.

quinta-feira, 1 de janeiro de 2015

Votos de um Bom Ano.

























Um ano novo – 2015

Na árvore deste tempo desabrocha
um ano que nos chega  devagar
seus  dias hão de ser o que quisermos

Por mais que nos devastem as catástrofes
as pétalas do vento hão de dizer
as sílabas que inventem  a revolta

Nos lábios mais secretos das palavras
ouve-se a voz de todos os silêncios
murmúrios como espelhos  das memórias

Para sentir o coração dos povos
cabe  agora esculpir cada minuto
como se fosse a própria liberdade
                      [Rui Namorado]