Esta última malfeitoria de uma das "malfeitoras do rating", apresentada publicamente com a mesma ligeireza com que um borda-de-água de trazer por casa diria ", amanhã vai chover", reveste-se de uma singular exemplaridade.
De facto, desde a direita mais institucional , com os seus partidos à frente, até aos mercenários bem falantes dos poderes fácticos e aos economistas pernósticos estrangulados em números preconceituosamente seleccionados, todos com maior ou menor habilidade, aquando das "malfeitoras do rating", praticadas na vigência do governo do PS, com menor ou maior subtileza, diziam ou davam a entender que a culpa das agressões que estávamos a sofrer era apenas de um governo exangue e sem credibilidade, sem o prestígio suficiente para conquistar o apreço dos senhores mercados. E permitiam-se até deixar fugir uma leve sugestão de que numa Europa regida pelo PPE só os seus braços portugueses ( ou seja, a direita, através do PSD e do CDS) reuniam condições para verdadeiramente serem acolhidos com carinho pelos irmãos de Berlim, Paris e Bruxelas.
E as eleições legislativas foram abordadas nesse registo de alarme. Se o PS fosse o partido mais votado, seria um desastre. E o PS não foi o partido mais votado. Se a direita não tivesse maioria absoluta, seria um desastre. E a direita teve maioria absoluta. Se a direita se não entendesse facilmente para formar um Governo, seria um desastre. E a direita entendeu-se facilmente para formar governo. E mais do que isso, movida pelo narcisismo de quem se sente seduzida por si própria, a direita resolveu prestar vassalagem à "troika" da maneira mais solícita que julgou haver : seguir a lógica da "troika" para ir além dela; ser submissa perante ela, excedendo-a.
E quando o afilhado do Sr. Engº Angelo Correia, rodeado dos seus engomados ministros e das suas escassas ministras, se aprestava a receber os doces agradecimentos e aplausos da finaça internacional, calorosa no apoio à prestação dos seus intérpretes, eis que uma "malfeitora do rating" rompe com tudo o que era esperado e zás: assesta mais um golpe na economia portuguesa, mordendo-a com ligeireza e ferocidade. As matilhas elogiosas que têm vindo a rodear o novo poder passaram por um arrepio de receio. O Pedro, o Miguel, o Vítor e o Álvaro, olharam-se como jovens a quem roubaram um berlinde. O oráculo de Belém murmurou uma frase enigmática. Os periquitos telivisivos de serviço ficaram entupidos.
Um dilema novo instalou-se irremovivelmente no nosso quotidiano: ou o nosso governo, de uma direita previsível, neoliberal e engomada, é considerado pelos seus congéneres europeus e pelos expoentes da finança internacional, uma circunstância irrelevante; ou a causa dos ataques, que vinham sendo desferidos contra Portugal na vigência do governo anterior, não estava nesse governo, mas nos instintos predatórios das "malfeitoras do rating" e dos seus aliados.
Sem comentários:
Enviar um comentário