sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

Saudades do Rio de Janeiro- 2





O futuro da morte de Benazir Bhutto




A barbárie marcou de novo presença no Paquistão. A morte anunciada de Benazir Bhutto aconteceu. Violenta e politicamente devastadora como se receava. Os protagonistas mais ostensivos da cena política mundial começaram já a dizer os seus previsíveis textos de lamentação. Enfurecidos e desorientados milhares de paquistaneses desceram às ruas.

Mas a morte de Benazir não estava apenas anunciada na superfície ruidosa da agenda mediática. Realmente, ela teve o seu primeiro prenúncio, quando há muitos anos os senhores do mundo, envolvidos na guerra fria, deixaram que os militares paquistaneses enforcassem tranquilamente o seu pai, o ex-Presidente Ali Bhutto. Um Presidente laico, civil e democrático, que ocupara o poder por força de eleições e que fora derrubado por um golpe militar dos seus próprios carrascos.

O cinismo geopolítico praticado na guerra fria foi a implícita desculpa para a passividade do chamado mundo ocidental, cuidadoso na salvaguarda do apoio dos militares golpistas. Mas a guerra fria acabou, e alguns terão julgado que agora a música podia ser outra. Pura ilusão. Neste como noutros casos, todo o golpismo reaccionário, toda a desenvoltura conservadora na adulteração das regras democráticas, continuaram a ter como única resposta dos poderes dominantes do capitalismo mundial alguns murmúrios diplomáticos.



As décadas passaram. Ciclicamente, os políticos paquistaneses eleitos continuaram a ser derrubados por golpes militares. Como personagem não convidado, o fundamentalismo islâmico foi emergindo. A localização do Paquistão e o seu conflito histórico com a Índia fizeram o resto.
Ao contrário do que acontece, por exemplo, agora com o Irão, onde a simples suspeita de que daqui a alguns anos ele pode ter acesso a armas nucleares suscita pressões e ameaças, o Paquistão tornou-se tranquilamente uma potência nuclear, sem ter sofrido grandes constrangimentos.

As sequelas do acto terrorista de Nova Iorque, em 11 de Setembro, reforçaram a sua importância politico-militar, tornando-o num elemento chave na estratégia de resposta dos USA ao fundamentalismo islâmico. Todavia, o guerreirismo bronco da administração americana, ponta do iceberg da sua inépcia política, a sua pesporrência imperial e a sua incapacidade para superar vistas curtas, marcaram inapelavelmente a conjuntura política mundial, exacerbando a cólera dos milhões de pobres que sofrem no Paquistão, transformando-os num campo de recrutamento fecundo para o fundamentalismo islâmico.

E o resultado histórico da complacência das democracias ocidentais, com os USA à cabeça, para com o golpismo militar paquistanês, aí está, cada vez mais claro, cada vez mais complexo, cada vez mais perigoso.

Na verdade, o poder imperial, com a complacência dos seus acólitos, tem apostado sempre no aliado mais dócil, mesmo que ele envolva um poder anti-democrático imposto pela força militar. E assim tem deixado sucessivamente apagar os actores políticos mais maduros e consistentes, especialmente se não se caracterizam pela docilidade perante o poder imperial. E, a pouco e pouco, vão fazendo com que no terreno com poder de intervenção efectiva, só fiquem os extremos.
De um dos lados, sopra o vento do desespero e da miséria de milhões de seres humanos, temperados pela humilhação histórica de se verem eternamente desamparados e tratados como objectos descartáveis, por vezes proscritos na sua própria terra. Do outro lado, estão os aparelhos politico-militares, cada vez mais desenraizados socialmente. Se esta espiral perversa não for desfeita, a médio prazo, o fundamentalismo islâmico será provavelmente poder em países onde vivem centenas de milhões de seres humanos.

Nada nos indica que se esteja a ter em conta esse risco. Pelo contrário, há um padrão de comportamento dos poderes hegemónicos no capitalismo mundial que parece apontar no sentido oposto. Lembremos, por exemplo, como a administração americana se esforçou por enfraquecer a organização de Arafat, estrangulando-a financeiramente e apoucando-a politicamente. O resultado aí está: o Hamas tornou-se poder democraticamente e hoje a Palestina é uma realidade fragmentada em auto-dilaceração. A um adversário politicamente maduro sucedeu um interlocutor bem mais radical, menos previsível, muito mais fanático. Todos se afobam agora na ânsia de remediar o erro cometido. mas em política quase nunca se consegue fazê-lo por completo.

De facto, quanto maior é a acumulação de erros, suscitados por uma política imperial sedenta de hegemonia, quanto mais longe se estiver de uma comunidade internacional digna desse nome, de uma convivência humanizada, democrática, negociada,respeitadora da autonomia e identidade dos povos, mais riscos correrá a paz mundial, mais perto estaremos do risco de catástrofes. Efectivamente, a política simplista do "olho por olho dente por dente" é, no fundo, uma impolítica estúpida e bárbara, que se deixa contaminar pelo que mais a devia incentivar a combater os outros.

No Paquistão e noutros lugares, começa a ser evidente a existência de dois caminhos, em próxima encruzilhada , já anunciada. Um manda-nos continuar como nos últimos anos uma política de guerra, embrulhada numa retórica democrática que assim se desprestigia de dia para dia. Outro, aponta para a centralidade da paz mundial como factor de universalização de sociedades justas, o que só por si é um caminho difícil, polvilhado de soluções certamente imperfeitas, de situações constrangedoras ainda que passageiras, mas que possa fazer baixar os níveis de desespero e de sofrimento da grande fatia de humanidade que, cada vez mais, é terreno fértil para a proliferação da violência e da irracionalidade prática.

Veremos se o assassinato de Benazir é suficiente para fazer quebrar a rotina dos actuais senhores do mundo que parecem caminhar para um horizonte de catástrofe, envolvidos em lugares comuns e mergulhados numa confusa intransigência, quanto ao que julgam ser a defesa dos seus interesses particulares imediatos.

quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

Um novo blog


Surucucu
(http://surucucu-sopapos.blogspot.com/)



Hoje, é dia de boas-vindas a este novo Blog. É do José Cândido Rodrigues velho amigo e co-repúblico na "tenebrosa" República dos Pyn-güyns. Já é conhecido dos leitores de "O Grande Zoo".





Como podem verificar , pelo nome escolhido, vai certamente ser venenoso como uma serpente, sem deixar de ser subreptício quando necessário e mortífero quando indispensável.

Evocação de Eugénio de Andrade


O José Cândido Rodrigues, numa peregrinação por gavetas e papeis, encontrou um poema que tinha escrito aquando da morte de Eugénio de Andrade e enviou-mo.

Como todos os dias são dias de todos os poetas, este é um bom dia para evocar esse grande poeta. Por isso, aqui me associo ao Zé Cândido, antecedendo o poema dele de um outro que escolhi entre os do próprio Eugénio de Andrade, para ambos o evocarmos. Além de duas conhecidas fotografias dele, escolhi uma outra para imagem da atmosfera que se quis induzir, tendo-a ido buscar ao blog Alterius, onde foi publicada por sutenorio em 26/11/2005.



ARREPIO NA TARDE


Não sei quem, nem em que lugar,
mas alguém me deve ter morrido.
Senti essa morte num arrepio da tarde.
Qualquer amigo, um dos vários
que não conheço e só a poesia
sustenta. Talvez a morte fosse
outra:um pequeno réptil
no sol súbito e quente de março
esmagado por pancada certeira;
um cão atropelado por um bruto
que, ao volante, se julga um deus
de arrabalde, com sucesso garantido
junto de três ouquatro putas de turno.
Talvez a de uma estrela, porque também
elas morrem, também elas morrem.

(Eugénio de Andrade)





NA MORTE DE EUGÉNIO DE ANDRADE


Deixas as palavras muito tristes
Muito tão tristes como se perdessem um padrinho
Que em cada manhã as acordava de mansinho

Porque tu dormias com elas ao colo
E com elas tecias cálices e corolas
E desenhavas canteiros
Para as flores de todos os jardins.
E sobre a copa das florestas
Vazavas perfume temperado de harmonias
Enquanto pelas ruas desenhadas em franja
Um movimento, um alarido, uma festa colorida
De rosas, de verde, de laranja e melodias.
Tudo era sempre a força e o feitio das palavras nascidas
Da fúria maternal, suave, de geleia
E tudo calmo e transparentes como lua cheia.

Os engenhos rudes e mecânicos
Atiraste sempre para a outra margem
E para eles olhavas como quem olha
Para a horda bárbara e tirânica
Incapaz de perceber
Ou de saborear
A aragem das palavras a desabrochar

Escolheste um dia de Junho
Um dia suave e morno
Um dia vestido de azul do mar ao firmamento
Para adormecer mais suavemente
Um sono sem retorno.


(José Cândido Rodrigues)

terça-feira, 25 de dezembro de 2007

Os banqueiros, o céu e o gestor público


Os sábios e os seus arautos andam há muito a ensinar que gestão empresarial que não esteja ancorada numa sôfrega lógica de lucro é uma gestão pífia e ineficaz. Os actores dessa gestão menor são , nesse registo, uns coitados que navegam assustados no oceano encapelado do mundo empresarial.

Do outro lado desta história, perante uma corte de jornalistas da especialidade, deslumbrada e previsível, os nossos predadores empresariais expõem dia após dia os roteiros da sua ferocidade , polvilhada de trabalhadores despedidos, de empresas destruídas, de deslocalizações devastadoras.

Entretanto, quando mal se esperava, personagens de uma história que não era para ser contada, um pequeno grupo dentro da elite dos banqueiros engalfinhou-se ferozmente. Para espanto dos mais piedosos, participava energicamente na refrega um dos mais ostensivos expoentes bancários da Opus Dei. Consta que o próprio S. Pedro não resistiu a um santo resmungo que não se sabe ainda se foi apenas de espanto ou se continha uma discreta ponta de desagrado.

Esquecendo por algum tempo as santas regras do mercado, a selecta agremiação de banqueiros excedia-se em golpes baixos, que faziam ecoar numa comunicação social desprevenida e atónita. Os espectadores mais ambiciosos vaticinavam já a descida à arena dos novos gladiadores para se massacrarem sem piedade uns aos outros.

Saindo do torpor das suas serenas contas , o Governador do Banco de Portugal preocupava-se. O capitalista, a que uma das partes atribuiu o papel do Sr. Inconveniente, atroava o espaço mediático com novas brutalidades. Começavam a mencionar-se milhões. Somas que o bom povo tem dificuldade em imaginar sequer o que sejam. O próprio Governo era forçado a distrair-se da sua determinação. O Ministro do "Bago", como se diria nas "Repúblicas de Coimbra" dos bons velhos tempos, inquietava-se , ainda que serenamente. Sua Excelência em Belém esboçava uma sombra de desagrado.

Obedecendo, ao que consta, a ordens directas de S. Pedro, fortemente pressionado, diz-se, por S. Francisco de Assis, o piedoso predador, o banqueiro dos banqueiros, saiu de cena. As autoridades passaram a falar na refrega com o ar grave dos grandes acontecimentos, tendo mesmo anunciado a iminência de um rigoroso inquérito.

Foi então pedido a alguns pugnadores que se lembrassem que são accionistas, para , agindo em conformidade, darem ao Grande Banco um novo timoneiro, um timoneiro a sério, alguém que levasse realmente o barco a bom porto, que se pusesse ao leme sem ter que pedir constantemente instruções a quem de direito.

As mentes activas da selecção dos decisores, despertas por meses de dissimulação e luta, espremeram-se na procura de um salvador. Percorreram esmeradamente a lista dos predadores mais ferozes, desde os trovejadores impiedosos até aos "assassinos da voz meiga", desde os que esfacelavam como tigres aos que esmagavam como serpentes. Em vão, eram talvez fortes de mais, talvez pouco subtis. Talvez "despejassem a criança junto com a água do banho".
Eram talvez brilhantes, mas como disse inspiradamente um dos mais argutos decisores: " Não têm a noção da galinhola".

As horas estendiam-se implacáveis sem serem suficientes para que se fizesse luz. Até que um dos accionistas atingido por um súbito ataque de bom senso alvitrou: " Procure-se um gestor de um banco público, alguém que realmente esteja vocacionado para fazer progredir uma empresa no seu todo, alguém fora dos jogos de poder, alheio às grandes famílias, fora das corporações de interesses mais famintas ". As raposas entreolharam-se e deram de imediato o seu assentimento: em tempo de guerra não se limpam armas. E o que estava em causa era a sobrevivência do Grande Banco. "Venha o gestor do banco público!"

Foi então que um jovem turco das economias, há poucos anos "chegado recentemente de Chicago", advertiu com profundidade: " Um gestor de um banco público é um gestor público. O paradigma da ineficiência e do desperdício. Não é uma boa ideia".

Esboçando um sorriso onde espreitava a sombra de uma ironia , um velho raposão, banqueiro desde sempre, respondeu pausadamente. : "Ó homem, não confunda a nossa propaganda com a realidade!".

Consta que um esperançoso médico do Norte, provisoriamente emprestado à política, a propósito deste vultuoso evento e para espanto de alguns, ameaçou cantar a "Traviata".

segunda-feira, 24 de dezembro de 2007

Louvor do Aprender


O Zé Cândido mandou-me hoje um poema de que é o autor. Onde escreveu "aprendo" podia ter escrito "ensino". É assim desde os velhos tempos da República dos Pyn-güyns.
Não conseguindo colocar o poema na sua exacta arrumação, alguns versos podem ser prejudicados por serem artificialmente desdobrados. Como a alternativa prática era não publicar, optei por correr o risco dessa pequena adulteração. Publico sem consentimento do autor. Sujeito-me. Vou dar abusivamente um título ao poema, ainda por cima pilhando-o do grande Brecht: Louvor do Aprender.


Louvor do Aprender

José Cândido Rodrigues


Aprendo, todos os dias, que devo ser criança.
Aprendo que se aprende errando
Que crescer não significa fazer anos
Que o silêncio ou o riso são a melhor resposta para a asneira.

Aprendo que trabalhar não significa ganhar dinheiro e que dinheiro muito
menos significa felicidade.

Aprendo que os sonhos andam por aí para serem alcançados por quem é mais
corajoso e mais jovial.

Aprendo que conquistamos amigos quando nos mostramos como somos

E que somos verdadeiramente amigos quando conseguimos estar absolutamente
nus perante o próximo.

Em seguida os amigos riem connosco, choram connosco, ficam juntos connosco
até ao fim.
Também aprendo que pode haver maldade escondida em qualquer lado
E que a felicidade não existe se não for procurada.
Aprendo que quando julgo saber tudo é prova absoluta de que não sei nada.
Aprendo que é a natureza que deve comandar a vida
E que amar é uma entrega, um abandono, um esquecer de passados, um presente
sem projectos.
É por isso que um só dia pode ser mais importante que muitos anos.
E, então, todos os dias há tempo para conversar com as estrelas e com a lua
Para olhar o sol apesar das nuvens.
Só este tempo dá para viajar até ao infinito onde sempre um sonho azul nos
abre janelas doiradas sob um jardim imprevisto
Donde volto, outra vez criança, tão contente e inocente como quando era
livre e justo como as flores.

domingo, 23 de dezembro de 2007

Um inefável trinca-fortes.


Numa entrevista a um semanário, o Dr. Menezes, levando a sério a vulgata neoliberal, transforma-a num catálogo de promessas, com o qual ameaça os portugueses. Parecendo convicto de que é um ousado imaginador de futuros, não passa afinal daquilo a que os nossos irmãos brasileiros chamam um verdadeiro"encosto". Na verdade, ele está apenas a oferecer um programa irresponsável de apoucamento dos mais pobres e de descaso pelos excluídos, assumindo-se como um risco sério de completa desorganização do nosso país.


Como se isso não bastasse, também se mete na confusão bancária (desencadeada, ao que tudo indica, por um conhecido banqueiro da Opus Dei), em termos tais que parece estar a jogar ao "Monopólio" num grupo de adolescentes.


Enquanto o Dr. Menezes assustar os portugueses duas vezes por semana, mostrando-lhes que como como líder político não passa de um peso pluma, o actual Governo pode dar-se ao luxo de olhar para as sondagens com uma calma olímpica.


De facto, o Dr. Menezes, que parecia querer assumir o estatuto de um anti- Marques Mendes, corre agora o risco de se tornar numa caricatura do seu antecessor; ou, pior ainda, numa caricatura de si próprio.

A Lição Alemã



O político alemão Oskar Lafontaine já foi um dos dirigentes mais carismáticos do SPD , que aliás chegou a liderar. Participou numa cisão desse partido com base na discordância quanto à orientação política do governo Schröder. Hoje, é um dos principais dirigentes de uma novo partido: Die Linke (A Esquerda). As sondagens atribuem-lhe 13%, ao mesmo tempo que reduzem o SPD a uns os magros 29%, se os compararmos com os seus resultados habituais.
No diário espanhol "Público", é hoje publicada um entrevista sua, pela qual é responsável Juanma Romero. Uma vez mais, resolvi difundi-la neste blog, por me parecer um documento político do maior interesse. Registo, aliás,a qualiade dest "jovem" diário do país vizinho, que tarda em ter uma presença visível nas nossos quiosques de venda de jornais.
Oskar Lafontaine é identificado como sendo Copresidente do partido "A esquerda", dizendo-se que este ex-líder do SPD "dejó esta formación en 2005, convencido de que las reformas de Schröder estaban traicionando los valores de la izquierda y abriéndose demasiado al neoliberalismo". Eis o texto da entrevista:

" No la suelta de su boca. Taladra con ella todas sus respuestas. Dibuja por oposición el espejo antagónico. “Neoliberalismo”. Su palabra fetiche. Aquella que combate, en un mundo nuevo, el nuevo Oskar Lafontaine (Sarre, Alemania, 1943). Ex presidente de su land (el equivalente a nuestras comunidades autónomas), ex presidente del SPD, ex ministro (efímero, muy efímero) de Finanzas del primer Gabinete de Gerhard Schröder. Le suena a pasado.
Desde junio, su proyecto se llama Die Linke (La Izquierda), el partido nacido de la confluencia de los ex comunistas del Este y los desengañados del SPD. Sus aliados son ahora también más zurdos: de la relación casi fraternal con Alfonso Guerra y el PSOE, ha basculado a la cooperación con IU, que el viernes le trajo a Madrid para debatir sobre la reorientación de la política exterior. Un potente gancho electoral para Llamazares.

Creo que tengo delante al ‘ave fénix’ de Alemania. Eso se dice en su país y también fuera.
Quizá es demasiado rotundo. Pero no negaré que, en dos años, desde que se coaligaron el PDS [los poscomunistas] y la WASG [los occidentales cansados del SPD], hemos cambiado la política alemana desde la oposición. La justicia social ha vuelto a la agenda. Hemos obligado a Merkel a corregir sus medidas, en subsidios de paro, pensiones, salario mínimo... Modestamente, pero ahí están los esfuerzos para llevar la política a la izquierda.

Está disparado. Tercera fuerza y potencial electoral de un 25%.
En las generales de 2005 obtuvimos el 8,7% de los votos y ahora, los sondeos nos otorgan un 10-13%. Mejor ser prudentes. Nos apuntamos haber roto el sistema cuatripartito.

Me pregunto qué reflexiones hizo tras perder contra Helmut Köhl en 1990. ¿Pecó por ser sincero?
Lo he pensado muchas veces. Avisé contra los riesgos de una rápida unificación monetaria de las dos Alemanias. Así ocurrió. Ahora, la economía ha superado algunas dificultades, pero el desempleo es muy abultado, sobre todo en el Este.

Véndame ‘Die Linke’. ¿Qué ofrece de nuevo? ¿Qué tiene de viejo?
Nuestro reto es luchar contra los grandes destrozos que el neoliberalismo ha causado en Alemania. Trabajar por las condiciones de los trabajadores, apostar por una política exterior respetuosa con el derecho internacional. ¡Logramos que se paralizase la privatización del ferrocarril! Los Verdes han tildado de erróneos sus recortes sociales con Schröder. ¡Claro! Lo dijo Jean Jaurès: “El capitalismo acarrea la guerra como las nubes la lluvia”.

¿Y no será difícil mantener la convivencia del PDS y la WASG? ¿Son un partido homogéneo?
Los ex comunistas han evolucionado como en otros países. Yo mismo, cuando propuse la fusión, miré con detalle ambos programas, y eran prácticamente idénticos. Hay mentalidades diferentes, pero como las hay entre vascos o catalanes de un mismo partido. Las discusiones internas no son más agrias que las de otras formaciones.

¿Y el SPD? Le sitúan por debajo del 29%. ¿Ha llegado a tocar fondo?
[Medita] Propongo otra pregunta: ¿va a corregir su política fallida?
Va reculando en los últimos meses
Deberá aclarar si reorienta su programa. Si no, caerá más. También le empujamos. Die Linke ha surgido a raíz de la política equivocada del SPD.

Y del desencanto y de la falta de un líder como Schröder
Lo decisivo es que ni trabajadores ni pensionistas se reconocen en el SPD.

¿Se reforma o se destruye?
Si no cambia, se desplomará, sí.

¿A pesar de Kurt Beck?
El presidente del SPD apoyaba hasta hace poco tiempo la dirección de su partido y del Gobierno. Ahora revisa sus convicciones. De acuerdo. Esperaré a ver cómo evoluciona.

Una eventual alianza con el SPD se cobraría peajes. Freno a las rebajas del Estado del bienestar y...
Retirada de las tropas. Ésa es nuestra línea roja. Dos condiciones básicas.

¿Es compatible la globalización con un Estado grueso?
Por supuesto. El neoliberalismo propala una gran mentira: la sociedad actual, más rica, no puede permitirse un Estado fuerte que sí era viable en una sociedad más pobre. No tiene lógica ese razonamiento. Pero cala.

¿Merkel ha arramblado con el SPD, sus dirigentes y sus ideas?
La CDU sólo ha arañado una ventaja de tres puntos con respecto a 2005. Siete ha bajado el SPD. Merkel habla de justicia social, se ha separado de sus creencias más derechistas, pero su neoliberalismo está ahí. Ha bajado impuestos a las empresas, ha subido el IVA. Los alemanes no palpan el crecimiento.

Es vista como una líder europea.
Son valoraciones. Prefiero hechos. En la cumbre del G-8, en Heiligendamm, Merkel dijo haber arrebatado a Bush un cambio en política medioambiental. Bali lo ha desmontado.

¿Es una canciller de transición?
[Se lo piensa] No puedo predecir cuánto se mantendrá. Pero no tiene agenda propia. Le falta identidad.

Facilitó el Tratado de Lisboa
Quizá contribuyó a que los gobiernos se pusieran de acuerdo. Sin embargo, Europa no debe ser un proyecto antidemocrático, de las grandes empresas, sino de los ciudadanos, a los que no se va a consultar. Craso error.

Le pido una reflexión de la izquierda europea. Ségolène Royal se hundió, Prodi pasa apuros y Zapatero quizá no gane
La izquierda europea ha perdido credibilidad. Se ha abierto demasiado al neoliberalismo, que significa destrucción del orden social. Si regresa a sus orígenes, volverá a ganar.

De ahí sus relaciones con IU
Sintonizamos. Fundamos en 2004 con ellos el Partido de la Izquierda Europea. Queremos promover una nueva izquierda, preocupada por una Europa democrática y social.

Mencionaba la subsistencia del Estado del bienestar. La inmigración es un dilema global
La integración nos preocupa, cómo no. Primero hay que procurar que los inmigrantes aprendan el idioma local y que existan suficientes posibilidades de empleo para todos.

¿Y el terrorismo? ¿Ve una psicosis colectiva por la seguridad?
Son necesarias medidas. Aún más respetar el derecho internacional.

No querría eludir su parecer sobre la política de Zapatero.
No la conozco a fondo. Me impresionó cómo retiró las tropas de Irak.
devo diser. "
Comentário-
Há uma hipoteca política invisível que pesa sobre a esquerda alemã no seu conjunto: não ter sabido encontrar uma solução política que desse corpo a um goveno de esquerda, tal como os resultados eleitorais das mais recentes eleições indicavam. De facto, os democratas-cristãos mais os seus aliados sociais-cristãos conseguiram apenas algumas décimas de vantagem sobre o SPD. A CDU mais os liberais do FDP não bastavam para gerar uma maioria parlamentar.Mas a soma dos deputados eleitos pelo SPD, pelos Verdes e pela Aliança de Esquerda ( hoje, "A Esquerda"), conduzia a uma clara maioria parlamentar. O SPD, contudo, preferiu uma Grande Aliança com a CDU da Srª Merkl. Desapareceu debaixo das asas da nova líder. As sondagens, como atrás se viu, já o assombram, tendo começado a revelar-se algumas clivagens no seu interior.
Se a anemia do SPD levar a SrªMerkl a um segundo mandato, mas desta vez sem o contrapeso dos seus adversários, ninguém sabe como evoluirá no quadriénio seguinte a relação de forças no seio da esquerda alemã. Conservará o SPD o nível de predomínio actual ?
Mas se por um daqueles caprichos da sorte em que a política é fértil, se repetir um resultado semelhante ao das últimas eleições, mas agora com um SPD ainda mais fraco e com os seus parceiros de esquerda mais fortes, dificilmente se poderá repetir uma grande coligação. E se, nestas circunstâncias, acabar por se chegar a uma solução que afaste a direita do poder, poderá então perguntar-se por que não foi ela encontrada mais cedo, de modo a impedir-se o consulado da Srª Merkl.
É visível que, para além destas reflexões, radicadas no incontornável argumento da relação de forças, há uma grande dificuldade política no estabelecimento de uma aliança de esquerda na Alemanha. Bem maior do que a que a implicada por uma inflexão da política do SPD que tivesse tido em conta todas as sensibilidades internas, de modo a retirar espaço a qualquer dinâmica de cisão. Isso não aconteceu, a cisão ocorreu e agora a realidade é a que é.
Mas há outros países em que outros partidos socialistas devenm olhar com atenção para o que vai ocorrendo na Alemanha. De facto, é sempre mais fácil encontrar equilíbrios e chegar a consensos, no quadro de um mesmo partido do que a partir de diferentes instâncias partidárias. E as rupturas serão sempre mais fáceis de prevenir, quando se compreende que a regra da maioria não exprime por si só a natural e desejável diversidade de um grande partido de esquerda.
Por isso, as minorias, especialemente quando bem enraizdas na identidade histórica do partido e na sua projecção futura e quando disponham de uma base social espontânea e duradoura, não podem ser ignoradas politicamente. Politicamente, sublinhe-se, e não apenas convivial e simbolicamente.
De facto, as cisões mais perigosas são as que levam tempo a amadurecer, por derivarem muito menos de protagonismos pessoais de circunstância do que de uma dinâmica social e política profunda e estratégica, eventualmente potenciada por movimentos duradouros de uma parte do respectivo eleitorado para fora do seu voto habitual.
Por tudo isso, se as minorias não devem ser sectárias nem intransigentes, a maioria também não pode ser politicamente autista nem arrogante.

sábado, 22 de dezembro de 2007

As Máscaras do Dr. Menezes



Saiu da audiência com o Presidente da República com um andar de veludo, manso e subtil, como se pedisse desculpa por existir. Deixou o pescoço pender muito ligeiramente para o lado, num sinal de submissão.
Disse: "Dois mil e oito vai ser um ano muito difícil. Vamos ser uma oposição responsável. Não queremos agravar as dificuldades do nosso país."

A voz saíra quase ciciada como uma brisa de paz e de concórdia. Os jornalistas atónitos olhavam. Quem era aquele santo homem, saído da lista dos futuros santos ? Apenas um manso cordeiro perdido nos corredores acres da política ? Não. Era o Dr. Menezes, modesto, fiável, colaborante. Uma bênção para o Governo, um orgulho para qualquer oposição. Num passo sacerdotal com ademanes de humildade lá se encaminhou para o carro que o esperava.
A Engª Maria da Boavontade, coordenadora do gabinete de imagem para os maiores de 50 anos, exultava. Era exactamente assim: tinha que ser quase impossível distinguir o Dr. Menezes de um cordeiro, se possível sacrificial. Todas as avós tinham que ficar com vontade de lhe fazer suaves festas , num assomo de ternura. Não menos de dez por cento , era o que valia uma pose de tal gabarito.
O Dr. Menezes rumou ao Norte. Com os ares de Gaia , com a brisa falando-lhe do Douro, uma discreta tempestade germinava nas arcas mais remotas das suas intenções. À chegada aos Paços do Concelho, duas notícias: uma criança fora atropelada por um condutor embriagado; um amante ciumento matara o objecto da sua paixão com sete facadas.

Com um sorriso afiado, aflorando-lhe nuns lábios quase imperceptíveis, o Prof. Epifânio Malvadeza esperava. Director do marketing do Dr. Menezes, junto aos empresários de sucesso, tinha uma visão enérgica e decidida da política. "Cara, vai fundo! Baixa o pau neles. Duas mortes violentas vêm mesmo a calhar. Bota as culpas no Governo!"
O Dr. Menezes recebeu aquelas palavras como um relâmpago de decisão. As pequenas tempestades que vinham crescendo dentro dele, desde Oliveira de Azeméis, pareciam agora mais imperativas. Quando entrou nos Paços do Concelho, o Dr. Menezes deixara já para trás os pézinhos de lã. Era agora um lobo ansioso, por se lançar sobre a presa. Sem piedade.
Aproximou-se então dos jornalistas, como um predador seguro e enérgico. A voz saiu-lhe numa rajada implacável :" O governo tem que pedir desculpa aos portugueses. A insegurança está a tornar-se intolerável. Não podemos admitir. Sete facadas ! Uma criança indefesa atropelada ! Os portugueses não podem admitir a incompetência deste Governo".
Os jornalistas viram logo que aquele era realmente o Dr Menezes, marcial, impetuoso, implacável. O Prof.ºMalvadeza estava em êxtase. Excelente! Pelo menos dez por cento de aumento nas sondagens.
Um mocho sábio que por ali passava, desconhecedor dos meandros da maquilhagem política, mas conhecedor do que acontecera em Lisboa, resolveu perguntar: "Os dez por cento que ganhaste há bocado somam-se ou subtraiem-se aos que conseguiste agora."
Menezes apreensivo ensaiou um gesto de enfado, mas o mocho concluiu: "Não te esqueças do ditado : Não se pode ter sol na eira e chuva no nabal".

sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

O PS em Coimbra



Volto a falar no Politicaehouse, desta vez para transcrever com a devida vénia um comentário assinado por Politicae, por me parecer que, esclarecida e concisamente, diz o essencial do que significa na actualidade a pugna que se avizinha na Federação de Coimbra do PS:



COMENTÁRIO POLITICAE:

"É o que sempre digo. A política não se consegue fazer sem cinismos, contradições, mentiras.
Mário Ruivo deu um passo atrás. Disso não há a menor dúvida. Há cerca de 6 meses ligou a todos os presidentes de concelhias do PS e outras figuras a assumir-se como candidato. Assumiu-se como candidato à distrital e nessa altura não quis ouvir os militantes. Assumiu-se e ponto final.
Não vale a pena o cinismo de quem deu um passo maior que as pernas há 6 meses atrás para agora fazer a parte do "jovem", já não tão jovem, dialogante que quer ouvir os militantes como se fosse um "senador", como se fosse alguém cheio de provas dadas que agora faz o favor de "ajudar" o PS-Coimbra! Não é nada disso.

É bom recordar duas coisas: uma, o "jovem"Ruivo" até hoje sempre dormiu com o "inimigo". E mesmo quando avançou com uma candidatura à Concelhia contra Luís Vilar, recordamos que nenhuma oposição lhe fez no órgãos onde as oposições deveriam fazer algo: a comissão política concelhia.
Também é bom lembrar que nessa altura Ruivo não podia fazer muita frente a ninguém pois profissionalmente estava numa situação complicada, não era, digamos, economicamente independente o suficiente para dizer o que pensava e o que verdadeiramente achava melhor para o PS de Coimbra.
É lixado ter memória!
Quando Victor Baptista decidiu avocar todas as escolhas autárquicas dos concelhos do distrito de Coimbra, nunca ouvimos Mário Ruivo. Aliás, não sabemos se é contra ou a favor.
Mas sabemos que nessa altura ele era oposição na Concelhia de Coimbra, na Comissão Política respectiva, e nada disse.
Ah!, claro, fez um acordo com Luís Vilar e "meteu" algumas das peças que o apoiaram na lista da Assembleia Municipal de Coimbra, ou seja concorreu para ganhar posição negocial. Não para mudar realmente as coisas!
Ou seja, temos aprendiz de jogador e sinceramente o problema do PS em Coimbra é precisamente falta de credibilidade, falta de competência e jogadas políticas a mais.
Quanto a Victor Baptista, apesar de nada dizer é sabido que anda a visitar as concelhias que mais peso têm no aparelho distrital e a dizer mal de Mário Ruivo e Luís Marinho. Victor Baptista representará mais do mesmo. É a continuidade.
Se vencer, só poderemos dizer que o PS tem a liderança que merece, não se queixe depois.
Quanto a Luís Marinho, pensamos que, de longe, é o mais preparado, o mais credível e o melhor que poderia acontecer ao PS. Temos a certeza que apesar das picardias dos últimos tempos saberia unir os militantes do PS, juntando todos e atribuindo funções a todos, mas precisa de um clique que o faça candidato vencedor.
O PS - Coimbra teria muito a ganhar: credibilidade, respeito, capacidade de intervir do ponto de vista nacional, sólido e consistente, temos a convicção de que saberia fortificar de novo o PS-Coimbra como ele já foi no passado.
Porém, achamos que onde ele estaria melhor era como candidato à Câmara Municipal de Coimbra. Não temos grandes dúvidas em como venceria as eleições. As pessoas já aprenderam a sentir onde está a credibilidade, o respeito, a capacidade, a competência e a respeitabilidade".

III Fórum Internacional de Filosofia de Venezuela


Agradeço ao João Maria André, professor da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, a cujo Departamento de Filosofia pertence, ter-me dado a conhecer o documento político que hoje transcrevo.

Ele foi o único português que participou, em Novembro passado, na Venezuela, no III Fórum Internacional de Filosofia, do qual resultou a declaração final que abaixo se divulga. Participaram no Fórum, filósofos e intelectuais de todos os continentes, com natural predominância dos latino-americanos. De facto, estiveram presentes participantes de vinte e sete países: Alemanha, Argentina, Bélgica, Bolívia, Brasil, Camarões, Canadá, Chile, Colômbia, Congo, Coreia do Sul, Costa Rica, Cuba, El Salvador, Espanha, França, Gâmbia, Índia, México, Paraguai, Perú, Portugal, Porto Rico, Rússia, Senegal, Uruguai e Venezuela.

Numa alusão clara à atmosfera circunstancial então existente, a declaração tem como título: " No nos callarán".
Não sendo uma declaração de incidência apenas regional, está claramente radicada na realidade actual da América Latina, com natural relevo para o país anfitrião. Eis o documento:


Declaración Final del III Foro Internacional de Filosofía de Venezuela



Asistimos a una creciente contestación del Modelo Neoliberal en todos los continentes, contestación que inevitablemente tiende a poner en cuestión el propio sistema capitalista y el poder imperial. En el caso de América Latina ese movimiento viene traduciéndose en crecientes insurgencias sociales en varios países, movimiento que en Venezuela y otros pueblos se enfrenta cada vez más abiertamente al Imperialismo, a sus transnacionales, sus ideólogos, sus reyes y presidentes, y sus medios de comunicación.
El proceso venezolano, que avanza inexorablemente, agudiza la urgencia de definir el horizonte al que nos dirigimos, y que empieza a llamarse genéricamente Socialismo del Siglo XXI. Para reflexionar sobre esa futura sociedad, su diseño y su construcción, nos hemos reunido en este Foro Filosófico pensadores y activistas sociales de África, Asia, Europa, América Latina y Norteamérica.


Nos reunimos en Venezuela, en cada uno de sus estados, porque es aquí donde las contradicciones están más agudizadas, tanto las internas como las mundiales. Es al Presidente de este pueblo al que un rey colonial y nombrado por Franco quiso silenciar, y junto a ese presidente le decimos a los poderosos del mundo que no nos callarán.
En este esfuerzo de reflexión colectiva sobre Humanismo, Revolución y Socialismo hemos llegado a algunas conclusiones que esperamos nos sirvan de punto de partida:
· Frente a un sistema Capitalista que se caracteriza por la explotación del hombre por el hombre, por el saqueo de los recursos naturales, la desestructuración de las culturas indígenas, la destrucción de la vida, y la alienación, no hay terceras vías. Sólo el Socialismo es la supresión y la superación del Capitalismo.
· El Socialismo del Siglo XXI tiene que recuperar y valorar las innegables conquistas de los socialismos del siglo XX, básicamente la supresión de la explotación y la universalización gratuita de la educación, la salud y otros servicios públicos; pero al mismo tiempo tiene que superar sus deficiencias y contradicciones, como el excesivo énfasis en el “desarrollo” económico, el Estado degenerado en burocratismo, el menosprecio de la diversidad y el olvido de la naturaleza.
· Apostamos en consecuencia por un Socialismo humanista ‑‑práctico y no simplemente filantrópico, descolonizador, cosmocéntrico, comunitario, pluricultural e intercultural; vale decir por un Socialismo liberador, participativo y promotor de todas las equidades. Y en consecuencia nos comprometemos a luchar en cada uno de nuestros países, y allí donde estemos, contra las guerras imperialistas, las amenazas intervencionistas y golpistas, la tortura generalizada, el espionaje, la manipulación de la información, la criminalización de los movimientos sociales, la destrucción de la naturaleza y toda violación de los derechos humanos.
· Los cambios sociales, y los movimientos sociales que los impulsan, están íntimamente relacionados con la emergencia de documentos constitucionales que son la expresión jurídica de las luchas de los pueblos. Este Foro Internacional constata que Venezuela recoge esta tradición y la potencia con su carácter revolucionario y socialista. Es por eso que la próxima reforma constitucional es objeto de asedio político y desprestigio mediático. Este Foro denuncia enfáticamente dichas maniobras y rechaza el bloqueo mediático y la degeneración de la información de que hemos sido testigos en todos los estados de Venezuela, y que de la misma manera se da en nuestros países.
Nos comprometemos a continuar en esta línea de reflexión crítica y a seguir acompañando los movimientos contestatarios y de liberación en cualquier parte del mundo. Y reiteramos que no nos callarán.

Maracaibo y resto del país, Noviembre de 2007

quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

POLTICAEHOUSE

POLITICAEHOUSE


Por mero acaso , através de outro Blog, acabo de verificar que, afinal, o "Politicaehouse" voltou à liça.

Para mim, trata-se de uma boa notícia: era um dos seus leitores habituais.

É um bom reforço para os que procuram activar um pensamento crítico sobre a política, na blogosfera e fora dela. Especialmente, dentro da esquerda.

Que seja por muitos anos !

Não batam nas pobrezinhas!


Os jornais fazem generoso eco da disposição de algumas companhias de seguros se irem queixar às instâncias da União Europeia, por uma suposta infracção das leis da concorrência pelo actual Governo, uma vez que ele se propõe lançar um novo tipo de complemento de pensões sob responsabilidade pública.

As leis da concorrência não têm nada a ver com isto. O Estado, destinado a pugnar pelo bem público, bem como pelo acréscimo e generalização justa do bem-estar dos cidadãos, não pode ser impedido de o fazer, em nome do interesse particular dos grandes accionistas das companhias de seguros, que querem ter uma nova oportunidade de fazerem crescer os seus lucros, mesmo à custa de uma diminuição das regalias dos cidadãos, que queiram aceitar esse contrato público, que lhes é proposto (ou do aumento do risco de as ver perdidas ).


Na verdade, o direito a procurar investir especulativamente, seja em que tipo de actividade for, por parte seja de quem for, não pode corroer uma das mais nobres razões de ser do Estado moderno, e, ainda por cima, à custa das dificuldades dos menos favorecidos. De facto, não é concebível que alguns dos que mais benefícios retiram de uma sociedade de desigualdades, procurem aproveitar as fraquezas dos que são por elas mais lesados , para lucrarem uma segunda vez à custa deles.

Ou será que as companhias de seguros pretendem renunciar aos lucros, quanto a este tipo de seguros ? É que, se isso não acontecer ( e só por absurdo se pode imaginar que aconteça), os cidadãos, que optassem por esse tipo de complemento de reforma, veriam a sua posição necessariamente prejudicada pelos lucros auferidos pelos investidores no referido negócio. E mesmo que uma iniciativa pública precise de garantir a sua perenidade, através de investimentos que representarão vantagens não fruídas pelos segurados, o mesmo ocorrerá com as entidades privadas que se ocupem de iniciativa igual.



Com uma diferença: sob pena de não fazer sentido manter-se, uma entidade privada lucrativa precisará de investir, como o Estado o tem que fazer, para se manter, mas precisará também de garantir os lucros esperados pelos respectivos accionistas. Estes lucros não podem deixar de ser uma desvantagem relativa e automática, para os segurados abrangidos por esse tipo de complemento de pensão, por se reflectirem necessariamente na sua diminuição.

Daqui não se pode fugir, por mais que se despejem nos palcos mediáticos especialistas exuberantes que assegurem a excelência das soluções privadas lucrativas e a terrível desqualificação das iniciativas públicas.

Aliás, um Estado não cai em insolvência, mas uma companhia de seguros privada pode cair. E nesse caso, ficariam os cidadãos irremediavelmente lesados? Ou querer-se-ia que fosse o Estado a pagar-lhes ? Se essa imoralidade acontecesse, seria como se os lucros das companhias fossem privados, mas os prejuízos colectivizados. Negócio realmente arriscado...para o Estado, claro.

Por isso, se por hipótese absurda , dos corredores de Bruxela saltasse uma admoestação ao Governo, isso apenas quereria dizer que o fundamentalismo neoliberal teria penetrado muito mais profundamente na União Europeia do que aquilo que os mais pessimistas querem admitir.

quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

Resolvam democraticamente o problema!






Voltemos ao escrito anterior, já comentado por um amigo.


Fiquei impressionado com a barragem de artilharia demagógica de três seráficos representantes de partidos anões que trovejaram ontem numa das SICS. Com os seus registos ideológicos opostos, colocaram-se numa imaginária consonância profunda com o bom povo português, que como eles seria vítima dessa cambada de malfeitores que seriam os partidos políticos não vítimas de uma lei celerada. Um deles deixou até escapar um resmungo que insinuava a tenebrosa mão de Sócrates neste desmando, como se o Tribunal Constitucional fosse um pequeno grupo de escolares de leis às ordens do Primeiro-ministro.


Esses três mosqueteiros deixaram ali bem claro que nada os distingue qualitativamente do que apontam de negativo aos responsáveis por outros partidos, a não ser a natural diferenças de opções politico-ideológicas que se supões serem o suporte da diversidade partidária. A jornalista falava do assunto como se estivesse perante uma questão esotérica, completamente a reboque das vociferações dos dirigentes partidários com quem dialogava. Estes ferraram-se nas caneles dos partidos mais representativos, do Governo, da Assembleia da República e do Tribunal Constitucional, como rafeiros furiosos que tivessem fisgado velhos inimigos. E, no entanto, as coisas são por um lado mais simples e por outro mais complexas.


Em primeiro lugar, deve lembrar-se que as disposições legais, agora em causa, integraram as primeiras regras sobre partidos que se seguiram ao 25 de Abril, tendo sido apenas retomadas pela mais recente legislação sobre a matéria. Todos os partidos criados desde 1974 se regeram por elas. O espanto nunca poderá estar, por isso, no facto de o Tribunal Constitucional procurar fazer cumprir a lei, mas de só agora o fazer, quando esta diligência já seria abrangida pelas suas competências, pelo menos, há vários anos.


Em segundo lugar, deve lembrar-se que os partidos agora potencialmente atingidos não abriram a boca nunca, para protestar contra esta lei. E é ridículo que dêem a impressão que tinham o esquisito direito de que ninguém considerasse que uma lei vigente devia ser cumprida.


Em terceiro lugar, deve dizer-se que, em rigor, dentro de uma sã lógica democrática garantida constitucionalmente, o número de assinaturas que devem ser necessárias para legalizar um partido deve constar de um preceito constitucional, o mesmo devendo acontecer quanto ao número de militantes que se considerem suporte obrigatório da existência de um partido. Mas, se o legislador constituinte entender que tais limites não devem existir, não poderá ser o legislador comum a fixá-los.


Em quarto lugar, se for entendido que devem ser fixados índices objectivos de uma representatividade mínima, não para a existência legal de um partido , mas para o acesso a vantagens, bens ou direitos de natureza pública, eles nunca poderão ter por base a tentativa de diminuir os direitos políticos dos partidos mais pequenos, mas apenas impedir o aproveitamento das faculdades postas à disposição dos partidos políticos, para fins exteriores à política ou para mera chacota em face da política.


Concluindo, o Tribunal Constitucional agiu bem, embora com um imenso atraso, tornando-se claro que, varrer para debaixo do tapete as incongruências jurídico-constitucionais, nunca é uma solução real e definitiva de um problema. Os que se sentem lesados com a inconstitucionalidade da lei que invocaram contra eles têm apenas que accionar os mecanismos de defesa. Todos os que se calaram ( E foram mesmo todos . Mesmo os que agora gritam :«Ó da guarda!) reconheçam o erro e remedeiem-no com espírito democrático e respeito pela Constituição.

segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

Fim dos partidos realmente pequenos ?


Já não poderá prolongar-se, por muito mais tempo, uma ambiguidade que tem envolvido, desde o início da sua vigência, a lei dos partidos e sua aplicação, à luz da CRP (Constituição da República Portuguesa).


De facto, a fixação de um número mínimo de assinaturas para se legalizar um partido político, bem como a exigência de manutenção de um número mínimo de filiados para se conservar o reconhecimento dessa qualidade, deveriam ter sido objecto de uma disposição constitucional. Não o foram, tendo-se preferido fixar esses limites na lei comum. Esta foi, contudo, uma opção com efeitos perversos.

De facto, subordinar a liberdade de criação de partidos políticos, reconhecida pela CRP, à exigência de pressupostos, não apenas formais ou certificativos, mas substanciais, que apenas resultem de uma lei comum, põe necessariamente em causa a própria CRP. Na verdade, não é admissível que se esvaziem na prática, por causas que lhe são estranhas, direitos que ela própria garante sem restrições.

Aliás, há pelo menos um caso, que eu conheça, de um país onde, durante um certo período da sua história, se usou, como instrumento de obstrução à livre criação de partidos políticos, a exigência de um excessivo número assinaturas ( 500.000) para criar um novo partido. Foi o caso do México, há umas décadas atrás. Para agravar a situação não é fácil estabelecer limites objectivos, a partir dos quais se considere desrespeitada a liberdade de criação de partidos políticos. Depende do país e da época.

Na altura, o limiar acima indicado era considerado uma das peças do puzzle do condicionamento autoritário que o PRI ( Partido Revolucionário Institucional) implantou no seu país. Mas, muito recentemente, no Brasil, uma cisão do PT deu origem ao PSOL, tendo sido exigidas 400.000 assinaturas para a sua legalização, sem que fosse contestada essa exigência.

Sendo certo que se pode usar o número de militantes ou de subscritores, como meios encapotados de fragilizarem um direito de existência, o que em Portugal aconteceu foi que nenhum partido quis dar uma imagem de fraqueza, contestando a exigência legal dos referidos números mínimos de assinaturas e de militantes. Como tácita contrapartida, as autoridades competentes ignoraram, desde sempre, o imperativo de se ter um número mínimo de militantes para se conservar o estatuto de partido político. Os tribunais competentes apenas analisavam com relativo cuidado as assinaturas reunidas para darem origem a um novo partido.

Quem tiver pertencido a pequenos partidos , tendo-os conhecido bem, sabe que muitos partidos hoje existentes, alguns com deputados na Assembleia, estão longe de ter 5000 militantes. Mas não tem qualquer sentido pretenderem que a lei não deve ser aplicada, embora tenha todo o sentido que aleguem a inconstitucionalidade das normas que introduzem essas exigências, que agora põem em causa a sua sobrevivência.

Caberá depois à Assembleia da República encontrar mecanismos que compensem os dispositivos agora em vias de serem invalidados, naquilo que for objectivamente indispensável para que não se abram as portas a formas oportunistas de mera exploração do estatuto formal de partido político.

A Esquerda Arco-Íris


Atravessa-se em Itália uma fase de radical reformulação do espectro político, quer à direita, quer à esquerda.

Como se sabe, nesta última parte do xadrez político, há um processo nuclear, ancorado no centro-esquerda, que suscitou o lançamento de um novo partido, o Partido Democrático, baseado nos ex-Democratas de Esquerda ( vindos do PCI) e no ex- Partido da"Margarida" ( herdeiro da ala esquerda da antiga democracia-cristã). Com uma expressão eleitoral que se espera muito mais reduzida, está em marcha uma refundação do Partido Socialista Italiano, para onde convergem os fragmentos do antigo PSI , que a sua pulverização suscitou, e ainda a recente dissidência dos democratas de esquerda ( por não quererem entrar no Partido Democrático), liderada pelo senador Gavino Angius.

Mas o processo que está, neste momento, numa fase crucial é o que envolve o Partido da Refundação Comunista, o Partido dos Comunistas Italianos, o Partido dos Verdes e a Esquerda Democrática ( outra dissidência dos Democratas de Esquerda, liderada pelo actual Ministro das universidades, Fabio Mussi, com o dobro do peso da anteriormente referida).
Estas quatro forças políticas realizaram uma grande Assembleia em Roma, nos passados dias 8 e 9 de Dezembro, tendo chegado a relevantes convergências substanciais. Tudo indica que chegaram a acordo sobre o nome a dar à nova organização que se pretende flexível e não centralista : a Esquerda Arco-Íris. Este princípio de caminhada está no entanto a ser ensombrado pelo risco de divisão , a propósito de uma possível nova lei eleitoral, actualmente, em discussão, em Itália.


Com excepção de algumas pequenas franjas do PSI, todas estas forças estão dentro do actual Governo, liderado por Prodi, ele próprio palco de algumas tensões internas graves. Imagine-se como pode conduzir a riscos políticos consideráveis , a conjugação destes vários processos com o quotidiano de um Governo, sem maioria segura no Senado. Seguir a realidade política italiana nos próximos meses será um excelente treino na reflexão política muito interessante.

domingo, 16 de dezembro de 2007

Socialismo bolivariano?


Apesar da vontade manifestada por Hugo Chavez de unificar num único partido a expresão política do seu "socialismo bolivariano", tudo leva a crer que isso não será conseguido, pelo menos, a curto prazo. O recente falhanço político por que passou , ao perder o referendo constitucional, e a relativa proximidade de eleições estaduais e autárquicas tornam particularmente aguda a luta política na Venezuela.
Para alargar a diversidade dos pontos de vista oferecidos à nossa reflexão, resolvi divulgar uma entrevista feita a José Albornoz, Secretário- Geral do PPT (Pátria para Todos), um partido apoiante de Chavez e do "sim" no referendo recentemente realizado, mas que recusou dissolver-se no PSUV(Partido Socialista Unido da Venezuela). A entrevista foi feita por Clodovaldo Hernández e recentemente publicada no jornal venezuelano "El Universal" . É com a devida vénia que se trancreve.

"A José Albornoz no le gusta que digan que Patria Para Todos es "un aliado" del proceso. "Somos copartícipes, coautores de esta revolución, pase lo que pase", dice. "Los aliados son circunstancias, producto de coyunturas, nosotros estamos en la esencia".
Dos semanas después de la derrota del 2 de diciembre, el secretario general del PPT afirma que no es hora de buscar chivos expiatorios, pero sí de tratar de descifrar el mensaje que el electorado envió en el referendo constitucional.
Junto con el Partido Comunista de Venezuela -el otro "aliado" que se negó a fundirse en el Partido Socialista Unido de Venezuela-, han conformado unas mesas de diálogo socialista para analizar, entre otros temas, el del 2D.

-En esas mesas socialistas, ¿habrá sustancia, es una mesa con hallacas o puras lamentaciones?

Creemos que ahora es el momento. Al mensaje que nos envió el pueblo no podemos buscarle explicaciones con chivos expiatorios. De una u otra manera todos tenemos un grado de responsabilidad y tenemos que asumirla. La mesa de diálogo socialista crea un espacio para todos los sectores del país, especialmente para los que no tienen mecanismos para expresarse. Por eso, las mesas no son del PPT y el PCV, sino de todos los sectores interesados en poner en claro cuál es el tipo de socialismo que queremos. Si estamos claritos en eso, va a ser difícil que nos puedan bombardear desde los medios de comunicación, que se tergiversen los contenidos y se generen dudas. Las mesas nos permitirán tener oídos en lugares que antes no fueron escuchados.

-¿O sea, que ahora sí van a colocar los caballos delante de la carreta, a construir el concepto del pueblo hacia arriba y no desde arriba hacia el pueblo?

-Yo no me atrevería a decir que la propuesta del Presidente era así. Él tenía la facultad de proponer una reforma y lo hizo.

-¿Era una propuesta demasiado radical, como dijo el mismo Chávez?

-Entre los revolucionarios hay tres visiones del socialismo: el real, que impulsa el PCV; el democrático, de corte socialdemócrata, en el que creen los de Podemos y el bolivariano, que es el nuestro, quienes creemos que no se puede calcar ningún modelo. Debemos tomar en consideración que esta es una revolución que se da en paz y democracia. Todas las demás han sido precedidas por una insurrección, una guerra civil, un golpe de Estado y, por tanto, quienes han llegado al poder han sido élites que deciden todo. Nosotros vamos a llegar de otro modo. No destruimos instituciones ni desmembramos la Fuerza Armada. Nosotros planteamos cosas y la gente decide.

-¿Esta visión del socialismo bolivariano la comparten PPT y PSUV?

-Un sector importante del PSUV comparte ese modelo, incluso creo que el Presidente entiende la necesidad de desmarcarse de aspectos negativos del pasado que deben revisarse.

-La relación tan estrecha que tiene el Presidente con Fidel Castro y su aparente veneración por el modelo cubano, ¿no confunden un poco?

-Pudiera confundir, pero esa es una relación estratégica y de afecto. La experiencia de Fidel no se puede echar por la borda. Es uno de los hombres más íntegros de América Latina. Por otro lado, es conveniente marcar una diferencia clara entre el modelo norteamericano que rechazamos y la alternativa que se puede crear.

-Pero, usted mismo ha dicho que los miedos atávicos de la población al socialismo contribuyeron a la derrota.

--Sí, por eso es tan necesario dialogar con la gente, hacerle ver las peculiaridades de nuestra revolución. Somos un país rentista, no llegamos al poder como producto de la contradicción entre el capital y el trabajo, sino del desgaste de un modelo de desarrollo que no cumplió las expectativas. 86% de la propiedad de los medios de producción está en manos del Estado, Tenemos el petróleo, el hierro, el aluminio, la telefonía, la electricidad. No tenemos que nacionalizar más nada. La propiedad individual no está en juego porque no hay necesidad de eso. Lo importante es ver de qué manera se redistribuye. No tenemos necesidad de quitarles a unos para darles a los que no tienen porque tenemos la renta petrolera. Esas cosas son las que queremos discutir con la gente, que lo asuman, lo entiendan y se den cuenta de que nuestro modelo no es el cubano ni el soviético ni el chino ni el bielorruso. Es el venezolano.


El consenso nacional
Albornoz practica el optimismo. Dice que junto al revés electoral, el proceso revolucionario obtuvo una victoria política: la aceptación, por parte de la oposición, de la Constitución Nacional de 1999 como base del consenso nacional.

-Para creer que hay un principio de consenso alrededor de la Constitución de 1999 hay que creer en la buena fe de la oposición. ¿Usted cree en eso a estas alturas?

-Hay un sector opositor que podría contribuir mucho para construir este país. Esos modelos de los años 60 y 70 ya no tienen vuelta atrás. No hay vuelta posible al puntofijismo. Y hay un sector que irrumpe contra el puntofijismo en la oposición, gente que sabe que no puede ponerse de espaldas a la historia.

-La viabilidad del modelo pareciera depender mucho de la figura de Chávez. Usted declaró recientemente que si Chávez se lanzase de nuevo arrasaría¿. El problema, precisamente, es que no puede lanzarse.

-Claro, él tiene un liderazgo no sólo nacional sino internacional. Como no se pudo reformar la Constitución, tiene una camisa de fuerza, pero su influencia sobre los cambios seguirá siendo determinante. Su liderazgo trasciende el 2013. Todavía falta mucho tiempo, pero el haber sido clave en el corte del viejo modelo le da importancia para la construcción del nuevo, al margen de dónde esté y de quién pueda sucederlo.

-¿Cómo se vislumbra la sucesión presidencial desde el campo de un coautor al que llaman aliado? Pareciera que el liderazgo del Presidente es tan fuerte que incluso le dará la facultad de ungir a su sucesor, de designar un "tapao" que le cuide el puesto por seis años.

-Lo que pasa es que no podemos pensar como brujos -ríe-. La política es muy dinámica. Predecir cosas para largo tiempo nos convierte en pitonisos y no queremos serlo. El año que viene habrá elecciones regionales y locales. Allí vienen liderazgos que salen de la escena regional y pasan a la nacional. Además, la oposición no es mocha, no se van a quedar de brazos cruzados y debe tomar sus medidas.

-El secretariado del PPT concluyó que "el referendo se perdió por razones políticas y no por la gestión de Chávez". Parece la declaración de alguien que procura evitar que lo metan en la lista de los rencores, en la misma de Podemos¿

-Te repito, somos coautores de esta revolución. Así que cuando decimos eso es porque lo creemos, no porque estemos cuidando nada. Pensamos que la gente no dejó de votar por la escasez de leche. En 2002 no tuvimos gasolina ni gas, hicimos cola, nos trasnochamos y la gente se mantuvo. En las marchas se veía el letrero de "con hambre y sin empleo, con Chávez me resteo". Lo que tenemos que buscar ahora no son chivos expiatorios, sino asuntos de fondo, los miedos atávicos que se desarrollaron. Por eso son importantes las mesas de diálogo. Si le metes el ojo a la gestión de Chávez te quedas impresionado. Hay obras únicas de gran trascendencia como el Cardiológico Infantil y el ferrocarril del Tuy, por sólo nombrar dos.

-¿Entonces es falso que el PPT haya jugado a "sí pero no"?

-La gente siempre nos atacará. No sé si es un karma o qué. Por eso para nosotros era un reto ganar Amazonas, el único estado donde tenemos el gobierno regional (Liborio Guarulla) y ganamos con el menor porcentaje de abstención. Y en Guárico, aunque el gobernador (Eduardo Manuitt) se fue con el PSUV, nos montamos con la fuerza que aún tenemos, igual que en Portuguesa. El PPT se siente libre de culpa en ese sentido, hicimos todo lo que estuvo a nuestro alcance para que el Sí fuera el triunfador.

-¿Qué peso le concede usted al empeño de Chávez en forjar al PSUV a marchas forzadas como factor de la derrota?

-No he querido opinar sobre el PSUV. Nosotros decidimos quedarnos como partido aparte porque creemos que debe haber diversidad política en el apoyo a la revolución. Así como hay una diversidad cultural, económica, social, etcétera, debe haber diversidad política para ayudar a forjar cosas diferentes. Pero me parece que no hubo comprensión en el seno del MVR del planteamiento que estaba haciendo el presidente Chávez sobre el PSUV. En una encuesta que vi, aparecía un síntoma bastante preocupante: el MVR con 13% y el PSUV con 18%. Pienso que no dejaron de haber dos visiones y eso pudo afectar el resultado.

sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

O demónio dos balcãs


A presidência portuguesa parece ter escapado ao grande incómodo político de ter que enfrentar a independência do Kosovo. Foi afirmado que se chegou hoje a um consenso entre os 27 países da EU, a propósito da solução do problema. Não se menospreze, contudo, a conhecida diferença de posições entre alguns dos países europeus.

Entretanto, a UE parece apostada em seguir os USA no reconhecimento da independência unilateral do Kosovo, tudo indicando que está apenas tentando suavizar o impacte de uma decisão já tomada. Em abstracto, até pode parecer uma posição aceitável: deixar que cada povo se autodetermine, podendo ser independente se o quiser. E sê-lo-ia se fosse essa a posição assumida pela União Europeia e pelos USA, perante todos os casos idênticos. Haveria, é certo, que ponderar as consequências de uma instabilidade generalizada das fronteiras. Mas se fosse uma posição universal, provavelmente, os bons resultados acabariam por chegar alguns anos depois.

Mas, duas razões complicam dramaticamente o problema. Em primeiro lugar, os países em causa têm tido, em regra, uma posição oposta à que agora parecem preferir. Em segundo lugar, fingem desconhecer que a fragmentação da Jugoslávia foi conduzida por alguns países da União Europeia e pelos USA, sem qualquer sentido de equilíbrio e de justiça, aproveitando-se sofregamente da debilidade extrema, por que então a Rússia passava.

Ora, o que, em primeiro lugar, é indispensável recordar é que a Jugoslávia não era um federação de repúblicas etnicamente diferenciadas ou historicamente estabilizadas. Misturava, de algum modo, as duas lógicas, corrigindo-as para enfraquecer relativamente a Sérvia, tornando assim a Federação mais equilibrada. Nessa medida,houve algumas das repúblicas que corresponderam, no essencial, a linhas de demarcação étnica, mas noutras isso não aconteceu.

Nomeadamente, ficaram dentro da Croácia zonas históricas de povoamento sérvio há centenas de anos. Precisamente, as zonas onde os sérvios escreveram páginas duríssimas de resistência, quer ao Império Otomano, quer, mais tarde, aos nazis alemães. Além disso, Tito inventou uma Bósnia –Herzegovina, onde misturou os muçulmanos, enquanto remanescentes do antigo dominador, com sérvios e croatas, de modo a que nenhum dos três povos ficasse em maioria. Compensou a Sérvia, deixando sob a sua égide duas regiões autónomas: Kosovo, com albaneses e Vojvodina , com húngaros. Havia, depois, uma República muito próxima da Sérvia - o Montenegro - e duas outras, relativamente periféricas e, de algum modo, bastante distanciadas da rivalidade surda entre sérvios e croatas - a Macedónia e a Eslovénia.

Este “puzzle” mostrou-se viável. Mas não era difícil prever que havia uma condição indispensável para o manter estável: que as várias Repúblicas se conservassem unidas, dentro de um mesmo Estado.

Não é este o momento para uma interrogação mais funda sobre o significado de ter sido um croata a liderar a afirmação internacional da Jugoslávia e de ter sido um sérvio a dramatizar a sua fragmentação. Mas o que é certo é que, chegado o momento da separação, o caminho mais limpo e de menores riscos não foi seguido.

De facto, ou se respeitavam todas as fronteiras das Repúblicas existentes, o que exigiria uma grande unidade dos principais países europeus, dos USA e da Rússia, garantindo internacionalmente os direitos de todas as minorias; ou se renegociava, sob os auspícios da ONU, o mapa político jugoslavo numa base étnica. No essencial, nesta segunda hipótese, tudo se poderia ter resolvido, ligando à Sérvia as regiões de maioria sérvia, na Croácia e na Bósnia, dando à Croácia as zona de maioria croata na Bósnia e dando independência ao Kosovo. Os problemas da minoria albanesa da Macedónia e da Vojvodina podiam ser resolvidos numa lógica semelhante, se fosse necessário

A primeira solução teria exigido uma forte acção diplomática antes da guerra civil ter atingido limiares irremediáveis. Mas, a segunda esteve sempre a tempo de ser escolhida. O reconhecimento sôfrego da Croácia, com as suas fronteiras históricas, pela Alemanha foi o passo irremediável que precipitou a Jugoslávia no caos.

A Sérvia, mais forte militarmente, só foi contida pela intervenção das potências europeias e pelos USA. A escassa conflitualidade que foi suscitada pelas independências da Eslovénia e da Macedónia, o modo pacífico como recentemente o Montenegro cortou amarras com a Sérvia, harmonizam-se bem com a perspectiva que defendo.
Aliás, se essa via tivesse sido conjugada com um compromisso forte para uma adesão conjunta de todas as repúblicas da ex-Jugoslávia à União Europeia, muita da dramaticidade do rearranjo de fronteiras podia ter sido evitada.

O caminho que está a ser preparado está cheio de hipocrisia e de cínica imposição da lei do mais forte, combinada com a chantagem de Estados ricos para com um Estado relativamente pobre. Quer exigir-se aos sérvios no Kosovo o que se lhes recusa na Bósnia, para já não falar nas regiões de maioria sérvia da Croácia. Não é uma posição justa, pelo que não dignifica quem a vier a tomar. E quem a assumir perderá um pouco mais de credibilidade e de autoridade moral.

Há, é certo, ainda a sombra de Milosevic, morto no decurso de um julgamento que, em vez de conseguir a sua condenação moral e jurídica, se transformou numa inominável farsa, em que se encenaram rituais de justiça, para embrulhar melhor uma simples retaliação política ditada pela lei do mais forte.

E nem me estou a referir à desigualdade de tratamento dada aos beligerantes mais directos. Estou a pensar numa chamada "comunidade internacional" que se pavoneia, julgando como criminosos os políticos dos países mais fracos, mas que se limita a suaves resmungos, perante os responsáveis por não menos mortes, dos países mais fortes.

Milosevic lesou gravemente a Sérvia. A sua política autoritária agravou muito as sequelas humanas de um conflito que o seu nacionalismo estreito encorajou. Mas não foi o único, nem foi ele o inventor do “puzzle” que mais contribuiu para a guerra. E, principalmente, já depois de ter consumado o que de pior teve sua política, foi vedeta internacional, ao lado do Presidente Americano e de outros líderes europeu, tendo então sido exaltado como estadista prudente e possível grande artífice de uma desejada pacificação da Bósnia.

Enfim, hoje, à nossa frente só temos soluções más, por acumulação de erros cometidos por muitos. Não sejamos, pois, hipócritas até ao ponto de fingirmos que só há culpas sérvias para se ter chegado ao beco sem saída a que se chegou. E não sejamos imprudentes, abrindo a caixa de Pandora de uma independência forçada, imposta pelo simples funcionamento da lei do mais forte, mesmo escondida por detrás de montanhas de frases feitas, daquele linguajar diplomático que consegue reduzir a silêncios impenetráveis as mais numerosas legiões de exuberantes palavras.