sexta-feira, 31 de julho de 2015

O BRASIL NO SEU LABIRINTO


Na página virtual da revista brasileira CartaCapital, uma das raras vozes audíveis da comunicação social que no Brasil não alinha no fanatismo reaccionário que visa a presidente Dilma Roussef, Lula e o PT, numa deplorável táctica golpista que desonra partidos e políticos que já tiveram outros horizontes, encontrei um límpido texto de Roberto Amaral que vou transcrever. Já não é o primeiro texto que aqui publico deste reputado político brasileiro, que abandonou a presidência do Partido Socialista Brasileiro, quando nas últimas eleições presidenciais este decidiu apoiar na segunda volta Aécio contra Dilma.
“ Para vencer o golpismo”- é o título do referido texto. Sem ambiguidades, com clareza e simplicidade, dá-nos um panorama esclarecedor sobre o que se passa atualmente no Brasil. Merece ser lido com atenção.

Para vencer o golpismo

 
 “O Brasil não é uma republiqueta, e aqui não se repetirão os bem sucedidos ensaios do Paraguai e de Honduras. Nem outros, porque a sociedade também não mais aceitará a quebra da legalidade reconquistada após mais de 20 anos de ditadura militar. Muitas de suas cicatrizes ainda estão vivas, outras coçando para nos lembrar do que não poderemos jamais esquecer.  

É o que não entendem as novas vivandeiras, felizmente ainda sem tropas para cortejar. Tampouco Aécio é Carlos Lacerda, em comum apenas o desapreço ao jogo democrático. E os muitos desvios de caráter. Também não surpreende a nova postura de FHC: antes dele, muitos homens públicos envelheceram sem sabedoria. É mesmo muito difícil sobrevier à propria biografia.  

Eduardo Cunha é um Severino urbano, mais articulado, e com as mesmas raízes no atraso, a que se somam seus negócios com a ala mercenária do pentecostalismo. E por isso mesmo incontrolavelmente audacioso e na mesma medida perigoso. Renan Calheiros é o último vagido do latifúndio canavieiro do Nordeste. Mas todos estão na ativa. Um presidente da Câmara dos deputados, outro presidente do Senado Federal e do Congresso. Todos na linha constitucional da sucessão presidencial.

Há no país uma coorte assumidamente golpista reunindo imprensa – o maior partido da oposição –, setores ponderáveis da avenida Paulista e partidos políticos. Esta é, oficialmente, a postura do PSDB, açulado pela oscilação macunaímica [com o perdão a Mario de Andrade] de um PMDB que, não sabendo se é governo ou oposição, joga maliciosamente nas duas pontas contra a Presidente.

Mas esse PMDB, artífice da chantagem, é o maior partido da base do governo, que dele depende para governar! Desse PMDB é vice-presidente da República e articulador politico do governo o Sr. Michel Temer, que, em convescote em Nova Iorque anuncia, para aplauso dos presentes, que ‘manteria o Levy no Ministério’. Em quais circunstâncias isso seria possível?

De um lado, portanto, está um PMDB poderoso e inconfiável. De outro, um PSDB ensandecido pela paixão golpista. Uma união diabólica. Girando como pião entre uma força e outra, uma base parlamentar flébil, acuada, e um PT que do velho e aguerrido Partido dos Trabalhadores de anos passados guarda só a sigla.

Nessas circunstâncias movem-se as peças de um oposicionismo canhestro propelido pela irracionalidade da inveja, pelo despeito que alimenta o ódio hepático. Esse filme o Brasil conhece e repudia: já o viu em 1954 e em 1964 e sabe qual foi o preço pago pela democracia em ambas as  oportunidades. Rejeitamos sua reprise masterizada.

O golpismo se desenvolve em cascata: o primeiro passo foi a recusa em reconhecer o pleito e sua lisura e a tentativa de ‘recontagem’, insinuação de fraude eleitoral; depois as ridículas tratativas visando a impedir a posse, depois os reiterados ensaios de impeachment (ora por motivação política, ora judicial, ora por isso e ora por aquilo, e sempre sem fundamentação ética ou legal); depois, promessa de ‘sangrar a presidente’, inviabilizando seu governo, ainda que isso cobre preço altíssimo à economia nacional e à vida de nosso povo. A tentativa é asfixiar o governo para vê-lo irremediavelmente sem fôlego.

Essa gente não leva em conta as consequências para a economia do país. Aí entra em cena a felonia do PMDB, que escala os presidentes da Câmara dos Deputados (este na expectativa de ser processado por crime comum [extosão] pelo STF) e do Senado Federal, de biografias conhecidas, para o ofício da sabotagem. São eles os verdadeiros líderes da oposição, juncando de trambolhos o governo da presidente Dilma, no afã de jogá-la e seu partido contra a população.

Na verdade, não se trata do salutar exercício da oposição – sem a qual não existe democracia digna do nome –, mas da tentativa de exterminar politicamente a presidente e seu partido, tentativa que em si mesma nega e repele o processo democrático. O leitmotif dessa oposição desvairada deixa de ser a crítica pontual ou em tese ao governo. Em seu lugar se instala a lógica do ódio que gera ódio, o mais eficaz fermento da intolerância que gera a violência, que descamba da ofensa verbal para a agressão física.

Este é um labor mesquinho, quando todos deveríamos estar unificados na busca de saída para a crise. Esta é a hora de buscar compromissos honrosos, é o momento de abandonar a mesquinhez da luta pequena que empobrece a política e passara pensar no país.

Que tempestades espera a oposição colher com os ventos que ora sopra?

A análise só se justifica como instrumento de ação. Se a tentativa de golpe está posta, que se erga a defesa do governo. Sem lamentar a oposição, mas, denunciando seus arreganhos golpistas, cuidar de sair do imobilismo em que se acham a centro-esquerda e os liberais. O momento, portanto, não permite nem a contemplação inativa nem a autocomiseração (“estamos no volume morto!” “temos que ser punidos pelas besteiras que fizemos!”).

Essas duas alternativas, se escolhidas por nós, favorecem o conservadorismo. Há uma terceira que igualmente nos enfraquece, a da automistificação (“O petismo no poder foi revolucionário, emancipou as massas e alijou do poder as classes dominantes!”). O primeiro passo, agora, é distinguir o fundamental do acessório. E o fundamental me parece ser, nas atuais circunstâncias, a sustentação do governo Dilma, até para poder alterar-lhe a equivocada política econômica. A pura crítica nossa só interessa, neste momento, aos setores golpistas.

Mas o governo tem que ajudar: ele precisa definir de que lado está. A presidente Dilma Rousseff precisa se convencer de que: 1) O Brasil não vive um 'pacto de classes': um esboço desse pacto, encarado taticamente pela burguesia, foi feito no governo Lula, pois o projeto tucano havia se esfacelado;

2) Fortalecida, a direita já fez sua opção, e ela é, neste primeiro momento, Aécio Neves, candidato ‘consagrado’ em uma campanha que para ela não acabou nem acabará antes de seu triunfo, independentemente do preço a pagar; 3) Logo, só é possível ocupar o espaço da centro-esquerda, deixado vago, em parte, pelo próprio governo petista, com sua tática de conciliação permanente. 

Isso implica definir uma agenda progressista mínima e buscar implementá-la na medida que as circunstâncias permitirem. Contrário senso, limitar as concessões à direita ao mínimo indispensável para sobreviver. Ou seja, procurar só fazer recuos que permitam avançar. Se necessário, dois passos à frente e um atrás, jamais o contrário. “

quinta-feira, 30 de julho de 2015

ViIAGEM COM ADRIANO

O tempo é uma brisa que corrói. Passa como se fosse uma leve carícia, para de súbito nos agarrar de supetão, lembrando-nos bruscamente que passou.

Vem isto a propósito da fotografia que o meu irmão Luís hoje me mostrou, pescada na sua vasta arca de memórias. Foi assim que ele nos viu, nos longínquos anos 70, quando o 25 de abril era ainda um incêndio de esperanças, a mim e ao Adriano Correia de Oliveira. O cálido agosto algarvio oferecia-nos o mar de todas as viagens, mas os barcos aconchegados no remanso das praias hesitavam e resistiam ao perigoso canto das sereias.

Pouco anos depois o Adriano havia de partir na longa viagem de que não se regressa, mas a sua voz continua a procurar-nos como um toque de alvorada.

Porém, naquela tarde, naquele breve momento , os barcos da alegria ousavam a partida como se o oceano coubesse na esperança tranquila que nos envolvia.

segunda-feira, 27 de julho de 2015

Palavras de apresentação de de um livro de poemas


Só agora me apercebi que já estava no Youtube este excelente video da autoria do António Cravo, a quem agradeço vivamente . Espero conseguir torná-lo acessível através do meu blog. Ele  mostra a sessão de apresentação do meu livro de poemas  " Os dias imensos" que decorreu em Coimbra, na Casa da Cultura, no passado dia 5 de Junho de 2015. Na mesa,sentei-me entre os dois outros participantes : à minha direita,  Abílio Hernandez a quem muito agradeço por ter falado acerca do meu livro; à minha esquerda,  Adelino Castro , da editora Lápis de Memórias, cujo cordial acolhimento nunca esquecerei.Ouçam.


domingo, 26 de julho de 2015

GRAU ZERO DA POLÌTICA



No FaceBook percorro em regra grupos de esquerda , em especial ligados ao Partido Socialista. É preocupante a escassa publicação de textos de reflexão ou de crítica e a abundante difusão de insultos. Especialmente lamentável é o ódio que transparece  no seio de muitos que se dizem do PS no modo como atacam "camaradas" do mesmo Partido. Não há uma ética do insulto. No debate político todo o insulto  é uma falta de ética e um sinal de fraqueza de quem insulta. Mas se formos para além da avaliação ética individual, não podemos deixar de nos interrogar sobre as causas dessa triste paisagem. Talvez o PS não se tenha conseguido afirmar suficientemente como uma instância de debate político, com uma habitualidade suficiente para estabelecer relações de maior proximidade entre os seus inscritos. Talvez o PS seja demasiadamente uma organização de eventos políticos esporádicos, ainda  que a muitos deles não falte interesse. Se alargarmos o espaço em observação a toda a esquerda o tom de agressividade não diminui. A agressividade intrapartidária não é menos grave do que a agressividade interpartidária. Como fator de esclarecimento é fraca , como exacerbador da conflitualidade é eficaz. O FaceBook não é uma conversa de café entre amigos. Talvez  seja menos do que um espaço público alargado, mas transcende muito a esfera privada.  Por isso, quando à esquerda se gastam munições no insulto intrapartidário ou interpartidário  é a direita que se beneficia. E estejam certos disto: os objetivos da direita estão longe de se limitarem a ter uma civilizada vitória eleitoral, Não, a direita visa o essencial da vida coletiva, das nossas vidas individuais, tornando-nos vítimas da sua necessidade de manterem  um tipo de sociedade que gera desigualdade, injustiça e opressão. A crítica, o debate de ideias , o confronto entre opiniões políticas diferentes são o oxigénio da atividade política. Devem ser uma componente central de uma posição de esquerda. O insulto, particularmente se  for esgrimido contra outros cidadãos de esquerda, e em especial da mesma área político-partidária, são uma praga que degrada a democracia e desqualifica a ação politica.  Não digo que seja fácil perder esse hábito, tão insalubre mas tão arreigado, mas sem o conseguirmos dificilmente teremos a força de transformação das sociedade de que precisamos e que é a razão de ser dos partidos de esquerda.

quarta-feira, 22 de julho de 2015

Cinzento escuro, quase noite


O militante do PSD Cavaco Silva aproveitou o fato de ser Presidente da República para promover um tempo de antena do seu partido. Marcou a data das eleições. Perdeu-se num labirinto de instruções confusas aos eleitores, preconizando a realização de coligações, como se em Portugal elas não existissem, como se os partidos políticos devessem seguir os seus conselhos, coligando-se entre eles entusiasticamente.

Fiquei surpreendido. Estava perante mim um misterioso agente do pensamento esotérico ou um agente despudorado, ainda que algo emaranhado, de uma pressão política sobre o PS?

Realmente, estando ele a falar no termo  de uma legislatura, em que houve um Governo de coligação durante toda ela, que sentido faz ele falar em coligações como algo que não costuma existir em Portugal ? Ou será que, sem ter o desplante de o dizer às claras, ele quer pressionar o PS para que se  coligue com a direita se ele ganhar as eleições sem maioria absoluta? Ou, pior, estará ele a tentar inculcar na opinião pública a ideia de que pode haver uma vitória da coligação da direita sem maioria absoluta, mas geradora do direito de ter primazia na iniciativa de formar Governo, devendo nesse caso ter o apoio do PS ?

No primeiro caso, o PS pode formar um governo minoritário ( como Guterres fez ) ou procurar uma coligação ou um acordo parlamentar fora dos partidos que formam o actual Governo. Não poderá nunca coligar-se com quem acaba de ser derrotado e de fazer contra  o PS uma das mais miseráveis e mais reaccionárias campanhas de que há memória; não poderá coligar-se com os agentes políticos diretos dos poderes de facto financeiros que o PS terá que conter e contrariar quando for Governo.

No segundo caso, a coligação de direita desaparecerá no momento de fecho das urnas. Depois conta apenas o número de deputados de cada partido para se determinar qual deles tem mais deputados, o que lhe dá o direito de ser encarregado de formar governo , em primeiro lugar.

 Se a coligação de direita tivesse em conjunto mais deputados do que o PS, mas não chegasse à maioria absoluta e o PSD tivesse menos deputados do que o PS, seria o PS a ser chamado para formar Governo em primeiro lugar. A máquina de propaganda dos poderes instituídos está a tentar legitimar um golpe de Estado (que é aquilo que se deverá  chamar a qualquer decisão do PR que, por hipótese, ignore o número de deputados conquistado por cada partido, dando à coligação de direita o estatuto de partido unificado, colocando o PS artificialmente em segundo lugar, mesmo com mais deputados do que o PSD).

O PR não sustentou expressamente esta via golpista, mas tudo aquilo que disse não é incompatível com ela.

Por tudo isto, mais uma vez insisto. O PS deve varrer estas toscas tentativas de perpetuar no poder  os partidos da direita, mesmo sendo eles derrotados nas eleições.

 Se a coligação PSD/CDS tiver maioria absoluta ganha as eleições , caso contrário perde-as, mesmo que tenha em conjunto mais votos do que o PS sozinho. Realmente, sendo claro que o PSD está muito longe do PS, finge-se que é a coligação que conta como se fosse um partido e dá-se verosimilhança à ficção de  uma disputa apertada com o PS.

O PS pode deixar correr o marfim , calculando que a ficção da direita pode alimentar o voto útil á esquerda, mas por mim acho mais acertado denunciar um golpe de estado, quando o vemos, ainda que seja melífluo e suave.


Enfim, o discurso do PR de hoje chamou a nossa atenção para a necessidade de o PS como partido tudo fazer para impedir que a direita se perpetue em Belém. Não nos deixemos confundir . Os presidentes de direita  não tratam a esquerda da mesma maneira que os presidentes de  esquerda tratam a direita. Não foi por acaso que o PSD tanto sonhou com o célebre tripé que tiveram durante estes quatro anos: uma maioria, um governo, um presidente. 

terça-feira, 21 de julho de 2015

COM RAZÃO OU SEM ELA


Num número da revista VÉRTICE do já distante mês de fevereiro de 1973, nas páginas verdes do seu inesquecível Jornal, ao percorrer com saudade aquelas páginas e aqueles nomes, deparei com a versão livre de uma “velha história chinesa” escrita por Joaquim Namorado. “A narceja e a ostra” era o seu título. Ei-la:

“Na praia, uma grande ostra entreabre a concha para expor-se aos raios do sol. Uma narceja, que passava, estende o bico, querendo saborear a carne saborosa do molusco, que fecha a concha num repente.
O pássaro tenta inutilmente libertar o bico da prensa que o aperta.
A ostra, por seu lado, não consegue libertar-se do bico que a prende.
Ambas não conseguem mais do que sussurrar a disputa em que se envolvem.
A pernalta diz:
Se não chove nem hoje nem amanhã, vai haver uma ostra a menos.
Ao que a ostra replica:
Tal como entre as narcejas se não te largar o bico nem hoje nem amanhã.
Sem nenhuma querer ceder continuou a querela, até que passou um pescador as agarrou sem dificuldade e meteu no saco.”

Imagino o sorriso do meu tio Joaquim, se pudesse fruir este momento se suprema ironia, mais de quarenta anos depois. Quanto à narceja e à ostra, asseguram-me que o pescador afirmou ser-lhe indiferente saber qual delas tinha razão.

domingo, 12 de julho de 2015

Amanhã- 2ª feira - em COIMBRA


Atenção  
- relembrando lançamento de um livro




quarta-feira, 8 de julho de 2015

Homenagem a Maria Barroso


A irmã dos poetas
  - homenagem Maria Barroso


Foi  a voz liberta das palavras
que os poetas fizeram por dizer.


As sílabas fugiam-lhe dos lábios
como sabores do vento e liberdade.


Dizia os versos como se inventasse
a cólera mais solta e mais cortante.


No regaço mais extremo dos poemas,
navegava em silêncio a sua voz.


Foi seta de luz rasgando a noite,
sentida pelo povo como espada.


Dizia os versos como se voasse
nas asas mais libertas do destino.


Irmã livre de todos os poetas
que escavaram no tempo a nossa hora,


quando o vento se erguer será ouvida
e o mar há de sentir a sua voz.
[ Rui  Namorado]

terça-feira, 7 de julho de 2015

sexta-feira, 3 de julho de 2015

CAMINHAR PARADO - a sina de Sampaio da Nóvoa.


1.Sampaio da Nóvoa obteve o conforto político de receber o apoio público do Livre/Tempo de Avançar, tendo tido quase 80% dos 867 votantes que acharam dever pronunciar-se. Na consulta, competiu com Henrique Neto e com Cândido Ferreira, viu-se confrontada com uma Sr.ª Castanho de proveniência desconhecida e teve como principal adversário nas preferências dos votantes, com quase 8% dos votos, um candidato de direita (Paulo Morais). Os cerca de 700 apoiantes que se manifestaram fizeram murchar um pouco mais o significado do apoio de uma força política que tem reunido nas sondagens cerca de 2% das intenções de voto. Ou seja, manifestaram-lhe apoio menos de 10% dos cidadãos que se haviam inscrito para participarem nas primárias dessa força política, recentemente realizadas, e cerca de 1/3 dos que nelas votaram. Se procurássemos uma palavra para espelhar fielmente o acontecido, ela não seria decerto “entusiamo”.

2.Sampaio da Nóvoa aproximou-se, quiçá por ligeireza, de uma gaffe política cometida há algumas décadas por um dos seus público abençoadores. Estou a referir-me a Eanes, quando depois de ter recebido o apoio do PS ao tentar a sua reeleição, veio confessar publicamente a sua proximidade política com a AD, o que lhe custou a perda do apoio de Mário Soares, ainda que mantivesse a do PS como partido, receoso de ver Soares Carneiro em Belém.
Desta vez, a tentação de Nóvoa levou-o a afirmar publicamente, depois de ter estado na Convenção Nacional do PS, que também poderia ir a realizações semelhantes do PSD e do CDS se para tal o convidassem. A, por ele, tão procurada sombra de Eanes desta vez atingiu-o mesmo. Tivesse Sampaio da Nóvoa uma alergia menos intensa às prosaicas coisas da política e não teria certamente tido um tropeção tão semelhante ao de uma das suas mais sublinhadas referências; e tão conhecido por quem se interessa por essas coisas.

3. Numa recente sondagem, Sampaio da Nóvoa não chegava a ter o triplo das intenções de voto das que confluíam em Henrique Neto, um candidato politicamente irrelevante, destinado apenas a cumprir calendário. Perante os mais prováveis candidatos de direita as hipótese espelhadas pela sondagem eram para ele  pouco mais do que nulas. Apesar do entusiasmo do Candidato as coisas parecem não estar fáceis.

4. Mesmo que o PS resista a fazer o que deve ( ou seja, primárias para escolher qual o candidato presidencial  que decide apoiar), dificilmente irá apoiar um candidato que tão aceleradamente colecciona indícios de que será um candidato perdedor. Realmente, aceitar que o façam engolir um candidato inventado fora dele, sabendo-se de antemão que lhe oferecem uma derrota é politicamente suicida.