domingo, 17 de julho de 2011

CONTRA A BALANÇA TORTA

Se tivesse sido dada a notícia, na vigência do governo anterior, de que um ministro havia dado um involuntário empurrão numa criança, derrubando-a, uma onda de censuras teria certamente varrido, numa tempestade justiceira, o espaço mediático público, com a veemente exigência da imediata demissão desse ministro, por insensibilidade social. E desprezo pelas crianças.

Mas, se um ministro do actual governo atropelasse uma criança, por condução imprudente, tudo aponta para que no espaço mediático viesse apenas a perpassar uma notícia mole, sobre um atropelamento com a intervenção de um ministro e de uma criança, destacando-se que o ministro ia com muita pressa para o trabalho e que a criança se comportara com imprudência. Mas, com a graça de Deus, apesar de tudo estava viva, apenas com uma perna partida.


Um dos comentadores de domingo, casualmente de direita, arranjaria maneira de dizer que o ministro andava com azar. E não seria até de excluir que algum expoente mediático da direita mais trauliteira, arranjasse maneira de insinuar que o pai da criança era de esquerda, para depois deixar pairar a ideia de ter sido ele, vistas bem as coisas, o verdadeiro culpado.

Com estes exemplos não narrei quaisquer factos, mas penso ter traduzido fielmente a diferença que todos sentimos entre dois climas: o de antes deste governo e o de depois deste governo. Por isso, podem dizer-me, com alguma razão, que a direita em todos o seus estados está a transformar, aceleradamente, o país numa anedota ambulante. Mas não podemos deixar de nos lembrar que a direita nunca faz nada gratuitamente.

De facto, ela parece sonhar, com intensidade crescente, com uma sociedade em que uma casta de senhores (a estreita camada dirigente da direita ) oprima e explore uma multidão de cidadãos, mas fazendo-os sentir como os únicos culpados por tudo aquilo que sofram. Pelo contrário, eles, os de cima, apresentam-se como quem, sem ter feito nada para isso, mas apenas por ter sido tocado por uma fortuita sorte ou pela excelência, é vítima das circunstâncias. E assim sofre contrariadamente com os seus privilégios, com o seu poder e com a sua riqueza, vivendo a desgraça de os ter que aproveitar. Tudo isto, melifluamente, sorrateiramente, gradualmente, mansamente; e, quando absolutamente necessário, muito santamente.

1 comentário:

Jose Rente disse...

Caro Rui Namorado
Com todo o respeito, os jornalistas não mentem, têm é vários angulos de abordar a noticia. È como a história da criança e do corcodilo. Reza a crónica: No jardim zoológico, uma criança, iludindo a vigilância dos adultos, trepa a vedação do fosso dos corcodilos e caí á água. O corcodilo, perante tão suculento pequeno almoço, avança perigosamente para a criança. Eis que da assistencia um corajoso homem salta para a água e salva a criança. Uma multidão aplaude, os jornalistas entrevistam o novo heroi.
Um jornalista de um semanário de direita, intrpela o heroi, dizendo: sim senhor, você é um homem de coragem, você é um homem ás direitas.
Perante tal afirmação o nosso heroi esclarece: Cuidado com as palavras, eu até sou de esquerda.No dia seguinte, nesse semanário, o acontecimento é de primeira página, sob o titulo:
ARRUACEIRO COMUNISTA ROUBA PEQUENO ALMOÇO A UM CORCODILO DO JARDIM ZOOLÒGICO.