segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

BRASIL - um candidato presidencial.

Na página virtual da revista brasileira CartaCapital foi ontem publicada uma entrevista com o o senador pelo Estado do Amapá,  Randolfe Rodrigues, feita pela jornalista  Cynara de Menezes . O entrevistado é o candidato do PSOL (Partido Socialismo e Liberdade ), às eleições presidenciais  que vão decorrer no Brasil no próximo ano. A Presidente Dilma será candidata e terá como concorrente provável como grande polarizador da direita brasileira, Aécio Neves pelo PSDB, bem como Eduardo Campos apoiado pelo PSB  (que até há pouco era apoiante de Dilma). Estes, a fazer fé nas sondagens, são os candidatos com maior expressão eleitoral. Como resulta do que se tem publicado neste blog, tenho uma opinião favorável quanto às presidências de Lula e de Dilma, e quanto ao papel desempenhado pelo PT na política do Brasil. Isso não impede que considere importante conhecerem-se opiniões críticas dessas políticas que se assumem como expressões de esquerda. Por isso, vou transcrever a entrevista acima referida. Ei-la:

Êxtase e terror. Esses foram os sentimentos do senador Randolfe Rodrigues ao ser escolhido no domingo 1º o pré-candidato do PSOL à Presidência da República. Rodrigues derrotou Luciana Genro em uma votação simbólica no partido. Aos 43 anos, o parlamentar do Amapá é o mais jovem presidenciável na disputa de 2014. “Não vamos só marcar posição”, promete.

CartaCapital: Na última eleição, o candidato do PSOL, Plínio de Arruda Sampaio, teve menos de 1% dos votos. A candidatura do partido é para valer ou só para marcar posição?

Randolfe Rodrigues: Um partido que governa uma capital, Macapá, que foi para o segundo turno na maior metrópole da Amazônia, Belém, e teve um desempenho excepcional na segunda maior cidade do País, com Marcelo Freixo no Rio de Janeiro, não pode dar-se ao luxo de apresentar uma candidatura que não se proponha a ser uma opção de esquerda. Não quero dizer que nos sagraremos vitoriosos, isso é circunstância da eleição. Mas não vamos marcar posição. Vamos para apresentar um programa alternativo, pois temos um diagnóstico de que as candidaturas apresentadas têm mais semelhanças do que diferenças.

CC: Se o senhor não fosse senador e não tivesse mandato garantido, renunciaria para ser candidato?

RR: Obviamente, a minha condição é mais confortável. Meu nome não era o melhor no PSOL. Eu tinha dito ao companheiro Chico Alencar que ele reunia melhores condições, mas existe a necessidade de mantermos a bancada no Rio de Janeiro, e a definição é que ele se candidate a deputado federal novamente. Eu poderia ter me candidatado a governador do Amapá, onde as pesquisas me colocam em confortável posição de liderança. Mas vamos lá. Como diria Paul Verlaine, recebi a notícia com “êxtase e terror”.

CC: O tempo de tevê do PSOL é curto, cerca de 2 minutos diários. Com esses escassos minutos e poucos recursos, como pretendem crescer?

RR: Gosto muito de uma análise que o Plínio de Arruda Sampaio tem feito sobre as gerações das campanhas eleitorais. As campanhas dos anos 1960 eram marcadas pelo palanque. A partir de 1989, se inaugura a influência da tevê; o século XXI vai ser marcado pelas redes sociais. Na campanha de 2010, o desempenho de Marina Silva provou que não é mais fundamental só a tevê.

CC: Como o PSOL pretende colocar-se como alternativa a esse bipartidarismo que existe hoje no Brasil e ao mesmo tempo à Rede/PSB de Marina e Eduardo Campos?

RR: As candidaturas não propõem a ruptura com o modelo. Estamos há 23 anos com continuidade do governo, em termos econômicos é a continuidade do chamado modelo liberal periférico, assentado em uma tríade baseada em metas de inflação, câmbio flutuante e superávit primário. Não se fala de outra coisa, se estabelece como dogma que o problema da inflação, por exemplo, só se combate com alta dos juros. E é assim há 20 anos, só se combate a inflação com o Banco Central praticando as mais altas taxas de juro do planeta. Isso imobilizou a nossa taxa de crescimento, que foi inferior a 3%. O resultado? As famílias brasileiras são as mais endividadas da América Latina.

CC: Como enfrentar a inflação?

RR: Qualquer economista verá que a maioria dos preços é de alimentos ou públicos. É absurdo que o preço dos alimentos no Brasil seja especulado, em um país que é um dos maiores exportadores de grãos do mundo. E por que o preço dos alimentos é especulado? Os governos se derretem pelo que eles chamam de “agronegócio”, colocam até nome bonito, “agrobusiness”. Na verdade, enchem a boca para o latifúndio e esquecem de fazer a reforma agrária. O último presidente da história que teve coragem de ir em praça pública assinar decreto de reforma agrária foi João Goulart. De lá para cá nunca mais. Com isso, têm aumentado a violência no campo, o assassinato de índios. Tudo isso em nome da paz com o agrobusiness. Ao fazer a reforma agrária e levar os alimentos à mesa sem o ataque especulativo do agrobusiness, conseguiremos reduzir o preço. Quanto aos preços públicos (da energia, telefonia), eles estavam em nome do Estado até os anos 1990, quando os tucanos privatizaram tudo. Não propomos reestatizar. É preciso colocar as agências reguladoras para cumprir seu papel de servir ao Estado. Hoje, as agências reguladoras cumprem o papel deprimente de servir ao mercado. A Anatel, por exemplo, está de cócoras para as empresas de telefonia. E aí regiões como a minha não têm serviço que preste e os preços são arbitrários.

CC: Em que o PT deixou a desejar?

RR: Na reforma política, que poderia ter feito. Nas concessões feitas em nome da governabilidade, pois concedeu mais do que mudou as estruturas. Deixou a desejar nas mudanças das estruturas carcomidas do Estado brasileiro. E errou principalmente em relação ao bom exemplo que poderia dar às futuras gerações da política.

CC: O PT argumenta ser impossível governar sem se aliar à direita. Como o PSOL poderia governar sozinho?

RR: Mesmo se a tal governabilidade é necessária, tem de apontar para a ruptura com ela. Não pode governar se acumpliciando, tem de apontar para a demarcação. Não podemos perder a perspectiva de saber quem é o outro lado. Uma coisa é conviver com o outro lado, outra é aceitá-lo como se fosse o nosso. Quando a presidenta da República participa de um evento com representantes do agronegócio e compromete-se com a agenda deles, compromete-se com esse lado. Volto a João Goulart: o governo dele foi mais avançado no cumprimento de suas reformas de base do que o atual. Anunciou algo que o governo atual não tem coragem de fazer, o encampamento de refinarias. Hoje não temos coragem sequer de explorar o pré-sal por via exclusiva da Petrobras. Está aí a diferença.

sábado, 28 de dezembro de 2013

MEMÓRIAS DO COOPERATIVISMO


A fotografia, acima reproduzida, diz respeito ao "Debate  Nacional sobre o Código Cooperativo", primeira grande realização pública do Centro de Estudos Cooperativos da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra, neste caso em colaboração com o Centro de Estudos Cooperativos de Viseu, e que decorreu no Auditório da Reitoria da Universidade  de Coimbra,em 1984, tendo sido então apoiada pelo INSCOOP e pelo Governo. 

Na mesa que presidia a esta sessão do debate, pode ver-se ao centro, usando da palavra, o Secretário de Estado do Fomento Cooperativo, Armando Lopes, membro do Partido Socialista que substituiu Mesquita Machado que o havia precedido nesse lugar , mas pedira a demissão, para voltar a liderar a Câmara Municipal de Braga. Estávamos então sob um governo PS/PSD ( Bloco central), liderado por Mário Soares. Além do orador, podem ver-se na mesa da esquerda para a direita: Rui Namorado, coordenador do CEC/FEUC; Alfredo Marques, presidente do Conselho Directivo da FEUC; Manuel Cássio, presidente do INSCOOP; Armando Leitão,presidente do Centro de Estudos Cooperativos de Viseu.

O CEC/FEUC, fundado em 1981, viria mais tarde a transformar-se no CECES/FEUC ( Centro de Estudos Cooperativos e da Economia Social da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra) que hoje existe.

O Código Cooperativo, na sua primeira versão, data de Outubro 1980, quando Francisco Sá-Carneiro era primeiro-ministro de um governo da AD. Sofrera algumas alterações  nos anos imediatos. O movimento cooperativo continuava crítico quanto a alguns dos seus aspectos.

Neste debate, realizado em 1984, foi dada ao movimento cooperativo a oportunidade de apresentar propostas de alteração, com vista a uma revisão que se queria mais profunda do que os ajustamentos anteriores, mas que a subsequente queda do governo acabou por frustrar. Essa profunda alteração só viria a ocorrer em 1997, depois do cavaquismo, sob um governo do PS liderado por António Guterres. Sendo eu deputado do PS nessa legislatura (1995/99), participei nesse processo que decorreu na Assembleia da República e conduziu a uma aprovação unânime  da nova versão do Código Cooperativo.Está actualmente em curso um novo processo de reforma do Código Cooperativo, que se espera que venha a suscitar, como a anterior, a unanimidade na Assembleia da República. Só assim poderá ser conseguida a estabilidade jurídica que tem vigorado neste campo desde 1997.



sábado, 21 de dezembro de 2013

O ENIGMA DE LULA



Emir Sader (1943) é um sociólogo e cientista político brasileiro; graduado em Filosofia pela Universidade de São Paulo, mestre em Filosofia Política e doutor em Ciência Política por essa mesma Universidade;  marxista,colabora com publicações brasileiras e estrangeiras sendo membro do conselho editorial da reputada revista inglesa,  New Left Review. Foi presidente da Associação Latino-Americana de Sociologia (ALAS, 1997-1999) e é um dos dinamizadores do Fórum Social Mundial. Eis o texto referido:


El éxito de Lula como líder político de proyección mundial generó una especie de consenso a escala internacional. Hubo países —como Argentina o Perú— en los que todos los sectores políticos reivindicaban al líder brasileño. Cada uno haciendo su lectura de lo que había supuesto el mandato de Lula, reivindicándolo en contra de otras fuerzas políticas de gobierno o de oposición.
La prioridad de las políticas sociales en el Gobierno de Lula ha permitido que Brasil —el país más desigual del continente y del mundo—, por primera vez, haya conseguido grandes avances en la lucha contra la desigualdad, la pobreza y la miseria. Sin mayores análisis, de parte de algunos, de las condiciones que han permitido esos avances.
En Brasil, Lula sufrió una fuerte oposición de la derecha y de la extrema izquierda. La derecha no pudo asimilar el éxito —interno y externo— de Lula, aun más después del fracaso del Gobierno de Fernando Henrique Cardoso. Primero intentaron silenciar las transformaciones que Brasil ha vivido. A continuación, trataron de atribuir los éxitos a una situación internacional favorable. Pero cuando ésta cambió radicalmente hacia un escenario negativo, se apresuraron a anunciar que el modelo de progreso propuesto por Lula ya se había agotado. La economía ya no lograba crecer como antes, nos encontrábamos al final de un ciclo.
Por su parte, la extrema izquierda creyó que Lula les había “traicionado”, que sus políticas daban continuidad al Gobierno de Cardoso y que pronto sería repudiado por el pueblo. Nada de eso ocurrió, el Ejecutivo de Lula pudo superar la ofensiva de sus opositores, a los que derrotó en 2005 cuando fue reelegido. En 2010 fue su sucesora, Dilma Rousseff, la que se hizo con la presidencia del país al contar con la confianza del pueblo brasileño. Lula salió del gobierno con un 83% de apoyo y un 3% de rechazo, a pesar de tener el monopolio de la prensa privada en su contra.
Cuando surgieron las manifestaciones de junio de este año, el coro —de la derecha y de la extrema izquierda— volvió a subir de tono. El encanto de Lula había terminado. El Gobierno del PT, después de más de 10 años al frente del país, se venía abajo ante las manifestaciones populares. Todo había sido una ilusión pasajera —de 10 años—, pero finalmente todo fracasaba: Brasil, Lula, Dilma y el PT.
No logran entender el motivo por el cual Dilma es más favorita que antes y Lula aun más popular después de que en junio se sucedieran las manifestaciones.
Pero lo cierto es que quien no logra descifrar el enigma de Lula, termina devorado por él. Pasó así con la derecha y con la extrema izquierda brasileña, y ahora también con sus críticos internacionales.

Dilma es ampliamente favorita para ser reelegida —incluso en primera vuelta— y Lula tiene aun más popularidad que ella. Las previsiones negativas respecto a Brasil no han descifrado el enigma Lula y son devoradas por él.
Y es que Lula supo, mejor que nadie, jugar la partida en la lucha por la superación del modelo neoliberal dando prioridad a las políticas sociales, el lado más frágil del neoliberalismo. En segundo lugar, la primera medida de su política internacional fue su rechazo frontal al proyecto que plantea el ALCA, del que Brasil y EEUU habían quedado en dar los arreglos finales. Fue ese bloqueo de Brasil lo que frenó el proyecto y abrió espacios para la integración regional, centrales en los gobiernos progresistas de América Latina.
Para complementar, Lula supo reaccionar con determinación a la crisis recesiva internacional que tuvo su inicio en 2008, haciendo que el Estado brasileño actuara de forma claramente anticíclica, valiéndose de los bancos públicos de Brasil.
Con esto y el éxito de la política internacional brasileña, Lula se ha proyectado como el más importante líder popular contemporáneo —como lo ha reconocido Perry Anderson, que lo situó junto a Nelson Mandela en esa posición—. Uno en el combate al racismo, el otro en el combate al hambre.
¿Por qué el éxito de Lula incomoda? Incomoda a la derecha, porque su referencia esencial, Fernando Henrique Cardoso, fracasó donde Lula tiene éxito. Todas las fuerzas progresistas de los países quieren identificarse con Lula, que a su vez se proclama de izquierda y apoya a los candidatos de izquierda.
Incomoda a la extrema izquierda, porque Lula logró hacer viable un gobierno con un inmenso apoyo popular, de amplias alianzas, que ha logrado lo que ningún otro gobierno había logrado en términos de políticas sociales y de reconocimiento por parte del pueblo.
Hoy Lula desarrolla intensas actividades a partir del Instituto Lula, tanto hacia América Latina como hacia África, además de todo el trabajo que hace por su propio país. En una reunión reciente, realizada en Santiago de Chile, se han elaborado y discutido propuestas de integración latinoamericana en coordinación con el BID, con la CEPAL y con la CAF.
Al mismo tiempo, en el Instituto Lula se elabora un documento que se denomina Informe Lula, que incorpora los discursos que el ex presidente brasileño desarrolla en sus constantes reuniones con intelectuales, con dirigentes políticos y sociales de varios países y continentes, con organismos internacionales, así como cuando recibe los incontables títulos de Doctor honoris causa en universidades. El documento pretende convertir los análisis en propuestas de integración regional en varios planes. Un documento que debe ser lanzado en 2014, con grandes eventos y debates constantes en varios países.

En un mundo donde han desaparecido los grandes estadistas, donde cada uno parece dedicarse a defender los intereses inmediatos de su país, el liderazgo de Lula se proyecta con más fuerza todavía. Porque él representa la visión y las propuestas del Sur del mundo y de América Latina en particular, la prioridad del combate al hambre, la relevancia que África debe tener en el mundo, la posibilidad real de subrayar las dificultades producidas por el neoliberalismo y construir alternativas reales y posibles de un mundo más justo, menos desigual, más humano. De ahí su liderazgo, aun cuando ya no es Presidente, sabe encarnar las necesidades urgentes del mundo de hoy.

sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

A SAUDADE EM FOTOGRAFIAS



Anos setenta: o meu pai ( António Namorado) e eu.


Em 1965, em Loureiro de Silgueiros, nas "bodas de prata" dos meus pais, 
os meus tios Egídio Namorado e Rui Clímaco.

No terraço da República dos Pyn-güyns, na festa da minha formatura 
em julho de 1968,Alberto Martins, Rui Martins, Joaquim Namorado, 
Artur Jorge, Florinda e, ao fundo em pé, António Namorado.

                    Na mesma festa, um outro ângulo: Joaquim Namorado fala.; de costas, o Artur Jorge e a Florinda ouvem; o mesmo acontece com o Rui Martins e com o Alberto Martins. Depois, o Armando de Figueiredo diz qualquer coisa ao Celso Cruzeiro que reflecte com circunspecção; logo atrás um menino olha para o que tem na mão, meu irmão Tó Zé, na altura o "menino reboredo", como ele não gostava nada que lhe chamassem ( hoje, ilustre médico anestesista).



Uma  terceira  fotografia da mesma festa. Sentados, os mesmos, com o Figueiredo encoberto. O Tó Zé, agora de costas, fala comigo, que apareço ao fundo. Em pé de óculos escuros Jorge Loureiro ( o Jorge Limpiao); e depois o meu pai, parecendo estar a ouvir o irmão. Espreitando por detrás dos seus óculos , entre o Jorge e o meu pai, uma menina muito pequenina: a Isabel Clímaco.
.

quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

NEGOCIAÇÃO TRISTE

1
        1. Pensar que a canzoada se acalma, se lhe derem um pequeno pedaço de carne, é pura ilusão. Pelo contrário, vai sempre querer mais e mais. E, quando tivermos que recusar ceder mais, por ser fatal dar-lhe mais seja o que for, vai atacar-nos com a mesma violência com que nos atacaria se nunca se lhe tivesse cedido em nada. Ou ainda com mais, convencida de que quem cede um pouco hoje, talvez possa ir cedendo depois sempre mais e mais.

        2.Encarar a vida politica como uma série de compartimentos estanques, de modo a que se pode negociar dentro de um deles , ser insultado duramente noutro e ver a entidade com se negoceia no primeiro ser infame no ataque a instituições democraticamente legítimas, dentro de um terceiro, é de uma miopia ideológico-política confrangedora.

       3. Ser inerte perante as correntes sociopolíticas de profundidade e hiperativo na reação às frivolidades mediáticas que alimentam a agenda jornalística, é correr o risco de vir a ser uma folha seca levada por uma corrente de acontecimentos que se  ignoram e não se sabe como influenciar.

domingo, 8 de dezembro de 2013

SAUDAÇÃO A NELSON MANDELA





Saudação a Nelson Mandela

Primeiro ser leão
na desregrada cólera
e um enorme irmão dos oprimidos

ser a águia
que inventa a liberdade
no seu imenso voo

ser o braço
do povo que resiste
inteiro e limpo

ser a ideia
vinda do futuro
sempre em riste

na prisão
olhar o que há-de vir
como se fosse já a sua vida

e quando o povo
sinta os seus grilhões
numa dor infinita
ser a brisa de esperança
que não passa

Depois subir a pulso
o rio da história
como se fosse o coração do povo

e ser então o rosto que faltava
da África da esperança
para que o mundo possa descobrir-se
sem limites

Por fim a paz
inofensiva pomba
sem humilhados

só então a paz
quando o vento da cólera
mais justa
rugiu como leão
e nas asas da águia descobriu
um pouco mais de luz

só então a paz
quando a porta fechada
foi aberta
e há caminhos mais justos por abrir

O tempo continua
imenso e sujo
parecendo recusar-se a prosseguir

mas à orquestra dos povos
aportou um novo violino

a cólera mais justa vai ouvir-se
e os braços do destino vão abrir-se

colhendo a liberdade

[ Rui Namorado ]