terça-feira, 12 de julho de 2011

O FANTASMA DA MARGEM ESQUERDA

Num sentido apelo de António Fonseca Ferreira (AFF), dirigido aos elementos da Corrente de Opinião Esquerda Socialista ( COES) à qual pertence, para que se empenhassem a fundo no apoio a António José Seguro, integrando as suas listas, li há pouco a seguinte frase:

"Muito em sintonia com o que nós – Clube Margem Esquerda e Corrente de Opinião Esquerda Socialista – vimos defendendo e pelo qual temos lutado persistentemente, em condições difíceis, nos últimos seis anos: reorganização, democratização e modernização do Partido, um processo de profunda regeneração, um processo de refundação".

Esta frase obriga-me a um esclarecimento. O AFF pode falar em nome da COES, com a qual nada já tenho a ver, e dizer o que lhe apetecer. Mas não pode falar em nome do Clube Político Margem Esquerda (ME), pela simples razão de que tal clube não se reúne há vários anos, não tendo, antes disso, delegado, nem em AFF nem em ninguém, a legitimidade para o representar ou se expressar em seu nome publicamente.

Ora, se nunca me passou pela cabeça investir-me a mim próprio na qualidade de intérprete fiel da medida em que os socialistas, que fizeram parte da Margem Esquerda, se reconhecem nas posições assumidas posteriormente pela COES, também não reconheço, nem ao AFF nem a qualquer outro camarada, legitimidade para o fazer. De facto, por exemplo eu, acho que a COES se desviou do caminho que a ME percorreu e por isso saí dessa corrente . E, certamente, não estarei sozinho nessa posição, como não estive sozinho nessa saída. Aliás, a maior parte dos actuais membros da Esquerda Socialista nem sequer alguma vez pertenceu à Margem Esquerda; e basta ler o manifesto identificador da ME e a mais recente moção de orientação, apresentada pela COES no congresso do PS, para se perceberem as diferenças.

Portanto, enquanto se não reunirem de novo os membros do Clube Político Margem Esquerda, para que se possa apurar o que realmente pensam, ninguém tem legitimidade para dizer o que o clube pensa ou não pensa, sobre qualquer assunto; ou para atrelar a ME a quaisquer outras entidades, ficcionando uma identidade de posições entre elas, mesmo que essas iniciativas tenham nascido do clube.

De facto, eu, tal como certamente vários outros membros fundadores da ME, não temos a mais remota intenção de nos comportarmos como se esse clube nos tivesse pertencido apenas nós, mas não estamos dispostos a consentir que outros se comportem como se isso ocorresse com eles. E muitos membros fundadores da ME, tal como eu, nada têm já a ver com a COES, considerando que esta corrente, na sua fisionomia actual, tem muito pouco a ver com aquele clube. Alíás , quando sairam da COES, em Abril passado, todos os seus elementos de Coimbra, eles disseram o seguinte:" Pela nossa parte, estamos a elaborar um documento político que projecte no presente o que de essencial é a herança ideológica e política da “Margem Esquerda”, para, com base nele, constituirmos um novo clube político ou uma nova corrente de opinião dentro do PS". Assim, pelo menos, esses socialistas não consideram que a COES continue a correspoder a uma continuidade efectiva e completa do caminho trilhado pela ME, senão não teriam achado necessário sair dela para trilharem esse caminho.

Continuo a achar bem que todos os antigos membros da desactivada Margem Esquerda, possam no futuro cooperar entre si, quando pensem dever fazê-lo. Mas não ficarei de braços cruzados, perante qualquer tentativa unilateral de se invocarem as posições assumidas pela ME, modelando-as de modo a podê-las aproximar artificialmente daquilo que alguém possa ter feito (ou que alguém possa ter passado a pensar), já depois da Margem Esquerda ter entrado em hibernação.

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