terça-feira, 26 de julho de 2011

NÃO FICÁMOS DE FORA !

Um bandido norueguês, que a si próprio se olha como um cruzado, odeia o marxismo, o islamismo e a democracia, massacrou dezenas de compatriotas seus. Na sua lista de ódio, onde estava escrita a morte de dezenas de milhares de seres humanos, o bandido incluiu dez mil portugueses. Fui assim indirectamente colocado nessa trágica e honrosa lista dos odiados, fomos, todos nós portugueses inscritos nesse quadro de honra dramático.Um bandido norueguês de extrema-direita tornou-me irmão de todos noruegueses mortos e de todos outros cidadãos do mundo cuja morte foi prometida. Foram os jovens trabalhistas noruegueses. Podiam ter sido portugueses. Podiam ter sido cidadãos do mundo. Não é tempo de medo. É tempo de solidariedade e de revolta. Mas, sem o saber, o bandido norueguês deu-nos a honra de nos inscrever na sua lista de ódio.

Num outro tempo, um grande poeta alemão que se opôs aos nazis escreveu um poema de que me lembrei. Assim, em homenagem aos que foram assassinados, vou relembrar, na sua versão portuguesa de Paulo Quintela, esse poema de Bertolt Brecht :


A QUEIMA DOS LIVROS


Quando o Regime ordenou que queimassem em público
Os livros de saber nocivo, e por toda a parte
Os bois foram forçados a puxar carroças
Carregadas de livros para a fogueira, um poeta
Expulso, um dos melhores, ao estudar a lista
Dos queimados, descobriu, horrorizado, que os seus
Livros tinham sido esquecidos.
Correu para a secretária
Alado de cólera e escreveu uma carta aos do Poder.
Queimai-me! escreveu com pena veloz, queimai-me!
Não me façais isso! Não me deixeis de fora! Não disse eu
Sempre a verdade nos meus livros? E agora
Tratais-me como um mentiroso! Ordeno-vos:
Queimai-me!

[Bertolt Brecht]

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