quinta-feira, 11 de outubro de 2007

Os receios corajosos, os sindicatos e a esquerda



Se os polícias foram por sua alta recriação ao Sindicato dos Professores na Covilhã, são ingénuos. Se alguém os mandou, seja quem for, deve ser demitido, já. Não por ser um sombrio aprendiz de "legionário",como parece sugerir em uníssono a piedosa oposição, mas por ser politicamente estúpido.
Por outro lado, se há algum militante sindical que admita poder ser assustado com o tipo de episódio narrado, é melhor que se recolha de imediato ao remanso doméstico, pois não parece aconselhável envolver em lutas sindicais tão frágil criatura.

O mais provável, no entanto, é que seja outro o cerne da questão.De facto,mesmo que a versão dos sindicatos fosse cem por cento verdadeira, a reacção de resposta seria claramente excessiva. E é precisamente esse excesso que faz pensar que a reacção ao ocorrido é muito menos uma legítima rejeição de um acto censurável, do que uma tentativa de empolamento político de um episódio,que assim acaba por ficar reduzido a simples pretexto.
Não se julgue, todavia, que este tipo de empolamento é uma questão menor. Não é, porque os promotores do excesso nem controlam os termos exactos nem os limites de todo o processo.
Apesar disso,toda a oposição apanhou sofregamente a boleia. Mau sintoma quanto á sua eficácia.Aliás, até mesmo dentro do PS houve algumas almas mais sensíveis que se sobressaltaram ( mas seria preferível que, para além de produzirem desabafos mediáticos, participassem dentro do PS nas discretas e teimosas tentativas de ir gerando uma alternativa política interna consistente e clarificadora ).

Tudo isto potenciou o alarido sindical, ao mesmo tempo que o aproveitava. E então?Os telejornais podem ver subir as audiências, o PR pode emitir uma declaração seráfica, mas no terreno político nada ficará melhor. Realmente, o festival de agressividade desbragada contra o Governo, onde gulosamente a direita se apressou a participar, apenas pode trazer novas dificuldades políticas ao relacionamento dentro da esquerda.

Uns dirão que a culpa é do Governo, outros que a culpa é da oposição de esquerda. Pouco se ganhará com isso. Mas qualquer um perceberá que o extremar da agressividade e a prática de insultos contra o Partido Socialista e o Governo, apenas pode causar crispações mais intensas, conflitos mais fundos e lesões políticas mais duradouras.

Insistir, por exemplo, na comparação imbecil entre o ocorrido e acções "pidescas", ou integrar a gestão do actual governo no "fascismo", são insultos grosseiros que nada podem trazer de positivo. Na verdade, quem diz isso, se não é um idiota chapado, é seguramente um provocador. Os fascistas que o forem realmente e a direita, no seu todo, só podem agradecer-lhe.

Por mim, embora seja militante do PS,estou muito longe de me identificar com muitos aspectos da governação actual e , principalmente, de aceitar o seu reconhecimento implícito de que o paradigma neoliberal dominante não é um artefacto ideológico, mas o simples reflexo da natureza das coisas no pensamento. Mas estou ainda mais longe de me pôr a apedrejar o Governo com insultos ou com qualificativos primários.

Poder-se-á esquecer que o PS vale eleitoralmente o triplo dos outros dois partidos de esquerda juntos?

Ou haverá quem ache desejável proceder-se como se a esquerda fossem apenas os quinze por cento do PCP e do BE , rotulando-se como de direita os outros oitenta e cinco por cento do eleitorado?

Em particular, será que a CGTP acha que, reduzindo o seu espaço social de inserção ao eleitorado do PCP e do BE, tem condições objectivas para desempenhar com eficácia a defesa dos interesses dos trabalhadores?

Será que se dispõe a cair na armadilha de um exacerbamento imediatista do tom e do estilo da sua luta, sujeitando-se a ficar reduzida estrategicamente à situação de simples destacamento involuntário do conjuntural Menezes ?

Isto, para não perguntar se não estaremos apenas a assistir a uma tentativa da direcção do PCP de substituir Carvalho da Silva por Mário Nogueira, na liderança da CGTP.

1 comentário:

Anónimo disse...

Estou de acordo com o texto e com as interrogações.
Sinceramente, já estou farto desta esquerda (?) portuguesa muito sui-generis.
Haverá alguma vacina para combater este virus importado de França?
Parece que os Italianos já aprenderam.
Não sendo saudosista, recordo-me dos ataques desta mesma esquerda, aquando do governo de Gueterres.
O resultado foi os governos de Barroso e Santana Lopes com alterações às leis laborais. Agora, esta esquerda(?),prepara-se para abrir o caminho à flexigurança.
É esperar para ver. A direita agradeçe.
Rocky