Chegou trovoada, por causa de privilégios concedidos a administradores do Banco de Portugal.
Com uma segurança algo inocente, o Sr. Ministro das Finanças diz que é a lei quem consente no favor, acrescentando com uma subtileza demasiado ostensiva que o caso é antigo, deixando-nos assim saber que estamos perante eventos ocorridos sob a égide de um dos governos anteriores.
Mas o Sr. Ministro não disse por que razão o seu Governo, tão célere em cortar vantagens aos "pequenos", deixou estes "grandes" continuarem a fruir gulosamente essas vantagens realmente corporativas.
E não nos venha dizer o Sr. Ministro que essas vantagens, globalmente encaradas, não passam de uma levíssima sobrecarga no erário público, enquanto o confisco das magras vantagens antes auferidas pelos "pequenos", somadas umas às outras, representou uma soma bem gorda.
É que nenhum Ministro se pode esquecer que qualquer medida que tome (ou qualquer omissão que assuma) é também política, pelo que não pode avaliá-la apenas pela suas repercussões extra-políticas, mesmo que essas repercussões, sendo de natureza económica, adquiram óbvia relevância.
Por isso, é de uma enorme ligeireza aceitar atingir os "pequenos" nos seus direitos, antes de se assegurar que, pela lógica assumida, não subsistem privilégios na esfera dos mais fortes que devam ser abolidos . De facto, se subsistirem, os "pequenos", que são muitos, hão-de sentir-se injustiçados. E será mais fácil que se revoltem contra o que sentirão como injusto. Ou seja, podem sentir que o Governo tem força legal para fazer o que faz , mas dificilmente acharão que tenha legitimidade para isso. Não vê o Sr. Ministro que essa insólita assimetria lhe retira legitimidade ética para exigir aos "pequenos" quaisquer sacrifícios ?
Ora, não se esqueça Sr Ministro que os "grandes " são naturalmente poucos, mas os "pequenos" , pelo contrário, são muitos. Com uma particularidade interessante: o voto de cada um dos "pequenos" vale tanto como o voto de cada um dos "grandes".
Portanto, se o problema está na lei, mude-a.
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