sexta-feira, 26 de outubro de 2007

Bush - monarca universal ?



Se os grandes títulos de alguns jornais internacionais de referência não distorcem a verdade, o Sr. Bush declarou o exército iraniano como terrorista.

Declarar alguém como terrorista não é hoje um qualificativo ideológico ou político, é a imputação da qualidade de criminoso ao destinatário do qualificativo. Declarar um exército de um país como terrorista não pode deixar de envolver o respectivo país.

Mas declarar um país, ou mesmo apenas o seu exército, como uma entidade criminosa, não pode ser algo de mais ligeiro do que declarar uma pessoa como criminosa. Ora, no âmbito de um Estado, para que algum dos seus cidadãos seja considerado criminoso é preciso que pratique um acto previamente considerado como crime, e que um tribunal dê como provado que esse cidadão praticou realmente esse acto. Um tribunal: mas não o Presidente da República ou o Primeiro-ministro.

Por isso, se nos ficarmos pela superfície do que foi dito, talvez encolhamos os ombros, encarando-a como mais uma idiotice do Sr. Bush. Mas se o valorizarmos como sintoma do que significa no seu cerne a deriva bushista, talvez devamos preocupar-nos.

O Sr. Bush acha-se como uma espécie de monarca absoluto do mundo, com legitimidade para decidir o que é ou não é crime, quais os comportamentos que podem configurá-lo, quem são os criminosos. E não tem que explicar porquê o Irão e não a China, ou a Arábia Saudita. Porquê considerá-lo hoje e não há um ano ou daqui a seis meses ? E se o exército iraniano é um exército criminosos por ser terrorista, o que garante que o Sr. Bush não considerará amanhã como crime ser socialista ou nacionalista, para a partir daí criminalizar um outro exército por ser socialista, ou por ser nacionalista ?

No fundo, o sr. Bush acha-se no direito de considerar como criminosos os Estados (ou os exércitos dos Estados) que não lhe agradem, ou seja, quem não se comportar perante ele como um capacho. Parece que para ele, o mundo tem Estados pária ou Estados capacho, ou Estados que caminham num ou noutro sentido.

Sob a capa desculpabilizante de uma luta contra o terrorismo (que aliás teve já como frutos as guerras do Afeganistão e do Iraque, deixando o terrorismo prosperar),o Sr. Bush parece querer criminalizar a política, pelo menos quando dela resultam posições que lhe são hostis ou desfavoráveis.

E o mais curioso é que alguém que como ele esteja longe de ser um prático exemplar de uma democracia limpa, se sinta com legitimidade para distribuir certificados de bom comportamento democrático, com base nos quais se sente autorizado a distribuir reprimendas e bombas.

Ele, o presidente que foi eleito para o seu primeiro mandato ao arrepio dos votos expressos do povo americano, com um voto de diferença entre uma dúzia de juízes que em parte ele próprio nomeara.

Se este é o farol das democracias e dos democratas de todo o mundo, não se pode deixar de recear o aumento dos naufrágios...

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