Como referi neste blog, no texto anterior, um dos pontos cruciais do combate pela conquista da opinião pública nesta campanha é a questão da imputação das culpas pela crise política. No âmbito da sondagem, cujos resultados o "Expresso" publica, foi feita a pergunta : "De quem é a culpa pela crise política?". As respostas foram elucidativas: 30,4% acharam que foi do Governo; 29, 3% de toda a oposição; 16% do PSD; 9% do presidente da República; e 14 % não sabem ou não respondem. Ora, estando em causa se a culpa foi do Governo ou da oposição, não tem sentido separar o PSD das oposições no seu todo. Assim, vê-se que 30,4% imputam culpas ao Governo e 45,3 % às oposições. Mas sendo o PR um político apoiado pelos dois partidos da oposição de direita e ostensivamente hostil ao Governo, faz sentido somar a este último número os seus 9% . E assim, teríamos 30,4% achando que a culpa da crise devia ser atribuída ao Governo e 53,3% pensando que as culpas são imputáveis a um ou a vários focos políticos contrários ao Governo.
O título que encabeça a infogravura é pois uma desonesta mistificação, dado que ao contrário do que sugere o título " A culpa é do Governo", apenas menos de 1/3 dos inquiridos pensa assim. Pelo contrário, mais de metade acha que os culpados são outros e mais de 45% acha que a culpa deve ser imputada a partidos da oposição.
A verdade do que foi apurado na sondagem é, de facto, muito inconveniente para o PSD e para a restante oposição, já que apesar de todas as campanhas de intoxicação mediática os portugueses não parecem ter sido convencidos.E se adicionarmos a isso que 52,6% dos inquiridos na mesma sondagem acham que o PEC não devia ter sido chumbado, contra apenas 34,1% que acham que sim, e que 47,8% não concordam com a convocação de eleições antecipadas, contra 45,3% que concordam, percebemos bem a razão da vigarice informativa perpetrada pelo circunspecto semanário.
A maioria dos portugueses parece mais convencida pelas razões do Governo do que pelas razões da santa aliança das oposições e do Presidente da República. E isso não é bom para as aspirações da área política que o Expresso representa, nem agradará com certeza muito ao seu "dono". Mas as coisas são o que são, e não aquilo que o Expresso gostaria que elas fossem, isto é, realmente a maioria dos inquiridos pela sondagem em causa não acha que as culpas da actual crise política devam ser imputadas ao Governo.
3 comentários:
Vigarice e Expresso são palavras e conceitos que não ficam pela teoria, são a prática semanal neste país, em que a falta de exigência permite que tal título seja tido como "de referência"...
Um jornal que assassinou politicamente o líder do maior partido da oposição em 2004 só deveria merecer disputar leitores com "o diabo"...
Um comentário não me permite o espaço necessário para a demonstração, longa, de que as suas contas são desprovidas de toda a validade lógica e estatística. Deixo só o aviso. Estou a fazê-lo com total isenção e objetividade, embora compreenda que a sua provável distância desta coisa de cálculos e sondagens e a sua respeitável defesa do PS, por parte de um autor honestamente assumido aqui como tal, embora com diferença louvável, o tenham feito incorrer em erros.
Repito, o erro essencial é que não se pode adicionar coisas só porque nos parece que "isto faz sentido".
Espero que "sans rancune"... ;-)
O essencial quanto ao fundo da questão, é esta parte do texto:
"E assim, teríamos 30,4% achando que a culpa da crise devia ser atribuída ao Governo e 53,3% pensando que as culpas são imputáveis a um ou a vários focos políticos contrários ao Governo".
Dos resultados publicados não se podem retirar outras conclusões: 30,45% atribuem as culpas da crise ao Governo; as outras três parcelas correspondem a entidades ou conjuntos de entidades que nada têm a ver com Governo. Podendo ser discutível que o PR da República se possa integrara no mesmo conjunto a que pertencem as oposições, seguro é que não pode integrar-se num conjjuto em que esteja o Governo.
Está em causa uma distorção da realidade de natureza política. E não há estatíisticas ou sofisticações matemáticas que justifiquem a afirmação que 30,4% correspondam a uma maioria. Olhando-se para a infogravura vê-se que a maior parte dos inquiridos não acha que a culpa seja do Governo, mas o Expresso sugere o contrário.
Seja como for estamos no campo de coisas de importância muito relativa.
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