domingo, 24 de abril de 2011

O POETA E O SÁBIO ou a tragédia da modernidade




O grande poeta espanhol António Machado escreveu um dia:



Caminante, son tus huellas
el camino, y nada más;
caminante, no hay camino,

se hace camino al andar.

Al andar se hace camino,

y al volver la vista atrás

se ve la senda que nunca

se ha de volver a pisar.

Caminante, no hay camino,

sino estelas en la mar.


E, no entanto, o velho sábio chinês do nosso pensamento, olhando além do horizonte imenso da Ásia , talvez um dia tenha perguntado:
Se não souberes para onde vais, como poderás escolher o teu caminho?

Entre o poeta e o sábio, sentimos a tragédia da modernidade. Se caminhamos levados pela vertigem dos nossos próprios passos, pelo impulso da nossa própria esperança, corremos o risco de nos extraviarmos no limbo das ilusões. Se passamos tempo demais à procura do caminho justo, podemos nem chegar a caminhar.


Talvez, por isso, António Machado acercou-se de mim com um sorriso triste, tirou o chapéu num gesto contido e disse-me:
No meu peito há um navio que inventou o próprio mar.

Em resposta, o velho sábio chinês do nosso pensamento, olhou com serenidade através da planície e perguntou-me:
Se te perderes na dispersão dos horizontes, quem te encontrará?


Talvez, sem nós o sabermos, por completo, entre o generoso coração das tempestades e a fria paciência das caravanas, as nossas mãos tremam de hesitação.

2 comentários:

Paulo Guilherme Cabral disse...

Rui, eu prefiro o pensamento de Sêneca: Não existe vento favorável para aquele que não sabe para onde vai. Concorda?

Rui Namorado disse...

Todos os pensamentos nos ajudam a pensar.