quinta-feira, 28 de abril de 2011

DERIVA LIGEIRA A PROPÓSITO DA IGUALDADE e um despropositado requerimento



Eles sabem que nós sabemos que eles sabem que as tretas de alguns notáveis filósofos mansos sobre a igualdade não passam, salvo o devido respeito, de rodriguinhos mentais destinados a embrulhar as vítimas das desigualdades num mar de confusões, que as impeça de ver de que lado está e como funciona a injustiça que as vitimiza.

Posso admirar a inteligência, a subtileza intelectual, a precisão discursiva, a agilidade vocabular de quem se ocupa denodadamente a fazer-nos esquecer que continua a funcionar em pleno a fábrica de desigualdade que é o capitalismo ( Os capitalistas ainda se zangam comigo. Como posso estar sempre a falar de uma coisa que não existe ?). Para isso, eles guiam-nos generosamente através de um labirinto de conceitos e de palavras que escorrem pela realidade como geleia . Escondendo-a, para a deixarem intacta. Ou quase intacta. Ou muito mais intacta do que ficaria se nos falassem, mesmo sem subtileza, das causas das coisas.

Por isso, prefiro a palavra simples da revolução francesa: igualdade. Sem enfeites, sem retoques, sem embustes, sem talvez, sem mas todavia. A palavra nascida nas ruas de sofrimento dos explorados, a palavra regressada em todas as revoluções, a palavra perdida na garganta dos pobres.

É nessa medida que venho respeitosamente requerer a todos os imensos vultos de todas esquerdas, mesmo das que se mostram por vezes excessivamente doces, mesmo das que se mostram por vezes excessivamente loucas; dirigindo-me também a todos os partidos que se consideram de esquerda, sejam eles imoderadamente moderados ou alucinadamente extremistas, para que nunca mais recorram a essa prisão subtil da igualdade, a essa sua esterilização arguta, a essa melíflua negação da luta pela igualdade, que é o sarcófago ideológico habitualmente designado por : " igualdade de oportunidades".

1 comentário:

Henrique Dória disse...

No texto anterior já escrevi que a igualdade absoluta é um mito, mito esse que os que são contra a justiça usam com eficácia para manterem sociedades injustas em seu proveito pessoal.

Já escrevi que a desigualde no que toca à retribuição do trabalho consoante a diferente contribuição de cada um para o aumento da riqueza partilhada pela metade da sociedade que recebe menores rendimentos é justa e desejável.

É necessário afirmar agora que essa desigualdade se justifica pela necessidade de premiar o esforço de cada uma para o bem estar geral, como a sua criatividade para o surgimento de novas formas de produzir riqueza.

Mas as desigualdades devem ser limitadas sob pena de os menos capazes, muitas vezes por razões alheias à sua vontade, receberem menos do que devem receber de acordo com a riqueza global da sociedade e o princípio da justiça.

Entendo que o estabelecimento de uma retribuição mínima deve ter como contrapartida a fixação de uma retribuição máxima pelo trabalho.

E que essa retribuição máxima deverá ser 20 vezes à retribuição mínima.

Estas vinte vezes são um leque suficiente para premiar o esforço, a capacidade e o risco que a sociedade deve incentivar nos seus cidadãos.

E é um limite que deve funcionar quer no setor público quer no setor privado da atividade económica.

Não é preciso demonstrar que é fácil para o Estado a sua imposição em ambos os setores