As oposições de esquerda têm-se revelado incapazes de construir um discurso crítico contra o Governo e o PS insusceptível de ser apropriável pela oposição de direita. O que significa que têm sido incapazes de bombardear as posições do PS sem se bombardearam também, de algum modo, a si próprios.
Talvez cientes disso, parecem ter querido fazer um movimento estratégico que, de algum modo, os libertasse dessa prisão simbólica. O PCP, embora persista no esotérico caminho de apenas se aliar a si próprio na CDU, percebeu que devia dar ao menos uma ilusão de movimento, conversando circunspectamente com o BE. O BE por seu lado viu aí uma janela de oportunidade para se mostrar aberto e dialogante, olhando gulosamente para os eleitores de esquerda que o PS possa afugentar.
A ficção de que ambos buscam, por si sós, gerar uma alternativa política construída contra o PS adicionado à direita é-o tanto mais, quanto seria realmente caricata se fosse levada à letra. Mas o PS fará mal se olhar com displicência essa aliança. De facto, talvez o seu objectivo real seja muito menos ambicioso do que aquilo que quer parecer. Mas é aí que reside a sua perigosidade para o PS. De facto, o seu objectivo pode ser o de criar um bloco eleitoral que fique acima dos 15%, o que, se conjugado com um hipotético mau resultado do PS, podia mudar qualitativamente a nossa paisagem eleitoral, em prejuízo deste. E essa mudança, ou o risco dessa mudança, torna muito mais penalizadora para o PS qualquer complacência sua, em face de qualquer hipótese de se abrir a qualquer tipo de aliança com a direita.
Também por este lado, o PS está confrontado com um período pós-eleitoral extremamente complexo, quer ganhe, quer perca as eleições. E assim assume uma evidência crescente o carácter aventureiro de qualquer orientação política geral simultaneamente simplista e fechada na conjuntura. O reexame critico do modo como se relaciona com a sociedade, da sua organização interna, da sua estratégia e da sua aptidão futurante torna-se um imperativo dia a dia mais forte. Também para o PS, o aparente pragmatismo das urgências imediatistas tende a converter-se no mais nefelibata dos aventureirismos.
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