terça-feira, 12 de abril de 2011

LISTAS DE DEPUTADOS: uma escolha que é também um sintoma


1. O próximo episódio relevante do processo eleitoral que está a decorrer é a escolha das listas de candidatos a deputados. Nalguns textos, publicados neste blog há uns dias atrás, preconizei um choque de qualidade no conjunto das listas do PS que, por si só, evidenciasse um sobressalto de mudança, rumo a uma revitalização e qualificação da vida política. Seria um sinal objectivamente auspicioso e um sintoma prestigiante de um novo curso na vida do PS.

O Congresso Nacional foi um êxito relativo, como execução apurada de um amplo leque de previsibilidades correntes. Usar até ao máximo a máquina disponível, parece ser a palavra de ordem vigente. Sem tergiversar, sem querer ir mais além , sem sair dos caminhos mais trilhados. Não são bons sinais. Num quadro tão deprimente como aquele que rodeia o país, a impressão de que nos limitamos ao habitual, esquecendo mesmo aquilo que se pode fazer com nítida vantagem e sem custos, é um sintoma negativo e um indício de que estamos dispostos a "quase" tudo para levar por diante o combate às dificuldades. Mas, dentro desse incómodo "quase", agiganta-se com enorme visibilidade a resistência a pôr em causa pequenos poderes, pequenos compadrios, pequenas trocas de favores e pequenas carreiras.

Se forem confirmadas essas nuvens de desânimo, ficará claro que a direcção nacional do PS não irá fazer tudo o que está ao seu alcance para que o PS ganhe as próximas eleições. Esforçar-se-á, certamente, dentro do habitual, mas não irá além dele. Ora, essa fidelidade ao habitual pode parecer um sinal de prudência, mas eu estou convencido que, na dramática volatilidade da conjuntura, pode acabar por ser uma imprudente aventura.

2. Um cenário nacional que não esteja em condições de surpreender positivamente, diminui automaticamente as virtualidades de qualquer excelência que possa existir na lista de um distrito como o de Coimbra. Apesar disso, não me passa pela cabeça defender que, uma vez que no plano global as coisas parecem aprisionadas nas rotinas de sempre, se possa ficar indiferente quanto à identidade dos candidatos do PS em Coimbra, quanto ao perfil e à qualidade dessa lista no seu todo.

Seria também uma ilusão julgar-se que, nesta conjuntura, se pode desconsiderar o imperativo de concorrência com as listas dos outros partidos e com os seus cabeças de lista. Cada partido parte para esta pugna com um bloco de eleitores já adquirido e com um outro mais pequeno de eleitores convencíveis. Provavelmente, no caso do PS, este segundo conjunto será relevante. Captar-lhe o apoio pode fazer a diferença entre um excelente resultado e um desastre. E pode ser o resultado atípico num ou noutro sentido, em face da média nacional, neste distrito que faça com que possamos ganhar ou perder as eleições.

Por isso, não podemos cair na auto-armadilha de desenharmos uma lista a partir de lógicas internas, de rivalidades entre hegemonias intrapartidárias, de prestígios circunscritos à vida do partido, sob pena de chegarmos a um resultado internamente blindado por justificações indiscutíveis, cuja imagem externa é no entanto decepcionante.

Particularmente importante é a escolha do cabeça de lista. Ela vai ser objecto de uma comparação imediata com os outros cabeças de lista. E se o desequilíbrio for grande pode contribuir decisivamente par se perder ou ganhar um deputado. Especialmente relevante é a comparação com as escolhas do PSD e do BE, cujas fronteiras eleitorais com o PS parecem ser, em Coimbra nas actuais circunstâncias, as mais voláteis, conquanto em partes distintas do eleitorado.

Mas não é dispicienda a comparação entre o cabeça de lista que nos couber e os que forem colocados nos distritos a que correspondem as mais importantes Federações do PS. Uma escolha paroquial pode ser desastrosa não só por revelar objectivamente um diminuto potencial de concorrência, mas também por ser um sintoma incontornável de uma descida de Coimbra na escala de importância relativa adoptada pelo PS. Sem contar com o facto de, dado o tipo e a dimensão das clivagens que têm existido na Federação de Coimbra do PS, ser muito importante que o cabeça de lista fosse alguém cujo prestígio nacional e cuja espontânea aceitação dentro do partido conduzissem a uma dinâmica de autêntica unidade que atenuasse ou superasse essas clivagens, pelo menos durante a campanha. Se isso não acontecer, será mau; mas se a escolha não for apenas uma opção fraca, para , mais do que isso, ser em si própria uma acha mais na fogueira das dissidências internas, o caso será ainda mais grave.

E se, a uma escolha menos mobilizadora para o encabeçamento da lista, se seguir uma lista cinzenta, na perspectiva da imagem que publicamente projecte, tudo poderá ficar mais difícil no círculo de Coimbra.

1 comentário:

Henrique Dória disse...

Regresso ao Odisseus depois de um tempo de pausa por motivos de saúde da minha filha.

Entretanto, muitas águas passaram sob as pontes. Portugal entrou num período crítico. Mais do que nunca se tornou urgente refletir no país que queremos e no que devemos fazer para termos o país que queremos.

Penso que o dia de hoje foi um dia importante para o futuro de Portugal. Hoje, no jornal PÚBLICO, foi publicado um manifesto assinado por homens livres e honestos, entre os quais os meus amigos VASCO LOURENÇO e RUI NAMORADO.

ESPERO QUE NÃO FIQUEM POR AQUI.

Já tenho repetido no Odisseus que Portugal é um país esquizofrénico, em que há um eleitorado que vota no PC, no BE e no PS por serem o mal menor. É urgente que aqueles que defendem a JUSTIÇA como algo de essencial para que o nosso país deixe de ser uma terra sem direitos para tantos, saibam e tenham a coragem de pensar, mas também de agir. É necessário que aqueles que estão em espaços nos quais já não acreditam tenham a coragem de deixar esses espaços e construir algo em que acreditam.