Com a sua expressa autorização, transcrevo mais uma peça do "Estranho Quotidiano" para o qual J.L.Pio Abreu, nos vem chamando regularmente a atenção no DestaK. Desta vez, trata-se de um Ruído, detectado no passado dia 5/2/2010.
Eis a crónica:
“Amanhã haverá um eclipse do sol. Se estiver bom tempo, os soldados formarão na parada para assistir ao fenómeno. Se chover, manter-se-ão na caserna”. Foi isto que o coronel comunicou ao capitão. Logo o capitão disse ao sargento: “Por ordem do nosso Coronel, amanhã haverá um eclipse do sol. Se estiver bom tempo, os soldados formarão na parada. Se chover, será na caserna.”Finalmente, o sargento comunica aos soldados: “Amanhã, se chover, o coronel fará eclipsar o sol dentro da caserna. Se fizer bom tempo, será na parada.” Os soldados comentam entre si: “Parece que amanhã vão eclipsar o coronel dentro da caserna. Nós vamos apanhar sol para a parada.”
Esta é uma história dos compêndios de comunicação. Serve para ilustrar os efeitos do ruído quando se referem factos contados por fulano, que os ouviu de sicrano, e por aí fora. Em cada transmissão, a informação adultera-se. Mas o mais interessante é que cada um acaba por ouvir aquilo que quer. Sobre a historieta que dominou as altas preocupações dos jornalistas, alguns dizem que o Governo, na sua perseguição à liberdade de imprensa, se reúne nas mesas dos restaurantes para sentenciar em voz alta a próxima vítima. Outros dizem que um jornalista, num assomo de auto-importância, se deixou convencer que era temido pelo Governo e aproveitou para se despedir de um trabalho acessório a fim de se dizer perseguido. Alguém terá razão?
[J. L. Pio Abreu]
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