O cerco a José Sócrates que, segundo a comunicação social, lhe estão a preparar no Parlamento ou é um puro infantilismo que atesta a mediocridade estratégica, no plano político, das lideranças das oposições ou é inútil.
De facto, as oposições, se querem derrubar o Governo, podem fazê-lo com toda a legitimidade, se depois se conjugarem como alternativa de governo. Deixaríamos de ter um governo minoritário para passarmos a ter um governo de unidade entre as actuais oposições com maioria parlamentar. Esse novo governo “canguru” disporia de muito melhores condições no plano da aritmética parlamentar do que o actual. Por isso, se as oposições não querem Sócrates como primeiro-ministro não precisam de criar um clima de “guerra civil” larvar, basta uma moção de censura na Assembleia da República.
Mas se não querem derrubá-lo, apenas pretendendo exercer normalmente o papel das oposições parlamentares, não se compreende o tipo de iniciativas que têm tomado e encorajado, nem o modo como têm estimulado a crispação política. Será por serem incapazes de calibrar o tom e a intensidade dos ataques que empreendem, não conseguindo adequá-los aos seus objectivos? Se assim for, não estamos perante um radicalismo discutível, mas perante uma incompetência grosseira. Talvez, os acontecimentos futuros nos venham a mostrar qual das duas hipóteses é a verdadeira.
A não ser que as oposições estejam ainda possuídas por alguns restos da ilusão de que conseguirão condicionar o PS, de modo a que possa continuar a haver um Governo da sua responsabilidade, sem Sócrates a liderá-lo e sem eleições. Se assim é, trata-se de burrice em estado puro. Se este Governo for derrubado, haverá eleições, ou o Presidente aceitará que o PS indique de novo Sócrates para continuar a liderá-lo. Mas como esta segunda hipótese não faria sentido, a saída é simples as oposições formam um governo “canguru” ou há eleições.
Aliás, o próprio facto de haver entre os que odeiam particularmente Sócrates quem ache que deveria haver um governo do PS sem Sócrates, mostra que realmente eles não estão convencidos de que é verdade tudo aquilo de que acusam Sócrates velada ou expressamente. Por que se o estivessem, não faria sentido que aceitassem que continuasse a governar sem novas eleições, um Partido que havia sido dirigido por ele e que o apoiara continuamente nos últimos anos
E com eleições, na actual conjuntura, ou o PS forma novo governo maioritário ou minoritário, ou passa para a oposição, certamente pouco disposto a facilitar a vida a qualquer coligação de alguns ou de todos os que tantos o têm atacado nestes últimos anos. E muito menos alguém pode sonhar que o PS se misture num indigno bloco central com um partido de direita que , com o interregno provável do orçamento, tão miseravelmente o tem atacado nos últimos anos. Quem não vir isto, anda a dormir.
Poderia ainda a dizer-se que eu não tenho razão, uma vez que o que se quer não é apenas destruir Sócrates, mas sim o próprio PS. Se assim fosse, eu perguntaria: então os dois partidos de esquerda ajudantes nessa possível música acham que depois de ajudarem mansamente a direita a destruir-nos como Partido, receberiam o apoio agradecido dos actuais apoiantes e eleitores do PS? Se acham isso, são sonhadores. De facto, apenas teriam contribuído para um dramático enfraquecimento do conjunto da esquerda por décadas, em Portugal. E a direita ganharia alguma coisa com isso? Talvez no estrito plano eleitoral isso pudesse acontecer. Mas no plano da viabilidade democrática do regime e da paz social teria que governar um país muito mais turbulento e imprevisível. Com um detalhe que lhe dificulta as coisas: o PS, os militantes socialistas e os apoiantes socialistas não se deixarão levar pacificamente para o matadouro. Lutarão contra essa eventual tentativa de os destruírem.
Há uma última hipótese que ecoa na algaraviada que tem invadido os jornais a propósito de um hipotético e vago “fim de regime”. É como se , no fundo, o objectivo dos “algazarradores” politico-mediáticos fosse o de se desforrarem do 25 de Abril , preconizando à surrelfa um golpe de estado que, nas actuais circunstâncias históricas, só pode ser fascista. Esses modernizadores autoritários querem regredir um século e os tontos que, não sendo fascistas ou aparentados, lhes fazem o jogo são isso mesmo: politicamente tontos. Tontos, ainda que alguns se possam imaginar verdadeiros “zorros” do século XXI.
Só não compreendo o que faz ao lado de toda essa tropa fandanga tanta gente identificada com as oposições de esquerda, que parecendo deixar-se absorver totalmente pela alergia a Sócrates, esquece tudo o que, em profundidade, se move no contexto social actual e a fragilidade da democracia que usam, sem verdadeiramente com ela se preocuparem. E esquecem que se a direita musculada conquistar o poder com a democracia entre parêntesis, não os irá recompensar pela ajuda que lhe deram.
Portanto, não esqueçam que os riscos que nos esperam não se reduzem a essa dança de algarismos soturnos com que nos assombram todos os dias. Embora ainda distante, espero eu, há também o fantasma sempre latente dos regimes autoritários que “suasticamente” sonham com um país de súbditos, silenciosos e tristes. Tomem atenção quando gritarem que vem aí o lobo com a energia descuidada de quem tem a certeza do contrário, porque os lobos ainda existem e podem querer voltar.
Por tudo o que atrás escrevi, na minha opinião, as oposições de direita precisam de aprender que o seu modo de serem oposição faz parte das condições que a si próprias criarão para quando forem poder. As oposições de esquerda precisam de saber que o seu modo de ser oposição a um governo do PS pode marcar por muito tempo a facilidade ou a dificuldade com que poderão cooperar em todas as instâncias e circunstâncias com os apoiantes e eleitores do PS.
E o PS precisa de perceber que é imprescindível robustecer-se (robustecer-se mesmo!), já que o combate que tem pela frente é exigente e prolongado. Com ele misturam-se novos desafios colocados pela marcha do tempo. Por isso, quem se deixar amodorrar nas rotinas de hoje está a aproximar-se perigosamente do desastre ou da irrelevância.
De facto, as oposições, se querem derrubar o Governo, podem fazê-lo com toda a legitimidade, se depois se conjugarem como alternativa de governo. Deixaríamos de ter um governo minoritário para passarmos a ter um governo de unidade entre as actuais oposições com maioria parlamentar. Esse novo governo “canguru” disporia de muito melhores condições no plano da aritmética parlamentar do que o actual. Por isso, se as oposições não querem Sócrates como primeiro-ministro não precisam de criar um clima de “guerra civil” larvar, basta uma moção de censura na Assembleia da República.
Mas se não querem derrubá-lo, apenas pretendendo exercer normalmente o papel das oposições parlamentares, não se compreende o tipo de iniciativas que têm tomado e encorajado, nem o modo como têm estimulado a crispação política. Será por serem incapazes de calibrar o tom e a intensidade dos ataques que empreendem, não conseguindo adequá-los aos seus objectivos? Se assim for, não estamos perante um radicalismo discutível, mas perante uma incompetência grosseira. Talvez, os acontecimentos futuros nos venham a mostrar qual das duas hipóteses é a verdadeira.
A não ser que as oposições estejam ainda possuídas por alguns restos da ilusão de que conseguirão condicionar o PS, de modo a que possa continuar a haver um Governo da sua responsabilidade, sem Sócrates a liderá-lo e sem eleições. Se assim é, trata-se de burrice em estado puro. Se este Governo for derrubado, haverá eleições, ou o Presidente aceitará que o PS indique de novo Sócrates para continuar a liderá-lo. Mas como esta segunda hipótese não faria sentido, a saída é simples as oposições formam um governo “canguru” ou há eleições.
Aliás, o próprio facto de haver entre os que odeiam particularmente Sócrates quem ache que deveria haver um governo do PS sem Sócrates, mostra que realmente eles não estão convencidos de que é verdade tudo aquilo de que acusam Sócrates velada ou expressamente. Por que se o estivessem, não faria sentido que aceitassem que continuasse a governar sem novas eleições, um Partido que havia sido dirigido por ele e que o apoiara continuamente nos últimos anos
E com eleições, na actual conjuntura, ou o PS forma novo governo maioritário ou minoritário, ou passa para a oposição, certamente pouco disposto a facilitar a vida a qualquer coligação de alguns ou de todos os que tantos o têm atacado nestes últimos anos. E muito menos alguém pode sonhar que o PS se misture num indigno bloco central com um partido de direita que , com o interregno provável do orçamento, tão miseravelmente o tem atacado nos últimos anos. Quem não vir isto, anda a dormir.
Poderia ainda a dizer-se que eu não tenho razão, uma vez que o que se quer não é apenas destruir Sócrates, mas sim o próprio PS. Se assim fosse, eu perguntaria: então os dois partidos de esquerda ajudantes nessa possível música acham que depois de ajudarem mansamente a direita a destruir-nos como Partido, receberiam o apoio agradecido dos actuais apoiantes e eleitores do PS? Se acham isso, são sonhadores. De facto, apenas teriam contribuído para um dramático enfraquecimento do conjunto da esquerda por décadas, em Portugal. E a direita ganharia alguma coisa com isso? Talvez no estrito plano eleitoral isso pudesse acontecer. Mas no plano da viabilidade democrática do regime e da paz social teria que governar um país muito mais turbulento e imprevisível. Com um detalhe que lhe dificulta as coisas: o PS, os militantes socialistas e os apoiantes socialistas não se deixarão levar pacificamente para o matadouro. Lutarão contra essa eventual tentativa de os destruírem.
Há uma última hipótese que ecoa na algaraviada que tem invadido os jornais a propósito de um hipotético e vago “fim de regime”. É como se , no fundo, o objectivo dos “algazarradores” politico-mediáticos fosse o de se desforrarem do 25 de Abril , preconizando à surrelfa um golpe de estado que, nas actuais circunstâncias históricas, só pode ser fascista. Esses modernizadores autoritários querem regredir um século e os tontos que, não sendo fascistas ou aparentados, lhes fazem o jogo são isso mesmo: politicamente tontos. Tontos, ainda que alguns se possam imaginar verdadeiros “zorros” do século XXI.
Só não compreendo o que faz ao lado de toda essa tropa fandanga tanta gente identificada com as oposições de esquerda, que parecendo deixar-se absorver totalmente pela alergia a Sócrates, esquece tudo o que, em profundidade, se move no contexto social actual e a fragilidade da democracia que usam, sem verdadeiramente com ela se preocuparem. E esquecem que se a direita musculada conquistar o poder com a democracia entre parêntesis, não os irá recompensar pela ajuda que lhe deram.
Portanto, não esqueçam que os riscos que nos esperam não se reduzem a essa dança de algarismos soturnos com que nos assombram todos os dias. Embora ainda distante, espero eu, há também o fantasma sempre latente dos regimes autoritários que “suasticamente” sonham com um país de súbditos, silenciosos e tristes. Tomem atenção quando gritarem que vem aí o lobo com a energia descuidada de quem tem a certeza do contrário, porque os lobos ainda existem e podem querer voltar.
Por tudo o que atrás escrevi, na minha opinião, as oposições de direita precisam de aprender que o seu modo de serem oposição faz parte das condições que a si próprias criarão para quando forem poder. As oposições de esquerda precisam de saber que o seu modo de ser oposição a um governo do PS pode marcar por muito tempo a facilidade ou a dificuldade com que poderão cooperar em todas as instâncias e circunstâncias com os apoiantes e eleitores do PS.
E o PS precisa de perceber que é imprescindível robustecer-se (robustecer-se mesmo!), já que o combate que tem pela frente é exigente e prolongado. Com ele misturam-se novos desafios colocados pela marcha do tempo. Por isso, quem se deixar amodorrar nas rotinas de hoje está a aproximar-se perigosamente do desastre ou da irrelevância.
1 comentário:
Correcto. O que se está a passar deixará marcas profundas. O cisma entre o PS e o BE cresce de dia para dia; o PCP soube manter algum recato, mas está a sguir o mesmo caminho de desnorte. A direita quer a vingança.
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