Pernóstico voltou todo rangel. Quer caçar um coelho foragido de uma velha cartola que uns senhores não acham totalmente adequada.
Pernóstico, contudo, já trazia, uma ligeira mossa: antes dissera, com jura e garantia, que com ele, mandatos iam sempre até ao fim. Pernóstico pensou, pensou, pensou. Que mentira diria ser verdade?
E disse: “foi a zelosa mão da consciência que me trouxe de regresso até Lisboa”.
“Porquê”, iriam perguntar.
Respondeu fulminante: “é grave, muito grave, gravíssimo, o estado do país”.
"E quem pode salvá-lo?"
“Pernóstico Rangel, um seu criado.”
Chegou então rompendo a sua boca o tão antigo S de servir. Servir, servir, servir, é sua condição.
Na toca, o coelho estremeceu, por tão furioso e novo caçador.
Estarreceu-se também um ex-ministro, pálido e branco da mais pura raiva. Dissera que sim esse rangel. Também ele diria só depois.
Mas afinal, em ronha, falou antes. E da distante Europa regressado, foi lesto no manejo do punhal. Foi hoje um terramoto desabado. Vai agora cansar-se, a pouco a pouco, até ser um bocejo de si próprio.
Pernósticos e pálidos, coelhos, entre tudo de novo na cartola. E agora só se sai de dentro dela, engomado de luxo, em paletó, gravata firme, sem nenhum desleixo e duros cercos num pescoço só.
Na rua, no entanto, a vizinhança há-de dizer com muita bonomia: "se crescerem realmente um pouco mais, hão-de ir longe os meninos, hão-de ir longe". E é, por isso, que vos venho dizer: está perigosa , a coisa está perigosa..
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