quinta-feira, 3 de abril de 2008

Camões não está cotado na Bolsa.!


Alguns aplausos beatos, outros apenas distraídos, à decisão do Ministro da Cultura que o levou a encomendar um estudo sobre o valor económico da língua portuguesa.

Por mim acho lamentável que seja um Ministro da Cultura a curvar-se perante o unilateralismo economicista. Como se a legitimidade de uma aposta no estímulo à difusão da língua portuguesa precisasse de um certificado de relevância económica para ser reconhecida.

Concordo com a urgência da valorização geopolítica da língua portuguesa, com o fim da sua secundarização servil perante a nova língua franca, com estratégias de resistência conjugada com outras línguas latinas, com o aproveitamento das virtualidades dessa aposta em todos os campos incluindo o económico, com o seu lugar estratégico na cultura de quem a usa e se pensa a si e ao mundo com a sua ajuda.

Recuso-me a aplaudir a subalternização da sua dimensão cultural, da sua centralidade na cultura dos portugueses, de todos os povos que falam português. A língua portuguesa tem que ser em primeira linha um acto de cultura e um artefacto de humanidade.

Não legitimemos pois a sua banalização através da sua filtragem unilateral por uma qualquer máquina produtora de banalidades. A língua portuguesa não cabe no seu preço, nem se pode confundir com um bezerro de ouro.

Camões não está cotado na Bolsa.

1 comentário:

aminhapele disse...

Mais uma vez,levanto-me e aplaudo!
A língua portuguesa tem o seu valor intrínseco,que está na nossa "alma".
É um perfeito disparate que,alguém(seja quem for) lhe passe um "atestado" e a converta em euros.
Que façam os negócios que lhes apetecer,mas deixem-nos falar e escrever à nossa maneira.