1. Um acordo auspicioso.
A Ministra da Educação e os Sindicatos entenderam-se. Li num semanário que com a ajuda da CGTP, que, por sua vez, interferiu a pedido do Governo.
O sinal é positivo.Deixa uma dúvida no ar: por que não se entenderam antes de serem tomadas as medidas, que depois foram afinal corrigidas?
Se o Governo tivesse sido menos crispado para com os sindicatos e se os sindicatos tivessem sido um pouco menos ferozes contra o Governo, talvez isso tivesse sido possível.
2. Uma pergunta escaldante
Mas é este entendimento que deixa uma pergunta escaldante: Quando vamos sair das modificações cosméticas, ancoradas essencialmente na contenção de despesas, e instrumentalmente na inovação tecnológica, para lançarmos um debate sobre uma necessária e profunda reforma da educação? Um debate que seja já um primeiro passo de um longo caminho, que possa ser olhado, no seu todo, como uma verdadeira reforma da educação.
Uma reforma que se dirija ao futuro numa ambição prospectiva e que se radique na necessidade de ajudar a construir cidadãos preparados para serem a humanidade de um século novo, não se alheando de nenhum deles, incomodando-se com todos.
Uma reforma centrada na escola pública como matriz estruturante do Estado democrático e como elemento incontornável da nossa identidade cultural como povo.
Uma reforma liberta dos constrangimentos ideológicos induzidos pelo neoliberalismo dominante e que assim dispense, desde logo, a interferência e a pressão conservadora dos tecnocratas internacionais.
Uma reforma que comece por conquistar o entusiasmo dos professores, que antecipe, em si própria, uma sociedade mais justa, que seja moderna em todos os sentidos e em profundidade, que não apenas no verniz da superficialidade tecnocrática e da cosmética de circunstância.
Uma reforma que se insira numa cultura renovada e humanista, assumindo-se como parte de uma sociedade do conhecimento.
Uma reforma que pressione a sociedade para que evolua no sentido de poder incorporar, como um dos seus elementos estruturais, a educação ao longo da vida.
Uma reforma que assente na superação dos constrangimentos conjunturais, sem os ignorar, mas sem se limitar a ser uma simples estratégia para lhes responder.
Ou seja, uma caminhada difícil mas sustentável, árdua mas esperançosa, que exija tudo dos professores, na exacta medida em que os dignifique até ao limite. Uma reforma que o maior número de cidadãos possa sentir como sua e que não implique para ninguém precarização e apoucamento.
Não é fácil nem simples ? Pois não. Não terá frutos evidentes num curto prazo ? Pois não .
Mas alguém poderá pensar honestamente que uma mutação profunda, radicada nas complexas exigências dum futuro que se aproxima com uma rapidez crescente, pode apenas traduzir-se num punhado de medidas avulsas, em grande parte circunscritas a detalhes que, por vezes, rondam o anedótico ?
2 comentários:
Mas o Sistema Educativo continua igual à miséria que já era....
Acabem de vez com o binómio escola/ família (que simplesmente não existe) e criem um espaço de acolhimento para crianças, adolescentes e jovens onde, desde as 7 da manhã, trabalhem assistentes sociais, psicólogos, sociólogos e seguranças... Os professores têm o seu horário e nesse horário incitam oa alunos a aprender os conteúdos dads suas disciplinas.... Tudo o resto é treta!!!!!!!!!
Se cada um de nós se achar a si próprio como genial e considerar tudo o que os outros digam uma treta, não é provável que cheguemos longe.
E das duas uma: ou está perto de ter razão e arrisca-se a ficar a prégar no deserto; ou não tem razão e pode parecer tonto.
Dito isto, para mim o seu comentário tem o mérito de sublinhar a complexidade crescente da instituição escolar, bem como da sua relação com a sociedade no sau todo.
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