O XVI Congresso do PS foi mediaticamente distorcido, por um lado, talvez como resultado do aproveitamento pretendido pela direcção do partido para efeitos de propaganda, por outro lado, talvez em virtude da miopia política de uma grande parte dos jornalistas, com base em cujas notícias, muitos dos chamados fazedores de opinião teceram comentários de uma superficialidade próxima do ridículo.
Na verdade, os documentos políticos discutidos e as intervenções feitas nas suas diversas sessões, foram quase totalmente ignorados, perante as duas momentosas questões que afligiam os meios de comunicação social até ao paroxismo: Manuel Alegre vai ou não vai ao Congresso? Quem vai ser o cabeça de lista do PS para a as eleições europeias?
Por mim, hoje, vou falar-vos da moção de orientação geral de que fui um dos promotores e cujo primeiro subscritor foi António Fonseca Ferreira, “Mudar para Mudar”, bem como das suas raízes e da dinâmica por ela suscitada no Congresso.
Admito que, tendo eu estado envolvido no processo que a originou, tenda a valorizar em excesso o significado da dinâmica por ela desencadeada. No entanto, se olharmos para todo esse processo e para o seu episódio final ocorrido no Congresso, a eleição para a Comissão Nacional, facilmente percebemos que ele é em si próprio um revelador político que está longe de ser insignificante.
Na sua origem esteve um Clube Político, “Margem Esquerda”, com umas dezenas de elementos activos, que desde há meses ( como pode recordar-se quem frequente este blog) foi preparando uma moção de orientação política geral e algumas moções sectoriais, para serem apresentadas no Congresso do PS.
Uma vez alcançado acordo sobre o sentido geral da moção, sobre a sua estrutura e sobre algumas das suas partes consideradas como nucleares, o debate estendeu-se para fora do clube, tendo a moção incorporado então novas abordagens temáticas com as quais enriqueceu a sua versão final.
Subscreveram-na, naturalmente, os socialistas que participaram na sua elaboração, mas também muitos outros que aderiram ao essencial da sua mensagem política. Foram assim ultrapassados os duzentos subscritores necessários para que fosse admitida como moção de orientação geral a apresentar no Congresso do PS.
Foram apresentadas listas de candidatos às eleições para delegados ao Congresso radicadas nessa moção [“Mudar para Mudar”] em 26 secções, tendo sido eleitos 21 delegados que a representavam. No cômputo global é um resultado aparentemente minúsculo. Mas se tivermos em conta que, de um lado estava uma moção que, ao contrário da nossa, dava suporte a um candidato a Secretário-geral, e se recordarmos que nas secções em que concorremos estavam em jogo 72 delegados, dos quais a moção oficial elegeu 51 e a nossa 21, verificamos que o resultado obtido teve algum significado.
Depois, conseguimos reunir o apoio dos cinquenta delegados necessários para fazer com que a nossa moção fosse discutida, em conjunto com a moção oficial. Foi então que alguns camaradas mais optimistas ( e eu não estava entre eles ) insistiram na viabilidade de se apresentar uma candidatura à Comissão Nacional do PS, radicada na moção “Mudar para Mudar”. Era necessário reunir, em três ou quatro dias, declarações de 376 militantes socialistas que aceitassem integrar uma lista que iria concorrer contra a lista oficial. Mas, mais difícil do que isso, era indispensável que a nossa lista fosse proposta por mais do que oitenta delegados. Apresentámos uma lista com 423 nomes, entre efectivos e suplentes; e reunimos apoio de mais do que cem delegados.
A votação das moções ocorreu numa altura em que haviam já terminado as votações para os órgãos nacionais. A moção oficial teve 1094 a favor, apenas um voto contra e 13 abstenções. Ficou claro que os apoiantes da moção “Mudar para Mudar” não quiseram hostilizar a moção oficial. Pelo contrário, a direcção do partido, bem representada na mesa do Congresso, fez questão de esmagar a nossa moção, tendo tido o cuidado de, ao contrário do que fizera quanto à moção oficial, ter votado, antes do resto do Congresso, numa transparente tentativa de indicação de voto. A nossa moção teve 34 votos a favor, 124 abstenções e 950 contra.
Pouco depois, foram difundidos os resultados das eleições (estas por voto secreto) para os órgãos nacionais. Só concorremos á Comissão Nacional. Estavam em jogo 251 delegados. A nossa moção elegeu 27 membros, a moção oficial elegeu 224. Em termos de votos, nós tivemos 10, 94 % (139) e a lista oficial teve 89,05 % (1094).
Se nos lembrarmos que há quatro anos, a lista apoiante de Manuel Alegre, estando ancorada numa candidatura a secretário-geral, não tendo que se opor a um secretário-geral em funções (que além disso é, e quer continuar a ser, primeiro-ministro), integrando uma boa parte do grupo parlamentar, obteve 46 lugares contra 204 da lista de Sócrates, podemos compreender melhor a dimensão do resultado que obtivemos.
Se, além disso, nos lembrarmos que a lista oficial capturou a quase totalidade dos expoentes das várias alegadas esquerdas mediáticas do PS, capturou os vários expoentes da prudente radicalidade das discretas demarcações casuísticas, podemos avaliar melhor o significado dos resultados que tivemos.
A nossa moção é uma moção apontada aos problemas da organização, cujo congresso se estava a realizar; é uma moção de levantamento de problemas e de proposta de grandes linhas de orientação. Chegou ao Congresso com 1,2% dos delegados e saiu de lá com 11% da Comissão Nacional; pelo contrário, a moção oficial chegou ao congresso com 98,7% dos delegados e saiu de lá com 89,7% da Comissão Nacional.
Se nos lembrarmos que no Congresso estava apenas directamente representado cerca de um terço dos militantes do PS, podemos dizer que o conjunto dos ministros e secretários de Estado, dos deputados, dos deputados europeus, da esmagadora maioria dos autarcas socialistas, mesmo utilizando sem rebuço os meios do partido para promoção da moção oficial e da respectiva lista à Comissão Nacional, não conseguiram o apoio de mais do que 90% dos delegados. Ou seja, 90% da representação de um terço do Partido. Não podem deixar de estar preocupados
Pela nossa parte, um colectivo de militantes de base, no seio do qual não se encontra mais do que um ou dois membros da anterior Comissão Nacional, pela força de uma ambição de renovação do partido, conseguimos mais do que dez por cento da Comissão Nacional. Não podemos deixar de estar satisfeitos.
Na verdade, os documentos políticos discutidos e as intervenções feitas nas suas diversas sessões, foram quase totalmente ignorados, perante as duas momentosas questões que afligiam os meios de comunicação social até ao paroxismo: Manuel Alegre vai ou não vai ao Congresso? Quem vai ser o cabeça de lista do PS para a as eleições europeias?
Por mim, hoje, vou falar-vos da moção de orientação geral de que fui um dos promotores e cujo primeiro subscritor foi António Fonseca Ferreira, “Mudar para Mudar”, bem como das suas raízes e da dinâmica por ela suscitada no Congresso.
Admito que, tendo eu estado envolvido no processo que a originou, tenda a valorizar em excesso o significado da dinâmica por ela desencadeada. No entanto, se olharmos para todo esse processo e para o seu episódio final ocorrido no Congresso, a eleição para a Comissão Nacional, facilmente percebemos que ele é em si próprio um revelador político que está longe de ser insignificante.
Na sua origem esteve um Clube Político, “Margem Esquerda”, com umas dezenas de elementos activos, que desde há meses ( como pode recordar-se quem frequente este blog) foi preparando uma moção de orientação política geral e algumas moções sectoriais, para serem apresentadas no Congresso do PS.
Uma vez alcançado acordo sobre o sentido geral da moção, sobre a sua estrutura e sobre algumas das suas partes consideradas como nucleares, o debate estendeu-se para fora do clube, tendo a moção incorporado então novas abordagens temáticas com as quais enriqueceu a sua versão final.
Subscreveram-na, naturalmente, os socialistas que participaram na sua elaboração, mas também muitos outros que aderiram ao essencial da sua mensagem política. Foram assim ultrapassados os duzentos subscritores necessários para que fosse admitida como moção de orientação geral a apresentar no Congresso do PS.
Foram apresentadas listas de candidatos às eleições para delegados ao Congresso radicadas nessa moção [“Mudar para Mudar”] em 26 secções, tendo sido eleitos 21 delegados que a representavam. No cômputo global é um resultado aparentemente minúsculo. Mas se tivermos em conta que, de um lado estava uma moção que, ao contrário da nossa, dava suporte a um candidato a Secretário-geral, e se recordarmos que nas secções em que concorremos estavam em jogo 72 delegados, dos quais a moção oficial elegeu 51 e a nossa 21, verificamos que o resultado obtido teve algum significado.
Depois, conseguimos reunir o apoio dos cinquenta delegados necessários para fazer com que a nossa moção fosse discutida, em conjunto com a moção oficial. Foi então que alguns camaradas mais optimistas ( e eu não estava entre eles ) insistiram na viabilidade de se apresentar uma candidatura à Comissão Nacional do PS, radicada na moção “Mudar para Mudar”. Era necessário reunir, em três ou quatro dias, declarações de 376 militantes socialistas que aceitassem integrar uma lista que iria concorrer contra a lista oficial. Mas, mais difícil do que isso, era indispensável que a nossa lista fosse proposta por mais do que oitenta delegados. Apresentámos uma lista com 423 nomes, entre efectivos e suplentes; e reunimos apoio de mais do que cem delegados.
A votação das moções ocorreu numa altura em que haviam já terminado as votações para os órgãos nacionais. A moção oficial teve 1094 a favor, apenas um voto contra e 13 abstenções. Ficou claro que os apoiantes da moção “Mudar para Mudar” não quiseram hostilizar a moção oficial. Pelo contrário, a direcção do partido, bem representada na mesa do Congresso, fez questão de esmagar a nossa moção, tendo tido o cuidado de, ao contrário do que fizera quanto à moção oficial, ter votado, antes do resto do Congresso, numa transparente tentativa de indicação de voto. A nossa moção teve 34 votos a favor, 124 abstenções e 950 contra.
Pouco depois, foram difundidos os resultados das eleições (estas por voto secreto) para os órgãos nacionais. Só concorremos á Comissão Nacional. Estavam em jogo 251 delegados. A nossa moção elegeu 27 membros, a moção oficial elegeu 224. Em termos de votos, nós tivemos 10, 94 % (139) e a lista oficial teve 89,05 % (1094).
Se nos lembrarmos que há quatro anos, a lista apoiante de Manuel Alegre, estando ancorada numa candidatura a secretário-geral, não tendo que se opor a um secretário-geral em funções (que além disso é, e quer continuar a ser, primeiro-ministro), integrando uma boa parte do grupo parlamentar, obteve 46 lugares contra 204 da lista de Sócrates, podemos compreender melhor a dimensão do resultado que obtivemos.
Se, além disso, nos lembrarmos que a lista oficial capturou a quase totalidade dos expoentes das várias alegadas esquerdas mediáticas do PS, capturou os vários expoentes da prudente radicalidade das discretas demarcações casuísticas, podemos avaliar melhor o significado dos resultados que tivemos.
A nossa moção é uma moção apontada aos problemas da organização, cujo congresso se estava a realizar; é uma moção de levantamento de problemas e de proposta de grandes linhas de orientação. Chegou ao Congresso com 1,2% dos delegados e saiu de lá com 11% da Comissão Nacional; pelo contrário, a moção oficial chegou ao congresso com 98,7% dos delegados e saiu de lá com 89,7% da Comissão Nacional.
Se nos lembrarmos que no Congresso estava apenas directamente representado cerca de um terço dos militantes do PS, podemos dizer que o conjunto dos ministros e secretários de Estado, dos deputados, dos deputados europeus, da esmagadora maioria dos autarcas socialistas, mesmo utilizando sem rebuço os meios do partido para promoção da moção oficial e da respectiva lista à Comissão Nacional, não conseguiram o apoio de mais do que 90% dos delegados. Ou seja, 90% da representação de um terço do Partido. Não podem deixar de estar preocupados
Pela nossa parte, um colectivo de militantes de base, no seio do qual não se encontra mais do que um ou dois membros da anterior Comissão Nacional, pela força de uma ambição de renovação do partido, conseguimos mais do que dez por cento da Comissão Nacional. Não podemos deixar de estar satisfeitos.
6 comentários:
Falta dizer que a lista da Margem Esquerda foi elaborada à boa maneira fascista. Ninguém foi consultado e dos 21 eleitos não estavam todos em nos primeiros lugares.
O único delegado eleito por bases de Lisboa foi relegado para o 35º lugar. Uma vergonha.
Só para o Fonseca Ferreira colocar à frente a amiga, o sobrinho e a mana.
Mesmo assim, ainda houve espaço para todos os presentes serem eleitos para a Comissão Nacional, incluindo o único de Lisboa.
Enfim, criticas bem o PS e fazes parte da mesma pandilha. Quando toca a reunir é só para os amigos.
No fundo, a "Margem Esquerda" tornou-se antes na ala fascista do PS na Comissão Nacional. O pessoal do Lumiar/Ameixoeira e Charneca já tem disso conhecimento e o Fonseca Ferreira nunca mais lá entra na secção. Nem a "boazona".
Renovar o Partido com os piores métodos fascistas.
Explica porque razão a lista à CN não submetida à aprovação democrática dos 21 eleitos.
Aquilo foi cozinhado para ti e para os amigalhaços de Coimbra mais a família Fonseca que quer ser no PS o que foi a família Tito de Morais. Olha que exemplo?
O elegante e corajoso anónimo dos dois comentários anteriores não se contenta com refocilar argumentos "ad hominem"; também faz questão de obedecer aos seus patrões do aparelho, que num golpe de propaganda insolente decidiram chamar de "fascistas" (e direitistas, e reaccionários) justamente àqueles que os contestam à esquerda…
Mas... Houve Congresso? Não dei por nada!
Razão tem o Imank no que escreveu em http://marxnops.blogspot.com/2009/02/haja-alegria-e-ja-agora-lata.html
O elegante e corajoso anónimo não o é para o Rui Namorado. Sou anónimo por não ter blog no Google, mas toda a gente percebe que se trata de um dos dois eleitos pelas bases de Lisboa para a lista dos 21 e que foi relegado para o lugar 35 quando até disse que não me importava de estar no último dos 21. Nessa altura não acreditava que fossem eleitos mais do que uns 6 a 7 delegados da Margem Esquerda. Estive disponível para dar os primeiros lugares ao Fonseca, ao Rui Namorado, à Salomé que não foi eleita pelas bases, ao sobrinho André que não foi eleito. Podia pois ficar no lugar 24 ou 25 até, mas nunca no 35º.
Sou o militate Nº 33 do PS - D. Dellinger - subscritor e militante da CEUD em Outubro de 1969, fundador da Cooperativa de Estudos e Documentação, militante da ASP e fundador do PS, ex-jornalista do "República", "A Luta", "Portugal Hoje", actual da "Revista de Marinha" e colaborador do "Jornal de Negócio", além de correspondente da DPA - Deutsche Presse Agentur e de vários jornais alemães. Sou o único jornalista bilingue português-alemão.
Enfim, 40 anos de militância democrática e socialista.
Os "amigalhaços" de Coimbra têm um elemento entre os 27 eleitos.
Será que o Anónimo das 22 h e 53m acha que não deviam ter nenhum ?
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