1. A corajosa tomada de posição do Bastonário da Ordem dos Advogados provocou um verdadeiro levantamento mediático. No essencial, esse alarido comunicacional desdobrou-se em duas linhas de ataque: crítica ao lugar de publicação do texto, difusão pública de uma conversa de terceiros, difamando Sócrates.
No primeiro plano, destacaram-se actores político-mediáticos oriundos do interior da Ordem do Advogados. Não acharam importante desmentir os factos divulgados por António Marinho, ou analisarem o seu significado, no caso de os acharem verdadeiros. Apenas discutiram doutamente se o texto devia ser ou não publicado num órgão da Ordem. Será que os factos divulgados no texto são menos importantes do que a momentosa questão do lugar da sua publicação? Estranho comportamento.
No segundo plano, a publicação da conversa incriminadora, significa que se achou natural enxovalhar publicamente uma pessoa, difundindo uma conversa em que ela não participa e em que terceiros proferem alegações que apoucam a sua honorabilidade. Não perturbou os difusores o facto de a conversa ser antiga, de os factos citados na conversa serem antigos, de serem há anos objecto de uma investigação judicial que não conduziu até agora à necessidade de ouvir sequer o principal visado. Estou certo que, no seu comportamento corrente, os órgãos de comunicação social que, neste caso, se apressaram a divulgar a gravação, não terão esse tipo de procedimento. Acresce, a tudo isso, que, de um lado, estão pessoas que a própria comunicação social mostrou ao longo destes meses terem uma credibilidade reduzida. Do outro lado, está um primeiro-ministro.
É certo que a credibilidade mitigada de uns e a posição institucional de outro, não torna os primeiros automaticamente mentirosos e o segundo automaticamente verdadeiro, mas impõe, em nome do mais elementar bom-senso, admitir que quem tem pouca credibilidade pode estar a mentir e que o primeiro-ministro pode estar a falar verdade. Esse elementar bom-senso foi aqui completamente esquecido. Estranho comportamento.
2. Um olhar breve, para o trajecto já percorrido, neste caso, pelo complexo mediático – policial, em conexão com certas instâncias políticas e judiciais, mostra que esse trajecto atingiu um ponto de não retorno. Para esse bloco político-mediático já não se trata apenas de destruir Sócrates, trata-se também de salvar a pele. Salvar a própria pele, no sentido de impedir o descrédito em que cairiam se ficasse absolutamente claro, nalguns casos, a má fé conspirativa destinada a viciar o funcionamento da democracia, noutros casos, a simples leviandade de terem corrido atrás de foguetes ilusórios numa circunstância de grande relevância política e social.
3. Não é esta a primeira vez em que uma conspiração mediático-política procura ferir profundamente o Partido Socialista. Em termos de ética política, é um comportamento repugnante, que descredibiliza profundamente todas as instituições e organizações, envolvidas nessas derivas. Mas, em termos políticos, é uma estratégia suicida, do ponto de vista da qualidade da nossa democracia. E é uma estratégia tanto mais suicida, quanto nada garante que não possa vir a ter algum êxito, diminuindo artificialmente a dimensão eleitoral do PS e, através dessa diminuição, suscitar uma conjuntura política que inviabilize a governabilidade do país.
Se este episódio fosse isolado, tudo continuaria a ser eticamente insuportável e politicamente questionável, mas o risco de efeitos dramáticos não seria grande. Mas não é. Vive-se um clima de grande crispação social e de alguma tensão institucional, num contexto de grave crise económico-social. E nestas circunstâncias o risco de incêndio político-social, estimulado pelo episódio em causa aumenta exponencialmente.
Pode ser que os aprendizes de feiticeiro, pelo seu trauliteirisnmo e pela sua sofreguidão, acabem até por favorecer eleitoralmente o PS, mas também pode ser que desencadeiem uma tempestade de sentido contrário.
Estarão as actuais oposições preparadas para assumirem, em conjunto, as responsabilidades governativas que derivem do eventual êxito da sua estratégia de enfraquecimento do PS ? Como seria viver-se num país em que um eventual enfraquecimento dramático do PS deixasse frente a frente como pólos políticos dominantes, mas nenhum deles com maioria, de um lado PCP/ BE, do outro lado PSD/PP?
Como seria um país assim, perante o factor agravante de se ter chegado essa situação por uma caminho crispado, semeado de indignidades e deslealdades. Não se esperaria decerto que o povo socialista respondesse a uma deriva de que tivesse sido vítima com um espírito distendido e colaborante.
4. De facto, há hoje um clima politicamente insalubre que procura cercar o PS a qualquer preço. A este último, cabe naturalmente, defender-se melhor, não cometer erros grosseiros nos próximos tempos, fazer com que o Governo seja fiel ao ideário socialista e determinado no combate à crise. Aos agentes mediáticos, policiais e judiciais, cabe-lhes serem moralmente decentes e cumpridores sem falhas da legalidade democrática . Aos partidos da oposição cabe , naturalmente, ajustarem-se á decência democrática e preocuparem-se em garantir a si próprios e ao povo português que estarão à altura de se responsabilizarem pela gestão das consequências politico-institucionais da oposição que, conjugadamente, vêm fazendo ao governo socialista. É que, pela força das coisas, uma oposição concertada a um governo tem como resultado natural induzir objectivamente um futuro governo de coligação.
Isso é impossível ? Talvez. Por isso, pela minha parte me inclino, menos para um cenário de uma vasta e diversificada orquestra de oposições que vocacionada para assumir os destinos do país, rodeada pelo carinho de todos os que no complexo mediático –institucional procuram agora enfraquecer o governo do PS. E me inclino mais para uma situação em que alguém é capaz de estilhaçar um copo , mas não tem possibilidade de o reconstruir.
É isso: muitos, ao acirrarem-se contra o actual governo, estão furiosamente a tentar partir o copo, mas não sonham sequer que, algum dia, serão capazes de se conjugarem para refazerem o que antes estilhaçaram.
Por isso, quando o PS se estiver a defender não está apenas a defender-se a si próprio, está a procurar poupar aos portugueses um futuro próximo de agravamento das incertezas e da dificuldades.
No primeiro plano, destacaram-se actores político-mediáticos oriundos do interior da Ordem do Advogados. Não acharam importante desmentir os factos divulgados por António Marinho, ou analisarem o seu significado, no caso de os acharem verdadeiros. Apenas discutiram doutamente se o texto devia ser ou não publicado num órgão da Ordem. Será que os factos divulgados no texto são menos importantes do que a momentosa questão do lugar da sua publicação? Estranho comportamento.
No segundo plano, a publicação da conversa incriminadora, significa que se achou natural enxovalhar publicamente uma pessoa, difundindo uma conversa em que ela não participa e em que terceiros proferem alegações que apoucam a sua honorabilidade. Não perturbou os difusores o facto de a conversa ser antiga, de os factos citados na conversa serem antigos, de serem há anos objecto de uma investigação judicial que não conduziu até agora à necessidade de ouvir sequer o principal visado. Estou certo que, no seu comportamento corrente, os órgãos de comunicação social que, neste caso, se apressaram a divulgar a gravação, não terão esse tipo de procedimento. Acresce, a tudo isso, que, de um lado, estão pessoas que a própria comunicação social mostrou ao longo destes meses terem uma credibilidade reduzida. Do outro lado, está um primeiro-ministro.
É certo que a credibilidade mitigada de uns e a posição institucional de outro, não torna os primeiros automaticamente mentirosos e o segundo automaticamente verdadeiro, mas impõe, em nome do mais elementar bom-senso, admitir que quem tem pouca credibilidade pode estar a mentir e que o primeiro-ministro pode estar a falar verdade. Esse elementar bom-senso foi aqui completamente esquecido. Estranho comportamento.
2. Um olhar breve, para o trajecto já percorrido, neste caso, pelo complexo mediático – policial, em conexão com certas instâncias políticas e judiciais, mostra que esse trajecto atingiu um ponto de não retorno. Para esse bloco político-mediático já não se trata apenas de destruir Sócrates, trata-se também de salvar a pele. Salvar a própria pele, no sentido de impedir o descrédito em que cairiam se ficasse absolutamente claro, nalguns casos, a má fé conspirativa destinada a viciar o funcionamento da democracia, noutros casos, a simples leviandade de terem corrido atrás de foguetes ilusórios numa circunstância de grande relevância política e social.
3. Não é esta a primeira vez em que uma conspiração mediático-política procura ferir profundamente o Partido Socialista. Em termos de ética política, é um comportamento repugnante, que descredibiliza profundamente todas as instituições e organizações, envolvidas nessas derivas. Mas, em termos políticos, é uma estratégia suicida, do ponto de vista da qualidade da nossa democracia. E é uma estratégia tanto mais suicida, quanto nada garante que não possa vir a ter algum êxito, diminuindo artificialmente a dimensão eleitoral do PS e, através dessa diminuição, suscitar uma conjuntura política que inviabilize a governabilidade do país.
Se este episódio fosse isolado, tudo continuaria a ser eticamente insuportável e politicamente questionável, mas o risco de efeitos dramáticos não seria grande. Mas não é. Vive-se um clima de grande crispação social e de alguma tensão institucional, num contexto de grave crise económico-social. E nestas circunstâncias o risco de incêndio político-social, estimulado pelo episódio em causa aumenta exponencialmente.
Pode ser que os aprendizes de feiticeiro, pelo seu trauliteirisnmo e pela sua sofreguidão, acabem até por favorecer eleitoralmente o PS, mas também pode ser que desencadeiem uma tempestade de sentido contrário.
Estarão as actuais oposições preparadas para assumirem, em conjunto, as responsabilidades governativas que derivem do eventual êxito da sua estratégia de enfraquecimento do PS ? Como seria viver-se num país em que um eventual enfraquecimento dramático do PS deixasse frente a frente como pólos políticos dominantes, mas nenhum deles com maioria, de um lado PCP/ BE, do outro lado PSD/PP?
Como seria um país assim, perante o factor agravante de se ter chegado essa situação por uma caminho crispado, semeado de indignidades e deslealdades. Não se esperaria decerto que o povo socialista respondesse a uma deriva de que tivesse sido vítima com um espírito distendido e colaborante.
4. De facto, há hoje um clima politicamente insalubre que procura cercar o PS a qualquer preço. A este último, cabe naturalmente, defender-se melhor, não cometer erros grosseiros nos próximos tempos, fazer com que o Governo seja fiel ao ideário socialista e determinado no combate à crise. Aos agentes mediáticos, policiais e judiciais, cabe-lhes serem moralmente decentes e cumpridores sem falhas da legalidade democrática . Aos partidos da oposição cabe , naturalmente, ajustarem-se á decência democrática e preocuparem-se em garantir a si próprios e ao povo português que estarão à altura de se responsabilizarem pela gestão das consequências politico-institucionais da oposição que, conjugadamente, vêm fazendo ao governo socialista. É que, pela força das coisas, uma oposição concertada a um governo tem como resultado natural induzir objectivamente um futuro governo de coligação.
Isso é impossível ? Talvez. Por isso, pela minha parte me inclino, menos para um cenário de uma vasta e diversificada orquestra de oposições que vocacionada para assumir os destinos do país, rodeada pelo carinho de todos os que no complexo mediático –institucional procuram agora enfraquecer o governo do PS. E me inclino mais para uma situação em que alguém é capaz de estilhaçar um copo , mas não tem possibilidade de o reconstruir.
É isso: muitos, ao acirrarem-se contra o actual governo, estão furiosamente a tentar partir o copo, mas não sonham sequer que, algum dia, serão capazes de se conjugarem para refazerem o que antes estilhaçaram.
Por isso, quando o PS se estiver a defender não está apenas a defender-se a si próprio, está a procurar poupar aos portugueses um futuro próximo de agravamento das incertezas e da dificuldades.
Vejo que cheguei longe, a partir de um pequeno episódio. Estarei, com isto, a menosprezar a realidade ou a prestar-lhe homenagem ?
2 comentários:
O PSD que nos bancos tem, através da currupção, posto em causa a solidez do estado democrático( não creio que os casos BCP e BPN sejam simples casos de polícia) mas, azar dos TÁVORAS, ainda há pouco estava a ser decapitado pelo poder judicial, está agora a contratacar, e tem conseguiodo os seus obejectivos através de algum jornalismo abjecto da TVI e do Público, nomeadamente.
Mas o PS tem colaborado. Veja-se a repartição de tachos e a rejeição do projecto Cravinho.
Como diria alguém que o teu tio muito admirava: Matai-vos uns aos outros.
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