domingo, 9 de dezembro de 2007

Fujam! Vem aí o Dr. Menezes.


O Dr. Menezes pensou cuidadosamente durante uma semana. Ouviu os oráculos que o aconselham. Ajustou o sorriso, de acordo com o técnico de marketing que lhe faz os jantares. Preparado, penteado, barbeado, numa cerimónia de partidários, ei-lo que levanta uma ponta do véu que ainda esconde a imagem imponente de um programa salvador que nos promete para Janeiro próximo.
As linhas gerais são aliciantes e altamente inovadoras: procurar à lupa o que resta por privatizar, no plano das empresas públicas, para um golpe final; destruir o sistema público de educação, com uma receita inefavelmente mercantilista; instituir uma concorrência sem limites no campo da saúde, entre públicos e privados lucrativos, numa vertigem de regressão; modificar ainda mais radicalmente as leis laborais, em desfavor dos trabalhadores.
Ou seja, agravar até à caricatura o sentido das medidas que mais reservas têm suscitado, a uma boa parte da sua base social, na política do actual Governo, desse modo, aprofundando as causas de algumas das consequências que, quando as sondagens apertam, têm feito pregar o Dr. Menezes , como pregaria qualquer esforçado expoente da generosidade social, que olhasse para a vida numa perspectiva de esquerda.

Numa palavra, o Dr. Menezes pode tornar-se perigoso. Capaz de criticar ferozmente as consequências do que ele próprio propõe, tem aquela singular intuição cénica que o coloca entre os vendedores de ilusões. E se os eleitores portugueses, num dia de ingenuidade ou alucinação colectiva, lhe dessem os votos que tanto almeja, o Dr. Menezes, como um D. Quixote ao contrário, era menino para derrear o país. Na sua tonitroância engravatada, desenhada a preceito pela agência de imagem que o ampara, o dr. Menezes assusta. De tal modo, que ao pé do que ele ameaça ser, o Dr. Santana Lopes passaria a ser recordado como um Primeiro-Ministro equilibrado e discreto, conquanto dado a alguma inabilidade política e a um pouco de má-sorte.
Mas não se regale o actual Governo , na fruição sem cuidados do medo dos portugueses de que lhes aconteça o desastre de um governo Menezes. De facto, há sempre um limite que não é possível predeterminar com rigor, para além do qual um eleitorado socialmente ligado a um partido corta as amarras com a habitualidade do seu voto. Por ironia do destino, o Dr. Menezes acabou por indicar ao Governo os caminhos que deve percorrer: exactamente no sentido oposto ao que ele próprio preconiza, para os pontos que destacou.
Seguramente, que, se o actual Governo fizer essa opção, não correrá o risco de ver fugir os eleitores que o escolheram.

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