segunda-feira, 6 de junho de 2011

A INJUSTIÇA CAMINHA HOJE COM PASSO FIRME

Foi apenas uma derrota eleitoral. Grande , é certo. Do PS, mas também da esquerda, em geral. O PS perdeu mais de 8% de votos, o BE perdeu metade do seu grupo parlamentar, o PCP perdeu a cabeça, quando achou que, neste quadro, ganhar 0,1 % e um deputado, era um enorme incentivo para o combate, mesmo que tivesse ocorrido o ligeiro contratempo de uma direita com maioria absoluta.

Foi apenas uma derrota eleitoral: nenhuma culpa tiveram os que combateram. Mas em política não é a culpa de ninguém o que principalmente está em causa. Em política, como nas guerras, não se distribuem armas a quem não as sabe usar; em política, como nas guerras, não se deixa que comandem exércitods generais de parada. Em política, tal como na vida, as burrices podem custar caro. Em política, como na vida, as rotinas exemplarmente seguidas podem não ser suficientes. E não foram.

Mais tarde, num próximo futuro, poder-se-á discutir tudo isso. Hoje, nada melhor do que um grande poeta para nos levar a ver o verdadeiro fundo das coisas. Lembremos pois de Bertolt Brecht , numa tradução de Paulo Quintela, o seu "Louvor da Dialéctica ":

A injustiça caminha hoje com passo firme.
Os opressores instalam-se pra dez mil anos.
A força afirma: Como está, assim é que fica.
Voz nenhuma soa além da voz dos dominadores
E nas feiras diz alto a exploração: Agora é que eu começo.
Mas dos oprimidos dizem muitos agora:
O que nós queremos, nunca pode ser.

Quem ainda vive, que não diga:nunca!
O certo não é certo.
Assim como está, não fica
Quando os dominadores tiverem falado
Falarão os dominados.
Quem se atreve a dizer: nunca?
De quem depende que a opressão continue ? De nós.
De quem depende que ela seja quebrada? Igualmente de nós.
Quem for derrubado, que se levante!
Quem estiver perdido, lute.
A quem reconheceu a sua situação, quem poderá detê-lo?
Pois os vencidos de hoje são os vencedores de amanhã
E do Nunca se faz : Hoje ainda!

3 comentários:

Miguel Leite disse...

Os resultados quase finais falam por si e atestam: uma clara derrota e um severo castigo eleitoral do PS (perda de 8 pontos percentuais em relação a 2009 e da posição de partido mais votado), o que significa que o seu desgaste e relativo isolamento eram tão grandes que nem conseguiu aproveitar a série de tiros no pé dados na campanha do PSD, de nada adiantando que o PS venha culpar o PCP e o BE pelo ascenso da direita porque o PS é que foi vítima de si próprio e da sua política e, depois de ter andado anos e anos a alimentar tigres (a direita) com bifes, não se pode queixar que os bichos já não se contentassem com ossos ou cenouras; uma expressiva vitória eleitoral do PSD, que conatndo com o CDS lhe dá direito a formar governo, baseada mais no cansaço com Sócrates e o governo do PS do que nos méritos ou esperanças com o PSD e o seu programa; um crescimento eleitoral do CDS que acaba por ser afectado por ficar longe das expectativas criadas pelas sondagens e cavalgadas por Paulo Portas, que beneficiou outra vez da regular amnésia sobre o seu passado como governante e alguma coisa deve ter beneficiado da táctica de se distanciar da vertigem ultra-liberal do PSD (coisa que meterá rapidamente na gaveta em troca de umas pastas governamentais); atentas as difíceis circunstâncias destas eleições, um significativo e importante resultado da CDU que, nas forças à esquerda da direita, é a única que regista um crescimento eleitoral e que elege mais dois deputados (um dos quais por Faro, onde não elegia há 20 anos); uma séria quebra eleitoral do BE (menos 4,5 pontos percentuais do que em 2009) o que parece confirmar a volatlidade e outras características específicas de parte significativa do eleitorado deste partido.

Maltez da Costa disse...

Como diz RN "a rafeiragem que foi lançada às canelas de José Sócrates, tão miseravelmente, por alguns dos que não gostaram das políticas que protagonizou" foi miserável, vinda principalmente da esquerda.Nenhum Primeiro Ministro foi tão atacado até hoje na sua honra e dignidade como o foi José Sócrates. Foi demasiada sujeira,

JGama disse...

Obrigado pelo belo e actual poema de Brecht