sexta-feira, 29 de outubro de 2010

AVISO DE TEMPESTADE


Pode ver-se acima um quadro comparativo das sondagens da Marktest difundidas nos últimos meses. Ele pode contribuir para que se fique com uma ideia mais clara do significado político da sondagem hoje divulgada, cujos trabalhos de campo foram feitos entre 19 e 24 de outubro.
Ela mostra um PSD com 42%, ou seja, com 17 % de vantagem sobre o PS no que diz respeito a inteções de voto. Um PSD que juntamente com o CDS poderia constituir uma folgada maioria parlamentar de direita, se as eleições tivessem sido no passado dia 24. O PS está abaixo do desastroso nível atingido nas eleições europeias de 2009, ao ficar-se pelos 25 % das inteções de voto. O BE é terceira força com 10%; a CDU e o CDS estão praticamente empatados com 8,3% e 8%, respectivamente.
Se forem comparados os resultados desta sondagem com os de uma anterior da mesma agência ( trabalhos de campo de 14 a 17 de Setembro ), verifica-se que o PS desceu quase 11%, tendo os partidos de direita subido em conjunto 5,3 % ( 4% vindos do PSD; 1,3% do CDS) e os outros partidos de esquerda também 5,3 % ( 3,5% vindos do BE e 1,8 % da CDU ).
A comparação destas quatro sondagens durante um período fértil em acontecimentos, com aguda conflitualidade política, crescente mal-estar social e dramática instabilidade económica mostra alguma flutuação no nível de desgaste eleitoral do PS, sendo certo que ela existe e apenas incerto o seu grau. Na sondagem mais antiga e na mais recente, a direita teria maioria parlamentar, chegando o PSD, por si só, à maioria absoluta na primeira e aproximando-se dela na mais recente. O conjunto da oposição de esquerda atinge nesta sondagem os 18,3 % ( 10 % do BE e 8,3% da CDU).
Ou seja, o PS perde eleitorado para a direita e para a esquerda, mas o que perde para a direita é suficiente para esta chegar à maioria; o que perde para a oposição de esquerda não é suficiente para que esta se aproxime sequer da possibilidade de se constituir, por si só, como alternativa de Governo.
Será prudente não esquecer as flutuações de resultados ao longo destes últimos meses nos sondagens da Marktest e lembrar que as outras empresas de sondagens costumam apresentar resultados menos desfavoráveis ao PS do que os dela. No entanto, seria pura cegueira política desconsiderar a sondagem ontem saída. Ela sublinha o risco de uma futura hecatombe eleitoral para o PS, de uma cisão entre o PS e uma parte do seu eleitorado que pode ser duradoura.
O contexto sócio-económico nacional e internacional, a anemia política dos partidos europeus da Internacional Socialista, a sofreguidão com que os poderes fácticos dominantes e a direita política europeia sugam a riqueza produzida pelos povos que dominam, tornam a luta política cada vez mais árdua. E fazem-no em tal grau que vai ficando claro que, sem mudanças estratégicas radicais , sem um sobressalto de unidade e de inteligência colectiva do povo de esquerda e dos partidos que nele têm raízes, corremos o risco de uma prolongada agonia política sob a égide institucional dos autómatos neoliberais que os poderes financeiros internacionais irão teleguiar com bonomia e cinismo.

7 comentários:

b m disse...

" o que perde para a oposição de esquerda não é suficiente para que esta se aproxime sequer da possibilidade de se constituir, por si só, como alternativa de Governo. "

Meu querido Rui,

Cegueira política, é não querer ver que o "povo de esquerda ", mesmo na Marktest, continua a poder, por si só, constituir-se como alternativa de esquerda.
Até o somatório aritmético o sublinha!...
E a propóosito, aqui há tempos falavas de "emoções", no caso as minhas.
Mas, parece-me, que são estas mesmas emoções, agora as tuas, que não conseguem ver o óbvio....
De resto, as n/ posições políticas,as tuas e as minhas, relevam sempre da "razão" e da "emoção"
Basta ler MANUEL DAMÁSIO. E tu, não duvido,leste.
E, sublinhe-se, quando o " povo de esquerda" não lobriga o óbvio, envereda pela direita, mesmo a mais retrógada, tipo limiano...
O teu,
bento
Isto mesmo

Ana Paula Fitas disse...

Caro Rui Namorado,
Acabo de fazer link deste post.
Um grande abraço.

Rui Namorado disse...

1. Não percebo bem o que tem a ver a minha frase que citas com o que dizes a seguir.

2. " Basta ler Manuel Damásio" : se não conseguinmos transformar as nossas leituras em argumentos, precisando de as atirar em bruto à cabeça de quem discute connosco, é porque verdadeiramente as não aproveitámos por completo.

Rui Namorado disse...

Cara Ana Paula Fitas:

Agradeço a sua atenção.

Grande abraço.

horta pinto disse...

Caro Bento
A tua posição é bem intencionada, mas a meu ver irrealista. Infelizmente, nos tempos que correm chegou-se a uma situação em que é imperativo tomar medidas impopulares. Ora o PC gosta muito de medidas impopulares, mas só desde que...sejam tomadas por outros! São essas medidas impopulares que lhe permitem reunir as suas tropas para fazer o que ele mais gosta (e desconfio que não sabe fazer mais nada): manifestações, greves, declarações inflamadas, etc. O PC é um parasita das medidas impopulares; se estas não existissem, as pessoas começariam a fazer a inevitável pergunta: para que serve um PC?
Por isso me parece totalmente irrealista a ideia de formar um governo com essa relíquia museológica que é o PC; desde logo porque nem ele queria.
Quando muito, o PC poderá ser útil nas eleições presidenciais para ajudar a eleger o Manuel Alegre; mas atenção: só numa 2ª volta e tapando a cara do candidato, tomando bicarbonato, etc.!
É triste, mas é assim.

b m disse...

Caro Rui,
1.- Admito que não tenha sido claro na transposição da tua citação para a m/ leitura de António Damásio ( a qual não me terá aproveitado tanto a mim quanto a ti te enriqueceu ).
2.- O que pretendia sublinhar é que o quadro da Marktest, para além da inferência que daí retiraste, tinha ainda uma outra abordagem, e não menos importante. A saber :
3.- A projecção do “povo de esquerda” encontrava-se também aí de algum modo espelhado no registo sociológico da repartição partidária das intenções de voto, facto que omitiste mas que me pareceria relevante, considerando, como consideras, que os votos do PS são de esquerda.
4.- E os votos que o PS “perde” para a sua esquerda são de esquerda, o mesmo não se podendo dizer dos outros perdidos para a direita. Não te parece ?
Aqui estou contigo,
“ …sem um sobressalto de unidade e de inteligência colectiva do povo de esquerda e dos partidos que nele têm raízes, corremos o risco de uma prolongada agonia política sob a égide institucional dos autómatos neoliberais…”
5.- Daí ter trazido à colação as “emoções” que por vezes toldam a “razão” e encaminham as n/ análises num sentido unidireccional. As minhas, como as tuas.
6.- Com DAMÁSIO direi que "… a relação entre emoção e a razão….sugerem, no entanto, que o fortalecimento da racionalidade requer que seja dada maior atenção à vulnerabilidade do mundo interior."

Caro Horta Pinto,
1.- Estou de acordo quanto à maior parte das considerações que teces à volta do PCP, mas, e há sempre um mas,
2.- Eu sou do BE, sendo certo que não será essa condição que me fará confundir o “povo de esquerda” que se revê na CGTP com os seus líderes e orientação política, da mesma forma que não confundo os apoiantes da UGT com o João Proença.
3.- E já agora, a "relíquia museológica" não pode ser separada da sua base social de apoio, quantas vezes "útil", e mesmo indispensável, como então disse Mello Antunes ( aliás o teu exemplo do Manuel Alegre é elucidativo ).
4.- E não falei em formar governo, pois que para isso já lá temos os partidos do "arco" sempre e apenas constituido com os partidos à direita do PS

Um forte abraço para ambos.
( bento )

b m disse...

Caro Rui,
1.- Admito que não tenha sido claro na transposição da tua citação para a m/ leitura de António Damásio ( a qual não me terá aproveitado tanto a mim quanto a ti te enriqueceu ).
2.- O que pretendia sublinhar é que o quadro da Marktest, para além da inferência que daí retiraste, tinha ainda uma outra abordagem, e não menos importante. A saber :
3.- A projecção do “povo de esquerda” encontrava-se também aí de algum modo espelhado no registo sociológico da repartição partidária das intenções de voto, facto que omitiste mas que me pareceria relevante, considerando, como consideras, que os votos do PS são de esquerda.
4.- E os votos que o PS “perde” para a sua esquerda são de esquerda, o mesmo não se podendo dizer dos outros perdidos para a direita. Não te parece ?
Aqui estou contigo,
“ …sem um sobressalto de unidade e de inteligência colectiva do povo de esquerda e dos partidos que nele têm raízes, corremos o risco de uma prolongada agonia política sob a égide institucional dos autómatos neoliberais…”
5.- Daí ter trazido à colação as “emoções” que por vezes toldam a “razão” e encaminham as n/ análises num sentido unidireccional. As minhas, como as tuas.
6.- Com DAMÁSIO direi que "… a relação entre emoção e a razão….sugerem, no entanto, que o fortalecimento da racionalidade requer que seja dada maior atenção à vulnerabilidade do mundo interior."

Caro Horta Pinto,
1.- Estou de acordo quanto à maior parte das considerações que teces à volta do PCP, mas, e há sempre um mas,
2.- Eu sou do BE, sendo certo que não será essa condição que me fará confundir o “povo de esquerda” que se revê na CGTP com os seus líderes e orientação política, da mesma forma que não confundo os apoiantes da UGT com o João Proença.
3.- E já agora, a "relíquia museológica" não pode ser separada da sua base social de apoio, quantas vezes "útil", e mesmo indispensável, como então disse Mello Antunes ( aliás o teu exemplo do Manuel Alegre é elucidativo ).
4.- E não falei em formar governo, pois que para isso já lá temos os partidos do "arco" sempre e apenas constituido com os partidos à direita do PS

Um forte abraço para ambos.
( bento )