terça-feira, 12 de outubro de 2010

Longe da política - eleições dentro do PS

A propósito das recentes eleições, realizadas nas Federações do PS, em Coimbra, Lisboa e Porto, foram revelados alguns episódios, que embora longe de serem novidade, são factores de forte desprestígio para o partido. E também foram demasiado ostensivos para passarem despercebidos.

Não conheço as reacções dos candidatos que se sentiram prejudicados nas Federações do Porto e de Lisboa, mas sei, pela comunicação social, que o candidato, relativamente ao qual os números difundidos dão como derrotado em Coimbra, vai contestar os resultados apurados e talvez recorrer aos tribunais.

Aliás,estes últimos episódios mostram como tem actualidade o que a moção Mudar para Mudar, apresentada no Congresso Nacional do PS de 2009, de que fui um dos subscritores, defendeu a propósito das eleições internas no PS.


Começava por sustentar que: “É necessário e urgente aprofundar a democracia interna do PS, abrir o partido à sociedade e modernizar as suas estruturas, práticas e imagem,..”. E mais adiante defendia expressamente a: “Instituição de regras e meios de transparência nas eleições internas, que assegurem condições de de­mocraticidade efectivas, com igualdade para todos os candidatos e pesadas sanções disciplinares para as irregularidades processuais, as pressões e expedien­tes ilegítimos” .

E, detalhando um pouco mais o que defendia, acrescentava: “No segundo plano, situa-se o imperativo de aper­feiçoar a democraticidade e a transparência de todas as eleições internas do PS. Aperfeiçoamento da democratici­dades, cujo sentido pode ser dado, a título de exemplo, e como exigências mínimas, através de duas ou três regras.
A primeira regra a fixar deve ser a do financiamento interno das campanhas ser da responsabilidade do próprio Partido, de modo a que nenhum candidato possa investir na campanha dinheiro seu, ou que lhe tenha sido dado pes­soalmente.
No mesmo sentido, os órgãos executivos do parti­do estarão obrigados a ser neutrais nas disputas internas, cabendo-lhes organizar todas as sessões de esclarecimento dos candidatos, as quais só poderão realizar-se com a pre­sença de representantes de todas as candidaturas concor­rentes.
Por último, deverão ser instituídos mecanismos de controle e aplicar sanções disciplinares a membros do PS responsáveis por qualquer tipo de pressão sobre os militan­tes para lhes condicionar o sentido de voto, bem como por irregularidades processuais ou tentativa de trocar favores por votos.”


Muitos dos que, olimpicamente, ignoraram as posições que então defendemos, tratando-as como coisas menores, sentiram agora na pele as consequências da sua não adopção. Muitos dos que despercebidamente no passado adoptaram procedimentos equivalentes, beberam agora do cálice que antes deram a beber.


Mas, ao contrário do que podem alguns pensar, uma mão, neste caso, não lava a outra. Pode ter ganho A ou B, por um voto, por 46 ou por 150, mas quem perdeu um pouco mais da sua credibilidade foi o PS no seu todo. E não se iludam, o que antes era engolido em silêncio tende a deixar de o ser, o que antes era admitido constrangidamente vai cada vez mais deixar de o ser, o que antes azedava um pouco vai azedar mais.


E nem sequer está apenas em causa a legalidade e a conformidade com os estatutos, embora o seu respeito completo não possa deixar de ser exigido. O que está em causa, primariamente, é a indecência de certos comportamentos, que não apareceram como novidade nestas eleições, mas nem por isso são menos censuráveis.


Uma coisa é certa: todas as pequenas falcatruas, todas as habilidades dirigidas à simples captação de votos, todas as pressões sugerindo troca de votos por favores, todas as pequenas e grandes parcialidades das estruturas formais do partido, são uma negação peremptória da ética republicana. E a retórica empolada que proclame, grandiloquente, uma teoria que desconsidera, radicalmente, na prática, seria apenas ridícula, se não pudesse vir a ser trágica.

6 comentários:

JGama disse...

Se isto não muda, aumentará a indiferença. Não tem que mudar só o processo, os métodos, as regras do jogo. Também tem que mudar o plano da coerência: coerência no discurso e nas atitudes. Eu quero descobri-la em muitos dos dirigentes ou candidatos a dirigentes e não a encontro. Admito estar a perder capacidades de visão, mas continuarei a procurá-la enquanto o cansaço não me vencer.

Anónimo disse...

PS: precisa-se TRANSPARÊNCIA !!

Parece que nas ''folhas de couve electrónicas'' das estruturas locais/federativas ainda se esboçou a apresentação de resultados por Secção, por Concelhia e geral, com nº de eleitores/militantes, votantes, abstenções, nulos, em TOTAIS e percentagens ...

porém, depois, uns clarividentes e 'burrodimocratas' sabujos resolveram eliminar esse tipos de dados ...
remetendo os militantes e cidadãos em geral para a usual opacidade e estupidificação.

Parece que a transparência amedronta muita gente !

'glasnost' FAULisboa

Manuel M. Oliveira disse...

De acordo com análise do camrada Rui namorado e com o anonimo "glasnost" da FAUL Lisboa.
Mas não sou anónimo, apoiei o Movimento "Porto de Esperança" de que não me arrependo, e tenho esperança que as coisas mudem na FDPorto.

Vou "roubar" post para colocar n/ blogue.

Anónimo disse...

Só os consegues vencer, se fizeres o mesmo que eles!
Não se combate com ética quem a desconhece, e a não pratica, em absoluto!!!
E quem o fizer, é melhor que dedique o seu tempo e energia a obras sociais e filantrópicas porque o círc(o)ulo é vicioso e viciante!

Socialista de Coimbra

Rui Namorado disse...

O alegado "socialista de Coimbra" cautelosamente anónimo é , provavelmente, sincero, mas não vê que a quebra de honestidade, mesmo prejudicando a outra parte, apouca irremediavelmente quem a pratica.

Aliás, a sugestão de que a honestidade é indispensável em "obras sociais e filatrópicas", mas pode ser contraproducente na vida política,é uma crítica implícita à vida política de uma intensidade devastadora.

Como pode um Partido, que só faz sentido existir se protagonizar a luta por uma sociedade mais justa, conviver com uma ofensa grosseira às regras democráticas do seu convívio interno ?

Se num Partido combater "com ética" for sinónimo de derrota, não é a ética que deve ser esquecida é esse Partido que deve ser dissolvido.

Anónimo disse...

Nem mais Rui Namorado. Estes srs não se sabem comportar democraticamente. A ansia desmedida pelo poder ira levar ao colapso dos partidos politicos. O que se passou, e esta a passar, em Coimbra demonstra bem o inicio desse colapso.
Torga tinha,e tem, razão.