sexta-feira, 14 de maio de 2010

O turbilhão

Com autorização do autor, vou transcrever mais um texto de J.L.Pio Abreu sobre o Estranho quotidiano que nos envolve. A crónica intitula-se O turbilhão, tendo sido publicada hoje no Destak. Ei-la:



O turbilhão

O último fim de semana foi histórico neste mundo global. O capital circulava à volta do globo e fazia turbilhões mais rápidos do que aqueles que a atmosfera engendra. Na Europa, num dia se perderam milhões, no outro dia tudo estaria perdido se ela continuasse a dormir. Melhor: se os nossos políticos não se soubessem entender a uma velocidade compatível com a dos cliques electrónicos.

Não era caso para menos. Por bem ou por mal, vivemos hoje dependentes dos fluxos de dinheiro que circulam pelos discos duros dos computadores. Aos políticos eleitos cabe governar dos povos que os elegeram. Mas eles deixaram-se adormecer quando acreditaram nas virtualidades da livre circulação do dinheiro transaccionado nos mercados. Enquanto os governos antigos se entregavam nas mãos de Deus ou da Glória Nacional, os governos actuais iam-se entregando nas mãos do Mercado.

Mas os mercados são feitos e dirigidos por homens. Não homens como nós, que nos vemos face a face, vivemos uns para os outros e aceitamos alguma frugalidade em troca da sã convivência, mas homens vidrados nos computadores e cegos para tudo o que não seja a sua ganância. E estes são implacáveis. Seriam capazes de destruir milhões de pessoas em troca de ganhos chorudos. Foi o que esteve quase a acontecer.

Neste fim de semana, os políticos europeus subverteram a lógica dos mercados ao criarem uma barreira de dinheiro fora da livre circulação. Assumiram a sua responsabilidade perante quem os elegeu, e demonstraram que a inteligência pode vencer a irracionalidade predadora.
[J. L. Pio Abreu]

1 comentário:

Carta a Garcia disse...

Caro Rui,
Fiz link do Turbilhão.Abraço para ti e para o Pio Abreu.

Osvaldo Castro