sábado, 29 de maio de 2010

Uma esquerda mansa dentro do PS


Há uma esquerda mansa dentro do PS que murmura de vez em quando a sombra de uma ligeira discordância circunstancial com a direcção do partido, para que se desconfie que possa existir.

Move-se com discreta elegância, como um fantasma de uma terceira via de cuja órbita verdadeiramente nunca fugiu, embora sempre tenha mantido a necessária distância para não ser salpicada pelos desastres que ela protagonizou.

Nos órgãos do PS, resguarda-se de fazer ouvir a sua voz, deixando por vezes a subtil demarcação de um sorriso céptico como grau máximo da ostensibilidade que consente a si própria na crítica à linha dominante.

Na comunicação social ou na blogosfera, concede por vezes uma ideia, onde se surpreende um perfume de demarcação em face do Governo ou perante a direcção do partido. A comunicação social noticia a inesperada sombra dessa nuvem passageira.

Ela não gosta do Manuel Alegre como possível candidato apoiado pelo PS. Preferia talvez um português suave que sussurrasse uma campanha serena, susceptível de fazer com que as cinquentonas melancólicas regressassem à breve primavera de um voto. Preferia talvez um candidato sem alma que nos dissesse uma prosa lisa e nos aconchegasse num território centrista, sem gritos e sem arestas. Ou seja, a esquerda mansa, que vive pé ante pé, dentro do PS preferia um candidato asséptico de fato cinzento e gravata azul cobalto, que nos fizesse repousar a todos numa hipotética harmonia universal, para onde felizes se encaminhariam em romaria os apreciados votos do alegado centro. Velha ideia, velha ilusão.

E no meio de uma tão discreta mansidão, pergunto-me: Mas afinal que pequenas coisas ou que grandes cálculos separam estes camaradas da direcção actual do nosso partido ?

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