O senador Aloizio Mercadante, um dos mais destacados dirigentes do PT, é candidato ao Governo de S.Paulo nas próximas eleições, tendo sido até há pouco líder da bancada que apoiava o Governo no Senado. O jornalista Celso Marcondes entrevistou-o para a importante revista brasileira de grande circulação CartaCapital . Permitimo-nos transcrever alguns extractos da longa entrevista que aí foi publicada.
Recorde-se, entretanto, que no Estado de S.Paulo , o PT é oposição, ao Governador cessante do PSDB, José Serra, que é o candidato da direita às próximas eleições presidenciais brasileiras.
A entrevista é assim apresentada num pequeno texto introdutório: “O senador Aloizio Mercadante, pré-candidato ao governo de São Paulo pelo PT, deu uma longa entrevista à CartaCapital dia 10 de maio último. Criticou duramente a gestão tucana no Estado, avaliou a conjuntura nacional, as chances de Dilma Rousseff e as realizações do governo Lula. Comemorou as articulações para ampliar a frente partidária que lhe dará suporte e falou sobre os principais pontos de seu futuro plano de governo” .
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CartaCapital : Vamos falar um pouco de programa de governo. Na convenção do PSDB que lançou o Alckmin, o discurso dele e do Fernando Henrique em particular, foram destoantes da linha que o Serra ameaça desenvolver na eleição presidencial, digamos, menos beligerante. Serra tinha falado até em governar todo mundo junto, chamar o PT e o PV para governar...
AM: Eu acho que na convenção eles falaram de improviso. Não foi o marketing que escreveu o discurso. E de improviso eles falaram o que sempre foram. Na verdade, o PSDB sempre foi contra o Lula, fez de tudo para não existir o governo Lula, e ainda repete uma parte do discurso do Fernando Henrique, novamente tentando dizer que se a Dilma ganhar a eleição pode ser um desastre, disse “que Deus nos socorra”, algo como tentando retomar uma retórica do medo, que eu achei que já estava totalmente ultrapassada, porque eles foram derrotados com essa retórica, a esperança venceu o medo. E também porque o governo Lula teve um êxito inquestionável. É o presidente mais popular da história do Brasil, talvez a personalidade com mais prestígio internacional da história do país internacionalmente. Recebeu prêmio do El País, da Espanha, do Le Monde Diplomatique, da revista Time dos EUA, do Fórum Econômico Global, agora da ONU como campeão mundial de combate à fome, um prestígio, uma liderança, que é impressionante. O País hoje tem inflação menor que a do governo do Fernando Henrique Cardoso, a economia cresce duas vezes mais do que crescia nos 25 anos anteriores a ele. No IBGE, que tem sessenta anos de história, foi a maior redução da pobreza, 23 milhões de pessoas deixaram à linha da pobreza, com a ampliação da classe média, mais de 32 milhões de pessoas. Da história documentada do IBGE, o índice Coeficiente de Gini que é um índice inquestionável, é o melhor evolução que nos tivemos. Os mais pobres tiveram um ritmo de crescimento, no governo Lula um ritmo chinês em torno de 9% ao ano, isso em 7 anos. O salário mínimo cresceu 74%, o Bolsa Família atinge dois milhões de famílias, o crédito consignado massificou o consumo popular. O Minha Casa Minha Vida já tem 410 mil casas sendo construídas e contratadas. O Prouni atinge 726 mil famílias que estão sendo beneficiadas.
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CC: Mas o senhor acha que a identificação da Dilma com o Lula já está clara para a maioria da população?
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CC: Mas o senhor acha que a identificação da Dilma com o Lula já está clara para a maioria da população?
AM: A minha visão, é que essas coisas só vão ficar claras a partir de agosto, quando a televisão for para o ar. A Dilma vai ter quase metade do tempo de televisão da campanha, nunca tivemos isso. Em 2002 nós tínhamos 21% e o Serra tinha 47% do tempo de televisão, agora vai inverter, ele vai ter em torno de 26%, 27% e a Dilma deve ter em torno de 50% do tempo de televisão. Nós vamos poder mostrar uma coisa que o Brasil sente. 75% dos brasileiros apoia o governo Lula, porque o País cresce, tem estabilidade, foi precavido em relação à crise; nós somos hoje o segundo maior produtor e exportador de alimentos do mundo, a safra agrícola é recorde este ano, com149 milhões de toneladas, o pré-sal aponta uma perspectiva fantástica para a economia brasileira. Nós criamos um mercado interno de massa, que é o que faz o Brasil crescer hoje, porque a Europa está mal, o Japão e os EUA continuam com dificuldades e o Brasil retomou um crescimento de mais de 7% nesse primeiro trimestre. Então, meu livro vai contar isso detalhadamente, é um balanço do governo, o prefácio é do Lula. Chama-se “O Brasil, a Construção Retomada”. Acho que vai ser um bom momento para o debate político. Eu usei a “construção retomada” dialogando com “o Brasil construção interrompida”, do Celso Furtado. Eu publico uma carta em que ele me mandou em 2002, aonde ele dizia a angústia que sentia em relação ao período neoliberal, as dificuldades do país, ele achava que ia ser muito difícil dar um salto histórico, mas achava que era possível, que as nossas propostas caminhavam nesta direção. Ele não viveu para ver, mas a gente retomou a construção da nação.
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CC: E dá para adiantar para nós a questão central que aborda no livro?
AM: Eu acho que vai dar uma bela discussão, falo sobre como foi colocar o social como eixo estruturante do econômico e criar um mercado de consumo de massa, que era nosso projeto desde a origem. Porque nós fizemos a “Carta ao Povo Brasileiro” para fazer uma transição, na medida em que nossa margem de manobra era muito pequena quando nós chegamos. A crise cambial, a taxa de juros estava em torno de 27,5%, a inflação estava em 17%, então se precisava de uma política de transição, para criar condições, acúmulo de forças, governabilidade, para implantar um modelo onde o social fosse o eixo estruturante do econômico, porque esse que é o novo desenvolvimentismo que o Lula trouxe: o protagonismo internacional do Brasil, a liderança dos países em desenvolvimento, a integração regional da América do Sul. Foi um trabalho que me deu muito orgulho de ter participado como líder do governo. Esse balanço do governo Lula é muito importante para a disputa em São Paulo. Eles estão aqui no governo há 27 anos, 16 anos com o PSDB, o Alckmin foi governador por 12 anos, seis anos governador, seis anos vice-governador, e mais um ano e quatro meses como secretário de governo. Então, eu não posso comparar um governo que eu não fiz com um governo em que eles estão tanto tempo se alternando. Eu posso comparar o governo que nós fizemos no Brasil, com o governo que eles fizeram no Brasil e posso destacar o que do governo Lula nós fizemos em São Paulo.
CC: No debate do Sérgio Guerra com o José Eduardo Dutra (presidentes do PSDB e do PT) Guerra insistiu que o governo Lula era uma continuação da política econômica e dos programas sociais do governo Fernando Henrique, que Lula não fez outra coisa senão adaptar tanto a política econômica quanto os programas sociais.
AM: Evidente que, primeiro, a política externa é outra. O Serra disse que acha o Mercosul um desastre e nós investimos muito na integração. Nossas exportações para o Mercosul cresceram duas vezes mais, que as nossas exportações para o resto da economia mundial. Investimos na integração regional, isso ajudou no protagonismo internacional do país. Investimos em sair da ALCA, por uma política de articular os países em desenvolvimento e recolocá-los em uma agenda global. Não nos acomodamos com o papel subalterno, secundário em relação ao G-20, nós implodimos o G-8 e criamos o G- 20.Nessa crise o Brasil presidiu o G-20 no momento da sua constituição, nós tivemos uma liderança inquestionável em Copenhague na agenda ambiental. E o presidente Lula é o presidente que mais vezes viajou à África, à Ásia, que mais viajou para a América Latina. Nós construímos realmente uma grande liderança internacional, que o mundo hoje aplaude e reconhece. Diferente da agenda de uma inserção subalterna que era o projeto deles. O Cavallo (Domingo Cavallo, ex-ministro da Economia da Argentina nos governos Menem e Fernando de la Rúa) também dizia que o Mercosul era um projeto que tinha que ter uma relação carnal com os EUA e nós fizemos uma outra construção histórica cujo resultado, na balança comercial e nas contas externas do país, foi exuberante.
CC: E quais as diferenças sobre o papel do Estado, tema que deve também ocupar um espaço importante na campanha?
AM: Nós retomamos o estado planejador, o estado protagonista, nós fortalecemos as empresas estatais. Eles venderam quase todo o patrimônio. Se você pegar a revista Exame em 2006, eles diziam temos que vender a Petrobras e o Banco do Brasil. Na crise o que nós fizemos? O Banco do Brasil empresta mais hoje do que todos os bancos públicos emprestavam em 2002. O BNDES hoje é maior que o Banco Mundial. Na Caixa Econômica Federal só de crédito imobiliário são 47 bilhões de reais, tem 410 mil casas sendo construídas na faixa de 0 a 3 salários mínimos e esse programa foi lançado no auge da crise. Uma política que nunca foi feita no passado. O que eles fizeram na crise? O Serra, vendeu a Nossa Caixa. No auge da crise, quanto estávamos usando os bancos públicos para fazer uma política de crédito em um grave cenário de crise de liquidez, eles estavam vendendo a Nossa Caixa. Aumentaram os impostos na capital, o IPTU, fizeram um programa de distribuição tributária em São Paulo que aumentou a carga tributária do estado, enquanto nós estávamos desonerando o setor estratégico, dando liquidez e colocando nos bancos públicos.
CC: Mas o Brasil tem ainda sérios entraves nas áreas de energia e infraestrutura, não é?
AM: Vamos começar pela Petrobras: eles venderam um terço por 5 bilhões de dólares. A Petrobras hoje vale 208 bilhões de dólares e é a 18ª maior empresa do mundo na bolsa, segunda maior empresa de petróleo do mundo. Isso e a descoberta do pré-sal mostram a força da Petrobras ao substituir importações na cadeia produtiva de petróleo. O Lula acabou de inaugurar o primeiro navio construído em Pernambuco, no estaleiro, que é uma coisa que foi construída nesse governo. A Ferrovia Norte-Sul está com 7 mil pessoas trabalhando, com uma velocidade fantástica, estava parada há 20 anos.E o que eles fizeram em ferrovias? Em 16 anos que eles governaram o estado de São Paulo? Venderam a FEPASA e privatizaram todo o setor ferroviário nacional, abandonaram qualquer planejamento de projeto estruturante sobre trilho. O modelo de estado era outro, a política externa era outra, a política econômica foi outra. Nós fizemos uma política econômica de um perfil keynesiano, inclusive na crise, anti cíclico, para retomar a capacidade de investimento e formulação de políticas públicas. O PAC é a reconstrução da capacidade de planejamento estratégico de projetos estruturantes de investimentos do estado, em parceria com a iniciativa privada, que o Brasil tinha perdido a ideia de planejamento, projeto estruturante, papel protagonista do estado no impulso de seu desenvolvimento. Nós somos, na realidade, o que um novo desenvolvimentismo e a marca fundamental desse novo desenvolvimentismo é o social como eixo estruturante do econômico. A ideia força desse governo foi criar um mercado de consumo de massa, eles diziam que se o salário mínimo crescesse a inflação voltava. Teve um crescimento de 74% do salário mínimo, eles jamais pensaram em um programa como o Prouni. Nunca existiu um Prouni antes, ele colocou 726 mil alunos na universidade com bolsa de estudos.
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CC: Mas, senador, apesar de tudo isso, como é que se explica essa distância tão grande do Alckmin nas pesquisas hoje em relação à sua candidatura?
AM: Quem foi governador e vice-governador doze anos e mais um ano e quatro meses como secretário, quem disputou a presidência da República e acaba de disputar a eleição para a Prefeitura, é natural que com essa exposição e essa presença, e com a mesma equipe se alternando no governo há vinte e sete anos, tenha esse posicionamento nas pesquisas. Agora se isso fosse uma intenção de voto consolidada, como é que se explica que ele (Geraldo Alckmin) saiu com 45% para a prefeitura (em 2008) e terminou com 22%, nem para o segundo turno foi há um ano atrás? A intenção de voto que ele tinha para a prefeitura é a mesma que ele tem hoje para o governo do Estado, só que nem chegou ao segundo turno. Eu acho que não é consistente e à medida que o debate avançar à medida que nós tivermos acesso à televisão e rádio para poder fazer esse debate aprofundado, nós vamos crescer. Na hora em que o Lula começar a se despedir do povo brasileiro definitivamente, eu acho que vai ter uma grande emoção e São Paulo, que durante tanto tempo, não acreditou que o Lula poderia ser presidente, um bom presidente e hoje aplaude, eu acho que pode votar no Mercadante e acreditar que é possível fazer em São Paulo o que nós já fizemos no Brasil. Um governo muito melhor do que o do PSDB.
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