Saiu no DESTAK mais uma manifestação do Estranho quotidiano que regularmente J.L.Pio Abreu traz ao nosso encontro. A sangria é o seu título, desta vez. Vou publicar o texto com autorização do autor. Ei-lo:
A SANGRIA
Antes do Século XVII, os médicos europeus prescreviam a sangria por tudo e por nada. Na verdade, eram tão incompetentes como grandiloquentes. Agarrados aos dogmas, pouco mais sabiam do que profetizar a desgraça com nomes sonantes ou prescrever sangrias. E mesmo estas eram executadas por barbeiros de casta inferior, pois os sacrossantos médicos não podiam sujar as mãos com o sangue dos desgraçados.
No século XVIII as coisas começaram a mudar por várias razões. Primeiro, os barbeiros tornaram-se cirurgiões e médicos, confiando mais na observação directa do que nos dogmas. Segundo, descobriu-se que a cólera vinha da água contaminada. Pasteur e a imunização viriam a seguir e, só no século passado, passaríamos a dispor dos antibióticos. Identificados os agressores – vibriões, bacilos, cocos, riquétsias, vírus – existem hoje várias formas de nos defendermos. A sangria desactualizou-se.
Parece que também existem comunidades – instituições e países – que estão doentes. Os seus médicos – os economistas – só sabem profetizar desgraças ou receitar sangrias. Do cimo da sua arrogância e dos seus dogmas, também eles entregam a sangria nas mãos da casta inferior dos políticos. Entretanto, vão-se conhecendo os nomes de alguns agressores: short-selling, naked CDSs, agências de rating, edge funds e outros. O remédio, porém, parece ser sempre o mesmo: sangria.
Não se percebe porque é que os tratamentos dos economistas são tão básicos. Mas há quem lembre que os médicos privados podem ganhar mais com a doença do que com a saúde dos outros.
[J. L. Pio Abreu]
1 comentário:
Excelente texto. A crise não é mais do que uma oportundade acrescida para os poderosos. Sei do que digo não em teoria mas na prática: Por exempo: sei quanto a ModeloContinente do Belmiro de Azevedo aproveita a crise para esmagar os pequenos fornecedores e sacar dinheiro para financiarem os seus novos empreendimentos.
Claro que tudo isto com a benção do PS
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