sexta-feira, 28 de maio de 2010

Reestruturar os Saberes na Universidade de Coimbra


O debate sobre a Reestruturação dos Saberes na Universidade de Coimbra, promovido pela respectiva comissão, está a atravessar uma fase penosa e talvez inconclusiva.

O texto que abaixo transcrevo é uma Declaração do Conselho Científico da
Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra
, do qual faço parte, sendo um testemunho expressivo de alguns aspectos do processo acima mencionado. Eis o documento:


" O Conselho Científico da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra, reunido no dia 26 de Maio de 2010, apreciou o documento com o qual a Comissão de Reestruturação dos Saberes do Conselho Geral da Universidade de Coimbra lançou a 2ª fase do debate sobre aquela matéria.
O Conselho considerou que o documento apresentado não trata com a devida prudência um assunto desta natureza. Assim como não se reuniram as condições mínimas necessárias para fundamentar o método de cenários com que se ilustram possíveis alternativas para o futuro da Universidade. Ao não reflectir sobre os efeitos negativos que, previsivelmente alguns dos cenários contêm, a Comissão não cuidou devidamente de assegurar um debate global e construtivo.
Por isso, o Conselho Científico da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra considera que esse exercício está ainda obviamente limitado por duas circunstâncias que justificam fortes reservas. O primeiro desses limites resulta do facto de o inventário e o diagnóstico das questões que, na Universidade de Coimbra, suscitam uma reflexão reestruturadora terem sido excessivamente circunscritos. Parece claro que a Comissão não ousou tratar todos os casos. Ao centrar o essencial da discussão em duas áreas principais e em duas Faculdades gerou um desequilíbrio pouco salutar.
O segundo problema é que o documento não preenche a condição principal para que o debate tenha o enquadramento adequado e a pertinência justificada – não define os termos epistemológicos em que um assunto deste género repousa nem explicitou qual é o objectivo estratégico que prossegue. De facto, não há uma reflexão sobre as principais questões que rodeiam a produção do conhecimento nas sociedades contemporâneas nem sobre os problemas a que se justifica dar resposta. Ao contrário, o documento centra-se excessivamente em arranjos organizativos e funcionais.
Parece, pois, que a 2ª fase agora aberta deve reconhecer a insuficiência do trabalho realizado e deve colocar como objectivo ultrapassar os limites mais notórios. Das tarefas que importa desencadear há-de fazer parte uma cuidada inventariação dos problemas epistemológicos que orientam a reflexão e as decisões, procedendo, designadamente, a audições que contribuam para superar os compreensíveis limites da própria Comissão. Não parece possível que um debate deste tipo assente num relatório tão parcial e num apelo difuso à
participação. Importa, pois, considerar interlocuções institucionais que não foram asseguradas até agora. A Comissão deverá, designadamente, assumir um diálogo construtivo com as instituições que compõem diferentes instâncias da vida universitária.
O Conselho Científico da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra declara-se disponível para contribuir positivamente para o aprofundamento da discussão, encaminhando-a para um patamar aceitável em que seja então possível encarar de modo fundamentado as reestruturações orgânicas que se justifiquem, de modo amplo e equilibrado.
O Conselho Científico deliberou ainda, em relação à eventualidade de uma futura arrumação das especialidades e grupos de disciplinas na Universidade de Coimbra, comunicar às autoridades académicas a sua disponibilidade para participar em soluções globais que venham a reestruturar a investigação e o ensino na Universidade implicando o conjunto das áreas disciplinares e a sua indisponibilidade para colaborar na distribuição eventual ou pontual de áreas disciplinares pelas unidades existentes na Universidade. "

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