Nalguns lagos da Europa, durante a idade média, quando uma mulher era suspeita de ter um pacto com o diabo, atiravam-na à água. Se flutuasse, era culpada e sentenciada. Se fosse ao fundo, coitada, era inocente. Aliás, a inquisição sempre funcionou assim. Os acusados eram torturados até à morte, ou até se considerarem culpados. Neste caso, cessava a tortura e celebrava-se a execução.
Os inquisidores, apoiados pelo público que apreciava o espectáculo, convenciam-se de que estavam a fazer um trabalho meritório. Eles eram feitos da mesma massa que nós, e não tenho dúvidas de que, se olharemos à nossa volta, encontraremos pessoas dispostas a desempenhar o mesmo papel.
Aliás, nem é preciso olhar à volta, basta ligar a televisão. Os nossos parlamentares, transformados em comissão de inquérito, dão-nos uma imagem do que poderia ser a inquisição moderna. Os seus objectivos – descobrir quem sabia de um negócio que não chegou a existir – são tão imaginários como os pactos com o diabo. Os seus métodos, com desprezo pelo contraditório, servem apenas para justificar as suspeições.
Além disso, boa parte do público aplaude. De facto, ele sente-se aliviado porque pode dirigir a sua zanga contra os bodes expiatórios apresentados como responsáveis por todas os males. A única coisa que falta é o espectáculo da fogueira. Não porque muitos o não desejassem. O problema é que a notícia correria mundo, e o mundo civilizado não deixaria que isso acontecesse na Europa de hoje. [J.L.Pio Abreu]
2 comentários:
E diziam que eu era maluco por me fazer lembrar a Inquisição...
Torquemada, afinal, deixou sementes de veneno.
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