“Passou quase um mês sobre o dia das eleições para a Comissão Política Concelhia de Coimbra do PS. Uma quietude sombria parece ter-se apossado novamente da vida política interna. Apenas uma pausa natural para o render da guarda? Esperemos que sim.O combate foi renhido. O vencido (Carlos Cidade) chegou aos 408 votos (43,6 dos votantes), conseguindo 27 eleitos. O vencedor (Henrique Fernandes) teve 528 votos, alcançando 34 lugares na Comissão Concelhia. Juntos obtiveram 936 votos; ou seja, menos de metade dos militantes inscritos no Concelho. Não é inédito, mas é um facto que não deve ser atirado para debaixo do tapete.”
Do Diário de Coimbra de hoje, retiro o seguinte fragmento de texto:
“Carlos Cidade é o novo presidente da Comissão Política Concelhia de Coimbra do Partido Socialista (PS), depois de, nas eleições de ontem, ter derrotado Paulo Valério por números esclarecedores. O candidato da lista A, sob o lema “A Mudança Responsável - Coimbra Vale a Pena”, obteve 69,06 por cento dos votos, enquanto a lista B, com o slogan “Coimbra Com Futuro”, conquistou 30,03 por cento.
Depois de, em 2008, ter sido derrotado por Henrique Fernandes, Carlos Cidade, à segunda tentativa, chegou à presidência da Concelhia de Coimbra do PS mercê dos 663 militantes que confiaram no seu projecto. Nas eleições de ontem, votaram 960 socialistas, tendo Paulo Valério recebido 292 votos. Contas feitas, a lista A conquistou 43 mandatos contra 18 da lista B.”
Comparando os dois resultados, sem prejuízo de ulteriores comentários mais aprofundados, algumas conclusões óbvias podem ser retiradas:
1- Carlos Cidade, que em 2008 era o candidato de oposição à linha dominante na Concelhia e na Federação, dispunha em 2010 da larga maioria dos rostos mais visíveis da actual maioria da Federação de Coimbra, embora tivesse continuado a contar com apoiantes seus de 2008.
Vencido em 2008, saiu agora vitorioso. A mudança atrás referida e alguns meses de campanha fizeram com que subisse de 408, em 2008, para 663 votos em 2010, superando assim os 528 votos que Henrique Fernandes conquistara em 2008. A lista de Carlos Cidade vai ter na actual Concelhia 43 lugares, contra os 27 de que dispunha na anterior.
2. Paulo Valério, que assumia em 2010 uma posição correspondente à de Carlos Cidade em 2008, ficou-se pelos 30, 03 %, com direito a 18 mandatos na CPC. Bastante abaixo do que Cidade conseguira em 2008 (43,6% com 27 eleitos).
O que a nota informativa da Plataforma Socialista dizia no início da semana, acabou por se confirmar.
De facto, como então dissemos:”Nesta eleição abstemo-nos de votar em qualquer dos dois outros candidatos anunciados, o que significa que a nossa opção, muito provavelmente, coincidirá com a posição que irá ser tomada pela larga maioria dos membros do PS, filiados no Concelho de Coimbra”.
Concluindo: acho que a continuação em 2010 do alheamento de uma tão grande percentagem de militantes, já detectado em 2008, evidencia a continuidade de uma estagnação política realmente preocupante. As habituais trombetas da vitória, bem como as mastigações da derrota, com os seus lugares comuns de auto-satisfação, deviam moderar-se, para que se desse espaço para uma análise atenta à persistência do alheamento referido.
2 comentários:
O PS, teve na sua génese um grupo de pessoas que reflectiam sobre os problemas do país e que avaliava da correcção ou não das suas análises em debates não condicionados por uma estratégia de poder pelo poder. Quando começou a dispor de poder, e o país, fruto de fundos da EU, começou a dispor de dinheiro, surgiram militantes cuja estratégia passava não por servir o país, mas sim por se servir do país. E, o que é grave, é que eram bons naquilo que se proponham. Conseguiram alcançar o poder e liderar o PS, anestesiando, através de sinecuras, algumas das vozes críticas e desvalorizando outras. Deixou de haver massa crítica no PS.
De há uns tempos a esta parte os “lideres” contradizem hoje, as afirmações de ontem, com todo o despudor, porque não há militância, há autistas. Exemplo recente do que acabo de afirmar foi a reunião de 28 no Rato, promovida pela actual Concelhia - que cumprindo com o seu programa, tem-se revelado activa - , onde Santos Silva, entre outras coisas, garantiu hoje que as reformas na Segurança Social são as ajustadas. Dos que solicitaram a palavra para intervir, ninguém questionou o facto de o mesmo ter sido dito naquela sala, há cerca de 10 anos, com os mesmos intervenientes. Também ninguém questionou a retirada de apoios a desempregados com filhos menores, que recentemente o governo tinha implementado. Como não foi questionada, como se fosse uma verdade insofismável, que a crise actual é mundial. È mundial. Num processo de globalização como o actual não há economias estanques, mas a crise afecta diferentemente os países, sejam ou não da zona euro. As agências de rating não desvalorizaram, por exemplo, a notação da Holanda, país da zona euro.
Ouvido Santos Silva, ficava-se com a noção de que o país não tinha problemas. Aliás, ao meu lado, estava um militante, que no início começou por preencher um boletim do “euromilhões” que no final do discurso de Santos Silva, rasgou, tal a convicção de que não necessitava de um milagre para sair da crise, que o mesmo estava ali, á sua frente.
Um partido em que não há crítica, apenas louvores e hosanas aos ”líderes”, em que militância foi substituída pelo autismo, terá um futuro pouco promissor.
Felicito o camarada Rui Namorado pela lúcidez da análise que faz ao estado do PS no Concelho de Coimbra.Infelizmente, depois de alguns linchamentos populares e outros tantos afastamentos, sobram como quadros partidários aqueles que não têm lugar na sociedade.Aconteceu assim na CPC e vai acontecer o mesmo para a Distrital.Sinais dos tempos...
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