Na sua coluna "Estranho Quotidiano", publicada regularmente, no DESTAK, J.L.Pio Abreu publicou mais um dos seus textos [O meu umbigo], tendo-me autorizado a que aqui o reproduzisse. Ei-lo:
Com as eleições de domingo, os defensores do liberalismo económico saíram reforçados na Europa. Curiosamente, isto ocorreu num contexto de crise que, reconhecidamente, foi provocada pelos excessos da economia liberal. Muito provavelmente, foi a própria crise que levou a estes resultados. Ou seja: o liberalismo provocou uma catástrofe que, por sua vez, o reforçou. Porquê?
É certo que a crise nasceu nos Estados Unidos de Bush e que a democracia americana lhe deu a resposta apropriada. É também verdade que a Europa, gerida por associações partidárias tão dispersas quanto fechadas e irritantemente submissas ao tio americano, apenas se debateu com os ecos tardios da crise. Finalmente, um cidadão europeu não se sente, de facto, tão europeu quanto um americano se sente americano. Talvez se trate pois de um problema de identidade.
Em tempo de crise, a crispação aumenta e a identidade retrai-se. Que importa pensar na Europa se antes está o País? E antes do País os amigos, e antes deles a minha casa. E, mais do que a casa, importa o meu umbigo. Como não pode votar nele, o meu umbigo vota contra tudo o que é visível. Contra o parente, contra o vizinho, contra o imigrante, contra o Governo, contra o Estado e até contra a Europa.
Com tanto bode expiatório, o Banco Central Europeu agradece o enfraquecimento dos Estados nacionais e continuará livre para forçar pessoas, empresas e países endividados a recorrerem ao mercado e assim se endividarem ainda mais. É certo que o meu umbigo vai pagar, mas ele não tem olhos para ver ao longe.
[J. L. Pio Abreu ]
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