domingo, 1 de maio de 2011

MAIO AUSENTE

Este livro de que sou autor, Maio Ausente, foi publicado em 1970 no Cancioneiro Vértice, colecção em que haviam sido publicados livros de Fernado Assis Pacheco ( Cuidar dos Vivos ), José Carlos de Vasconcelos ( Corpo de Esperança), Manuel Alegre ( Praça da Canção), Joaquim Namorado (A Poesia Necessária) e João José Cochofel ( Quatro Andamentos).

Em homenagem ao 1º de Maio resolvi transcrever aqui o poema integrado nesse livro, O Vinho Necessário, na medida em que foi de um dos seus versos que surgiu o título do livro. Os últimos três versos são aliás premonitórios, tendo sido escritos vários anos antes do 25 de Abril.

O Vinho Necessário

O meu país é um copo vazio
a um canto da Europa gangrenado

Os lábios usuais morreram já
falemos pois do vinho necessário
falemos das sementes e da esperança
da cólera madura repetida
do murro que se abate sobre a mesa

Critico a memória apenas doce
do tempo já perdido
critico os lábios em posição de espera

A sede só por si não é o vinho
e as uvas apodrecem na tristeza
o copo mais vazio e mais antigo

Abril consentido maio ausente
novembro muito triste sempre triste

apenas estar aqui não é viver

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