quinta-feira, 26 de maio de 2011

INTERPELAÇÃO À ESQUERDA SOCIALISTA

1. Durante cerca de uma semana, esperei uma tomada de posição pública da corrente de opinião interna do PS, Esquerda Socialista[ES], a propósito de uma notícia amplamente difundida na comunicação social. Esperei na mimha qualidade de militante socialista, que aliás no mais recente Congresso do PS afirmou explicitamente que não apoiava, nem nenhuma das moções, nem nenhum dos candidatos. Isso não me impede de respeitar a vontade expressa pelos militantes do PS, no seio dos quais quero continuar um combate político que integro no exercício da minha cidadania. Mas contribuiu, também, para essa minha expectativa o facto de eu ter sido um dos fundadores da Esquerda Socialista, da qual só me desvinculei no passado dia 21 de Abril.

Esperei uma tomada de posição da ES, a propósito da seguinte notícia que transcrevo do site de um grande jornal diário, que fazia ecoar um outro:

“O militante socialista Henrique Neto revelou ao “Diário de Notícias” que não vai votar no PS no próximo dia 5 de Junho. Não estando ainda certo sobre quem recairá o seu voto, Neto diz que a opção deverá ser o PCP.“Vou votar, mas não vou votar no PS. Tenho consciência de que isso levanta grandes problemas mas o País está primeiro”, justificou Henrique Neto ao “DN”.Já em Novembro do ano passado, numa entrevista arrasadora ao Negócios, Henrique Neto disse que
José Sócrates é “um vendedor de automóveis" e que "está no topo da pirâmide dos que dão cabo disto".Henrique Neto foi militante comunista até 1975 e mais tarde ingressou no Partido Socialista.”

E esperei essa tomada de posição, pelo facto de Henrique Neto integrar a Comissão Nacional do PS, por via da Moção apresentada pela “Esquerda Socialista”, sendo portanto um dos seus representantes na direcção do PS.

2. Na verdade, sendo trivial e natural que qualquer cidadão exprima publicamente as suas simpatias e antipatias políticas, bem como as suas preferências partidárias e o seu sentido de voto em eleições, já o mesmo não acontece se esse cidadão é dirigente de um partido político que concorre a essas eleições. Na verdade, quem há pouco mais de um mês aceitou ser eleito para uma Comissão Nacional, no âmbito do mesmo processo que em fase anterior tinha reconduzido José Sócrates à liderança do PS, certamente não porá em causa a legitimidade do processo que o escolheu a ele e a Sócrates. E assim não terá como eximir-se a uma ética de respeito pelas regras de funcionamento do Partido que se comprometeu a cumprir, quando a ele aderiu livremente e ao qual ninguém o constrange a continuar ligado.

De facto, eu não vislumbro qual é a ética política que pode legitimar esse comportamento; ou seja, haver alguém que sendo ( e continuando a ser) dirigente nacional do PS diga publicamente o que Henrique Neto disse. De facto, sendo certo que o Governo será liderado pelo PS ou pela direita, o que é ali dito é que HN prefere um governo liderado pela direita do que liderado pelo PS. Muitos ( mas nem todos os ) portugueses pensam como ele, mas não são dirigentes nacionais do PS; e espero que não sejam a maioria.

3. Ora, eu tenho bem presente que a ES na sua moça de orientação Portugal Positivo afirma: “ Colocamos a Ética no topo das preocupações da nossa intervenção”. E, sendo assim, eu acho poder perguntar: A Esquerda Socialista aceita como natural , quer em termos éticos, quer em termos políticos, a tomada de posição acima citada, publicamente tomada por Henrique Neto, que foi eleito para a Comissão Nacional do PS por indicação sua? Os membros da ES partilham, todos eles a posição assumida publicamente pelo seu camarada de corrente? Se não partilham que consequências práticas daí retiram?

4. Para concluir, vou comentar brevemente uma frase, que também me envolve, extraída de um documento recente da ES, publicado no respectivo site : “ A saída dos camaradas de Coimbra (processo que vem de longe) assinala claramente a mudança de natureza (Clube de Reflexão) para Corrente Política”.

Pode parecer na sequência desta pequena alusão que eram apenas desse tipo as razões que levaram a totalidade dos membros de Coimbra da ES a saírem dela. Ora, para desfazer essa eventual impressão, acho útil lembrar um extracto do documento em que foi comunicada essa saída : “… ficou clara uma diferença de atitudes políticas em face do partido e da conjuntura que atravessamos.

Nomeadamente, viu-se que a intensidade do nosso cuidado em nunca sermos objectivamente confundíveis com os adversários externos do PS, em nunca deixarmos que possa sequer parecer que somos absorvidos pela agenda política e pelos argumentos da direita, não era partilhada por muitos, nomeadamente, por alguns dos presentes, quer com papel liderante na reunião, quer com apreciável visibilidade mediática. “

O episódio que suscitou este texto mostra que os nosso receios não eram imaginários. Espero pois que a ES encontre em breve uma oportunidade par tornar pública a sua posição, enquanto corrente de opinião interna do PS, sobre a notícia acima transcrita.

10 comentários:

Pedro Miguel Martins disse...

Caro Camarada:

O PS é um Partido pluralista onde não há delito de opinião.
Henrique Neto tem o direito de expressar a sua opinião que só o vincula a ele.
Deste modo, a COES não deve reagir, na medida em que a posição do nosso camarada Henrique Neto não se confunde com a posição da Corrente de Opinião.
Aliás, aderi recentemente à COES, entre outras razões, porque me parece ser um espaço onde pontifica uma grande liberdade individual de livre expressão e tomada de posição.

Um abraço fraterno e solidário.

Rui Namorado disse...

Olá Pedro.

"Livre expressão" ? Mas o que tem a ver a questão em concreto com a "livre expressão "? O que me espanta é alguém pensar suficientemente mal dum partido para dizer o que foi dito e continuar a fazer parte dele.

E politicamente a COES precisa de ter uma posição clara.
E se digo isto não é por pessoalmente isso me fazer qualquer diferença. Apenas acho que a COES representa a sedimentação de muito tarbalho político que é pena ver ir por água abaixo por causa de atitudes individuais como a que está em causa.

Mas acho que há pelo menos uma boa notícia para a COES; tem, pelo menos, um "cristão-novo" cheio de fé.

Sem acrimónia.

Rui Namorado

José Alexandre disse...

Caro Camarada,

Relativamente a essa questão tão importante para a vida política que é o Camarada Henrique Neto ter dito que não votaria no PS..., eu também penso que esse é um problema do Henrique Neto. Outra questão é saber se a Corrente Esquerda Socialista, da qual também sou um "cristão novo", deve tomar posição e se deve "retirar-lhe a confiança". Bem, sobre isso, tenho a dizer o seguinte: o (in)cumprimento de eventuais deveres de militante cabe ao Partido apurar, não competindo à Corrente de Opinião fazê-lo ainda que a título de posição.

Um abraço

José Alexandre Ribeiro

Pedro Miguel Martins disse...

Meu caro Camarada,

Creio que não está a ver a situação com a devida lucidez e se está a deixar contaminar por uma certa animosidade em relação ao nosso Camarada da Marinha Grande.
Henrique Neto não "pensa suficientemente mal" do Partido Socialista, ele "pensa suficientemente mal" do José Sócrates. É totalmente diferente.
PS, significa Partido Socialista e não, aquilo em que lamentavelmente se tem vindo a transformar, Partido do Sócrates.
Quem assistiu ao último congresao, como nós, teve oportunidade de constatar o mais deplorável e deprimente espectáculo de culto do CHEFE, tão característico de outro tipo de situações...
Reitero, a COES tem um membro - Henrique Neto - que tem liberdade para tomar as posições que entender, havendo na Corrente de Opinião quem tenha outras opiniões.
Naturalmente.

Abraço.

Rui Namorado disse...

Rui Namorado disse...
Bom dia, camaradas.

Só posso congratular-me com o facto de se terem dado ao trabalho de dizerem o que pensam sobre uma questão que levantei. Não concordo com o que dizem, mas isso não é neste caso o mais importante. A vossa posição já é uma posição. Se fosse tomada pela COES em si própria seria para mim o suficiente, dado plano em que estou a colocar-me.

A questão que levantei, na verdade, não é reflexo de qualquer animosidade pessoal quanto a Henrique Neto, mas apenas de discordância política.E só mereceu um comentário explícito dada a sua relação com a ES, conjugada com a minha própria relação com a corrente até há pouco tempo; e com os motivos que me levaram a afastar dela.

E se interpelei a COES, não o fiz por qualquer vontade de confrontação, mas apenas para poder ter uma certeza quanto ao modo como ela se posiciona dentro do PS e em face do PS. Aparentemente, o que vai ocorrendo parece dar razão aos que como eu se deixarm de rever no trajecto da COES, mas às vezes as aparências iludem; e eu acho que, mesmo diferenciados todos aqueles que tenham um pensamento crítico dentro do PS devem, pelo menos, ter uma ideia objectiva das posições que uns e outros assumem.

É pois este o objectivo da minha interpelação: não pretendo entrar em polémica com a COES, mas apenas conhecer a sua posição, para ter a certeza que não estou enganado quando a minha intuição aponta num determinado sentido, perante os indícios que vou reunindo.

Saudações.

Rui Namorado

Jose Costa disse...

Fui militante socialista até 1978.
Mesmo não sendo militante, nunca critiquei publicamente o PS, nos termos em que alguns militantes o tem feito recentemente.José Sócrates foi eleito em Congresso por 90% dos mandatados para o efeito. Por muito menos eu sai do PS.Tens razão camarada RN, é preciso não ter carácter, para dizerem publicamente que não votam no PS, quando ainda são militantes.Pouca dignidade e pouco caracter.

Rui Namorado disse...

Insultos ao PS de corajosos anónimoa não têm lugar no Grande Zoo, por isso o vou apagar. Já não diria o mesmo quanto ao seu autor que bem poderia estar exposto em qualquer zoo.

Miguel Leite disse...

Miguel Leite disse...

uero saudar o Rui, já que não tive oportunidade no centenário para o fazer, para grande pena minha.

Como é sabido pelo Rui, não sou militante do partido socialista, mas estou de acordo com o que diz, com este tipo de contradições politicas, é certo que isto nada tem que ver com a liberdade de expressão, não podemos confundir isso, penso que é uma forma de retirar unidade dentro do partido, fragiliza o partido, quando este precisa do coesão, sendo que também é no debate interno que devemos mostrar as nossas discordâncias.

Há um verso de José Gomes Ferreira "Não traio/ Porque insistes?/ Não traio." Não traiu, de facto, mas nem sempre esteve ao lado partido Henrique Neto, assim como muitos militantes do meu partido, eu sem querer me imiscuir nos assuntos do partido socialista,condeno essa situação, por exemplo refiro os exemplos de Saramago e Carlos do Carmo entre outros.


Condeno que tenham este tipo de contradições como o Rui diz, em que porventura se estamos de acordo, com uma linha politica e um projecto, não devemos depois abandonar essa linha, mas sim manter as convicções.

Micael Sousa disse...

Sempre paradoxal o HN, mas acho que isso é lá com ele. Está na sua liberdade, na escolha dos caminhos, modos e posturas que lhe definem a ética. Mas lá está, isso é lá com ele, cada um deve arrastar os seus grilhões e suportar os seus próprios fantasmas – não deve custar mais do que aos próprios. Apesar de ser membro recente da COES, para já, não me sinto atormentado e espero nunca sentir.
Agradeço esta sua tomada de posição e clareza como o fez. Agora fiquei esclarecido.

Cumprimentos
Micael Sousa