Esta infogravura traduz os resultados de uma sondagem da Intercampus difundidos pelo jornal "Público". O PS com 36,8% seria o partido mais votado, se os eleitores votassem assim no dia das eleições. A uma distância de 2,9 %, ficaria o PSD com 33,9% das intenções de voto. O CDS progrediria bastante, conseguindo com 13, 4% reunir tantas intenções de voto como o PCP (7,4 %) e o BE (6%) somados.
Conjugando-se esta sondagem, com outras recentemente divulgadas, percebe-se uma grande incerteza quanto aos resultados das próximas eleições legislativas: quer quanto a sabermos qual será o partido mais votado, quer quanto a sabermos se os dois partidos parlamentares da direita alcançarão uma maioria parlamentar.
Vários combates se travam num mesmo tabuleiro. O mais ostensivo é o que todos os outros partidos travam contra o PS. Sem dúvida, que lhe provoca um grande desgaste político, havendo um risco de esse desgaste se agudizar, no decurso do curto período que nos separa das eleições. Mas o desastre eleitoral, que parecia ser certo para o PS, quando caiu o Governo, a fazer fé nas sondagens, é agora apenas um risco, que o passar dos dias tem vindo a reduzir.
O PSD, num primeiro momento, pareceu estar apenas perante o desafio de conquistar uma maioria absoluta, já que a vitória relativa não parecia poder fugir-lhe. Redimensionar fortemente o PS, deixando-o a bem mais do que dez pontos de distância, e reconduzir o grupo parlamentar do CDS a um ou dois "táxis", pareciam objectivos ao seu alcance. Estava então na ofensiva, em duas frentes.
O cenário, porém, alterou-se e o PSD vê-se agora forçado a enfrentar duas contra-ofensivas, que o colocam dentro de uma tenaz: dum lado, o PS aproximou-se dele dramaticamente, chegando a superá-lo nalgumas sondagens; do outro lado, o CDS conquistou um espaço político mais autónomo, reaproximando-se dos seus máximos históricos. O PSD passou a correr o risco de não ser o partido mais votado, ao mesmo tempo que via o CDS ganhar uma robustez nova, que lhe permitirá ter uma influência muito mais relevante, no âmbito de um governo de direita. Isto, para não referir o risco, que o PSD corre, de ficar perante um xadrez político complexo, em que o PS possa fazer maioria quer com ele próprio, quer com o CDS; o que significaria uma forte desvalorização da sua importância política no novo contexto parlamentar.
Quanto ao PCP e ao BE, passa-se com ambos um fenómeno estranho. Pareciam destinados a beneficiar de um forte vento de descontentamento popular contra o Governo, que os poderia impulsionar para resultados eleitorais históricos,mas , ainda segundo as sondagens, parecem agora penar para não recuarem, por comparação às eleições anteriores, embora essas dificuldades sejam maiores para o BE do que para o PCP. O facto de nesta sondagem a soma de ambos se equiparar ao resultado do CDS é um autêntico sinal de alarme.
Talvez isso reflicta, afinal, a inconsistência estratégica da orientação política que têm seguido. De facto, ao fazerem coro com a direita na recusa de qualquer acordo com o PS, refugiando-se nuns confusos apelos a imaginários governos de esquerda sem o PS, acabam por se reduzir a si próprios a simples batedores políticos da direita, no combate que ela trava contra o PS. Na verdade, querer combater a política das agências internacionais do neoliberalismo, metendo PS e a direita num mesmo saco, dizendo que são iguais e tanto fazem uns como outros, pode ser uma adequada justificação implícita da sua linha política, mas afasta qualquer hipótese de resistir com êxito a essas agências.
Efectivamente, o próprio modo como o BE e o PCP se opuseram à vinda da "troika", reduzindo o arco de governação mais lógico aos outros três partidos parlamentares, torna ainda mais óbvio que quanto mais enfraquecido institucionalmente sair o PS das próximas eleições, mais forte sairá a direita. Se tão forte que venha a ser maioritária, é o que se verá.
A inabilidade e radicalismo neoliberal do PSD têm tornado mais nítida a diferença entre o que viria a ser um governo de Passos Coelho, em comparação com os governos de Sócrates. Uma parte dos eleitores do BE e do PCP já deram conta disso. Nada garante que muitos outros não venham a ter a mesma perplexidade. Chegarão até ao ponto de votarem no PS, para evitarem o programado festim neoliberal , já agendado, em caso de vitória de direita? Ou, para já, apenas se absterão ? Seria de uma imensa ironia objectiva que a direita ganhasse as eleições, não porque o PS perdesse muitos votos, mas pelo facto de os perderem o BE e o PCP.
Há ainda um outro ponto esquisito na actual campanha. Sócrates (o alegadamente intratável), na qualidade de Secretário-Geral do PS, tem repetidamente publicitado a sua disponibilidade para negociar, com os outros partidos, acordos de governo, tal como parecem desejar as instâncias internacionais e umas tantas legiões de notáveis deste país (a maior parte dos quais nada têm a ver com o PS). Pelo contrário, quer o PSD quer o CDS (alegadamente tratáveis) recusaram publicamente qualquer cooperação governamental com o PS, ignorando os apelos de muitas figuras nacionais das respectivas áreas políticas, bem como as instâncias internacionais e as europeias, estas aliás dominadas pelo Partido Popular Europeu ao qual ambos pertencem. O alegadamente intransigente, Sócrates mostra-se afinal capaz de transigir, quando acha que a isso aconselha o interesse de Portugal. Os retóricos do interesse nacional, na sua versão de direita, são afinal incapazes de secundarizar, por pouco que seja, as suas conveniências partidárias, em face do que tanto dizem respeitar.
O BE e o PCP juntaram-se ultimamente a este coro, rejeitando qualquer acordo com o PS. É claro, que uns e outros falam por vezes expressamente no PS de Sócrates, ou no PS enquanto Sócrates o liderar, como se lhes coubesse a eles decidirem quem deve estar à frente do PS. Mas isso seria apenas uma imbecilidade, se não fosse um afloramento de uma enorme má-fé política. De facto, que Partido sobreviveria à enorme indignidade ética, à imensa cobardia de mudar de Secretário-Geral para obedecer a cominações externas, vindas ou não de outros partidos? Eu, que nunca votei em Sócrates internamente para Secretário-Geral do PS, afirmo sem hesitação que consideraria uma miserável traição admitir sequer discutir com focos de poder externos ao PS a sua substituição ( ou de qualquer outro Secretário- Geral), para fazer a vontade aos outros partidos. Podem não querer acordos com o PS, mas não podem decidir quem deve ou não deve liderá-lo.
Por tudo isto, vai chegando à superfície o significado político profundo da conjugação das estratégias eleitorais dos actuais partidos da oposição. Se todos convergem na rejeição de acordos com o PS, contraem a obrigação moral de se conjugarem numa solução alternativa. Não podem é insultar rasteiramente o PS, dia após dia, e virem depois pedir-lhe apoios ou complacências. Involuntariamente, talvez tenham tornado tudo mais claro: ou há uma maioria absoluta do PS e o PS tem a responsabilidade de encontrar uma solução; ou há uma maioria das actuais oposições e é delas a responsabilidade de encontrarem uma solução governamental.
E se as oposições de esquerda não se sentirem capazes de colaborar numa solução dessas, talvez devam então interrogar-se sobre a razão porque isso acontece. E talvez então percebam que se essa resistência estiver certa, só pode estar errada a linha política que têm vindo a seguir.
Sem comentários:
Enviar um comentário