As aparências mais evidentes apontam para a alta probabilidade de uma crise política em Portugal, a curto prazo. O PS, responsável por um Governo minoritário, está no centro da tempestade. Pelos automatismos da luta política, será levado às rotinas habituais, neste tipo de conjunturas. É desejável que as cumpra com determinação e eficácia.
Mas sendo desejável, isso não chega. As enxurradas de problemas que estão a desaguar na actual conjuntura têm como uma das suas mais claras consequências a transformação dos objectivos de longo prazo em questões urgentes. De facto, nunca a capacidade para rasgar horizontes, a agilidade para traçar caminhos que nos levem a eles, foram factores de credibilidade e de verosimilhança dos objectivos imediatos, tão importantes e decisivos.
As grandes narrativas da esperança que agitaram o século passado parecem ter-se esgotado com ele, mas o modo de produção e reprodução da vida social assim triunfante assemelha-se cada vez mais a uma desfilada cega ao longo de recorrentes abismos, um garrote estrangulando implacavelmente a esperança e a dignidade humana de milhões e milhões de pessoas. No geral, Portugal em termos relativos está longe de ser um dos palcos dos grandes desastres do mundo actual, mas não é suportável a dimensão da desigualdade que grassa entre nós, nem os flagelos sociais que dela resultam, nem o cínico confisco do nosso futuro colectivo pela sofreguidão dos interesses dominantes e pelas ideologias que o reflectem e sustentam.
Por isso, precisamos de uma nova narrativa da esperança emancipatória e solidária que restitua o futuro aos portugueses, numa Europa que também o recupere, para regressar ao concerto dos povos do mundo como impulso e referência, rumo a novos horizontes. Os caminhos podem ser difíceis e longos, mas se os povos estiverem ao leme através de democracias limpas, se virem com clareza o sentido dos caminhos e se tiverem uma garantia sólida de que a nova narrativa se cumprirá, sem deixar de se ir aperfeiçoando, os povos saberão sacrificar-se.
Mas se na voragem do imediatismo, endeusado pela ilusão das urgências, se esquecer tudo o que não sejam as banalidades previsíveis das campanhas crispadas, prometendo-se ferozmente uma repetição petrificada do presente, deixando-se a direita jogar no buraco negro que ela assume como futuro, para aí desfiar sem pejo o rosário dos seus equívocos e a teia cínica de todas as mistificações que a estruturam, acabaremos por deixar o povo de esquerda abandonado a um desespero cinzento e triste. Desespero que até poderá dar algum êxito ao trovejar excitado das outras esquerdas, mesmo angustiadas pelo dilema crescente de não serem capazes de marcar a sua diferença perante o PS, sem abrirem desse modo as portas do poder a uma direita, que acentuará dramaticamente tudo aquilo que separa essas esquerdas do PS.
É , por isso, urgente, abrir desde já as portas a uma profunda renovação do PS, quer quanto ao modo como se relaciona com a sociedade, com o capitalismo e com o futuro, quer quanto ao seu funcionamento interno. Urgente, porque só será realista pugnar pel a conquista de uma nova credibilidade no curto prazo, se for objectivamente evidente que o PS iniciou um longo e radical processo de renovação.
Mas sendo desejável, isso não chega. As enxurradas de problemas que estão a desaguar na actual conjuntura têm como uma das suas mais claras consequências a transformação dos objectivos de longo prazo em questões urgentes. De facto, nunca a capacidade para rasgar horizontes, a agilidade para traçar caminhos que nos levem a eles, foram factores de credibilidade e de verosimilhança dos objectivos imediatos, tão importantes e decisivos.
As grandes narrativas da esperança que agitaram o século passado parecem ter-se esgotado com ele, mas o modo de produção e reprodução da vida social assim triunfante assemelha-se cada vez mais a uma desfilada cega ao longo de recorrentes abismos, um garrote estrangulando implacavelmente a esperança e a dignidade humana de milhões e milhões de pessoas. No geral, Portugal em termos relativos está longe de ser um dos palcos dos grandes desastres do mundo actual, mas não é suportável a dimensão da desigualdade que grassa entre nós, nem os flagelos sociais que dela resultam, nem o cínico confisco do nosso futuro colectivo pela sofreguidão dos interesses dominantes e pelas ideologias que o reflectem e sustentam.
Por isso, precisamos de uma nova narrativa da esperança emancipatória e solidária que restitua o futuro aos portugueses, numa Europa que também o recupere, para regressar ao concerto dos povos do mundo como impulso e referência, rumo a novos horizontes. Os caminhos podem ser difíceis e longos, mas se os povos estiverem ao leme através de democracias limpas, se virem com clareza o sentido dos caminhos e se tiverem uma garantia sólida de que a nova narrativa se cumprirá, sem deixar de se ir aperfeiçoando, os povos saberão sacrificar-se.
Mas se na voragem do imediatismo, endeusado pela ilusão das urgências, se esquecer tudo o que não sejam as banalidades previsíveis das campanhas crispadas, prometendo-se ferozmente uma repetição petrificada do presente, deixando-se a direita jogar no buraco negro que ela assume como futuro, para aí desfiar sem pejo o rosário dos seus equívocos e a teia cínica de todas as mistificações que a estruturam, acabaremos por deixar o povo de esquerda abandonado a um desespero cinzento e triste. Desespero que até poderá dar algum êxito ao trovejar excitado das outras esquerdas, mesmo angustiadas pelo dilema crescente de não serem capazes de marcar a sua diferença perante o PS, sem abrirem desse modo as portas do poder a uma direita, que acentuará dramaticamente tudo aquilo que separa essas esquerdas do PS.
É , por isso, urgente, abrir desde já as portas a uma profunda renovação do PS, quer quanto ao modo como se relaciona com a sociedade, com o capitalismo e com o futuro, quer quanto ao seu funcionamento interno. Urgente, porque só será realista pugnar pel a conquista de uma nova credibilidade no curto prazo, se for objectivamente evidente que o PS iniciou um longo e radical processo de renovação.
2 comentários:
Ninguém pode negar que estamos perante uma situação muitíssimo séria e negligenciar este facto ou querer atirá-lo para debaixo do tapete para não o ver é mais grave. Aqui há culpados diversos, aqueles que não falaram verdade, aqueles que não tomam a medidas adequadas, aqueles para quem "quanto pior melhor", os oportunistas, os incompetentes, aqueles que desde o princípio não servem a coisa pública, mas se servem a eles mesmos, os corruptos e os que não votam, enfim uma panóplia de gente com a sua quota parte !
Mas agora é urgente, há que analisar os factos, não fugir nem iludir. Há muita gente descontente, muita gente a sofrer, muita gente com fome.
Quanto aos actores políticos têm que ser outros, sim talvez, mas não aqueles que querem abocanhar o bocado que pensam ainda comer, precisa-se de gente credível e séria, mas não é com Cavaco Silva e seus seguidores que espreitam à porta.
Dentro do PS há gente credível, capaz de falar ao povo sem autismos nem arrogâncias e fazer o que tem que ser feito urgentemente
Se estamos à beira do abismo, com o PSD daremos um passo em frente!
Não nos iludamos e não nos calemos !
Muito bem Rui.Voce continua a estar lúcido!As esquerdas não podem continuar desarmadas.Temos que compreender o mundo e arranjar formas de o transformar....não o de gerir o status quo.Um abraço.Brandão Guedes
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