O transe
Quando assisto ao desfile de juristas e professores que opinam sobre o magno problema das escutas ao Primeiro Ministro, fico preocupado. Afinal, uma lei clara pode ter várias interpretações, segundo as conveniências. Mas também me divirto com o rebuscado floreado dos argumentos. O mais engraçado vem de um professor de Direito da Católica. Primeiro, diz que a decisão do Supremo Tribunal de Justiça, que mandou anular e destruir as escutas, é, por sua vez, nula, por causa de dois vícios; mas como não foi recorrida e transitou em julgado é, afinal, válida: as escutas devem ser destruídas.
Para abrilhantar a retórica, o ilustre professor tira de imediato outro coelho da cartola: as escutas, finalmente, não só não se devem destruir, como devem ser divulgadas. Isto porque, segundo ele, o País está “em transe” e “num clima de grave intranquilidade pública”. A divulgação seria uma terapia para esta doença, segundo manda uma alínea do Código de Processo Penal.
Saí de casa, passeei pela rua, entrei em centros comerciais e praças públicas, conversei e não vi intranquilidade nenhuma. Mas basta ligar a televisão para ver que jornalistas, comentadores, especialistas de tudo, incluindo o referido professor e aqueles que o citam, estão, de facto, em transe.
Do que eu duvido é da terapia. Se a existência das escutas pôs tantas pessoas em transe, a sua divulgação levá-las-ia ao delírio. A seguir, só restava o manicómio. Não para o País, mas para aqueles que andam agora em transe.
[J. L. Pio Abreu]
2 comentários:
Boa! Esse intérprete afirnal usou este caso para se afirmar junto dos seus companheiros de partido nas eleições para a distrital de Lisboa do PSD. Interessante deontogia de jurista este senhor apresenta... Para já nem falar da falta de razoabilidade do seu discurso.
e o mais curioso é que ele foi antigo juiz.. e que de cima da sua pia catedra arroga-se defensor duma pseudo moral execrável
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