terça-feira, 24 de novembro de 2009

Brecht e a conjuntura


Cresce, sem que pareça erguer-se para lhe resistir uma vontade colectiva, sistemática e organizada, um ruído político insalubre que parece toldar gravemente o ambiente democrático.

Da profundeza dos códigos, uma gente em quem ninguém votou, que ninguém escolheu para agir em nosso nome, emerge soturnamente intrometendo-se na política pelo seu lado mais pequeno , sorrateiramente, insidiosamente, sem frontalidade nem risco de futuro escrutínio democrático.

E o próprio combate político, de quem tem a responsabilidade formal ou sente ter que assumir o dever cívico de o travar, torna-se de dia para dia menos aberto, menos explícito, menos clarificador. Jogo de sombras, em que é maior o risco de ser enlameado por uma calúnia do que sofrer a lâmina afiada de uma ideia.

No circo mediático, são cada vez mais escassos os rugidos directos dos leões, mas multiplicam-se as insídias torpes das hienas.

E é cada vez mais frequente receber na memória a visita de um pequeno poema de Bertolt Brecht, na sua versão portuguesa de Paulo Quintela.


Escapei aos tubarões

Abati os tigres

Fui devorado

Pelos percevejos.

9 comentários:

sfelipejj disse...

Achei que eu mesmo houvesse pensado a frase: "é maior o risco de ser enlameado por uma calúnia do que sofrer a lâmina afiada de uma ideia".
PERFEITO

http://vivoverso.blogspot.com/2009/03/olho-vivoverso.html

Anónimo disse...

entretanto, alguma da "gente em quem alguém (a maioria das pessoas) votou", age como se assim não tivesse sido, ou pior, como se isso não fosse importante e a participação democrática mera passadeira ocasional para o Poder. repare-se:

http://www.jornaldenegocios.pt/index.php?template=SHOWNEWS&id=397819

e para estes e outros "eleitos", há coisas do Brecht ainda mais incisivas, que também valem muito a pena ler.

"Para quem tem uma boa posição social,
falar de comida é coisa baixa.
É compreensível: eles já comeram

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Apenas quando somos instruídos pela realidade é que podemos mudá-la."
( BERTOLD BRECHT )

o resto é ficção, digo eu...

cumprimentos

Anónimo disse...

Continuamos a citar Brecht como resposta ao nada.

Quando se invoca outros como o autor do poema, é sinal de saudade da verdade ou da impossibilidade pessoal de reagir!

Então, por que não sois vós próprios?

Por se ser militante de um partido deixa-se de batalhar pela verdade?

Aquela gente do STJ,tem uma maioria nomeada, repito, nomeada pelos partidos que tem governado o nosso Portugal.

A Constituição de 76 foi sistematicamente violentada, espesinhada até pelos seus próprios fazedores.

Hoje, a sua vertente económica e social e o enquadramento da Justiça é uma sombra do que, e ainda estão muitos deles vivinhos da silva,juraram fidelidade à Constituição democrática e interventiva em todos os sectores da vida nacional.

O que se passa é que os desejos e as ambições do novo riquismo pós-revolução têm a mesma cultura elitista dos de "Antigamente".

Quero crer que o povão não ingulirá tanta patranha!

E que a Justiça se levantará também ela com a sua ajuda e de mais outros e muitos mais, Rui Namorado.

Com o devido respeito de
"O Catraio"

Rui Namorado disse...

Uma vez mais, parafraseando Garrett:

" Catraio! Catraio ! Quem és tu ?

aminhapele disse...

Cá por mim,querido amigo,os percevejos estão ao ataque.
Em tempos,para nos livrarmos deles,púnhamos o colchão ao sol e,na madeira da cama,dávamos um banho com um produto,à base de petróleo...
Continua a haver sol;continuam a existir colchões;continuam a existir camas...
Era suposto que já não existissem percevejos!
E,muito menos,percevejos-catraios!
Mas é o que há!
Até conhecem Brecht!!!

Anónimo disse...

Há de facto percevejos aos milhões neste neste nosso Portugal.

Nos bairros de lata onde os cuidados são poucos, há-os nos tribunais e nas lúgremes prisões. Até nos navios mercantes e de guerra como os submarinos. Eles, os percevejos andam por todo o lado.É um facto real.

Também existem grandes e pequenos, mais gordos e mais magros. Outro facto!
Mas quem contesta a natureza desse bichino e não o porquê da sua existência, nem a percevejo ainda chegou.
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Fico pensando que qualquer dia por graça lhe direi do meu perfil.

Mas se reparar nunca insultei nem tentei amisquenhar alguém e não esperava que acontecesse aqui neste seu blogue.

É que viajei muito em navios de guerra e na cabine de TSF os telegrafistas não se davam mal com os tais ditos cujos...
De "O Catraio" com todo o respeito

Rui Namorado disse...

Meu Caro "Catraio":

Se é a mim que imputa qualquer acto de amesquinhamento que o tomasse como alvo,declaro-lhe solenemnet que nunca tive tal intenção. Só por imper´cia posso ter caudaso essa impressão.

Apenas expressei curiosidade em saber quem é para ficar em pé de igualdade consigo. Mais nada.

Anónimo disse...

Claro que não foi consigo!
Boas noites do "O Catraio"

aminhapele disse...

Talvez que por escrever mal o meu comentário tenha soado a insulto.
De todo,não o pretendi fazer.
Não insulto,nem amesquinho.
Muito menos,utilizaria um espaço amigo para fazer tal coisa.
Utilizei a linguagem ligeira,blogueira,talvez com mais ácido.
As minhas desculpas.