sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Nova sondagem para um velho cenário



FEV - JAN - DEZ

PS - 40,3 % - 41,1% - 42,5 %

PSD - 29,1 % - 30,1% - 30 %

BE - 10,1% - 9,6% - 8,8 %

CDU - 8,8% - 8,3% - 8,4 %

CDS - 6,9% - 6,1% - 6 %


Foi ontem difundida pela SIC uma nova sondagem da Eurosondagem, cujos números ocupam a primeira das três colunas que podem ver acima. Ao seu lado, podem ver-se os números correspondentes às sondagens Expresso/Eurosondagem dos dois meses anteriores.
Em dois meses, o PS perdeu 2,2,%, mas o ritmo de descida neste segundo mês atenuou-se relativamente ao do mês anterior. O PSD perdeu 0,9 em dois meses, mas a sua evolução foi errática: primeiro subiu 0,1%, depois perdeu 1 %. Está agora a 11,2% do PS, quando há um mês estava a 11%. É uma fraca colheita das sequelas do caso Freeport.
O BE subiu gradualmente a um ritmo quase idêntico. Há dois meses era o terceiro partido ligeiramente à frente da CDU( 0,4%). Continua a sê-lo, mas agora com uma vantagem de 1,3%.
Aliás, a CDU desceu ligeiramente de Dezembro para Janeiro e agora voltou a subir moderadamente. Saldo positivo modesto: 0,4%.
Já o CDS acelerou o ritmo de subida: no primeiro mês subiu 0,1%, no segundo mês subiu 0,8%. Em dois meses, o CDS ganhou o que o PSD perdeu. O bloco de direita manteve-se estacionado nos 36%.
Já o conjunto dos partidos, alegadamente, à esquerda do PS passou de 17,2% para 18,9%. Chega par impedir a maioria absoluta do PS, mas não chega a metade do necessário para serem uma alternativa autónoma de poder. Como já declararam não querer coligar-se com o PS, em caso de maioria relativa deste, só lhes resta a hipótese da Coligação Canguru (coligação de toda a oposição, hegemonizada pela direita), para integrarem uma maioria de governo. Aliás, a Coligação Canguru viu as intenções de voto no conjunto dos quatro partidos ser reforçada nestes dois meses: passou de 53,2% em Dezembro, para 54,9% em Fevereiro.
Apesar da crise económica e das campanhas sujas, o essencial dos cenários políticos induzidos pelas sondagens manteve-se. Os eleitores vão optar entre duas hipóteses: ou dão maioria absoluta ao PS ou dão maioria absoluta à Coligação Canguru. No primeiro caso, o problema fica resolvido, por força dos resultados eleitorais. No segundo caso, ou a Coligação Canguru consegue entender-se para governar ou não. Se consegue, o problema também fica resolvido. Se não, abre-se a porta a um governo PS de maioria relativa. Se a Coligação Canguru , embora não tendo conseguido formar governo, der viabilidade a um governo PS, o problema também ficará resolvido. Se a actual oposição, maioritária nas urnas, nem conseguir formar governo, nem deixar o PS governar, certamente, que terão que se realizar de novo eleições.
Dir-me-ão que a ideia de uma Coligação Canguru é uma hipótese maliciosa inventada por um militante do PS. Haverá nisso uma dose de verdade, se nos limitarmos a dar valor ao que é ostensivo nos discursos dos quatro partidos. Mas já não acontecerá o mesmo, se nos reportamos à frieza objectiva dos factos. Realmente, o comportamento dos quatro partidos da oposição tem sido demasiado coincidente, para que se possa excluir objectivamente a hipótese de se virem a coligar. Conservariam todos eles os apoios que hoje têm se enveredassem de facto por tão aventuroso atalho? Julgo que não. Mas todos sabemos que, ao longo das suas histórias, foram muitas as direcções de partidos políticos que tomaram decisões suicidárias e contra-natura.
Por isso, também pode acontecer que no dia a seguir a uma vitória eleitoral relativa do PS, os quatro naipes do actual coro anti-PS se embrulhem numa implacável rivalidade, em que cada um procurará oferecer ao PS os seus discretos serviços e diabolizar a ideia de o PS poder aceitar as ofertas de qualquer dos outros três.
Quanto à hipótese de a direita subir dos seus actuais 36% a uma maioria absoluta, não sendo impossível parece improvável. Mais provável parece o seu estacionamento num patamar próximo do número actual, repartindo-se esse escasso bolo, entre a gula insaciável e felina de Portas e o azedume monótono da Srª Leite.
Vai, por último, também, perdendo força a hipótese de uma nova maioria absoluta do PS, sendo certo que ele se tem conservado suficientemente perto desse limiar para lá poder chegar num assomo final de energia quando chegar o tempo final da campanha. Mas, será realista dizer que se o PS não aproveitar, por exemplo, o próximo Congresso, para dar um sinal de efectiva novidade, pode ficar mais longe dessa hipótese de recuperação em última instância.
E lá ficaremos nós sob a ameaça sombria de uma Coligação Canguru que, podendo ser feroz como oposição, talvez olhe para qualquer hipótese de um correspondente governo, como se fosse uma ofensa que lhe estivesse a ser feita.
Como detalhes coloridos da conjuntura, permito-me, para concluir, registar três curiosidades: 1) MFL, que ameaçara começar a crescer nas sondagens a partir de Janeiro deste ano, rumo a uma vitória que alardeava ser certa, disputa afinal penosamente com o seu antecessor a primazia na impopularidade; 2 ) o PSD , por interpostos meninos, parece crer que as únicas armas de combate político de que dispõe no arsenal da sua imaginação, são as do insulto mais ou menos rasteiro; 3 ) dirigentes, notáveis e barões (do norte, sul e ilhas) do PSD assemelham-se, cada vez mais, a um rebanho tresmalhado à procura de pastor, de tal modo é errático e desafinado o coro com que julgariam poder seduzir os eleitores.

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