O gráfico que acima se reproduz reporta-se a 2004, ano em que Portugal era dirigido por um daqueles governos de direita que sempre se consideram fiéis depositários de uma nutrida competência na gestão da coisa pública.
Portugal surge aí, com larga vantagem, como o triste campeão da desigualdade. E devemos perguntar: os inefáveis bonzos de Bruxelas acharam por bem censurar-nos por tão deplorável proeza ? Dispõem de algum programa próprio para ajudar os países da União a combater essa grave disfunção social?
É claro, que nem uma coisa nem outra. Não se conta entre os seus objectivos o combate a esse aleijão social. Têm outras prioridades. Estão ali com outras funções. De facto, se virmos bem, o que têm feito é procurar manter, e não combater, a desigualdade, já que só assim podem salvaguardar verdadeiramente os privilégios que consubstanciam o modelo sócio-económico a que são fieis e que diligentemente guardam.
Realmente, eles são os guardas fiéis da Europa tal como ela é, cabendo-lhes activar uma ilusão de mudança em tudo que não belisque o essencial do capitalismo reinante: modificar vertiginosamente o que é secundário, para impedir que seja demasiado ostensiva a conservação do essencial.
Na verdade, a pobre convergência em três tópicos não se destina a encorajar o desenvolvimento humano da Europa, nem o bem estar dos europeus, mas apenas a manter o essencial do sistema vigente, se possível desembaraçado das cedências sociais e políticas, que em tempo de guerra fria julgou ter que fazer, mas que acha agora supérfluas.
Ou seja, quando olhamos para o quadro acima transcrito vemos uma Europa injusta. Entretanto, as carpideiras da história choram pelas vítimas dessa injustiça, lamentando a sua inevitabilidade, convidando-nos a aderir ao alegado realismo da resignação.Um realismo que para alguns é a chave do paraíso, mas para muitos é a porta do inferno. Um realismo que uns tantos se esforçam por blindar com o imaginário perfume da ciência.
Desde sempre , ao longo da história alguns se bateram para não perder privilégios e muitos se não conformaram com as vidas de miséria com que pagavam o conforto dos outros. O discurso do conformismo quanto ao essencial não é por isso novo. Tem uma longa tradição conservadora a precedê-lo ao longo da História.
Enfim, uma velha ladainha apologética do status quo que se esparrama pela comunicação social , com a sôfrega determinação de inculcar a ilusão que o mundo é como é, não havendo como mudá-lo.
No entanto, têm vindo a acumular-se os sinais de que, nem o mundo nem a Europa, podem realisticamente aspirar a uma vida longa e a um futuro que possa ser vivido, se durante muito mais décadas o capitalismo, continuar a reproduzir -se, na constância da sua gula predatória, numa desfilada vertiginosa para a inviabilidade democrática do dualismo social. Um dualismo, aliás, que alguns dos seus beneficiários estruturais nos querem fazer crer que é inevitável.
Por isso, é cada vez mais indispensável colocar, pelo menos ao nível dos itens do pacto de estabilidade, a construção da igualdade. De facto, não é possível vivermos numa democracia, de que nos orgulhemos, se continuarmos amarrados ao nível de injustiça, onde estávamos em 2004 e do qual duvido que já tenhamos, realmente, escapado.
Exijamos pois , para bem dos portugueses e dos europeus, que a nossa Europa seja também espelho de valores socialistas. Nomeadamente, da igualdade.
Por isso, é cada vez mais indispensável colocar, pelo menos ao nível dos itens do pacto de estabilidade, a construção da igualdade. De facto, não é possível vivermos numa democracia, de que nos orgulhemos, se continuarmos amarrados ao nível de injustiça, onde estávamos em 2004 e do qual duvido que já tenhamos, realmente, escapado.
Exijamos pois , para bem dos portugueses e dos europeus, que a nossa Europa seja também espelho de valores socialistas. Nomeadamente, da igualdade.
Sem isso, todos os êxitos parcelares ou circunstanciais de qualquer governação, estarão permanentemente vulneráveis, correndo o risco de se transformarem em cinza se continuar a pairar sobre todos nós a grande vergonha da desigualdade, acima ilustrada com amarga eloquência.
3 comentários:
Quanto a Portugal, inteiramente de acordo. Quanto à Europa, ela não é por essência capitalista: é o que forem a maioria dos governos dos países que a compõem, e os povos que elegem esses governos!
A propósito de outros "posts" abaixo, quero dizer que:
Não sou simpatizante de M. F. Leite nem do seu partido, mas não gosto de a ver aqui apelidada de "murcha" e "escanzelada". A esquerda deve rever os seus preconceitos machistas e a senhores duma certa intelectualidade tais dislates não assentam bem. Ou achariam decente, por exemplo, utilizando a vossa bitola, que A. Vitorino fosse chamado de anão ou M. Alegre de impotente?
A meditar.
RN responde:
Salvo qualquer falha involuntária que me tenha escapado, nunca disse que a Drª F. Leite é "escanzelada", o que seria uma qualificação de facto infeliz, uma vez que tem uma conotação apenas física.
Qualifiquei-a sim como "murcha" o que já não é uma qualificação apenas física, reflectindo um juízo negativo quanto ao seu viço político.
Os dois registos são, portanto, (pelo menos para mim) diferentes, mas não vislumbro o que qualquer deles tenha de machista.Por outro lado, nenhum se aproxima do nível de insulto atingido por si quanto aos dois militantes do PS que menciona e que não têm qualquer responsabilidade pelo que eu escreva no meu "blog".
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